“Se não fosse a castanha muitos não viveriam no meio rural, porque não tinham meio de subsistência”
Qua, 03/03/2021 - 11:54
Que importância tem receber o Prémio Prof. Doutor Adriano Moreira?
Qua, 03/03/2021 - 11:54
Que importância tem receber o Prémio Prof. Doutor Adriano Moreira?
Ter, 02/03/2021 - 17:44
Os jovens motociclistas preparam-se para a Copa ETG Racing que este ano conta com novidades, nomeadamente a criação da categoria Polini 4.2.
Ter, 02/03/2021 - 17:26
E para manter os seus atletas activos o Ginásio Clube de Bragança (GCB) lançou um desafio.
O confinamento, total ou parcial, sendo uma arma poderosa contra a Covid 19, tão mais eficaz, quanto mais rigoroso, não é, contudo, a solução milagrosa nem pode ser a única nesta guerrilha contra a pandemia. Imaginemos que havia uma estrada que, subitamente, começou a ser inundada, por consecutivas e frequentes enxurradas provocando enormes prejuízos, imensos feridos e muitos mortos. Obviamente que a primeira e mais segura medida, imediata é a interdição da mesma. Total quando a violência e frequência dos acidentes for elevada, parcial quando houver “apenas” um risco moderado. Esta proibição resulta, sem dúvida, numa diminuição dos incidentes e seria suficiente se houvesse a certeza que, o fenómeno natural era passageiro. Sendo assim não seria preciso fazer mais nada. Mas se estas inundações se mantiverem, no futuro, mais ou menos frequentes, mais ou menos violentas, para além da interdição será necessário fazer muros de contenção para controlar o fenómeno natural. O problema com a Covid está precisamente aí. Por maior e mais restritivo que seja o confinamento não será suficiente, mesmo com a ajuda da vacina, para erradicar o agente patogénico do meio de nós. Depois do mais violento e restritivo confinamento o vírus não desaparece. Vai continuar. Com mais ou menos variantes, com maior ou menor incidência mas vai continuar a andar por aí, vai continuar a infetar, causar doenças e mortes. A ideia de manter a reclusão até se atingir um valor suficientemente baixo de contaminações e, se possível reduzir o número de mortes residual, ou mesmo levá-los a zero, é tentadora, parece acertada, mas não pode ser vista apenas em valores absolutos. Por duas razões. Não é possível impedi-las no futuro e, por outro lado, queiramos ou não, há outros doentes graves que o combate à Covid relegou para segundo plano e, entre estes também há mortes, algumas delas provocadas pelo isolamento. Diretamente. Mas também haverá, no futuro, falecimentos por doenças de agora que não foram tratadas de todo, ou de modo adequado. Mas também como resultado da paralisação da economia, da atividade produtiva e social. Sendo útil e necessário, é necessário saber dosear o confinamento e, igualmente, o desconfinamento. Tal como um garrote que sendo eficaz na contenção da hemorragia, não pode exagerar na intensidade e no tempo, sob risco de provocar a perda do membro que se pretende salvar. A cada momento é necessário ponderar benefícios e prejuízos de cada uma das ações. Não podem ser ações baseadas em indicadores de um dos lados apenas. É certo que o facto de as ações só começarem a produzir efeitos, duas semanas depois poderia complicar a decisão. Felizmente há indicadores que dão, antecipadamente, uma indicação para o futuro. É o caso do Rt que deveria ter sido levado em boa conta antes do desconfinamento natalício. E é bom reconhecer que o vírus não tem qualquer convicção moral. Por isso é absurdo pautar a ação pelo calendário religioso. Finalmente, não posso deixar de referir que tendo estado, esta semana, em Vila-Flor a acompanhar um familiar na ação de vacinação dois aspetos. O primeiro é a humanidade, profissionalismo e cuidado de todo o pessoal do Centro de Saúde. O segundo é a completa incompreensão pela teimosia, insensata e incompreensível de levar a cabo esta complexa operação nas exíguas instalações da unidade de saúde em vez de a fazer num pavilhão que, sei de fonte segura, o senhor Presidente da Câmara disponibilizou, e bem!
