class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Inundações, população e resiliência

A Diretiva da Avaliação e Gestão dos Riscos de Inundações (DAGRI), Diretiva n.º 2007/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro de 2007, estabelece que cada país da União Europeia deve reduzir as consequências negativas das inundações. Segundo (CRED, 2015) tendo em conta o cenário de alterações climáticas que se vive atualmente, a frequência de eventos extremos tem vindo a aumentar sendo que no ano de 2020 (389 ocorrências) ocorreram mais desastres naturais comparado com o período de 2000- 2019 (368 ocorrências). De destacar também que a população mundial exposta a inundações duplicou em 40 anos sendo que em 1970 existiam aproximadamente 40 milhões de pessoas expostas a inundações e em 2010 esse valor aumentou para aproximadamente 80 milhões. Curiosamente em 2020 o desastre natural com maior ocorrência a nível mundial foram as inundações com 201 ocorrências neste ano seguido das tempestades (127 ocorrências). Analisando a população total desalojada por tipo de desastre natural em Portugal entre 1967 e 2022, as inundações ultrapassam largamente os incêndios com aproximadamente 10 000 desalojados (EM-DAT). Assim sendo, numa fase inicial é necessário definir as respetivas áreas críticas por Região Hidrográfica (RH) para posteriormente se avaliarem os danos potenciais em termos sociais, económicos e ambientais. Seguidamente são também definidas as medidas de mitigação/adaptação de gestão do risco. Os Planos de Gestão dos Riscos de Inundações (PGRI) são o instrumento a nível nacional que integra os pressupostos da Diretiva Inundações anteriormente referida e foram identificadas a nível nacional 71 Áreas de Risco Potencial Significativo de Inundação APA (2020), atualmente foram atualizadas para 63 áreas críticas. Existindo nestas áreas mais de 100 mil habitantes potencialmente afetados. A urgência do ordenamento territorial está também vertida neste instrumento de gestão. A população mais pobre é também aquela que vive em áreas mais vulnerá- veis à ocorrência de desastres naturais e por isso é a população com maior dificuldade em recuperar dos eventos danosos. O ganho médio mensal dos trabalhadores portugueses em 2020 era de 1247 EUR (INE). Por exemplo, segundo a base de dados Disaster, ocorreram em 5 Concelhos do Norte de Portugal (Alijó, Carrazeda de Ansiães, Resende, Penafiel e Marco de Canaveses) mais de 70 vítimas e mais de 1000 desalojados (devido a inundações). Em alguns locais o número de ocorrências anuais tem vindo a aumentar desde 1950 até a atualidade, como é o caso do concelho de Marco de Canaveses. Por outro lado, no ano de 2019, o rendimento médio mensal da população nestas localida- des era inferior ao da média nacional (Alijó 921 EUR , Carrazeda de Ansiães 860 EUR, Resende 803 EUR, Penafiel 975 EUR, Marco de Canaveses 886 EUR, Pordata), fator que pode aumentar a vulnerabilidade e diminuir a resiliência e consequente recuperação destas populações face a eventos extremos. O envelhecimento demográfico característico destes territórios é um fator relevante, pois a população com mobilidade reduzida requer um processo de evacuação mais complexo. A preparação consiste em informar a população potencialmente afetada de como agir em situação de desastre, ou seja, em caso de emergência. Por estas razões é de importân- cia adicional aumentar o grau de preparação destas e de outras populações para a ocorrência de eventos extremos, nomeadamente para o risco de cheias e inundações.

