Henrique Pedro

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Temos Papa?

No que à controversa personalidade de Jorge Bergoglio diz respeito já me referi em crónica anterior, neste mesmo espaço. Reafirmo, todavia, que enquanto cidadão e crente mantenho o actual Papa em alta estima. Aprecio, sobretudo, a sua humildade e bonomia que lhe conferem a imagem de homem bom. De forma nenhuma imagino, sequer, e minimamente valorizo, a deriva herética de que certos ficcionistas o acusam, por dá cá aquela palha. Ainda que algumas intervenções públicas de Jorge Bergoglio, informais, circunstanciais e pouco cuidadas, possam fragilizar a sua imagem de homem de paz, imparcial e justo e, sobretudo, de garante da unidade da Igreja e de paladino da Fé. Como foi o caso recente da defesa despropositada dos controversos Lula da Silva e Dilma Ruef que claramente extravasou o papel de neutralidade política que um Papa sempre deve assumir, até para não prejudicar o seu primordial empenhamento espiritual, moral e social. Para lá dos equívocos doutrinários em que Jorge Bergoglio propositadamente ou precipitadamente se envolve, que nada mais são que meros desafiantes de reflexão. Como serão os casos das suas afirmações volantes relativas ao celibato dos padres, à sexualidade e à possibilidade de as mulheres assumirem o sacerdócio. O Papa, por si só nada decide. Devemos ter em consideração que a Humanidade vive tempos dramáticos de mudança, particularmente visíveis nos domínios da ética e dos usos e costumes, e que a Igreja Católica, a maior organização que alguma vez operou sobre a Terra por tempo tão dilatado, já lá vão dois milénios, está no centro do furacão. O seu chefe supremo não tem, portanto, uma tarefa fácil. Bem pelo contrário: gestos, palavras e silêncios são inexoravelmente avaliados, contados, pesados e medidos, sempre havendo quem os aplauda e quem os condene. Cristo que é Cristo não agradou a toda gente! Acresce que no coração da Igreja Católica que é a Santa Sé, instalada no Vaticano, a pequena cidade-estado a que Bergoglio preside, moram todos os vícios do mundo, ao que se diz. Não será de admirar, por isso, que Francisco cative meio mundo com sua bondade, por um lado, e por outro pretensamente lance a desunião e a animosidade entre as próprias hostes. Para gáudio dos inimigos da Igreja, já se vê. A verdade é que o Papa Francisco é tido pela maioria dos crentes e homens de boa vontade, como a personalidade chave dos nossos dias, capaz de conduzir no melhor sentido as reformas indispensáveis de que a Igreja carece. Disso já deu provas bastantes, E de ter papel excepcional na construção da paz e da justiça social neste nosso mundo que dia após dia mais se afunda no abismo da guerra, do ódio, do sofrimento, da doença, da fome e da pobreza. Mundo no qual o Papa Francisco se tem destacado, malgrado todos os equívocos, como uma verdadeira força de paz e de esperança. Assim o Criador lhe dê saúde e vigor para tanto. Permitindo, desde logo, que possamos vê-lo, em Lisboa, já no próximo Verão, a dinamizar mais uma Jornada Mundial da Juventude, liberto dos problemas de saúde que recentemente o apoquentaram. E que, então sim, possamos dizer: Temos Papa! Papa capaz de levar para afrente a indispensáveis reformas garantindo a pureza dos princípios da doutrina de Jesus Cristo. Certo é que o dogma medieval da Infalibilidade Papal não passa disso mesmo.

Os marinheiros aventureiros ...

