Henrique Pedro

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Actual e urgente

Deus, para muitos, seja que deus for, nada mais é que um fetiche e a religião, qualquer que seja, sortilégio ou pura imaginação. Assim é que muitos olham deus, seja que deus for, com desdém, e outros apenas procuram na religião, seja que religião seja, um meio de alcançar algum tipo de benefício: curas, sucessos sociais, ganhos económicos ou mesmo políticos. Ainda assim, os mais fervorosos seguidores de Jesus Cristo encaram as boas práticas cristãs como o melhor caminho para refrigerar as agruras da vida e alcançar a felicidade absoluta, depois da morte. Não é de admirar, por isso, que neste mês de Maio de 2022, peregrinos de todas as proveniências, movidos pela fé, tenham de novo acendido milhares de velas de esperança no santuário de Fátima. Será oportuno, por isso, relembrar. A fazer fé nos testemunhos de Lúcia dos Santos expressos em quatro manuscritos designados por Memórias, as denominadas Aparições foram várias e de estreme proximidade, dado que a Imagem celeste pousou numa pequena azinheira com cerca de um metro de altura, estando os videntes a menos de um metro de distância, ao alcance da vista, ouvidos e mãos, ainda que apenas Lúcia tenha estabelecido diálogo com a divina aparição. Tais acontecimentos sobrenaturais que hoje possuem notoriedade planetária começaram, porém, dois anos antes, em 1915, quando Lúcia e outras três pastorinhas chamadas Maria Rosa Matias, Teresa Matias e Maria Justino, partilharam visões maravilhosas com forma humana. Depois disso, em 1916, agora já na companhia de seus primos Francisco Marto, de 9 anos, e Jacinta Marto, de 7, Lúcia, que contava 10, dá testemunho de 3 novas visões, as chamadas Aparições do Anjo. Estas aparições prévias a que Lúcia apenas se referirá posteriormente, em 1937, no texto conhecido por Memória II, foram preparatórias das que ocorreram em 1917, que são as fundamentais, porque envolveram “… uma senhora mais branca que o Sol”, no dizer dos videntes, e que na última ocorrência, a 13 de Outubro, declarou ser Nossa Senhora do Rosário. Foram seis, portanto, os encontros dos pequenos pastores Lúcia, Francisco e Jacinta, ocorridos entre Maio e Outubro de 1917, com essa Mensageira celestial, chancelados pelo impressionante Milagre de Sol e por milhares de factos miraculosos que levam milhões de almas a acreditar que se tratou, de facto, da Mãe de Cristo e a fazer Fé na Sua mensagem de amor e paz. A primeira destas Aparições de Nossa Senhora aconteceu em 13 de Maio, razão pela qual essa é a data marcante do fenómeno religioso de Fátima sendo, por isso, eventualmente a mais concorrida e noticiada. Fátima não é, contudo, um caso esporádico e isolado, já que se inscreve na longa lista de locais onde a Mãe de Deus é venerada porque lá se manifestou em diferentes datas, anunciando mensagens semelhantes, como são os casos de Lourdes e La Salete, em França, de Aparecida, no Brasil e de Guadalupe, no México. Mensagens que dia após dia se apresentam mais instantes e prementes face ao declínio persistente da Humanidade. É, de facto, deprimente constatar que apesar dos avanços científicos e tecnológicos, milhões de seres humanos continuam a soçobrar na guerra e a apodrecer no vício, na doença e na mais abjecta miséria, enquanto os biossistemas se degradam irreversivelmente. Também porque a política, que deveria ser a justa governação dos povos, é feita de mentira, traição e corrupção, com a dimensão espiritual do homem a ser banida pelo materialismo mais desapiedado e o lugar de Deus a ser ocupado por mitos mundanos que alienam multidões. Sobretudo no momento presente em que é instante a ameaça de uma terceira guerra mundial que poderá assumir efeitos devastadores e mesmo acabar com a própria civilização e toda a vida à superfície da Terra. E também porque a Igreja católica em geral e a própria Santa Sé em particular dão mostras de estar minadas por mil pecados contrários à doutrina do seu fundador Jesus Cristo, muito embora tenham surgido, com o papa Francisco, renovados sinais de esperança. Assim se compreende que o designado Terceiro Segredo, chave mestra da Mensagem de Fátima, esteja de novo na ordem do dia uma vez que muitos admitem que o texto publicado não será o original e a interpretação oficial não terá sido a mais justa. Todavia, muito mais importante que o sensacionalismo que deriva da vertente profética da Mensagem que a Virgem de Fátima concedeu aos videntes num tempo e contexto peculiares, mas que é igualmente válida para os tempos e eventos do presente, é a energia salvífica que dela irradia. Porque a Humanidade está mais do que nunca à beira de uma catástrofe global urge escutar e acatar esta mensagem ecuménica de paz, amor e verdade, que se mantém actual e instante.