Uma sentença da usucapião que durou pouco:
• A seara da vila
5. A peste negra: o abandono dos campos O corregedor, não se dando por satisfeito com os testemunhos constantes do processo, quis ver, com os seus próprios olhos, o espaço que trazia em pé de guerra o poderoso concelho de Bragança e os moradores de Gimonde – a parte fraca do litígio. Registadas as suas impressões de viagem, utilizou-as depois na sentença, contra as teses dos oficiais da vila. O magistrado, com traços seguros, mostra-nos até que ponto já se tinha degradado a paisagem agrária, mesmo às portas da vila. Se o obituário é o que já sabemos – Bragança perdeu mais de três quartos da sua população -- ficamos agora a saber também quais foram as consequências que 90 anos de pestes trouxeram às áreas reservadas às searas. Deste quadro, saía a visão do corregedor sobre o nervo da litigância. Assim, no espaço, disputado por Bragança e Gimonde, só havia montes bravos, cobertos de xarras (estevas); deste solo nunca poderia sair uma terra de lavouras, salvo por acidente, como aconteceu nas últimas sementeiras, em que devastaram muito mato; nas lombas, recém-abertas de clareiras, uns fizeram sementeiras de bouças, outros abriram roças nos montes e apenas alguns, poucos, fizeram searas. De tudo o que viu, o corregedor tirou uma conclusão: a coutada da sementeira, efectuada pelos moradores de Bragança, no Outono de 1438, tinha sido feita mais por vontade do que por necessidade. Este quadro, saído da paleta impressiva do corregedor, demolia as declarações dos magistrados do concelho de Bragança. Não tinham eles ditado para o processo, como vimos atrás, que aquele espaço era a “pepita de ouro” da vila para as suas sementeiras? Mas o monte bravio de estevas e mato, que tudo cobria, provava o contrário. Segundo o magistrado, aquela terra nunca produzira pão. E, por maior trato que tivesse, apenas daria o que podia: monte para regalo do gado, miúdo e graúdo. As sementeiras daquele ano de 1438 eram, com certeza, as primeiras, concluíra ele. Mas, mesmo naquele Outono, as lavranças não exigiram muito esforço do arado. É que poucos tinham feito searas. Para desbravar bouças, montes e semear aí algum grão, vieram as queimadas, o machado, a roçadoura e a enxada. Ou seja, as maiores áreas cultivadas eram o resultado de um ingente trabalho braçal. Parecia que as autoridades do concelho, com o procurador à cabeça, não tinham dito a verdade. Mas tinham. A falta de contexto compreensivo era de todos, incluindo do corregedor. Nascidos já muito depois da pandemia de 1348, a mais catastrófica, e num tempo de longevidade curta – morria-se antes dos cinquenta anos -- não herdaram a memória histórica anterior. Que só ela podia fornecer ao confronto jurídico a explicação óbvia: a gadanha da peste negra ceifara tanto que destroçou vilas e aldeias inteiras, alastrando o desastre às suas terras de pão. Com terríveis consequências: lavradores, famílias e criados mortos. Outros em fuga. Grandes lanços da paisagem agrária em abandono completo. E pardieiros sepultando aldeias sem ninguém. As estevas e o mato, que tanto impressionaram as retinas do corregedor, indicavam isso mesmo: as antigas searas, depois de dezenas de anos incultas, voltavam, através das estevas, a chamar o monte, que já estava em reconstituição. Depois das estevas, que são sempre as primeiras a chegar aos espaços abandonados pelo arado, vinham as giestas, seguindo-se as moitas de carvalhos e os tufos de carrasqueiras, apagando os antigos espaços de sementeira. E o melhor retrato desta guerra pandémica, contra a paisagem agrária, fixou-o, a quente, o corregedor de Trás-os-Montes na sua viagem à Seara, no Outono de 1438. 