Temos Papa?
No que à controversa personalidade de Jorge Bergoglio diz respeito já me referi em crónica anterior, neste mesmo espaço. Reafirmo, todavia, que enquanto cidadão e crente mantenho o actual Papa em alta estima. Aprecio, sobretudo, a sua humildade e bonomia que lhe conferem a imagem de homem bom. De forma nenhuma imagino, sequer, e minimamente valorizo, a deriva herética de que certos ficcionistas o acusam, por dá cá aquela palha. Ainda que algumas intervenções públicas de Jorge Bergoglio, informais, circunstanciais e pouco cuidadas, possam fragilizar a sua imagem de homem de paz, imparcial e justo e, sobretudo, de garante da unidade da Igreja e de paladino da Fé. Como foi o caso recente da defesa despropositada dos controversos Lula da Silva e Dilma Ruef que claramente extravasou o papel de neutralidade política que um Papa sempre deve assumir, até para não prejudicar o seu primordial empenhamento espiritual, moral e social. Para lá dos equívocos doutrinários em que Jorge Bergoglio propositadamente ou precipitadamente se envolve, que nada mais são que meros desafiantes de reflexão. Como serão os casos das suas afirmações volantes relativas ao celibato dos padres, à sexualidade e à possibilidade de as mulheres assumirem o sacerdócio. O Papa, por si só nada decide. Devemos ter em consideração que a Humanidade vive tempos dramáticos de mudança, particularmente visíveis nos domínios da ética e dos usos e costumes, e que a Igreja Católica, a maior organização que alguma vez operou sobre a Terra por tempo tão dilatado, já lá vão dois milénios, está no centro do furacão. O seu chefe supremo não tem, portanto, uma tarefa fácil. Bem pelo contrário: gestos, palavras e silêncios são inexoravelmente avaliados, contados, pesados e medidos, sempre havendo quem os aplauda e quem os condene. Cristo que é Cristo não agradou a toda gente! Acresce que no coração da Igreja Católica que é a Santa Sé, instalada no Vaticano, a pequena cidade-estado a que Bergoglio preside, moram todos os vícios do mundo, ao que se diz. Não será de admirar, por isso, que Francisco cative meio mundo com sua bondade, por um lado, e por outro pretensamente lance a desunião e a animosidade entre as próprias hostes. Para gáudio dos inimigos da Igreja, já se vê. A verdade é que o Papa Francisco é tido pela maioria dos crentes e homens de boa vontade, como a personalidade chave dos nossos dias, capaz de conduzir no melhor sentido as reformas indispensáveis de que a Igreja carece. Disso já deu provas bastantes, E de ter papel excepcional na construção da paz e da justiça social neste nosso mundo que dia após dia mais se afunda no abismo da guerra, do ódio, do sofrimento, da doença, da fome e da pobreza. Mundo no qual o Papa Francisco se tem destacado, malgrado todos os equívocos, como uma verdadeira força de paz e de esperança. Assim o Criador lhe dê saúde e vigor para tanto. Permitindo, desde logo, que possamos vê-lo, em Lisboa, já no próximo Verão, a dinamizar mais uma Jornada Mundial da Juventude, liberto dos problemas de saúde que recentemente o apoquentaram. E que, então sim, possamos dizer: Temos Papa! Papa capaz de levar para afrente a indispensáveis reformas garantindo a pureza dos princípios da doutrina de Jesus Cristo. Certo é que o dogma medieval da Infalibilidade Papal não passa disso mesmo.