Um homem que tem bombas atómicas no cérebro

A guerra é, por certo, o mais complexo fenómeno social, porquanto, para lá de ser absolutamente irracional é eminentemente niilista, sendo que o seu impulso determinante é, por regra, individual e não colectivo, contrariamente ao que se faz crer, pelo que reduzi-la ao domínio da geopolítica é limitar a sua mais profunda compreensão. Assim melhor se compreende que os conflitos armados de maior dimensão que a História Universal regista foram determinados, em última análise, por verdadeiros génios do mal, dada a crueldade, a despiedade e a falta de escrúpulos com que prepararam, treinaram e lançaram as suas hostes no combate. Assim foi no passado distante. Basta lembrar, para tanto, o papel decisivo de alguns mal-afamados matadores como o huno Átila (400-453), o mongol Genghis Khan (1162-1227), ou turcomano Tamerlão (1336-1405). Também na História moderna não faltam exemplos de famosos assassinos em massa, com destaque para o russo Josef Stalin, de cujo curriculum constam 20 milhões de mortes, do alemão Adolf Hitler que foi o primeiro responsável por outros tantos milhões, ou do chinês Mao Zedong que bateu o record com 60 milhões. Por outras palavras: estes medonhos carniceiros tiveram o ensejo de se aproveitar de circunstâncias históricas, sociais e geopolíticas propícias para fazer valer o seu génio sinistro, que era determinado por punções mentais assustadoras. Assim é que Mao Zedong que tinha no coração a grande China imperial, estava determinado a matar Deus, para tomar o Seu lugar, à semelhança de Josef Stalin, que amava a grande Rússia imperial. Já Adolf Hitler tinha no cérebro o nacional-socialismo, vulgarmente conhecido por nazismo, e no coração a supremacia da raça ariana, razões determinantes, mais do que as económicas ou geopolíticas, para desencadear a terrível catástrofe que foi a II Guerra Mundial. Uma nova figura, igualmente sinistra, se junta agora às atrás referidas: o russo Vladimir Putin que tem bombas atómicas no cérebro e pouco mais, o que o leva a cuspir ameaças de guerra nuclear por dá cá aquela palha, determinado a fazer ajoelhar meio mundo ante o seu renovado império soviético. Foram estas as verdadeiras razões, de resto, que levaram Putin a ordenar a cruel agressão, não declarada, à Ucrânia, uma nação independente e democrática, da mesma forma que envolveu a Rússia em várias outras guerras desde que se assenhoreou do poder, algumas das quais foram autênticos massacres, que não distinguiram militares de civis, como aconteceu na Chechénia, em 1999 e na Geórgia, em 2000. Claro que Putin, antes de se meter nessas sinistras aventuras, estabeleceu uma pérfida teia de prosélitos e colaboradores no chamado Ocidente, com realce para todos os que se esforçam por matar a democracia a golpes de foice e martelo para em seu lugar estabelecer a ditadura comunista. Até mesmo no insignificante Portugal instalou os seus tentáculos a nível de certas câmaras municipais e nas mais altas estâncias políticas e militares, como tem vindo a ser noticiado pela comunicação social. Não será de estranhar, por isso, que os seus mais fiéis defensores atribuam aos americanos e à NATO as culpas da invasão da Ucrânia, o que não deixa de ser paradoxal porque isso poderá significar que Putin está ao serviço do Ocidente o que não é de todo verdade. Bem pelo contrário. Mais lógico seria, isso sim, que sem rodeios nem subterfúgios, declarassem a invasão da Ucrânia como um ataque alargado ao Mundo Livre que, no seu entendimento, anda prenhe de misérias e pecados, o que não deixa der ser verdade. Só que as fraquezas e ruindades do Mundo Livre, todos os que nele vivem as conhecem, podem e devem denunciar e combater democraticamente. Enquanto os terríveis malefícios dos regimes autocráticos, como é o ditador Putin, apenas aqueles que os sofrem na pele e no espirito, os conhecem verdadeiramente mas não os podem, de nenhuma forma, combater. Dramático será concluir, por tudo isto, que a III Guerra Mundial, inexoravelmente nuclear, sempre será um perigo eminente enquanto Putin estiver no poder. Agora a propósito da Ucrânia, mais tarde por causa de outra qualquer guerra que o déspota tenha no seu programa. Isto se, entretanto, Putin sobreviver a Putin.