A propósito da reacção do almirante Henrique Gouveia e Melo, Chefe do Estado Maior da Armada, à desobediência de alguns elementos da guarnição do navio Mondego da República Portuguesa, quatro sargentos e nove praças, mais precisamente, li e ouvi muitos comentários positivos e negativos, ou não se tratasse de matéria altamente fracturante, sobretudo nas actuais circunstâncias. Pessoalmente faço uma apreciação francamente positiva, no essencial, pese embora a excessiva exposição mediática que se compreenderá, ainda assim, porque se trata de um acontecimento de relevância e que, por isso mesmo e em qualquer caso, a comunicação social não deixaria de badalar a seu gosto. Não sei se o almirante em causa será ou não candidato no próximo acto eleitoral para a Presidência da República muito embora uma recente sondagem de opinião o dê como favorito. Tão pouco valorizo, neste contexto, o facto de Gouveia e Melo ter dirigido, com pleno sucesso, o programa de vacinação contra a Covid, depois que os estimados “boys” do primeiro-ministro se revelaram completamente incompetentes. Muito menos me importa saber se o almirante Gouveia e Melo é de esquerda ou de direita, próximo do Governo ou da Oposição, ainda que subjacente a tudo isto esteja o patente abandono a que as Forças Armadas têm sido votadas pelo poder político, com a complacência dos chefes militares que não se fazem respeitar. Nada, em qualquer caso, poderá justificar insubordinações e muito menos motins no seio das Forças Armadas de um país democrático como Portugal. Condenável é, portanto, o facto de um navio da Armada portuguesa não ter cumprido uma missão que lhe foi atribuída no quadro das leis da República, só porque parte da guarnição se recusou a embarcar, quando a maioria dos seus camaradas estaria disposta a assumir, disciplinadamente, os eventuais riscos, donde se depreende que não seriam assim tão graves como os revoltosos fazem crer. Convém lembrar que qualquer operação militar, grande ou pequena, em tempo de paz ou de guerra, sempre comporta riscos. Valorizo, portanto, a atitude do Chefe do Estado Maior da Armada que enfrentou a situação sem delongas ou tergiversações, contrariamente ao que vem sendo hábito nos chefes políticos e militares da actualidade. Gouveia e Melo demonstrou estar à altura dos acontecimentos quando a Nação está mergulhada numa profunda crise económica, social e moral e a autoridade do Estado democrático vacila sistematicamente, deixando os portugueses apreensivos quanto ao futuro da Nação. Note-se que esta sedição de uns tantos marinheiros, originou o incumprimento da missão de acompanhamento e vigilância de um navio reconhecido como hostil, o que é por demais grave, não só porque comprometeu a soberania, a segurança e a defesa do país, mas também porque ofendeu escandalosamente o princípio da disciplina que é fundamental na unidade e operacionalidade das Forças Armadas, em tempo de paz ou de guerra. Tanto assim é que nenhuma Nação sobrevive, livre e independente, sem Forças Armadas competentes, dignas e disciplinadas. Acresce que Portugal, enquanto membro da União Europeia e da NATO, está democraticamente alinhado num confronto generalizado com a Rússia de Putin, muito embora, até ver, apenas se verifiquem acções armadas na distante Ucrânia. Sendo que a embarcação intrusa, que deveria ter sido devidamente acompanhada pelo navio Mondego, ameaçava interesse vitais dos países constituintes das referidas organizações, designadamente cabos de comunicação transatlânticos. O alto comando da NATO não deixou de prestar, por certo, a devida atenção a tal facto, com descrédito para a Armada nacional. Ainda não são publicamente conhecidas as motivações profundas dos revoltosos que tiveram, por certo, outras oportunidades e formas mais dignas e adequadas para afirmar as suas eventualmente justas reivindicações. Não são de excluir, por tudo isso, razões ideológicas e políticas contrárias ao sistema político democrático vigente o que tornará o caso ainda mais grave. Certo é que não se tratou de um mero levantamento de rancho. Deixar passar em claro este grave acto de indisciplina será abrir portas para que tais episódios se repitam e generalizem sem razão bastante, pondo em causa o regime democrático, a paz social e a própria sobrevivência do Estado, como bem se viu no decurso do mal-afamado processo revolucionário em curso (PREC). Vem a propósito evocar e homenagear o comandante Oliveira e Carmo e toda a guarnição da lancha Vega que há 63 anos apenas, enfrentaram, em Goa, uma poderosa esquadra indiana, protagonizando um dos episódios de maior heroicidade da História Pátria. Glória eterna aos verdadeiros heróis

A tripla vitória ucraniana

“A dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas.” (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.) Porque há, entre nós, uns tantos que intencionalmente disso se esquecem, convém lembrar que a “Ucrânia é uma República constitucional, semipresidencialista, cuja independência da extinta União Soviética foi declarada em 24 de agosto de 1991 e formalmente reconhecida em 25 de dezembro do mesmo ano”. Em contrapartida, não há, por certo, quem não tenha presente que no passado dia 24 de Fevereiro se completou um ano sobre a invasão da Ucrânia pelas hordas sanguinárias do facínora Putin, dado que este facto tem sido matéria diária de mil e uma notícias e comentários. O mundo livre e democrático, o mesmo não se dirá do povo russo, está, portanto, muito bem informado dos crimes e barbaridades cometidas em solo ucraniano pelas forças militares a soldo de Moscovo, sendo que parte significativa delas é constituída por mercenários e presidiários recrutados nas prisões. Para lá de que o grosso do contingente é formado por cidadãos oriundos de regiões longínquas da Federação, que Putin manda para uma morte inglória, mal equipados, mal treinados e, acima de tudo, desmotivados. A invasão armada da Ucrânia, país livre e soberano, a destruição das suas escolas, hospitais e maternidades, a deportação de milhares das suas crianças, o saque de casas privadas e museus, a violação de mulheres e crianças, as valas comuns de mártires inocentes não são “fake news”, note-se bem! São factos comprovados, testemunhados e credibilizados por organizações internacionais com autoridade para tanto. Factos que inevitavelmente trazem à memória colectiva as barbaridades cometidas na era soviética. Um ano decorrido sobre a invasão da Ucrânia pelos exércitos russos já não restam dúvidas a ninguém sobre o cinismo e a crueldade de Putin. Putin que continua a lançar mão de mentiras, falsidades e subterfúgios imorais para justificar esse repugnante acto e esconder os seus reais propósitos expansionistas e totalitários. Putin que agora se vitimiza acusando o Ocidente de querer destruir a Rússia ainda que os principais líderes ocidentais tudo façam para não lhe exacerbar essas e outras paranoias. Putin que, confrontado com uma nova estirpe de líderes ocidentais, e não dispondo da benevolência amiga de Donald Trump ou de Silvio Berluscon, para não citar outros, está agora completamente isolado da comunidade internacional, como de resto ficou provado em recente votação plenária da ONU. Putin que, apesar disto tudo e incompreensivelmente, possui em Portugal uns tantos, não muitos, é certo, agentes e simpatizantes que a coberto das liberdades democráticas se esforçam por lhe branquear os crimes, prostituindo as mais elementares normas deontológicas. Estão no seu direito ainda que dele façam mau uso. Agentes, admiradores ou simples simpatizantes que hipocritamente defendem o fim da guerra, mas pela capitulação da nação ucraniana, quando deveriam, e mais convincentes seriam, reclamar, isso sim, a retirada das forças agressoras. Ou, no mínimo, promover manifestações pela paz em Moscovo. Ninguém duvida que se Putin ordenasse a retirada das suas forças da Ucrânia a guerra acabaria de imediato e sem que o exército ucraniano as perseguisse para lá das suas fronteiras. De salientar que foi neste cenário trágico que emergiu o até então desconhecido Volodymyr Zelensky, o atual presidente da Ucrânia. Um jovem de 44 anos que, independentemente do desfecho que a guerra possa ter, já ganhou o estatuto de verdadeiro herói do mundo livre e paladino da democracia e da liberdade. Volodymyr Zelensky que assumiu em pleno a liderança magistral da digníssima nação ucraniana e do seu exército heroico que, pese embora com pesados sacrifícios de pessoas e bens, tem vindo a causar derrotas esmagadoras ao exército invasor. Sublime sacrifico este, sem dúvida, o da Nação ucraniana, que apenas uma tripla vitória, consubstanciada na derrota total das forças de Putin, na reposição da integridade territorial da Ucrânia e na democratização da Rússia, premiará e recompensará em absoluto. Vitória que, em qualquer caso, não será tão breve e tal fácil quanto se desejaria e muito menos está garantida. Contudo, nenhum cidadão adepto do mundo livre e democrático poderá deixar de nela acreditar. Aguarde-se a contraofensiva ucraniana da próxima Primavera, então. 