6. Em busca das duas aldeias perdidas da Seara Recuemos 180 anos em relação à sentença, datada de 1438, que temos vindo a dissecar. Começamos por apresentar aos leitores os seguintes indivíduos: Didaco Martins, Martinho Mendes, D. Laurêncio e D. Estêvão. Todos se assumiram como moradores da aldeia de Palhares nas declarações que fizeram perante os juízes do rei Afonso III, em Dezembro de 1258. Não nos interessa agora o que disseram. Atentemos apenas nisto: havia então uma aldeia na Seara, anexa da paróquia de Santa Maria da vila de Bragança. E não é preciso apertar muito o nome de Palhares para concluirmos que onde havia palha, havia grão. E, se coube à história confirmar existência desta aldeia, a arqueologia localizou- -a. Houve grande perspicácia na eleição do sítio. Virada a sul, muito soalheira, solicitou a protecção de um morro, muito descascado pela erosão, para, mais abrigada, fugir dos ventos gelados de Montesinho e da Sanábria. Ocupou a bordadura cimeira de uma baciazinha descendente, de solos gordos, debruando uma várzea de muita água, dedicada à despensa da horta. Era de Palhares que saíam os cereais que ajudavam a abastecer a vila de Bragança de pão. Extinta pela peste, foi no seu termo que o corregedor observaria, 180 anos depois, a paisagem de monte, onde as estevas inçavam, sepultando as antigas searas, desbravadas com muitas bagas de suor dos moradores de Palhares, nos finais do séc. XII, logo depois da fundação de Bragança. Mais à frente, antes do declive da ponte de Valbom, implantara-se outra antiga aldeia da coutada de sementeira da vila de Bragança. Esta erguera-se sobre um rebordo sul do Guieiro – o cabeço de geologia tão dura que faz rodopiar o Sabor à sua volta. Não comungando das mesmas aptidões do solo da sua vizinha de Palhares, estaria mais virada para a exploração pastoril, embora não pudesse dispensar o arado. Conhecemos dois dos seus vizinhos, que também depuseram perante os juízes do Rei. Um chamava-se Pedro João e o outro Menendo João. Vale da Rata era então anexa da antiga paróquia de S. João de Bragança. O monte bravio de estevas, descrito pelo corregedor, cavalgara também sobre as antigas leiras de pão desta aldeia, ceifada pela peste. 7. Bragança retoma a sua seara Senhor: os moradores desta cidade vivem todos da lavoura. E, enquanto todos os outros lugares da comarca têm onde fazer as suas sementeiras, nós, em Bragança, não temos; (…) pedem, por isso, a Vossa Alteza que ordene ao corregedor da comarca para demarcar, no limite da cidade, uma seara. (ortografia e sintaxe actualizadas) Este foi o pedido que o procurador da cidade de Bragança, Álvaro Gil, fez ao Rei D. João II, nas cortes de Évora de 1490. Respondeu o Rei: que tinha todo o prazer em satisfazer [o pedido da nossa cidade de Bragança]. O juiz supremo decidira. Chegava ao fim o longo diferendo entre Bragança e Gimonde. Extinguia-se a vigência dos efeitos da sentença da usucapião de 1438. A cidade voltava à posse da coutada de sementeira, entre o Sabor e o Fervença. Que já era sua antes do eclodir das pestes dos séculos XIV e XV, como vimos no ponto 6. As actuais Quintas da Seara, um modelo de povoamento disperso, único no concelho, são uma herança histórica daquela decisão régia. O topónimo seara foi apagando, no decurso do tempo, o primeiro -- palhares. Mas ambos significam o mesmo: terra de pão. Só mudaram as palavras. O conteúdo ficou. Samil, Fevereiro de 2021.