A lenda da vaca sagrada e do bezerro de oiro

Para uma maioria muito significativa de próceres políticos, com maior pendor à esquerda, a Constituição da República é uma vaca sagrada e o Regime político vigente, que à socapa enche os bolsos e garante tachos chorudos a gente afamada, é um bezerro de oiro. Duas instituições políticas sagradas em que é pecado tocar, nem que a vaca tussa. Ainda que o bezerro de oiro em apreço tenha pés de barro e produza dejectos democráticos tais como a lei Eleitoral, o Sistema de Justiça, a lei da Nacionalidade, a corrupção generalizada, o compadrio, o nepotismo e, acima de tudo, o endividamento público desregrado. Não se confunda, porém, sistema político com regime político. O sistema de democracia liberal e representativa, por exemplo, que se caracteriza, resumidamente, pelo voto livre, pela separação de poderes e representação política de todas as opiniões, para lá de garantir as liberdades e direitos fundamentais, consubstancia-se em regimes políticos distintos, podendo ser republicanos, presidencialistas ou nem tanto, ou mesmo monárquicos, com reis ou rainhas. Para os próceres políticos atrás citados, muito embora periodicamente se envolvam em competições de discursos eruditos sobre a matéria, o regime político vigente, repito, é único e intocável e quem se atrever a criticá-lo não é democrata, podendo mesmo ser considerado fascista ou pior que isso. Ainda que o PC e o BE que integram esse alargado grupo de fiéis do regime, adorem outros sinistros bezerros que de democracia e de democráticos nada têm, como sejam os venerados regimes políticos da Coreia do Norte, da Venezuela ou de Cuba, para não irmos mais além. E manda a verdade que se diga, também, que a generalidade dos regimes políticos europeus e partidos mais representativos, de que o PS português é paradigma, se converteram em verdadeiros pântanos ideológicos e éticos, em que chafurda a generalidade dos seus líderes. É neste cenário político institucional do mais alto nível que Portugal, apesar da nobreza do seu povo, da sua riqueza histórica e cultural, se afirma como um Estado pobre e marginal no contexto da União Europeia, dependente das ajudas comunitárias e com uma dívida pública explosiva, que o coloca à beira da banca rota sempre que uma crise internacional estala. Como se verificou com a crise da dívida soberana iniciada em 2008, mais recentemente com a crise pandémica e agora com a guerra que Vladimir Putin desencadeou na Ucrânia. Tudo isto passou indiferente à discussão inútil e inconsequente do Orçamento de Estado de 2022, que o PS desdenhou do alto da sua maioria absoluta parlamentar. Indiferença que já anteriormente se verificou na vigência da tristemente célebre Geringonça, uma vaquinha que o PS, o PC e o BE fizeram sem que se saiba bem porquê e para quê, mas que salvou António Costa do apagamento político e acabou por lhe dar de bandeja e mão beijada a presente maioria absoluta. É por demais óbvio que uma economia saudável é indispensável para o progresso e bem- -estar de uma Nação. E é por demais evidente que em tempo de vacas gordas não há governos maus e que os bons governos se veem em tempo de vacas magras. Por norma, para sanear os grandes males económicos os economistas apontam múltiplas medidas e soluções, qual delas a mais rebuscada, que os políticos recondicionam para que também sirvam da melhor forma os seus interesses pessoais e partidários. São mil estratagemas administrativos como o desdobramento dos escalões do IRS, os “autovoucher”, o congelamento de salários, os subsídios a granel, o salário mínimo, o rendimento social de inserção, as mexidas manhosas nos impostos, etc., etc, etc. Uma coisa é certa porém: com o regime político vigente a economia portuguesa jamais sairá da cepa torta, por mais mesinhas e estrangeirinhas, porcas e parafusos que os políticos atarraxem e desatarraxem. Mesmo que circunstancialmente cresça acima da média europeia quando pode, deve e é necessário que cresça acima do máximo europeu. Sem as indispensáveis reformas das leis fundamentais e do Estado, sem o combate eficaz à corrupção, o controle racional da despesa pública, o fim dos empregos políticos chorudamente remunerados, sem leis de trabalho que valorizem quem trabalha e promova a rentabilidade, jamais a economia portuguesa poderá garantir desafogo e bem-estar a todos os portugueses e suportar serviços públicos de qualidade. Mas quem irá fazer tais reformas, quando e como?! Serão aqueles para quem a Constituição é uma vaca sagrada e o Regime um bezerro de oiro? É aqui que a porca, a vaca e o bezerro torcem o rabo.

Não é António Costa que está refém. É Portugal que está refém de António Costa!

Lá no palácio de São Bento que, como se sabe, é sede da Assembleia da República e residência oficial do primeiro-ministro, paira uma assombração que muito mal tem vindo a causar à democracia e à nação portuguesas. Não se trata de nenhum espirito maligno do tempo da outra senhora, porque esses já não fazem mal a ninguém, muito embora continuem a ser esconjurados pelos acólitos da dita esquerda que não param de meter medo às criancinhas com histórias de capitalistas, fascistas, racistas, colonialistas e outros que tais. Trata-se mesmo de um espectro sinistro recente que tem impedido que o Portugal democrático cresça e apareça de uma vez por todas, que saia dos subúrbios da Europa e se coloque a par dos parceiros mais ricos e socialmente mais justos. É o espirito do político fujão que em passado recente assombrou os ex-primeiros ministros António Guterres e Durão Barroso e os ex-ministros Victor Constâncio e António Vitorino, de entre outros destacados políticos que tiveram habilidade e descaramento bastantes para bater a asa e voar para poleiros de maior destaque na ONU e na União, abandonando o país caído na desgraça, entregue à pardalada partidária. Políticos estes que, possuídos pelo tal espirito fujão, renunciaram aos cargos para que haviam sido eleitos e optaram por fugir logo que oportunidade favorável se lhes deparou, apesar de terem jurado solenemente servir o povo português com total entrega e devoção. Claro que este espirito maligno do político fujão só encontra ambiente propício nos estados subservientes de instituições transnacionais de maior gabarito e em que reinam regimes políticos de duvidosa democraticidade. Tudo leva a crer que foi este espírito maligno do político fujão que o Presidente da República quis esconjurar com uma reza de mau presságio na tomada de posse do novo governo, porque se lhe terá metido na cabeça, sabe-se lá que por artes ou manhas, que também o empossado primeiro-ministro António Costa, já estaria possuído, ou em vias disso. Verdade ou não, certo é que António Costa não tugiu nem mugiu e se limitou a dizer o que sempre disse em circunstâncias tais, sem tirar nem pôr. Que ninguém duvide, porém: se por acaso António Costa, contra todas as rezas e esconjuras de outrem e juras do próprio, vier a ser tomado pelo tal espirito do político fujão, não fugirá sem primeiro garantir que a sua trupe fica confortavelmente instalada nos cadeirões da administração pública central e local. Ainda que deixe Portugal mais pobre, injusto e marginal, que é o mais certo. Essa nem será, sequer, a sua preocupação maior e muito menos o Presidente da República se afoitará com tal. Em Belém reina um espirito palrador e espectaculoso, vagamente patriótico e nada reformista, pelo que se António Costa decidir abandonar o barco e fugir, seguindo as pisadas de Guterres e Barroso, não será Marcelo de Sousa, que o aturou, apoiou e com ele coabitou, enquanto lhe interessou assegurar a própria reeleição, quem o irá impedir. Fica-lhe bem dizer agora que António Costa está refém, tão- -somente. Trata-se de um bonita figura de retórica, nada mais. A seu tempo se verá, porém, que António Costa não está refém de nada nem de ninguém, muito menos do espirito tagarela de Belém. Só mesmo uma lei para tanto competente, se existisse, poderia obstar a que António Costa, ou qualquer outro político do mesmo calibre, se pudessem dar ao desfrute de abandonar o País a meio do mandato para deliberadamente assumirem cargos estrangeiros pessoalmente mais aliciantes. Não é António Costa que está refém. São os portugueses que vergonhosamente mantidos na cauda da pródiga mãe Europa pela mão dos políticos fujões e dos oligarcas político- -partidários, estão reféns, não da democracia, mas de um regime político corrupto avesso a reformas. Não é António Costa que está refém! É Portugal que está refém de António Costa!

