Nenhum filósofo, cientista, artista, político ou militar se Lhe compara por maiores e mais duradoiros que tenham sido os seus feitos. Jesus Cristo foi, e continua a ser, o maior revolucionário de todos os tempos, sem evocar aqui a Sua dimensão cósmica. Tão grande Ele é que os factos históricos são correntemente arrumados em dois períodos maiores - antes Dele e depois Dele. E tão grandiosa é a revolução por Si protagonizada que ainda hoje continua e, por certo, irá prosseguir por algum tempo mais. A revolução operada por Jesus Cristo, todavia, não é uma revolução qualquer, das muitas de cariz meramente político, social ou científico que a História regista, trate-se da Revolução Francesa, da Revolução Comunista, da invenção da Electricidade e do Computador ou mesmo da Bomba Atómica. A revolução de Jesus Cristo é eminentemente espiritual, pacífica, permanente e persistente. Opera nos espíritos, nas mentes e nos corações, com reflexos profundos em todos os domínios da vida humana. Revolução consumada por uma imensa legião de militantes que são fiéis, mártires e santos e não meros activistas, demagogos ou bombistas. O único gesto exaltado que a Jesus Cristo se conhece é aquele que evangelistas referem como a Expulsão dos Vendilhões do Templo, quando lançou mão de um azorrague para forçar a saída do espaço sagrado daqueles que o haviam profanado. Revolução que se consubstancia, principalmente, na Igreja Católica, a maior e mais conhecida organização terrena das várias que actualmente se devotam a propagar a Sua doutrina. Igreja Católica que, como se sabe, é governada a partir de Roma pela chamada Cúria, com o Papa à cabeça, congregando cerca de 1,2 bilhões de seguidores baptizados, mais de metade de todos os ditos cristãos que se calcula serem cerca de 2,3 bilhões, o equivalente a cerca de 18% da população mundial. Igreja Católica que cumpre, na actualidade, uma missão inigualável nos domínios social, humanitário, da educação, do ensino e da saúde, a que não se iguala nenhuma outra instituição religiosa ou civil, designadamente a gigantesca ONU. Lamentavelmente, pese embora a sua importância planetária, a Igreja Católica global enfrenta, presentemente, uma profunda crise que será, provavelmente, a maior da sua longa história. Crise que acontece quando a Humanidade, ela própria, a ocidente e a oriente, anda de mal com Deus e de bem com o diabo, mais do que em qualquer outro tempo da História. De bem com a mentira e de mal com a verdade. De bem com a opressão e de mal com a solidariedade. De bem com a guerra e de mal com a paz. Tempo em que o crime se multiplica em género e número por todo o planeta, com todos os males, injustiças, vícios, pedofilia e corrupção, bem à vista de toda a gente no convencionado Ocidente, em que a democracia e a liberdade são lei, mas que existem reforçados, embora sem que sejam do conhecimento público, nos países obscuros em que imperam ditaduras que procrastinam os direitos fundamentais. A crise da Igreja, porém, é específica, centra-se sobretudo na relação entre catolicismo e sexualidade, com especial gravidade nos inúmeros actos de abuso sexual de crianças praticados por clérigos: bispos, padres, freiras e membros de ordens religiosas que, para lá de pecaminosos no âmbito doutrinal são, acima de tudo, crimes hediondos nos planos moral e civil. Crise que tem provocado críticas sarcásticas demolidoras por parte dos seus adversários e sentimentos de desgosto, descrença e mesmo de afastamento dos fiéis mais frágeis. Crimes que em muitos casos, tanto quanto se sabe, têm sido lamentavelmente encobertos pela hierarquia eclesiástica devendo aplicar-se aqui o juízo popular: “tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”. No que à Igreja portuguesa diz respeito, a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças, criada por iniciativa da própria Conferência Episcopal, acaba de demonstrar que também ela está minada tão profundamente como qualquer outra sua congénere, ainda que Marcelo de Sousa tenha minimizado tamanha monstruosidade, desconsiderando, escandalosamente, a legião de vítimas inocentes. Marcelo de Sousa que, mais uma vez, ao procurar agradar a Deus e ao diabo, se demitiu do cargo de mais alto magistrado da Nação, e se assumiu como o grande campeão do “status quo”. Mais importante que tudo isso, porém, é que a Igreja Católica global seja capaz de operar em si mesma a profunda renovação e purificação que os tempos exigem, a começar pela contaminada Curia Romana. Todas as esperanças recaem, por isso, no actual Papa que já tomou em suas mãos o azorrague com que Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo. É que a revolução planetária desencadeada por Jesus Cristo há 2000 anos, que dá sinais de se aproximar de um momento decisivo, não pode parar.