A tripla vitória ucraniana

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“A dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas.” (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.) Porque há, entre nós, uns tantos que intencionalmente disso se esquecem, convém lembrar que a “Ucrânia é uma República constitucional, semipresidencialista, cuja independência da extinta União Soviética foi declarada em 24 de agosto de 1991 e formalmente reconhecida em 25 de dezembro do mesmo ano”. Em contrapartida, não há, por certo, quem não tenha presente que no passado dia 24 de Fevereiro se completou um ano sobre a invasão da Ucrânia pelas hordas sanguinárias do facínora Putin, dado que este facto tem sido matéria diária de mil e uma notícias e comentários. O mundo livre e democrático, o mesmo não se dirá do povo russo, está, portanto, muito bem informado dos crimes e barbaridades cometidas em solo ucraniano pelas forças militares a soldo de Moscovo, sendo que parte significativa delas é constituída por mercenários e presidiários recrutados nas prisões. Para lá de que o grosso do contingente é formado por cidadãos oriundos de regiões longínquas da Federação, que Putin manda para uma morte inglória, mal equipados, mal treinados e, acima de tudo, desmotivados. A invasão armada da Ucrânia, país livre e soberano, a destruição das suas escolas, hospitais e maternidades, a deportação de milhares das suas crianças, o saque de casas privadas e museus, a violação de mulheres e crianças, as valas comuns de mártires inocentes não são “fake news”, note-se bem! São factos comprovados, testemunhados e credibilizados por organizações internacionais com autoridade para tanto. Factos que inevitavelmente trazem à memória colectiva as barbaridades cometidas na era soviética. Um ano decorrido sobre a invasão da Ucrânia pelos exércitos russos já não restam dúvidas a ninguém sobre o cinismo e a crueldade de Putin. Putin que continua a lançar mão de mentiras, falsidades e subterfúgios imorais para justificar esse repugnante acto e esconder os seus reais propósitos expansionistas e totalitários. Putin que agora se vitimiza acusando o Ocidente de querer destruir a Rússia ainda que os principais líderes ocidentais tudo façam para não lhe exacerbar essas e outras paranoias. Putin que, confrontado com uma nova estirpe de líderes ocidentais, e não dispondo da benevolência amiga de Donald Trump ou de Silvio Berluscon, para não citar outros, está agora completamente isolado da comunidade internacional, como de resto ficou provado em recente votação plenária da ONU. Putin que, apesar disto tudo e incompreensivelmente, possui em Portugal uns tantos, não muitos, é certo, agentes e simpatizantes que a coberto das liberdades democráticas se esforçam por lhe branquear os crimes, prostituindo as mais elementares normas deontológicas. Estão no seu direito ainda que dele façam mau uso. Agentes, admiradores ou simples simpatizantes que hipocritamente defendem o fim da guerra, mas pela capitulação da nação ucraniana, quando deveriam, e mais convincentes seriam, reclamar, isso sim, a retirada das forças agressoras. Ou, no mínimo, promover manifestações pela paz em Moscovo. Ninguém duvida que se Putin ordenasse a retirada das suas forças da Ucrânia a guerra acabaria de imediato e sem que o exército ucraniano as perseguisse para lá das suas fronteiras. De salientar que foi neste cenário trágico que emergiu o até então desconhecido Volodymyr Zelensky, o atual presidente da Ucrânia. Um jovem de 44 anos que, independentemente do desfecho que a guerra possa ter, já ganhou o estatuto de verdadeiro herói do mundo livre e paladino da democracia e da liberdade. Volodymyr Zelensky que assumiu em pleno a liderança magistral da digníssima nação ucraniana e do seu exército heroico que, pese embora com pesados sacrifícios de pessoas e bens, tem vindo a causar derrotas esmagadoras ao exército invasor. Sublime sacrifico este, sem dúvida, o da Nação ucraniana, que apenas uma tripla vitória, consubstanciada na derrota total das forças de Putin, na reposição da integridade territorial da Ucrânia e na democratização da Rússia, premiará e recompensará em absoluto. Vitória que, em qualquer caso, não será tão breve e tal fácil quanto se desejaria e muito menos está garantida. Contudo, nenhum cidadão adepto do mundo livre e democrático poderá deixar de nela acreditar. Aguarde-se a contraofensiva ucraniana da próxima Primavera, então. 

PS.: A Armando Fernandes, distinto colega colonista do Jornal Nordeste agradeço a referência simpática e generosa que me fez no rodapé de um recente artigo de opinião.

Henrique Pedro