O diabo existe. Chama-se Vladimir Putin!

Lembro-me bem de ter ouvido o santo Papa João Paulo II afirmar, perentoriamente, que o diabo existe. Acredito que sim e que, no presente, se chama Vladimir Putin, face ao inferno que instalou na martirizada Ucrânia. Diabo que também já deu pelos nomes de Hitler, Lenine, Stalin e demais encarnações que capitanearam os maiores genocídios que a História Universal regista. Todavia, enquanto crente, não compreendo porque Deus ainda não acabou com a raça. Mas desçamos à Terra, por agora. Guerras sempre as houve, o que levou o sociólogo francês Gaston Bouthoul, especialista do fenómeno bélico, a sentenciar qualquer coisa como “ foi a guerra que gerou a História”. O que não deixa de ter sentido, muito embora outros factos históricos relevantes, como o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo, por exemplo, tenham escrito mais História do que todas as guerras. Certo é que o contendor que toma a iniciativa de atacar injustificadamente outro país, não pode ser olhado da mesma forma que o agredido que tem todo o direito de se defender. Do lado do atacado poderemos então entender que a guerra é justa, muito embora Santo Agostinho enumere outros critérios e não explicitamente este. Lamentável é concluir, isso sim, que apesar de tanta guerra e tanta História o ser humano pouco ou nada evoluiu no que toca aos seus instintos mais básicos, sobretudo no que à agressividade e à tentação totalitária diz respeito. Só assim se compreende que todas as guerras sejam iguais em desumanidade, destruição e desgraça mas muito diferentes no espaço e no tempo em que decorrem, nos meios e nos métodos que utilizam, nas causas e nas razões que as originam. Por outras palavras: a natureza humana não melhorou significativamente depois de milénios de conflitos como paradoxalmente o demonstra a continuada sofisticação e diversificação dos instrumentos e modalidades de guerra que, com as armas nucleares, químicas, biológicas e cibernéticas, ganharam abrangência e poder de destruição nunca vistos. E o mais que se verá! A guerra em curso na Ucrânia é mais uma trágica aprendizagem para todos os homens de boa-fé ou de boa vontade. Uma guerra que, por mais que custe a acreditar, se iniciou com a surpreendente e cruel agressão a um país independente, livre e democrático, a Ucrânia, perpetrada pelos exércitos de um tirano desapiedado. Os geopolitólogos tradicionalistas, particularmente aqueles que se assumem como neutrais em benefício do sinistro Putin, apenas referem causas clássicas de natureza geoestratégica para explicar e justificar tão descarada agressão. Invocam ameaças teóricas, disputas territoriais e de matérias- -primas essenciais, causas eminentemente materiais, portanto, ignorando factores imateriais decisivos como sejam a velha tentação totalitária ou a religião. Muito menos referem o nacionalismo, o patriotismo, a cultura e a ideologia que explicam muitos conflitos passados e recentes, bem como, no caso vertente, a inesperada e heroica reacção da nação agredida. A causa primeira de todas as guerras sempre foi e continua a ser a atávica tentação totalitária, que gerou impérios sacrificando nações, sendo que a religião não é menos relevante nesta matéria. Para o Islão, por exemplo, a guerra é um dever para com o ente divino, acima de todo e qualquer factor material e tanto assim é que reserva um paraíso aos seus guerreiros. E que dizer da ideologia marxista-leninista, outro exemplo, que motivou os maiores massacres da história contemporânea? O agressor Putin aponta como razões para mais esta sua iniciativa bélica a ameaça de que diz ser alvo por parte da NATO, para lá do falso argumento de que a Ucrânia, historicamente, é parte integrante da Rússia. Putin que habilmente e de má-fé, ousou submeter os países mais poderosos da Europa às suas potencialidades energéticas. Putin que comprou livremente armas e componentes estratégicos nos mercados europeus enquanto a Europa estupidamente se desarmava. Putin que guerreou barbaramente na Chechênia, na Geórgia e na Síria sem que ninguém do chamado Ocidente se lhe tenha interposto. Putin que, tanto quanto se sabe, detém paradoxalmente uma imensa fortuna pessoal em países europeus que agora considera hostis. São malignas, sem dúvida, as motivações que agora levaram Putin a massacrar desapiedadamente o povo ucraniano sendo por demais evidente que a invasão da Ucrânia tem uma só causa que é a falta de razão de Putin, a sua mais que provável insanidade mental, a sua sinistra obsessão de pretender reerguer o antigo império russo, alargando-o ao império soviético de má memória. Mas talvez a psiquiatria não explique tudo. Talvez tudo ficasse mais claro se exorcistas qualificados expulsassem os demónios que desde 1917 moram no Kremlin. PS.: Jamais a Humanidade correu tão graves perigos. Enquanto crente associo-me a todas as orações pela paz dirigidas, sobretudo, a Nossa Senhora de Fátima.