Ernesto Albino Vaz
Já se perdeu a conta aos anos a que a mítica linha do Tua foi desactivada. O que não é de admirar, porquanto tal aconteceu em 1992. Já no século passado, portanto. Todavia, muitas esperanças continuaram a correr rio abaixo mas que invariavelmente desaguaram no mar das promessas eleitorais, eufemismos de mentiras. Sobretudo a partir do momento em que alguém, com poder para tanto, ousou erguer a controversa barragem da foz do Tua, (um espinho cravado na garganta dos ambientalistas que, impotentes, viram as suas justas reclamações inexoravelmente afogadas no vale sacrificado), mandatando autarcas subservientes para porem a correr novas ilusões, agora rio acima, contra corrente. A verdade é que o vale do Tua, na sua pureza virginal, reunia potencialidades geomorfológicas, biológicas, agrícolas, ambientais e turísticas tão ou mais valiosas do que aquelas que alicerçaram o desnaturado paredão e que era forçoso afogar. Talvez isso também explique que não tenha demorado a encher-se a albufeira que submergiu 17 km de ferrovia, na qual continuam a esbracejar tais sonhos e ilusões votados ao abandono. De palpável resta um emblemático edifício arruinado, bem no coração de Mirandela, à espera dos turistas que, ao que tudo leva a crer, só eles o poderão salvar do colapso ou da banal inutilidade em que definham muitos projectos apodados de culturais. Todas a esperanças continuam a recair na Mystic Tua, a novíssima empresa do conhecido empresário Mário Ferreira que se propôs trazer turistas qualificados, algumas centenas que sejam já será muito bom, e dar corpo e alma a tão peregrino projecto, que se prefigura, mesmo assim, de importância decisiva para o progresso de Mirandela e da própria região envolvente, em várias vertentes. Mystic Tua! Nome mais apropriado não poderiam ter encontrado, porque, até ver, tudo o que existe não passa de uma miragem, de um mistério, de uma devoção a Nossa Senhora do Amparo, para aqueles que acreditam. Para surpresa e desgosto de muitos, porém, Mário Ferreira veio recentemente a público ameaçar que se retirará do projecto se quem de direito continuar a não fazer o que deve ou a não decidir o que deve ser urgentemente decidido. Isto é, se a balofa Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua não decidir, ou não ousar que quem de direito decida o que deve, o projecto, que não tem alternativas, morre. Fica-se assim sem saber se a etérea Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, um monstro acéfalo que se tem mostrado incapaz de levar a bom porto tão decisivo empreendimento, é a causadora de tamanho imbróglio ou ela própria o próprio imbróglio. Talvez esteja à espera da “bazuca” PRR, para caçar tordos! Foi com muito agrado, contudo, que os mirandelenses tomaram conhecimento público de que as obras de requalificação da emblemática Estação irão arrancar, finalmente, o que os leva a induzir que também o projecto Mystic Tua deixará, por fim, o domínio místico para se tronar realidade. É uma esperança que renasce. Esperemos que os tapumes que foram prometidos para os “próximos dias”, aguentem firmes para lá das eleições autárquicas que se avizinham, sinal de que a obras da estação arrancaram de verdade e que os prazos estabelecidos serão cumpridos. Pintar um depósito de água, ainda que simbólico, é poucochinho. Vale de Salgueiro, 15 de Fevereiro de 2021
Bons dias, forte gente. Que estas palavras vos encontrem com saúde e com o ânimo e os corações ao alto para enfrentar mais esta hibernação. Hoje venho falar-vos de vacas, esse animal que faz parte do nosso dia-a-dia, seja por causa do leite e demais lacticínios, das costeletas ou da posta à mirandesa. Um animal que sempre nos deu o corpo ao manifesto, ora em vida, entregando-se aos trabalhos forçados dos campos, ora depois da hora do seu abatimento, para satisfação dos prazeres de comensais não vegetarianos. Excepção feita às que tiveram a sorte de vir ao mundo em algum el dorado hindu. Mas antes de passar à vaca trasmontana, começo pelo boi chinês. O novo ano chinês começa na segunda lua nova do ano, o que calha sempre entre meados de Janeiro e meados de Fevereiro, sendo também conhecido como Festival da Primavera. Em termos da sociedade civil também utilizam o nosso calendário gregoriano, mas para festividades usam o calendário lunar. Uma curiosidade do calendário chinês é que quando há estas celebrações ou festivais (da Primavera, de Outono ou de Inverno), por se basearem nas fases da lua, normalmente a mudança climatérica própria de