PS.: A Armando Fernandes, distinto colega colonista do Jornal Nordeste agradeço a referência simpática e generosa que me fez no rodapé de um recente artigo de opinião.

A novíssima ética republicana

A distinta classe política lusitana diverte-se agora fazendo exercícios de flic- -flac no palco papal e a nadar de costas no pântano de que António Guterres teve a lucidez de, a tempo, se salvar. Com os actuais próceres da Nação, com destaque para o primeiro- -ministro António Costa e o presidente da Assembleia Augusto Silva, a encherem o peito de ética republicana socialista, enquanto os putativos primeiros-ministros Pedro Santos e Fernando Medina perdem fôlego com os ares viciados da TAP, do Novo Aeroporto de Lisboa e de outros ambientes mais fechados. Longe vai o tempo em que o demiurgo socialista Mário Soares cunhou o lendário princípio da indignação popular e, sacrílego, não se coibiu de elogiar a ética do ditador republicano António Salazar que, segundo ele, “não foi nem fascista nem corrupto e nunca mexeu nos dinheiros públicos”. Convém, portanto, repensar a república e a ética republicana e esclarecer que república não é sinónimo de democracia, como também monarquia o não é de ditadura. Presentemente, há na Europa, países democráticos em que vigoram regimes monárquicos, como é o caso da vizinha Espanha e da nossa secular aliada Inglaterra, ainda que não se vislumbrem grandes hipóteses de Portugal voltar a ser uma monarquia, democrática, ainda assim, igualzinha à república em vigor. A verdade é que Portugal é, desde 1910, um país republicano e a portuguesíssima república já conta 113 anos, portanto. Implantada com a revolução de 5 de outubro de 1910, teve uma primeira vigência, conhecida como Primeira República, que durou apenas 16 anos porque terminou abruptamente como o golpe de 28 de maio de 1926, que deu origem à Ditadura Militar primeiro e, posteriormente, ao Estado Novo. Período de 16 anos apenas que, segundo fontes autorizadas, foram bem recheados com sete parlamentos, oito presidentes da República, 45 governos, 40 chefias de governo (um presidente do Governo Provisório e 38 presidentes do Ministério), duas presidências do Ministério que não chegaram a tomar posse, dois presidentes do Ministério interinos, uma junta constitucional, uma junta revolucionária e um ministério investido na totalidade do poder executivo. Primeira República, essa, que ficou igualmente marcada por convulsões sociais constantes e inúmeros crimes civis e políticos. Já o Estado Novo a que alguns historiadores também chamam de Segunda República, foi um regime político ditatorial, autoritário, autocrata e corporativista, é certo, mas republicano, note-se bem. E, como não há duas sem três, aí está a Terceira República que corresponde ao atual regime democrático estabelecido após a Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim à tal república autoritária de António Salazar e Marcello Caetano. Período inicialmente caracterizado por uma grande instabilidade que ficou conhecido como Processo Revolucionário em Curso, ou simplesmente PREC. A chamada ética republicana, na prática, tem muito que se lhe diga, portanto, apresentando-se, hoje em dia, como uma coisa do outro mundo, do mundo latino americano, melhor dizendo. Em teoria é lindo de se dizer que repudia, veemente, todo o tipo de compadrio, clientelismo, nepotismo e corrupção, consagrando o primado da igualdade de todos os cidadãos perante lei, não admitindo que uns beneficiem de privilégios e vantagens em função da sua filiação partidária ou laços familiares. Triste é reconhecer, porém, que esta república terceira, não tem sido propriamente um sucesso em matéria de democracia, no domínio económico e da justiça social bem como no combate à corrupção, sobretudo agora que a nova ética republicana em curso, uma espécie de PREC socialista, ganhou dinâmica própria com a maioria absoluta alcançada por António Costa, uma caixa de ressonância de todos os vícios do regime. O que também é bem visível na legião de autarcas que continuam a ser processados judicialmente, ainda que a causa primeira, temos que reconhecer, esteja na larga maioria dos eleitores que, desmotivados a preceito, sistematicamente não exercem o seu direito de voto, permitindo que o poder seja assaltado por gente indesejável. Não é de admirar, por isso, que a classe política em geral e a própria Assembleia da República em particular, contrariamente ao que afirma o seu presidente Augusto Silva, estejam cada vez afastados das boas graças da Nação. E que o primeiro-ministro António Costa e o seu o anjo da guarda, o presidente da República, Marcelo de Sousa, cada vez mais sós no poder e de caras voltadas, entre eles e o país. Ainda assim, a Nação esperava muito mais e melhor desta república de terceira classe, pelo que invocar a tal ética republicana no contexto actual é, no mínimo, ridículo. A menos que apenas se pretenda abafar a justa indignação popular que Mário Soares legitimou e à qual a governança socialista do presente dá toda a razão de ser

Ilegalize-se o Partido Socialista. Salve-se a Democracia!