Os “putinófilos”

Numa divertida expressão popularizada nas redes sociais, os amigos, simpatizantes, ou simplesmente fãs do déspota Vladimir Putin são designados por “putinófilos”, como se de um qualquer cantor ou futebolista se tratasse. Convém lembrar, por isso, que Vladimir Putin governa a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999, já lá vão 23 anos, portanto, e que entre os eventos notáveis de seu sinistro consulado estão os assassinatos, nunca devidamente esclarecidos, de vários opositores políticos, designadamente de Anna Politkovskaia e de Alexander Litvinenko, Foram estes factos e outros ainda mais graves, que celebrizaram Putin, não as cantigas ou o desporto, nem mesmo tocar piano para mundo ver enquanto esperava pelo presidente da China, Xi Jinping. Talvez também por estes dias se esteja divertindo a tocar a Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner, enquanto pelas janelas do Kremlin entra o som das explosões das bombas em Kiev. Vladimir Putin, que os pusilânimes líderes do Mundo Livre nunca tiveram discernimento e coragem suficientes para o enfrentar como merece, é uma personalidade sinistra que não canta, não chora, nem ri, como melhor agora se manifesta com as atrocidades que as suas tropas estão a cometer ma martirizada Ucrânia. Vladimir Putin que governa como lhe dá na real gana, prende e mata a eito, e manda despejar bombas a esmo sobre escolas, hospitais, bairros residenciais e até centrais nucleares como em Zaporíjia, para lá de ameaçar varrer a Terra com as bombas atómicas como se isso fosse a coisa mais banal deste mundo. Vladimir Putin que, ninguém duvide, entusiasmado com a patente inutilidade da NATO, a fraqueza dos governantes europeus e se acaso a heroica Nação ucraniana se lhe tivesse submetido sem disparar um tiro, como projectou, aproveitaria a oportunidade para, na passada, avançar sobre Berlim e Paris. Os fãs, amigos e simpatizantes do sinistro Putin, os divertidos “putinófilos”, não são, portanto, vulgares amigos, fãs, simpatizantes como os de um qualquer cantor, desportista ou indiscriminado perfil do Facebook. Os “putinófilos” são, isso sim, apoiantes, apologistas, cúmplices das atrocidades do sinistro “big brother” Vladimir, mesmo se disso não têm consciência. Os “putinófilos” são uma espécie rara, venenosa, da exuberante fauna do Mundo Livre, que não deve ser confundido com Ocidente porquanto este é um conceito meramente geográfico cuja associação apenas serve os maléficos desígnios do dito cujo e de outros que tais. Assim é que do Mundo Livre, em que a democracia é lei, fazem parte, entre outros, o Japão, a Coreia do Sul ou a Austrália situados bem lá no Oriente, em contraposição com a China de Xi Jinping, a Rússia de Putin ou a Coreia do Norte de Kim Jong-un, que são partes integrantes do oposto Mundo da Tirania, a que também pertencem a Venezuela de Nicolas Maduro ou a Cuba de Mario Díaz-Canel, muito embora situados no hemisfério ocidental. Os “putinófilos” vegetam livremente nas democracias do Mundo Livre que, diga-se em abono da verdade, não possui apenas virtudes porquanto também enferma de grandes maldades, como sejam a corrupção generalizada ou o aborto livre que só no ano passado ceifou a vida a mais de 200 milhões de nascituros, almas que boa falta lhe faziam. Os “putinófilos” mais fervorosos trazem no cérebro um martelo e uma foice no coração com que martelam a liberdade e ceifam a democracia a seu jeito, relevando os genocídios perpetrados por Josef Stalin, Mao Tsé-Tung ou pelo mais recente Pol Pot que, entre 1975 e 1979, promoveu a execução de cerca de 2 milhões de pessoas. Mas também há “putinófilos” que trazem a cruz gamada ao peito, o que não é de espantar dado que fascismo e comunismo são farinha do mesmo saco, embora amassada e cozida com receitas diferentes. E também há, entre nós, jornalistas, intelectuais de pacotilha e até generais de aviário que são “putinófilos”. Compõem lindos ramalhetes de intelectualidade, neutralidade e tolices sem nexo, que embrulham em lustroso papel de celofane para presentear o camarada Vladimir. Já se tornou fastidioso vê-los e ouvi-los perante as câmaras de televisão, a adoçar subtilmente as bombas amargas que incessantemente martirizam os povos da Ucrânia. Reduzem a geopolítica a uma contabilidade desapiedada, ao deve e haver dos tirânicos donos do mundo para concluir, como é óbvio, que o saldo é positivo para o seu tirano preferido. Os “putinófilos” usufruem da sacrossanta liberdade de expressão que é apanágio da democracia para difundirem a propaganda de guerra do seu sinistro amigo Vladimir. Os “putinófilos” ignoram, ou fingem não entender, que a injustificada, e bárbara, invasão da Ucrânia pelas tropas do paranóico Putin, para lá dos irracionais factores geoestratégicos que a possam explicar, é uma tenebrosa batalha entre o Mundo Livre e o Mundo da Tirania. É isto que importa realçar.

Que santo Alexandre nos valha!