cada estação sente- -se de forma mais evidente. Digamos que bate mais certo, não tanto como no nosso em que o Verão costuma derrapar até Novembro ou o Inverno quase até Maio. A forma de se celebrar não difere muito do nosso Natal, muitos jantares de amigos e de trabalho durante esta quadra, conviver em família na noite de ano novo e no primeiro dia do ano, e um período de dez dias em que tudo literalmente pára. Segundo o horóscopo chinês a cada ano corresponde um de doze animais devido a uma lenda em que os animais mais estatutos, pelas suas diferentes características, conseguiram atravessar o rio e chegar até junto do senhor Buda. Este ano que vai entrar é o ano do boi. Para quem liga a signos, que não eu, é idêntico ao nosso signo touro, nomeadamente, a força, a determinação, o empenho, a capacidade de trabalho, a resistência, e a tenacidade a toda a prova. Qualidades que até não vêm a despropósito. No fundo é aquilo que os signos fazem que é dizer- -nos o que precisamos de ouvir e aconselhar-nos o caminho que idealmente devemos seguir. Estes bovinos caminhos fazem-me seguir a lembrança muito pueril de uma vaca grande e misturada que não era totalmente mirandesa e que apesar de forte e trabalhadora era má como as cobras, domesticada mas pouco (de tal modo que eu até julgava ser um touro). Uma das ténues recordações que guardo de meu avô paterno, foi de um dia em que ele a estava a tirar da loja e ela esperneava e escorneava, indomável, não sei se por feitio ou se por ter tido algum vitelo há pouco tempo. Certo é que me lembro desse episódio porque inclusive feriu o meu avô na face de tão desgovernada. Ao que o meu pai acrescentou outro, que certa vez numas férias, já bem adulto, a dar uma ajuda aos pais revisitando o tempo de ir com as vacas, teve de dar corda aos sapatos e saltar um muro à peixe por causa dos bravios e repentinos maus humores da dita cuja cujo nome agora não me lembro. O destino não poderia ser outro se não vendê- -la quanto antes, pelo que foi, creio, a última vaca que meus avós tiveram. Estes animais sempre foram chamados pelos nomes que se lhes davam, desde o tempo em que um vitelo era tão ou mais importante do que um filho para a economia de uma família e o dono dormia ao lado da vaca quando estava para parir, para garantir que ambos não perdiam o seu precisoso bem. Apontava-se num caderno o dia em que a vaca ia ao touro, contavam-se as nove luas, depois os vitelos tratavam-se a pão de ló e vendiam-se por voltas dos cinco meses. Ouvi contar que vinham os bezerreiros com umas carteiras enormes cheias de dinheiro e que compravam os vitelos por umas quantas notas. “Vale 12 notas”, diziam, enquanto os donos regateavam para ver se chegavam às catorze ou quinze. Nesse tempo os bezerreiros andavam a pé, muitos vindos do sul, até do Algarve, e levavam o gado com paragens programadas onde pernoitavam, comiam e bebiam. Enfim, outros idos tempos, outros fardos para carregar. Os fardos vão e vêm, mas os nomes ficam como os que ainda hoje as vacas possuem, por exemplo as belas e autóctones vacas mirandesas, e que se podem ver nos eventos a elas dedicados como feiras ou concursos. Se quisermos passar uma demão para transformar o nome das vacas em académiquês, registe- -se esta área de estudo como “onomástica bovina trasmontana” elaborada com o apoio de meu pai na investigação de campo. Antigamente as vacas tinham nomes que lhes eram dados pelas suas características físicas: carriça ou carricica (pequena), malhada, morena, amarela, preta, castanha, roliça, cabana (como o lombo encurvado em baixio como uma barca, mais próprios dos cavalos, dizia-se vaca ou boi cabano); pelo seu feitio: amorosa (como a de um senhor que se montava na vaca e ia às feiras e a todo o lado com ela), marquesa, ratunha (que se escapava e ia roubar comida aos lameiros dos vizinhos colocando o pastor em trabalhos...); pela origem de onde vinham ou onde tinham sido compradas: mirandesa, vileira, romeira; nomes de motivação campestre: cereja, perdiz, rola, pomba, rosa, tomilha. Muitos mais se poderiam descortinar. Havia também as que herdavam os nomes de família, ou seja, certo dono costumava atribuir o mesmos nomes às diferentes bovinas gerações que lhe passavam pelos jugos. As vacas têm nomes e merecem a nossa maior consideração, palavras de apreço para além do bem ou mal passado. Um agradecimento às vacas, e ao tanto que nos dão, e que a força do ano do boi esteja connosco para levarmos tudo a eito sejam quais forem as adversidades. Um forte abraço!