Bruno Carmo

Doutorando em Território, Risco e Políticas Públicas

Condenado e Presidente

A América tem finalmente um Presidente eleito que é um criminoso já condenado e com muitos processos em andamento que o podem condenar e até levar à prisão. Se não tivesse sido eleito, certamente iria agora diretamente cumprir pena pelos crimes de que é acusado. A condução do assalto ao Capitólio como protesto da derrota que sofreu para Biden, é talvez o processo mais importante e que o irá condenar mais tarde ou mais cedo. Um rol imenso de crimes e acusações contra ele bastam para o rotular e esperar uma condenação severa. Será a primeira vez que um Presidente americano é condenado, mas há sempre uma primeira vez. A vitória republicana não seria nada de especial se não fosse protagonizada por uma pessoa que já conhecemos e que não deixou saudades. Contudo, muitos hoje, referem que se ele se tivesse mantido no governo da América, o mundo hoje estaria melhor. Estaria? Putin gostou da vitória de Trump. Diz que está disposto a encontrar-se com ele e a discutir a paz da Ucrânia e a voltar ao tempo da confiança com o Ocidente e com os países europeus. Será? Entretanto é aliado do Irão, da Coreia do Norte e da China. Ele fez grandes promessas durante a campanha e uma delas é que acabaria com a guerra da Ucrânia de um dia para o outro, mas não disse qual seria o dia. Mais amigo de Putin do que de Xi, talvez chegue a um acordo sobre essa tão desejada paz, mas Zelensky terá certamente a última palavra. Aliás, esta vontade de Putin chegar a uma paz, seja ela qual for, só põe mais a claro as dificuldades que a Rússia enfrenta em termos globais, seja de armamento ou de soldados. Já foi preciso recrutar imberbes da Coreia do Norte para colmatar as falhas. Enfim! E dizer que quer que as relações com o ocidente e com a União Europeia voltem à normalidade com confiança de parte a parte, é igualmente prova disso mesmo. Resta saber o que é que ele vai querer em troca. Victor Órban é outro presidente que queria que Trump tivesse ganho há quatro anos. Diz que não teria havido guerra na Ucrânia e que a Europa estaria mais forte e segura. Acrescenta que a América seria mais forte economicamente e Trump teria cumprido os acordos assinados. Quais? Ele até saiu do Acordo de Paris e talvez queira agora acabar com a NATO. E ainda não sabemos o que vai na ca- beça dele a esse respeito. A verdade é que os pretensos ditadores se juntam e comungam das mesmas ideias. Com a vitória de Trump, talvez a China não se movimente contra Taiwan, já que pode enfrentar um escudo que a impede de chegar ao Pacífico, desde o Japão, Indonésia, Taiwan, Coreia do Sul e Austrália onde existem bases americanas. Talvez Taiwan continue a salvo de uma invasão da China. Mas fica no ar o acordo que Putin fez com Xi e com o líder da Coreia do Norte. Como vai descalçar a bota? Isto é francamente o saldo mais positivo da vitória de Trump. Na verdade, a América não quer guerra com ninguém, mas não vai deixar para outros a liderança da política mundial. Do mesmo modo, os outros líderes também não pretendem a guerra. Talvez Israel seja exceção. Com a vontade de se afirmar e conquistar território, deixa para segundo lugar a destruição, os mortos que ficam pelo caminho e o genocídio que leva a cabo em Gaza, sem razão alguma que não seja essa mesma. Mas também Netanyahu espera de Trump o maior apoio nesta guerra que não é americana e onde todos têm a perder. Só Netanyahu espera ganhar. Assim, Trump tem pela frente uma série de problemas que terá de resolver o mais rapidamente possível, se conseguir. Tem pelo menos a facilidade de ter ganho em todas as frentes e nada o impedir de tomar decisões e alterar inclusive, leis do anterior executivo. Perigoso, muito perigoso. Sem ninguém para o controlar, imprevisível e até contraditório como é, pode pôr em perigo a estabilidade do planeta e levar a uma terceira guerra mundial. Se a guerra da Ucrânia não parar e a Rússia continuar a entrar pela Ucrânia dentro, se Trump retirar o apoio à NATO e à Europa, nada impede Putin de querer refazer o antigo território da Federação Russa, o que leva ao facto de haver três países satélites da Rússia que pertencem à União Europeia. Como vai a Europa defender esses países que pertencem à UE e à Nato? Onde estão as tropas europeias? A Europa só agora acordou para esse facto. Nunca se pretendeu construir um exército europeu que defendesse a Europa de qualquer ataque, porque nunca se imaginou que isso fosse necessário, mas pelos visto é. A Europa precisa de garantir a própria segurança. Demasiado tarde, talvez. Ninguém quer a guerra, mas certo é que ela ronda a Europa, o Médio Oriente e até a Ásia. Assustador. Os americanos têm agora o presidente que escolheram democraticamente. Bom para uns, mau para outros, a ele cabe resolver os grandes problemas que existem den- tro da América e fora dela, especialmente os que a ela se ligam diretamente. A América não é uma ilha. Precisa de todos e todos precisam dela em termos de segurança e em termos económicos e sociais. Curiosamente, cabe a um condenado e criminoso, resolver as equações que estão em cima da mesa. Não é fácil, mas se as resolver, ficará para a História com uma página bem menos negra.

CA Macedo de Cavaleiros e FC Vinhais partem com dois golos de vantagem para a segunda mão da Taça Distrital

Ter, 05/11/2024 - 13:57


Disputou-se, no domingo, a primeira mão da primeira eliminatória da Taça Distrital da Associação de Futebol de Bragança.

O Clube Atlético de Macedo de Cavaleiros recebeu e venceu, por 2-0, o Minas de Argozelo. Os golos da partida foram marcados por Mantorras e Bruno Souza.

Cogumelos da região geram milhares de euros mas vai tudo para Espanha

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 05/11/2024 - 09:50


A chuva faz nascer uma das riquezas da região, o cogumelo, que atrai muitos “predadores”. Muitas vezes são apanhados na floresta, mas há mesmo quem os produza e faça disso um negócio.

Misericórdias aumentam mensalidade de Novembro devido a utentes receberem bónus dos pensionistas

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 05/11/2024 - 09:47


As misericórdias aumentaram a mensalidade cobrada aos idosos, este mês, uma vez que os utentes receberão um suplemento extraordinário de pensões em Outubro.