Começo por esclarecer que, consciente da grande confusão que para aí vai, designadamente no discurso dos políticos mais categorizados, pessoalmente e sem obediência a nenhum credo partidário, mais uma vez me declaro contra o Regime político vigente, o que de forma alguma significa que seja contra o Sistema Político de Democracia Liberal e Representativa. Sistema político que, convém relembrar, assenta em três princípios fundamentais: cada cidadão seu voto, separação de poderes e eleição livre e justa dos competentes representantes para bem governar a Nação, podendo assumir várias formas constitucionais, ou regimes se se preferir. Ora, se tivermos em conta os princípios atrás citados havemos de concluir que o actual Regime português não é genuinamente democrático, nem como talse comporta, porquanto muitas dúvidas se levantam quanto à justeza dos actos eleitorais, como acaba de se constatar com os votos da emigração, para lá de que a separação de poderes e a representatividade estão amplamente viciados. Desde logo pela promiscuidade que se tem verificado entre a Presidência da República e o Governo e entre este e a Assembleia da Republica, a Justiça e a alta Finança, com a complacência da primeira instância. Depois porque também são por demais conhecidas deficiências graves da lei eleitoral e da lei autárquica, entre outras igualmente relevantes, que seria fastidioso aqui enumerar. Só assim se compreende que o Regime em apreço favoreça a corrupção generalizada, os altos índices de abstenção, o nepotismo e o compadrio, sem que os tribunais tenham mãos a medir para tantos crimes de natureza política. Sobretudo porque os políticos, genericamente falando, e os partidos, eles mesmos, vivem e medram nesse seu habitat privilegiado que defendem com unhas e dentes. Com graves prejuízos da dignidade do Estado, do erário público, da justiça social, do desenvolvimento sustentado do Pais e da coesão do território, como é por demais evidente. Não é por acaso que recorrentemente alguns políticos mais lúcidos trazem a público a emergência imperiosa da revisão da Constituição e da reforma do Estado, sem as quais a democracia continuará asfixiada e o país a definhar. É que raiz do mal está no Regime que é permissivo a todo o tipo de maldades e dos malfeitores que existem em toda a parte. Reformas que mais uma vez vão ficar congeladas com a maioria absoluta que o PS acaba de alcançar. Isto significa que o sistema de Justiça, o combate à corrupção, as leis eleitoral e autárquica vão continuar dependentes do livre arbítrio do Governo que no facciosismo, nas mordomias e sinecuras, na manipulação abusiva dos órgãos de comunicação mais influentes, tem as suas pedras de toque. Por outras palavras: a governança opaca, sectária e fantasiosa de António Costa vai adensar-se com a maioria absoluta. É o mais certo. Sem que, agora mais que nunca, nada nem ninguém lhe faça frente. Desde logo porque o actual Presidente da República já deu provas de que não tem vocação para tanto. O comentário político e as selfies emblemáticas vão continuar a ser, seguramente, o seu mais delicioso entretém. Depois porque o PSD vai continuar democraticamente inútil. Inutilidade agravada com a reconhecida falta de qualidade do seu novo grupo parlamentar. Depois porque a Justiça vai continuar enredada e subvertida apenas dignificada por meia dúzia de denodados magistrados. Depois porque a alta e a baixa Finança vão engalfinhar-se na disputa do bolo da CEE. Depois porque ao BE, destroçado e desacreditado, pouco mais resta que discutir o sexo dos anjos. Depois porque o PCP desgastado e alquebrado já tornou pública a intenção de se manifestar nas ruas, embora pouco mais consiga que sobressaltar os sem-abrigo. Algumas esperanças de dinamização e renovação democrática recaem, goste- -se ou não, nos vinte aguerridos deputados eleitos pelo Chega e pela Iniciativa Liberal que na Assembleia da Republica se farão ouvir, cada uma à sua maneira, protestando, denunciando e, sobretudo, ameaçando cativar o povo para futuros combates eleitorais, o que não deixará de muito preocupar o PS. Nunca se sabe, porém, se tudo não terminará em circo e folclore e se a montanha não irá parir um rato, até porque o mais certo será a oposição tradicional correr atrás de mitos e centrar os seus ataques no Chega e não no Governo, como seria democraticamente desejável. Eu diria, por tudo isto, que mais sólidas esperanças infunde o juiz Carlos Alexandre que aqui designo alegoricamente por santo Alexandre porque, como é por demais sabido, tem protagonizado prodigiosos milagres no combate à epidemia da corrupção. Alguns dos quais continuam a abalar o Regime, como é o caso que envolve o ex-primeiro ministro José Sócrates, figura maior do socialismo à portuguesa. Que santo Alexandre nos valha, portanto! O nosso, o de Mação, não o do Egipto! Vale de Salgueiro, 10 de Fevereiro de 2022.