Da família Lafaia aparece em Bragança, no século de 1500, o casal constituído por João de Lafaia, carpinteiro de profissão, que se apresentava como cristão-velho e Isabel Rodrigues, forneira, meia cristã- -nova e que tinha dois irmãos padres, um cura de Sezulfe e outro jesuíta. Isabel foi presa pela inquisição de Coimbra em 1597, no decurso de uma das maiores vagas que assolaram aquela cidade trasmontana. Nesta mesma vaga, foram também arrastados para as celas da inquisição, 3 filhos do casal: Catarina Rodrigues, Manuel de Lafaia e Pedro Lafaia. (1) Catarina era casada com Francisco Garcia, estalajadeiro e almocreve. Depois de processada pelo santo ofício, foi para o Brasil. Manuel era surrador e, quando foi preso, mantinha-se solteiro. Posteriormente fez-se mercador e casou com Leonor Nunes. Pedro era sacristão da igreja de S. João e certamente o seu objetivo era ascender ao sacerdócio, como os tios. Saiu condenado em confisco de bens e degredo de dois anos a remar nas galés. Tal como a irmã, acabou por rumar ao Brasil. Um quarto filho de João e Isabel chamou-se António Lafaia e casou com Brites Nunes, que também foi presa pela inquisição em 1601. (2) O casal estabeleceu-se na cidade do Porto, com loja de mercador. Dois de seus filhos (Roque e Pedro Lafaia) cedo fugiram para França. A filha, Isabel Nunes, casou em Bragança, com o seu parente Pedro Gonçalves e os filhos destes ligaram-se, pelo casamento, a outras históricas famílias cristãs-novas desta cidade, como os Ledesma, os Pissarro e os Costa Vila Real. Janeiro de 1661 abriu com mais um “tsunami” do santo ofício contra os judaizantes de Bragança. E vários membros da família Lafaia engrossaram as fileiras dos penitenciados em Coimbra. Foi o caso de 2 filhas, um filho e uma neta de Manuel e Leonor: Isabel Nunes, solteira, 47 anos, morreu no cárcere; Catarina Nunes e João de Lafaia, mercador, solteiro, de 37 anos e a neta Luísa da Mesquita, de 17 anos, solteira. (3) Olhemos um pouco para o inventário dos bens de Catarina, que então contava 43 anos e se mantinha solteira. Morava em uma casa sita na “Praça do Colégio dos Jesuítas”, casa de 2 sobrados, de que tinha a quarta parte. E tinha também a quarta parte de uma casa de sobrado sita da Rua do Cabo, que estava alugada para alojamento de soldados. Provavelmente os outros ¾ das casas pertenciam a seus irmãos. Da sua casa agrícola refiram- -se 4 vinhas, uma em Cabeça Boa, outra na Candaira e duas em Fonte Arcada. Não sabemos quanto vinho produziam, mas tinha 9 cubas para o meter, se bem que, quando a prenderam, apenas duas ficaram cheias, contendo uns 180 almudes de vinho e uma outra com 30 almudes de vinagre. Contava também umas terras em Vale de Álvaro e no Vilarinho, deixando em casa uns 500 alqueires de trigo que nelas colhera. Resulta, assim, que estamos perante uma verdadeira empresária agrícola, que produzia para vender e não apenas para consumo próprio. Catarina era também uma industrial da cera, fabricando velas e tochas. Aliás, se há uma profissão que possamos atribuir aos Lafaia era a de cerieiros, a mais frequente na família. Para além disso, Catarina era comerciante e na sua tenda encontramos produtos tão diversos como “2 arrobas de açúcar, alguns confeitos, uma arroba de amêndoa em casca, papel, atacas, agulhas e outras miudezas e adubos (…) uma arroba de pólvora, 2 arrobas de balas de várias formas”… Face a esta mesma onda de perseguições, 5 netos de António Lafaia e Brites Nunes, filhos de Isabel Nunes e Pedro Gonçalves, rumaram igualmente a Coimbra, para se apresentar na inquisição. Um deles chamava- -se António Lafaia, como o avô, cerieiro de profissão, casado com Clara Garcia. Penitenciado em 1662, voltaria a ser preso em 1667, saindo no auto-da-fé