Os Fiadeiros dos Santos em Argozelo

“O nobre Judas mandou fazer uma coleta, recolhendo cerca de dez mil dracmas, que enviou a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados, obra digna e santa, inspirada na crença na ressurreição, porque, se não esperasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles” (II Macabeus,12, 43-44).

Será, pois, esta uma das passagens das Sagradas Escrituras na qual se fundamentava o povo judeu de Argozelo, num passado mais ou menos longínquo, para a celebração dos chamados “fiadeiros”, em honra dos seus mortos. Na verdade, é uma tradição que, apesar das influências celtas e cristãs, ainda hoje se cumpre, como preceito religioso, no primeiro dia de novembro.

A data específica para a entrada no ano novo celta – o Shamhain – foi estabelecida a quarenta dias após a passagem do equinócio de setembro. Foi uma iniciativa dos druidas, os líderes encarregados das funções jurídicas e filosóficas, do aconselhamento, do ensino dentro da comunidade. Os rituais justificavam-se pela crença na continuação da existência depois da morte. As reuniões realizavam-se nos lares, em ajuntamentos familiares, e não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos, tornando viva a sua presença neste dia festivo.

As celebrações que restam hoje em dia apenas mostram a sua faceta cristã; porém, a celta e a judaica, estando ocultas, não deixam de continuar bem presentes.  Desde logo, a data determinada pela Igreja para a celebração dos Santos, já antes estava assinalada no calendário das anteriores culturas e dos respetivos povos: o Shamhain celta e o Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico e Dia do Julgamento, transferido do mês de setembro para o primeiro de novembro pelos sefarditas para fazê-lo coincidir com o calendário cristão. O fiadeiro acaba por ser o convívio dos moradores de um bairro, à volta de uma grande fogueira em cujo braseiro se assam carnes e castanhas partilhadas entre todos.

São em número aproximado de quinze as fogueiras que correspondem a outros tantos bairros e convívios, mais ou menos participados, consoante o número variável de moradores (e, eventualmente, também convidados). Aliás, o termo “fiadeiro” usado para este convívio também se aplica, genericamente, às fogueiras que, segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, “se acendem num terreiro e à volta das quais se reúnem as mulheres, nas noites de setembro a novembro, para fiar e cantar e rezar”. Podem-se acrescentar outras finalidades, como conversar, contar histórias, falar das vidas alheias…

Porém, os fiadeiros dos Santos em Argozelo revestem-se de performances muito próprias. Citando uma grande entusiasta desta tradição de Argozelo, Patrícia Cheio, ao escurecer desse dia, os moradores dos bairros começam a organizar o ritual; acendem-se as fogueiras e põem-se as mesas e preparam-se as carnes, “ao gosto das pessoas de cada bairro”. Hoje em dia, a própria Junta de Freguesia se empenha na manutenção dos fiadeiros, contribuindo com a oferta de uma quantidade de castanhas suficiente para assar e satisfazer as necessidades de cada bairro.

A homenagem aos mortos materializa-se em dois rituais. Um deles é o toque dos sinos, durante todo o dia e de forma livre e espontânea: “quem quiser sobe à torre da igreja que está sempre aberta, dobrar os sinos, em honra dos seus entes queridos que já lá estão”.

Carregado de uma simbologia mais profunda são as pancadas fortes dadas nos troncos incandescentes da fogueira por certos entusiastas e executantes da tradição. Para o efeito, usam as chamadas “mocas” – paus compridos, sendo que uma extremidade é uma grossa raiz, com que batem nas brasas. O ato faz atear as chamas que lançam falmegas que se levantam no ar. No entendimento do povo, são as almas dos mortos que ali se apresentam perante o povo e que sobem ao céu. Nesta altura, o “celebrante” do ritual da moca proclama: “Alminhas para o céu!”. Vai então desfiando os nomes dos familiares e amigos “que já lá estão”. Cada batida, seu nome: “É para o tio Cheio, pelo tio Armando…”.

Elisa Brás, outra grande animadora dos rituais, explica: “antigamente, juntava-se a mocidade para correr a vila com as mocas. Passavam por todas as fogueiras dos bairros. Eu mesma sempre me juntava ao grupo e rezávamos pelos mortos, por todos quantos lá estavam. Agora, como eu quero guardar a tradição, continuo a fazer o mesmo, sozinha. Sou a única mulher que cumpre esta tradição: correr o povo, todos os bairros e as fogueiras todas”.

Efetivamente, em cada fogueira, Elisa Brás aplica várias pancadas em homenagem aos moradores falecidos daquele quarteirão: “alminhas para o céu! Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso, a todos quantos lá estão, em nome do Pai…”.

Em Argozelo, assim se homenageiam os mortos que descem ao lugar de onde partiram e, pela força das chamas, ateadas pelas pancadas das mocas, sobem ao céu. De novo, ciclicamente, em cada primeiro de novembro.

António Pinelo Tiza