É trivial ouvir-se dizer que os portugueses têm memória curta. Talvez assim seja, porquanto, tudo leva a crer, já poucos se lembrarão dos tempos em que os dinheiros da CEE começaram a inundar Portugal mas a maior parte acabou por ser mal empregue ou levar descaminho. Tempos em que correu na opinião pública a boutade “não comam com os pés”, atribuída a um eminente político socialista de então, que a terá proferido perante uma assembleia de correligionários e outros distintos machuchos. Parodiando, claro está, aqueles fiéis amigos que metem os pés e as mãos na gamela, chafurdando sem maneiras, até que a ração acabe. Mentira ou não a verdade é que tal recomendação, que não era dirigida a nenhuma estimada família canina mas a uma outra desumana raça de cães da democracia, caiu em saco roto, como mais uma vez agora se constata. Os escândalos relativos à utilização indevida e o descaminho de fundos provindos da União, considerando igualmente receitas próprias do Estado arrecadadas com o sacrifício e o suor dos contribuintes, continuam a acontecer às escâncaras e sem cessar. O que explica que Portugal, quando se prepara para comemorar 50 anos de democracia e 38 de adesão à CEE, continue a ser um dos Estados mais pobres, mais corruptos e socialmente mais injustos da União, por mais brilharetes que os actuais governantes, verdadeiros mestres de magia e funambulismo, digam que fazem e dias milagrosos que profetizem. Talvez os portugueses tenham mesmo memória curta. Pessoalmente, porém, estou convencido de que a maioria ainda se lembrará, uns mais amargamente do que outros, é certo, dos três anos de austeridade durante os quais Portugal foi tutelado pela mal-afamada Troika. Recaiu sobre Passos Coelho o odioso de ter sido ele a pôr em prática as medidas acordadas no designado Plano Troika, celebrado em 2011, entre o Estado Português e o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, como condição necessária para o empréstimo de 78 mil milhões de euros que visou, em última análise, vergonha das vergonhas, salvar Portugal da bancarrota. Ainda que ninguém, de boa fé, também se possa dar ao desplante de não atribuir ao rasgo e clareza governativa de Passos Coelho, o mérito do sucesso dessa gigantesca operação de ajuda político- -financeira que a má governação de José Sócrates havia tornado dramaticamente indispensável. Emblemática é a cerimónia de 3 de Maio de 2011, em que o afamado ex-primeiro ministro José Sócrates, tendo a seu lado o envergonhado e comprometido ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, comunicou ao País o estabelecimento desse indigno mas providencial contrato. Também não deixará a maioria dos portugueses de ter presente que o alívio da crise resultante do sucesso do Plano Troika acabou por ser sopro de vida, e de morte, dos governos de António Costa que lhe seguiram. Muito em especial do constituído sob a égide da célebre Geringonça, que ficou irremediavelmente marcado pelo aventureirismo ideológico, político e administrativo e de que a TAP é paradigma. Geringonça que acabou por gerar no próprio ventre a maioria absoluta mais absurda e abortiva de que há memória, que é mãe do governo mais desconchavado e desastroso que imaginar se pode. Mais visível agora quando de novo a UE está a injectar milhões de euros na suspeitosa administração portuguesa e mais uma vez se questiona a transparência e eficácia da sua aplicação, porque o primeiro-ministro António Costa tem limitado a governação a interesses partidários e particulares, varrendo o interesse nacional para debaixo do tapete de Bruxelas. É que os governos de António Costa não são de esquerda nem de direita. São do que lhe dá jeito. Claro que isto tudo só é possível porque o regime político vigente é uma cloaca de incompetências, compadrios, desonestidades e impunidades, o que também explica que os seus principais usufrutuários não o queiram reformar. Ainda que a forma leviana como António Costa tem constituído governos e governado não teria sido possível sem a explicita complacência de Marcelo de Sousa, para quem a política continua a ser um divertimento e a presidência da república uma excentricidade. Leviandade e excentricidade que, até aqui, têm combinado perfeitamente. Daqui para a frente se verá. Amargo e preocupante é constatar que os portugueses estão a viver de novo tempos dramáticos de incerteza, com sérios pronúncios de grave crise económica e social e sem que Portugal tenha governo e oposição à altura. Só assim se compreende que o presidente da república se agarre agora à tábua de salvação da estabilidade política e grite à sacrificada Nação: aguenta que é democrático! Será mesmo que o é? Talvez melhor será ilegalizar o PS para salvar a democracia, e permitir que os muitos e bons socialistas que ainda restam fundem um novo partido. Mas atenção: o PSD que não se fique a rir e se cuide.

Se a si lhe perguntassem se gostaria que o matassem que responderia?