de 14.6.1671, queimado na fogueira, por “convicto, confitente, diminuto, impenitente e falsário” (4) E a tragédia continuou com os descendentes, (5) que, por várias gerações foram alimentando o “fero monstro” até aos anos em que aconteceu o terramoto de Lisboa que, para além das casas, também abalou os alicerces morais do santo ofício e da sociedade portuguesa, com as políticas pombalinas contrárias à inquisição. Voltemos atrás, à prisão de João de Lafaia, em 1661, e ao sequestro dos seus bens, cujo processo ainda não estava concluído em 1684. Com efeito, só nesta data parte do dinheiro que os seus bens renderam foi entregue a Gonçalo Pires, depositário do fisco na cidade de Bragança. Só então se deu inteiro cumprimento à sentença dos inquisidores que o condenaram em cárcere a arbítrio, penas espirituais e ao pagamento das custas, “não excedendo a terça parte de seus bens”. Vamos então ver um pouco do rumo que levaram os bens sequestrados e a entrega do dinheiro dos mesmos, ao depositário Gonçalo Pires: Antes de mais, diga-se que, em seguida à prisão, a responsabilidade da gestão dos bens do preso foi entregue pelo juiz de fora a João Gomes e, falecendo este, passou o encargo para a viúva, Francisca de Barros. Em poder desta “depositária dos bens” estavam 43 125 réis, provenientes de “arrematações do dito inventário”, os quais entregou ao “depositário do dinheiro” Gonçalo Pires. Obviamente que, tanto o inventário dos bens, como a sua venda e a entrega do dinheiro, tudo foi registado pelo escrivão do fisco, Francisco Correia. (6) A mesma viúva fez ainda entrega de 82 816 réis “de alguns bens de que não deu conta, por se terem perdido, e os pagou pelas avaliações do inventário, como consta dele”. Outros bens arrematados, não descritos no livro da receita, renderam 28 277 réis, que ficaram carregados no dito depositário. Outro lote de bens arrematados, fizeram-se 2 645 réis. Uma cuba e uma tina foram vendidas por 6 mil e 2 500 réis, respetivamente. A casa de morada de João seria logo vendida, em hasta pública, por 12 000 réis a Gaspar da Silva, dinheiro que foi entregue ao depositário pelo irmão daquele, Daniel da Silva, mercador de Macedo de Cavaleiros que também conheceu as celas da inquisição, condenado a degredo para África. Outra casa que estaria arrendada a Isabel Rodrigues, foi tomada pelo fisco mas continuou arrendada, rendendo 44 000 réis que a mesma Isabel entregou ao depositário Gonçalo Pires. Arrendadas foram também umas vinhas a Pedro Pascoal e renderam para o fisco 1 200 réis. Finalmente, do inventário dos bens de João Lafaia constavam umas cubas que foram vendidas em almoeda e renderam 16 400 réis. Deste dinheiro, o juiz de fora fez questão de logo receber 2 000 réis, em gratificação dos “dez dias que assistiu aos leilões”. No entanto, o fisco de Coimbra, decidiu que ele não tinha direito a receber nada e por isso devia repor o dinheiro. Não sabemos se o repôs, mas facto é que no livro da receita do fisco, foram carregados os 16 400 réis à viúva Francisca de Barros, que os entregou ao depositário Gonçalo Pires. Em próximo texto falaremos de abusos semelhantes, por parte de outros funcionários do fisco e da inquisição, que muitos comiam à custa dos bens dos prisioneiros do santo ofício.
Seg, 01/03/2021 - 16:33
É em Doha, no Catar, que a Selecção Nacional de Ténis de Mesa participa no Middle East Hub, novo circuito mundial da modalidade, e que inclui dois eventos: o WTT Contender e o WTT Star Contender. Esta é a primeira participação internacional da equipa das quinas desde Março de 2020.
Seg, 01/03/2021 - 01:46
Minhotos e transmontanos defrontaram-se na jornada 18 da série A do Campeonato de Portugal e repetiram o resultada da primeira volta, um empate a zero.