A tentação totalitária socialista

Escrevo esta crónica no dia 27 quando ainda não são conhecidos os resultados eleitorais, como é óbvio, e as sondagens cada vez mais baralham os espíritos. Acresce que esta Crónica apenas será publicada depois de consumado o acto eleitoral. Não tenho, portanto, a mais pequena intenção de interferir na campanha eleitoral por mais influente que pudesse ser a minha humilde opinião. Acontece que não acredito no Regime vigente, muito embora continue a ter fé no Sistema de Democracia, liberal e representativa. Para mim, só mesmo esta democracia é revolucionária! Qual foice, qual martelo, qual punho fechado, qual sinistra globalização?! (https://henriquepedro.blogspot.com/2020/09/imperio- -mistico.html) Regime que persiste em promover a corrupção, a pobreza, as desigualdades sociais e a macrocefalia lisboeta, em prejuízo das demais regiões, em especial do meu querido Trás-os-Montes. ´ Regime que persiste em denegar o muito de bom e de bem que os portugueses fizeram por esse mundo de Cristo além. Não me cansarei de dizer, a este propósito, que militei, com muito orgulho e honra, no Exército mais humano da História que em simultâneo com a missão militar rasgou estradas, ergueu escolas e hospitais, tratou, curou, ensinou a ler e a escrever e matou a fome a milhares de infelizes. Que promoveu a paz e harmonia interétnicas e corrigiu os desmandos prevalecentes do colonialismo ancestral. Por tudo isso, não deixarei de pedir à Nossa Senhora de Fátima, se necessário for, que salve Portugal do pântano político e social em que cada vez mais se afunda. Donde se depreende que darei o meu apoio a todas as forças, sejam de esquerda, do centro ou de direita, que genuinamente se empenhem numa reforma positiva do Regime e do Estado. Mais uma vez constato, com tristeza que, apesar dos quase 50 anos que a democracia já leva, os políticos portugueses mais influentes ainda não alcançaram a necessária maturidade democrática já que se têm mostrado incapazes de bem governar o País, com maioria relativa ou absoluta. Por insuficiência de carácter ou de espirito democrático, o que os leva a discutir o cão e o gato e a pôr os interesses pessoais e partidários acima do interesse nacional. O espirito da democracia é servir o povo mas optam sistematicamente por servir o partido. É o caso de António Costa que no auge da campanha eleitoral não se coibiu de apelar ao eleitorado que premeie os seus fracassos governativos com maioria absoluta, apesar da Geringonça, da oposição de direita e do próprio Presidente da República lhe terem dado roda livre para governar como lhe apeteceu durante dois mandatos sucessivos. Controlou a comunicação social como bem entendeu, influenciou a Justiça sempre que lhe interessou, inundou o Estado dos correligionários incompetentes que entendeu. A aprovação dos Orçamentos de Estado pelo BE e o PC não foi mais do que um mero subterfúgio político circunstancial. Só quando se aperceberam que António Costa lhes comia as papas na cabeça e se arriscavam a pesadas perdas eleitorais é que decidiram por termo à governança socialista. Amónio Costa, porém, não desarmou. Incapaz de governar hegemonicamente com maioria relativa reclama agora uma maioria absoluta como a que partilhou no consulado de José Sócrates, de que foi elo fundamental. Maioria absoluta que redundou no desastre nacional que todos conhecemos comprovando que quem não é capaz de bem governar com maioria relativa pior o será com maioria absoluta. Havemos igualmente de concluir que o regime político vigente não está formatado para governos positivos de maioria absoluta ainda que também não facilite governos de maioria relativa. Apenas favorece governanças desenfreadas, ao deus dará, como se vem constatando, contrariamente a outras nações de igual natureza e dimensão. António Costa, porém, ciente do impacto negativo que a maioria absoluta de José Sócrates continua a causar na opinião pública, argumenta agora que o Presidente Marcelo de Sousa lhe não deixará pôr o pé em ramo verde. Só que Marcelo de Sousa se tem revelado o Presidente da República mais promiscuo e permissivo de sempre, como se constatou em diversos momentos críticos da governança de António Costa, como os trágicos incêndios florestais ou o assalto aos paióis de Tancos, em contraste com a vida negra que Mário Soares fez ao primeiro-ministro Cavaco Silva ou como Jorge Sampaio tratou Santana Lopes. Pedir maioria absoluta nas circunstâncias actuais é reflexo da atávica tentação totalitária socialista de António Costa, que mal disfarça com mudanças de discurso quando as sondagens lhe são desfavoráveis. Tentação totalitária essa que poderá levar António Costa a perder as eleições e a perder-se a si mesmo, à democracia e ao país, definitivamente, se as ganhar. A ver vamos.

Católicos, não crentes e sem fé

Magister Rui Rio dixit :“Sou católico mas não sou crente, não tenho fé”. “Tout court”. Esta declaração do líder do PSD no debate com a doutora Catarina Martins, a líder do BE, levantou a maior celeuma nas mais badaladas redes socias, o que não é de admirar. Porque se tratou de uma confissão insólita que já se tornou lendária. Tanto assim é que mereceu críticas exacerbadas, muitas delas desmioladas, dos mais diversificados analistas, opinantes e comentaristas. Uns tomaram-na como um mero deslize, outros como uma imbecilidade, a maior parte não compreendeu o seu propósito e oportunidade, muito menos se seria para rir, se para chorar. Houve mesmo quem opinasse que Rui Rio, embora não crente, sentiu necessidade de ali mesmo se confessar a Catarina Martins, como manda a boa educação cristã, porque esta, no dia anterior, se assumiu, no frente a frente que travou com André Ventura, do partido Chega, uma devota papisa, ou uma devotada papista, como também foi classificada, nas referidas redes sociais. Mas também houve quem opinasse que Rui Rio apenas pretendeu demarca- -se de André Ventura que é católico assumido e o seu mais incómodo adversário eleitoral. A generalidade das críticas, porém, manda a verdade que se diga, são injustas porque interpretam a polémica confissão de Rui Rio num contexto religioso, ou mesmo teológico. Se assim fosse, seria, sem dúvida, ilógica e contraditória. Mas não é! Porque o cenário é eminentemente político e é nesta perspectiva que a peregrina afirmação deverá ser analisada, o que nos levará a olhar benevolentemente Rui Rio como um português do povo e não como político de topo. Ele diz que é católico para dizer que é boa pessoa, homem sério, de confiança, como a generalidade dos portugueses a si mesmos, e a ele também, se consideram, mesmo quando não vão à missa ou se limitam a esperar as namoradas à porta da igreja ou no adro distribuem propaganda política, ou outra que seja. Depois, quando Rui Rio diz que não é crente poderá apenas querer dizer que não acredita no Regime político vigente que pretende mudar, ainda que muito ao de leve. Há que distinguir, contudo, Regime político de Sistema político o que Rui Rio parece não saber ou não lhe interessar separar. É que o Sistema de democracia liberal e representativa é, para muitos, o céu político enquanto o Regime politico português é o inferno que todos conhecemos, o mundo da corrupção institucionalizada, onde campeiam milhares de ladrões legais, demónios que infernizam a vida dos portugueses. Não é compreensível, portanto, que todo e qualquer verdadeiro democrata não se declare abertamente contra o Regime e a favor de reformas fundamentais. Por fim, Rui Rio diz não ter fé. Também aqui deve ser interpretado sob o ponto de vista político e, se assim for, surpreendentemente Rui Rio declara não ter fé que as coisas mudem, isto é, que o Regime, para o bem, se transfigure. Bem lá no fundo a generalidade dos portugueses pensa politicamente como Rui Rio, com excepção dos mais devotos que vão em peregrinação a Fátima ou a qualquer outro santuário invocar milagres, nomeadamente para salvação de Portugal. A afirmação em apreço é, última análise, uma legenda nacional porque a fórmula de Rui Rio também se aplica, com as devidas adaptações, aos demais machuchos seus colegas da política. Jerónimo de Sousa, por exemplo, muito embora não possa dizer como Rui Rio que é católico religiosamente falando, é abertamente um crente, adorador de santos como São Karl Marx ou São Estaline, para lá de que mantem acendrada fé no seu comunismo que acredita um dia governará toda a Humanidade. Já Catarina Martins demonstrou a sua piedosa religiosidade quando no debate com André Ventura se revelou a tal extremosa papisa atrás citada, mais papista que o próprio Papa. António Costa, por seu lado, sempre politicamente falando, aparenta ser um político pagão, um agnóstico que deu provas de nada entender do universo “gerigonceano”. Um governante sem doutrina, que não sabe minimamente o que anda a fazer, que governa o país ao deus-dará. Ou à deusa EU- -dará. Quanto a Marcelo de Sousa, bem, esse é o romeiro típico, o crente que não perde uma romaria para tocar a sanfona, bailar, lançar foguetes e apanhar as canas. André Ventura será o único que, na política como na religião, se declara abertamente católico, crente e ter fé de que tudo irá mudar com a sua empenhada devoção. Mas não será fé a mais?! Tudo isto seria divertido se não fosse dramático. Os portugueses são, em geral, católicos que é, com quem diz, boas pessoas, acreditam nos santos da sua estima, mas não fazem fé nos políticos. Muitos até já desabafam abertamente: mas será que não há um general, um sargento, um soldado que seja que ponha termo a tamanha javardice? Ai de nós se a crise económica, social e política se agravar, como muitos funestamente auguram!