A recente discussão e aprovação da lei que legaliza e regulamenta a eutanásia provocou em muitos portugueses, por certo, uma reflexão silenciosa e angustiada.
Lamentando, veementemente, que não tenham sido tidos nem achados sobre matéria de importância capital porquanto tem a ver com a vida e a morte e com tudo de mais sagrado em que acreditam.
Tudo se confinou, porém, aos corredores e gabinetes fechados do palácio de São Bento como é timbre das democracias de fachada, em que a público apenas vêm, por norma, os espectáculos, ora tristes ora divertidos a que os deputados se prestam perante as televisões, na sala de audiências que também é designada por hemiciclo, porquanto se trata de um espaço semicircular e não de volta completa, dado que falta lá o povo.
Para lá de que é por demais conhecida a seriedade e a competência da maioria dos actuais deputados, formados na subserviência política, social e mental dos partidos que os ataviam.
A triste realidade, porém, por muito que a muitos portugueses custe, é que a lei da eutanásia foi aprovada nas suas costas, competindo agora o remate final ao mais alto magistrado desta democracia de fachada, que o irá dar por entre milhares de selfies risonhos e divertidos, como é óbvio.
Claro que a eutanásia não é uma questão nova porquanto foi praticada por diversos povos ao longo da História, sem lei nem piedade, como era o caso dos celtas em que os filhos matavam os pais quando estes começavam a apresentar sinais de envelhecimento ou enfermidade.
Ou no caso da Índia em que era costume levar os enfermos para as margens do rio Ganges e tapar-lhes a boca e as narinas com a lama que consideravam o “barro sagrado”.
Felizmente, no conceito moderno, a Eutanásia está circunscrita ao acto de facultar aos pacientes uma morte tanto quanto possível indolor, libertando-os das dores provocadas por doença incurável ou particularmente dolorosa.
Acto que em qualquer caso não deixa de levantar problemas complexos de natureza religiosa, filosófica, política e pratica, que envolvem não apenas os pacientes mas também aqueles que são constrangidos a praticá-la.
Ainda que no âmbito do denominado suicido voluntario, se é que algum suicídio o não é, possa ser operada mediante o fornecimento dos meios requeridos ao paciente, a seu pedido, aliviando deste modo
a consciência dos profissionais em causa.
De salientar que na maior parte dos países não existe legislação específica sobre a eutanásia, donde decorre que se realizada pelo próprio doente será, por norma, tida como suicídio e se operada por terceiros considerada homicídio.
Entre nós o problema foi agora novamente colocado na ordem do dia político, sendo muito controversa a oportunidade, sabe-se lá porque suspeitas razões, e mais uma vez a Nação não só não foi devidamente esclarecida como tão complexa matéria requeria, como o pensamento e o sentimento nacionais foram liminarmente postergados em benefício dos desígnios de uns quantos iluminados.
Ainda assim, a maior gravidade deste obscuro procedimento legislativo advém de que há receios fundados de que poderemos estar a caminhar para a legalização de mortes criminosas, abertas ou encapotadas, como no caso do aborto, convertendo-se a eutanásia numa verdadeira selvajaria, como o foi no tempo dos celtas.
Abrindo portas ao sacrifício dos mais desfavorecidos que não tenham dinheiro para pagar uma boa clinica de cuidados paliativos ou de quantos deixaram de ter importância social, como já foram noticiados casos em países em que a eutanásia está legalizada.
Razões mais que suficiente para que a Nação tivesse sido chamada a pronunciar-se em tempo oportuno, mediante um pergunta simples e directa e sem o chorrilho de palavras e conceitos de teor técnico e filosófico que ninguém compreende.
Tudo seria mais sério, pacífico e transparente, estou em crer.
 

Ventos e ventoinhas

O ser humano viveu durante longos milénios perfeitamente integrado na Natureza, sem prejudicar os biossistemas em que se movimentava. Até que, sabe-se lá porque espúrios desígnios, o progresso da Humanidade começou a causar danos gravosos na própria Mãe Natureza. Sobretudo a partir do momento em que se passou a utilizar materiais fósseis para obtenção da indispensável energia, o que implicou o desventrar ruinoso da crusta terrestre e a progressiva contaminação das águas e dos ares. Dir-se-á que tudo resultou de um certo determinismo civilizacional mas a verdade é que só muito recentemente a Humanidade ganhou consciência de que não pode continuar por esse caminho. Porque tais substâncias fósseis são finitas e o seu processo de transformação em energia, bem como o funcionamento das diversificadas máquinas que dela dependem, são altamente nocivos do meio ambiente. Donde resulta que a água potável e o próprio ar respirável vão escasseando e as associadas alterações climatéricas se tornaram insustentáveis, para lá de que não há mais espaço para mais aviões no ar ou para mais automóveis em terra. A procura de energias alternativas e o desenvolvimento de máquinas compatíveis tornou-se, assim, instante e inevitável. Fenómeno que, como é óbvio, também se faz sentir no pequeno Portugal, com realce para as regiões em que o território dispõe de maiores recursos nesta matéria, designadamente água, vento e sol. Assim é que, numa primeira fase, as águas dos principais rios transmontanos foram perversamente represadas e os seus leitos monstruosamente deformados. Mais recentemente foi a vez das serranias, até então intocadas, serem desfiguradas com a implantação de gigantescas torres coroadas de ventoinhas e das associadas estruturas de transporte de energia. Ventoinhas que agora pretendem cravar bem no coração de Trás-os-Montes, mais precisamente na indefesa Serra da Santa Comba, que se situa bem no centro da mítica Terra Quente transmontana. Terra Quente que possui uma identidade paisagística singular, composta de suaves colinas onde medram olivais e vinhedos, o que lhe confere uma aprazível imagem bíblica. Serra de Santa Comba que já no quinto milénio a.C. albergou seres humanos, um tanto tardiamente, é certo, porquanto por essa altura, já em Jericó viviam mais de 2000 habitantes e nos deltas do Nilo, do Tigre e do Eufrates eclodiam as primeiras civilizações da era histórica. Serra de Santa Comba que é depositária de um riquíssimo património geológico, paleontológico, arqueológico e religioso, constituindo-se, para lá do mais, num dos mais extensivos e deslumbrantes miradouros portugueses. De salientar que a Federação Internacional das Organizações de Arte Rupestre a notabiliza como uma das maiores concentrações de arte rupestre de toda a Europa. Igualmente notáveis são os vestígios glaciares, as chamadas ranhas, ainda visíveis na encosta sul embora tenham sido, em parte, delapidadas. Serra de Santa Comba que especialistas dizem ter impacto determinante no clima da região envolvente porque as massas de ar marítimas quando a encontram, sobem e arrefecem, originando as chuvas abençoadas sem as quais a Terra Quente seria desértica, por certo, faltando saber se de alguma forma as ventoinhas poderão influenciar este sistema. Acresce que a Serra da Santa Comba está profundamente envolta em lendas e narrativas como é o caso da Lenda de Santa Comba e São Leonardo (1) relativa ao santuário com o mesmo nome, que é sede de uma concorrida romaria secular. Importa, ainda, esclarecer que a Serra de Santa Comba se compõe, na verdade, de duas formosas montanhas, a denominada Serra dos Passos e a Serra da Santa Comba propriamente dita, separadas por um profundo vale transversal, com território e património repartidos pelos concelhos de Mirandela e de Valpaços. Ora, por mais instante e legítima que seja a procura de energias alternativas nada justifica que a mesma se faça levianamente, menosprezando tão diversificado património milenar. De salientar que do lado do município valpacense não são conhecidos projectos para a parte da serra que lhe diz respeito. Já do lado do município mirandelense estará em curso, de forma tão surpreendente quanto precipitada, a construção do denominado Parque Eólico de Mirandela que assentará, para lá do mais, num deficiente Estudo de Impacto Ambiental que voz autorizada denunciou como fraudulento, correndo-se o risco de que este mau projecto se transforme num péssimo negócio para a autarquia. A plena salvaguarda de tão vasto e precioso património, a sua defesa, promoção e abertura a visitantes, devidamente ordenada, devem ser condição Sine qua non. Pela parte que me toca gostaria de continuar a ver da minha janela, a mítica Serra da Santa Comba livre de ventoinhas, convertida num santuário natural e com o seu perfil fascinante bem recortado no horizonte. (1) (https://henriquepedro.blogspot.com/2017/10/ lenda-de-santa-comba-e-sao- -leonardo.html)

É nisto que dá a maioria absoluta de um partido só

À data em que escrevo esta crónica dois acontecimentos dignos de nota porque escandalosos demais, agitam a opinião pública, na sequência de muitos outros de igual gravidade, reforçando a ideia de que a governança do primeiro-ministro António Costa é simplesmente vergonhosa. E tudo leva a crer que maiores escândalos ainda estão para vir o que não será de admirar. Resta-nos esperar que, para bem de Portugal, se não venha a revelar igualmente desastrosa, como aconteceu com o famoso governo de que fez parte, que colocou o país às portas da banca rota. Isto apesar de, ou por causa dos muitos milhões da UE de que dispõe. Atenção que não escrevo governação mas sim governança porque entendo que este último conceito não possui a dignidade que o primeiro tem. Trata-se de acontecimentos que ocorrem principalmente no núcleo duro do Governo, envolvendo as personalidades mais próximas do primeiro-ministro, note-se bem. Como é o caso do secretário de estado, Miguel Alves, homem de mão do primeiro-ministro que, porque enredado na chamada operação Teia e noutros acontecimentos profusamente noticiados e publicamente discutidos, não teve outro remédio senão demitir-se, por mais que António Costa o tenha protegido. Operação Teia que igualmente envolve a sua correligionária Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Entretanto também foi noticiado que António Costa, ainda quando na qualidade de presidente da Camara Municipal de Lisboa, terá pago mais de 80 mil euros a Miguel Alves, precisamente, mediante três contratos de assessoria, por ajustes diretos, com a agravante de que tão distinto contratado nem teria, sequer, o currículo mais recomendado para tais funções. A fama já vem de longe, como se vê. Será que tudo isto está a ser investigado, por quem de direito, como a democracia requere? Duvido. O segundo caso notável envolve a ministra Mariana Vieira da Silva que acaba de nomear o jovem Tiago Alberto Ramos, de 21 anos, para adjunto do Ministério da Presidência com o vencimento obsceno de quatro mil euros, porquanto não tem currículo académico para tanto e muito menos qualquer outra experiencia profissional que não seja a militância partidária. Só mesmo a filiação na Juventude Socialista poderá ter justificado a sua designação para tão pingue posição. Ainda assim, ao clamor que se levantou em reacção a esta problemática nomeação a ministra Vieira da Silva respondeu, cinicamente, que “a filiação partidária no Partido Socialista nunca foi critério de recrutamento”. Pois não! Talvez não conheça ela outros critérios, é o que é. A sobranceria, a desfaçatez e a falta de respeito pelo povo português da generalidade dos actuais governantes alcançou níveis verdadeiramente alarmantes, nestes dois casos e não só, como se vê. Acontecimentos e comportamentos que evidenciam políticos medíocres para quem a ética é ditada por eles próprios, por decreto, e que confundem confiança política com amiguismo, compadrio, conluio e nepotismo. Sendo que a tentação hegemónica, para não dizer totalitária, do doutor António Costa já ultrapassou os limites da decência democrática, como se vê, porque abusivamente está a tratar Portugal como se fosse um Estado de partido único, que tudo açambarca e de que tudo dispõe a seu bel-prazer. É nisto que dá a maioria absoluta de um só partido, quando os governantes são deste jaez. Mais do que nunca a salvaguarda da verdade, da democracia e do futuro de Portugal, requerem uma revisão constitucional profunda, séria e patriótica. Capaz de promover uma transformação positiva da sociedade, a começar, claro está, pela classe política. Revisão que acabe de vez com a hegemonia partidária, que confira eficácia ao sistema de Justiça, que moralize a despesa pública e confira aos actos eleitorais e às regiões a dignidade que devem ter. Sobretudo porque a actual Lei Fundamental está directa ou indirectamente associada a normativos legais que explicam os gravosos fracassos do Regime, evidenciados na elevada abstenção eleitoral, na desmedida dívida pública, na corrupção generalizada, no deficiente funcionamento da justiça, na promiscuidade entre o poder político e o financeiro, nas assimetrias regionais, no colapso dos serviços públicos fundamentais, na hegemonia partidária e na prevalecente incompetência técnica e ética da maioria dos governantes. A situação actual é, portanto, de bradar aos céus. Invocar o presidente da república ou qualquer outra inócua instituição do regime para moralizar o governo é perder tempo. A governança do doutor António Costa avilta todos os portugueses e, sobretudo, os filiados e simpatizantes do Partido Socialista. Urge pôr cobro a esta pouca vergonha.