Um vergonhoso jogo de batalha naval

A propósito da nomeação do novo chefe do Estado-Maior da Armada o senhor Marcelo de Sousa, enquanto presidente da república, o senhor António Costa enquanto primeiro-ministro em exercício, o senhor Rui Rio, enquanto putativo primeiro – ministro e o senhor Gouveia e Melo, enquanto marinheiro afamado, travaram publicamente, no mar da insídia política, uma batalha naval política, a todos os títulos lamentável. Batalha que poderá não ter ainda terminado embora haja quem diga que os senhores António Costa e Gouveia e Melo venceram o primeiro round. Batalha de que faz gáudio o jornal semanal “Tal e qual” sem que tenha sido, até ver, desmentido ou contestado pelos directamente visados. Titula, de facto, o referido jornal em toda a largura da primeira página do dia 29 de Dezembro de 2021: “ Gouveia e Melo esteve á beira de alinhar pelo PSD”. A que acrescenta o subtítulo “A manobra” do almirante” e, ainda na primeira página, explica: Rui Rio tinha o sonho de ver o “homem das vacinas” ao seu lado na próxima campanha eleitoral. E isso esteve por um fio. Mas António Costa trocou-lhe as voltas e ao mesmo tempo que “ destrunfou” o líder do PSD, fez a vontade a Gouveia e Melo, nomeando-chefe do Estado-Maior da Armada. Matéria que o jornal semanal “Tal e qual”, que cito com a devida vénia (agradecendo ao jornal Nordeste permitir- -me tão longa citação), desenvolve mais detalhadamente em páginas interiores. Trata-se de uma insidiosa batalha naval, portanto, entendida enquanto jogo político, que irá ficar inevitavelmente registada nos anais da Marinha e na história da triste democracia portuguesa. Não está em causa a categoria profissional e muito menos a eficiência com que a task force liderada pelo agora almirante executou o processo de vacinação na fase eventualmente mais crítica. Não se fique com a ideia, porém, que não há centenas de militares e civis, com competência bastante para desempenhar com igual ou superior brilhantismo a missão que muito justamente prestigiou Gouveia e Melo. Competências que, é por demais evidente, escasseiam, isso sim, na alargada manada de boys partidários que pululam na Administração Pública como se vem provando à saciedade. Por isso, o que verdadeiramente choca a qualquer democrata e português do povo é que, para começar, um emergente líder partidário com ambições de vir a ser primeiro-ministro se atreva, indecorosamente, a tentar arregimentar um almirante no activo para a sua causa pessoal e partidária. Depois, que um brioso militar tenha dado mostras de se predispor para despir a farda que garbosamente ostentou e alinhar em tal projecto. Ou será que se vestia de camuflado por congeminações estratégicas e não por louváveis razões tacticas? Depois, que tal almirante tenha imposto, ainda que sorrateiramente, ao primeiro-ministro em exercício a sua vontade e que este se tenha subordinado aos desígnios do tropa finório, tratando as Forças Armadas como uma coutada pessoal e partidária. Por fim, o que é mais grave ainda, que o mais alto magistrado da Nação e comandante supremo tenha sancionado e alinhado em tão indigna tramoia. A Corporação Militar foi, em última análise, mais uma vez usada, abusada desprestigiada e os seus mais dignos servidores tratados com mentecaptos, por personalidades que mostraram não ter o requerido perfil político e deontológico para da melhor forma governar Portugal. Personalidades que mais parecem apostadas em destruir o passado, o presente e o futuro do velhinho Portugal, sacrificando a Pátria, o Estado, a Nação e o Povo, a deuses que nem eles saberão quem são. Tudo só porque em causa estão as próximas eleições de 30 de Janeiro e o que verdadeiramente lhes interessa é o poleiro. Políticos que o próprio Regime gera para se auto desgovernar. É triste mas é verdade.