Fascismo à italiana. “Fachismo” à portuguesa

Como se sabe o primeiro regime genuinamente fascista foi fundado em Itália pela mão do famoso Benito Mussolini, também conhecido como “o Duce”, que os anais apresentam como um jornalista e antigo revolucionário socialista. Chefiou a República Social da Itália entre 23 de Setembro de 1943 e 25 de abril de 1945, tendo sido assassinado nesta última data, ano em que terminou a II Guerra Mundial. A palavra fascismo deriva precisamente de “fascio” que em italiano significa “feixe”, porquanto tão controversa ideologia política tinha como símbolo principal um molho de varas atadas em torno do cabo de um machado, com as extremidades a descoberto. Outros regimes políticos similares usaram outros símbolos, igualmente marcantes e eventualmente mais impactantes, como é o caso da cruz gamada do nazismo ou da foice e martelo comunista. De lembrar ainda que no caso do fascismo italiano ficou célebre a chamada Marcha sobre Roma que ocorreu entre 27 e 28 de Outubro de 1922 e com a qual Mussolini ousou tomar ao poder. Acontecimento que agora, em 2022, perfez 100 anos, o que foi assinalado, surpreendentemente, com a afixação em Roma de cartazes alusivos ainda que sem grande expressão nacional, ao que parece. Todavia, as ideias fascistas, consubstanciadas numa doutrina política totalitária, racista, xenófoba e assente no poder absoluto do Estado, não se circunscreveram a Itália. Ganharam até expressão bem mais sinistra na Alemanha de Adolfo Hitler com o nazismo, designação corrente do nacional- -socialismo, que muito tem de comum com o marxismo-leninismo que, com Josef Estaline e outros, enformou os maiores genocídios de que há memória. Ideias fascistas que continuam bem vivas nos nossos dias, pontificando na Rússia, na China e na Coreia do Norte dos neofascistas Vladimir Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un, para não citar outros sinistros grandes líderes de regimes de partido único e totalitário de menor expressão. Ideias que igualmente florescem nas chamadas democracias liberais do Ocidente, promovidas por partidos de extrema-esquerda e de extrema-direita ainda que, até ver, de forma democraticamente suportável. Claro que o actual regime político português, malgrado todas as suas imperfeiçoes e malfeitorias, nada tem a ver com esse fascismo de diferentes rostos que encheu a História de tragédias e misérias. Tanto assim é que o povo português, com o seu proverbial sentido de humor e bonomia, de pronto tratou de caricaturar o termo fascismo sem contudo lhe modificar o sentido e o mote, passando a fazer uso corrente da palavra “fachismo”, assim mesmo, com “ch”, para manifestar o seu descontentamento e indignação perante o estado do país, que os políticos teimam em manter atrasado, desigual e corrupto, como lhes convém. Poderemos então dizer que o regime político português, nãosendo embora um fascismo à italiana é um “fachismo” à portuguesa e que “fachos”, “fachistas, são todos quantos, e são demais, ilicitamente se servem do Estado em benefício próprio e dos seus familiares, correligionários e amigos, independentemente do partido político que os alberga. Regime “fachista” do qual o primeiro-ministro em exercício, alcandorado na maioria absoluta, segura o facho da governança mais controversa, incompetente e indecorosa de que há memória, que só encontra paralelo no consulado do seu correligionário José Sócrates, dando total sentido à expressão popular “sou PS faço o que me apetece”. Governança vergonhosamente marcada pelos muitos conflitos de interesses envolvendo relações familiares de membros do governo, pelos casos de corrupção que incessantemente vêm a público, pelo funcionamento deficiente dos serviços públicos fundamentais e por erros estratégicos clamorosos, dos quais a TAP e o novo aeroporto de Lisboa não serão os mais graves, se tivermos em conta a desastrosa gestão da dívida pública. E, claro está, sem esquecer o sempre propalado, adiado e frustrado combate à corrupção. Por muito menos a britânica Liz Truss foi forçada a apresentar a sua demissão ao Rei Carlos III, pondo fim a um governo que apenas esteve em funções uns míseros 45 dias. Outra democracia, já se vê. Ainda que o facho que António Costa obstinadamente segura não seja um feixe de varas amarradas em volta de um machado, igual ao de Mussolini. Era só o que faltava! Mas, seja como for, é de um feixe que se trata, de um molho de palha, firmemente agarrado pela simbólica mãozinha fechada socialista. Palha que António Costa insiste em dar de comer aos portugueses, de várias formas e astutamente, com o beneplácito do presidente da república que fala de mais para não dizer nada, ou não dizer o que deve, que o mesmo é para calar os erros do governo e os achaques do regime. Só nos resta desejar que o “fachismo” à portuguesa de António Costa não origine num verdadeiro fascismo à italiana.

De mal com Deus e de bem com o diabo.

Nenhum filósofo, cientista, artista, político ou militar se Lhe compara por maiores e mais duradoiros que tenham sido os seus feitos. Jesus Cristo foi, e continua a ser, o maior revolucionário de todos os tempos, sem evocar aqui a Sua dimensão cósmica. Tão grande Ele é que os factos históricos são correntemente arrumados em dois períodos maiores - antes Dele e depois Dele. E tão grandiosa é a revolução por Si protagonizada que ainda hoje continua e, por certo, irá prosseguir por algum tempo mais. A revolução operada por Jesus Cristo, todavia, não é uma revolução qualquer, das muitas de cariz meramente político, social ou científico que a História regista, trate-se da Revolução Francesa, da Revolução Comunista, da invenção da Electricidade e do Computador ou mesmo da Bomba Atómica. A revolução de Jesus Cristo é eminentemente espiritual, pacífica, permanente e persistente. Opera nos espíritos, nas mentes e nos corações, com reflexos profundos em todos os domínios da vida humana. Revolução consumada por uma imensa legião de militantes que são fiéis, mártires e santos e não meros activistas, demagogos ou bombistas. O único gesto exaltado que a Jesus Cristo se conhece é aquele que evangelistas referem como a Expulsão dos Vendilhões do Templo, quando lançou mão de um azorrague para forçar a saída do espaço sagrado daqueles que o haviam profanado. Revolução que se consubstancia, principalmente, na Igreja Católica, a maior e mais conhecida organização terrena das várias que actualmente se devotam a propagar a Sua doutrina. Igreja Católica que, como se sabe, é governada a partir de Roma pela chamada Cúria, com o Papa à cabeça, congregando cerca de 1,2 bilhões de seguidores baptizados, mais de metade de todos os ditos cristãos que se calcula serem cerca de 2,3 bilhões, o equivalente a cerca de 18% da população mundial. Igreja Católica que cumpre, na actualidade, uma missão inigualável nos domínios social, humanitário, da educação, do ensino e da saúde, a que não se iguala nenhuma outra instituição religiosa ou civil, designadamente a gigantesca ONU. Lamentavelmente, pese embora a sua importância planetária, a Igreja Católica global enfrenta, presentemente, uma profunda crise que será, provavelmente, a maior da sua longa história. Crise que acontece quando a Humanidade, ela própria, a ocidente e a oriente, anda de mal com Deus e de bem com o diabo, mais do que em qualquer outro tempo da História. De bem com a mentira e de mal com a verdade. De bem com a opressão e de mal com a solidariedade. De bem com a guerra e de mal com a paz. Tempo em que o crime se multiplica em género e número por todo o planeta, com todos os males, injustiças, vícios, pedofilia e corrupção, bem à vista de toda a gente no convencionado Ocidente, em que a democracia e a liberdade são lei, mas que existem reforçados, embora sem que sejam do conhecimento público, nos países obscuros em que imperam ditaduras que procrastinam os direitos fundamentais. A crise da Igreja, porém, é específica, centra-se sobretudo na relação entre catolicismo e sexualidade, com especial gravidade nos inúmeros actos de abuso sexual de crianças praticados por clérigos: bispos, padres, freiras e membros de ordens religiosas que, para lá de pecaminosos no âmbito doutrinal são, acima de tudo, crimes hediondos nos planos moral e civil. Crise que tem provocado críticas sarcásticas demolidoras por parte dos seus adversários e sentimentos de desgosto, descrença e mesmo de afastamento dos fiéis mais frágeis. Crimes que em muitos casos, tanto quanto se sabe, têm sido lamentavelmente encobertos pela hierarquia eclesiástica devendo aplicar-se aqui o juízo popular: “tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”. No que à Igreja portuguesa diz respeito, a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças, criada por iniciativa da própria Conferência Episcopal, acaba de demonstrar que também ela está minada tão profundamente como qualquer outra sua congénere, ainda que Marcelo de Sousa tenha minimizado tamanha monstruosidade, desconsiderando, escandalosamente, a legião de vítimas inocentes. Marcelo de Sousa que, mais uma vez, ao procurar agradar a Deus e ao diabo, se demitiu do cargo de mais alto magistrado da Nação, e se assumiu como o grande campeão do “status quo”. Mais importante que tudo isso, porém, é que a Igreja Católica global seja capaz de operar em si mesma a profunda renovação e purificação que os tempos exigem, a começar pela contaminada Curia Romana. Todas as esperanças recaem, por isso, no actual Papa que já tomou em suas mãos o azorrague com que Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo. É que a revolução planetária desencadeada por Jesus Cristo há 2000 anos, que dá sinais de se aproximar de um momento decisivo, não pode parar.