Manuel João Pires

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Mary Alberthina

Bom dia, forte gente. Como vai essa saúde? Que estas palavras vos encontrem bem! Com o tempo criamos uma relação próxima, nós que nunca nos vimos, mas é como se nos conhecêssemos
há anos. Esta interessante interação que se estabelece entre emissor e receptor através de palavras impressas na folha de um jornal, uma coisa muito século dezanove ou vinte, é verdade,
mas que ainda vai valendo.
Se bem que hoje em dia este tipo de comunicação resulta melhor quando acompanhada de uma caixa de comentários para se poder mandar o emissor às favas, os outros leitores às favas e tudo às favas, em geral, dando azo ao que de mais original e interessante tem o ser humano para anunciar ao mundo quando se expressa sem ter de dar a cara ou revelar a identidade.
A liberdade de expressão é democrática, a liberdade de anónima expressão tende a ser vil e coprológica. Ou, em caixa-de-comentarês, javarda e badalhoca. Quem somos nós, cidadãos, quando comunicamos ocultos sem rosto ou nome? A fronteira entre sermos bons ou maus selvagens reside em revelar a identidade? Ficam os tópicos e os adjetivos para análise numa outra tertúlia mais demorada, porque hoje venho falar de nomes. Os nomes com que registamos as nossas identidades. 
Recentemente tenho reparado que a novas gerações de pais portugueses têm dado nomes meio esquisitos ou, na verdade, modernos aos filhos.  Vocês já sabem que a minha perspectiva do país é traçada a distância, filtrada pelas notícias que vão chegando através do meios online. Em relação a nomes, eu próprio nasci numa oitava década tomada por Carinas, Brunos e Brunas,  Cátias e Raquéis, Yuris e Vladimires.
O habitual Maria vai bem com tudo dera então lugar ao Ana mais tudo e alguma coisa: Ana Rita, Ana Rute, Ana Paula, etc. Sem esquecer as Vanessas, claro está, como tão perspicazmente registou o nosso saudoso António Variações. Eu que me chamo Manuel, nesses anos de baby boom dos nomes em Portugal, eu tinha nome de velho, de avô. Agora, nesta roda do tempo, voltou a estar na moda, volta a haver Manuéis com fartura. Os clássicos convivem com os Nohas e os Kevins, as Kellys e as Cloés. Estes nomes da atualidade que alguns pais portugueses colocam os
filhos inserem-se num âmbito sociologicamente interessante. Primeiro há os nomes que não são portugueses como Giovana,  Enzo ou Lorenzo. Os nomes de origem italiana sempre tiveram muita saída entre nós, talvez como predição para atrair Ferraris e Lamborghinis. O espírito revolucionário de inspiração soviética dos anos 80 deu lugar à universalidade das popstars, principalmente da área da música e do desporto. Estes nomes estrangeiros, apesar de ambos os pais serem portugueses, revelam uma curiosa internacionalização do produto, uma questão de marketing, uma criança a despontar desde já para um mundo global, comercial e desprovido de fronteiras mesmo que o indivíduo internacionalmente nomeado venha a desenrolar toda a sua vida entre Lisboa e o Barreiro. Como num “estou além”, do referido grande mestre, são nomes que já estão onde não estão, que querem ir para onde ainda não foram, no fundo, são nomes que estão mortinhos por ir daqui para fora. Portugal torna-se pequenino para nomes tão estridentes. Em segundo lugar, outro fenómeno além dos novos nomes estrangeiros, são os nomes levemente retocados. Não são nomes não-portugueses, mas antes nomes portugueses atualizados. Já vi Mathilde e Thiago com ‘th’, ou Sebastian e Christian, estes entre o estrangeiro e o português melhorado.
São nomes que não trazem maquilhagem, mas sim make up. Pensem na quantidade de vezes que estes pais e filhos vão ter de dizer «é com th» ao longo da vida. «Não, é Mathias, mas com th». E é neste «é com th» que para muitos pode ser visto como um aileron num Citroen Saxo ou umas jantes especiais num Opel Corsa dos anos 90, que reside, para os pais, o brilho,
a estrelinha, a diferença.
Portugal é um lugar cheio de pequenas e aprazíveis surpresas como esta, sobretudo, se apreciadas com o vagar de um mirone de mãos nos bolsos que não tem mais nada para fazer a não ser ver o mundo passar-lhe à frente do nariz. E com isto assumo uma certa costela de velho do Restelo, o tipo de costelas que teimam em despontar com a idade, como involuntária reação às “novas qualidades e novidades que o mundo vai tomando”. O que agora causa uma certa estranheza será amanhã a norma. Afinal, os nossos nomes próprios às vezes dizem de onde vimos, mas pouco dizem de quem somos, são antes de mais carne para bilhete de identidade. Na China é outra história, a escolha do nome próprio é todo um destino, um significado profundo, um diálogo entre o ancestral e o provir, reflete-se com a família, consultam-se especialistas, o nome próprio cunha a personalidade, dizem. Se for mar ou chuva, significa uma coisa porque são  elementos da água; lua ou estrela já remetem para outras celestes características. Os chineses têm normalmente dois ou três nomes. O último ou os dois últimos são os próprios, o primeiro é o  de família. Faz-se sempre tudo do geral para o particular. A individualidade fica sempre para último, primeiro o coletivo. O primeiro nome, o de família (só há lugar para um) é o do lado paterno, algo que as mulheres começam a lamentar. Já há casos pontuais em que os casais escolhem o nome da família da mulher, mas geralmente o lado das mulheres desaparece nos meandros varonis dos apelidos.
Nomes e sobrenomes têm muito para contar. Caro leitor e amigo sem nome, tenha uma excelente semana com muita saúde. Um forte abraço!

Os artifícios do fogo

Ora boa tarde, estimados amigos. Antes de mais, feliz ano novo! Muita saúde e boa disposição para este novo ano. Espero que estas palavras vos encontrem de bem com a vida. É que o pessoal que bota crónicas nos jornais é todo meio mal-educado. Falam connosco todas as semanas ou todos os dias, mas nunca deixam os bons dias nem nunca perguntam pela saúde ou pela família. Entram sem pedir licença e começam logo a atirar frases como se alguém lhes tivesse perguntado alguma coisa. Alguns de tão açodados começam logo de rompante com os maus fígados em riste a disparar contra uns e outros, a maldizer fulanos e beltranos, a queixar-se e a maltratar tudo e mais alguma coisa. “Ora, antes de mais, bom dia, se faz favor. Educação é bonita e nós leitores também gostamos. E depois, sim, podem então começar a dizer de vossa tão urgente justiça”. Ano novo, modos novos, mas este ano comecei-o com velhos hábitos, dos iguais por todo o lado. Um par de famílias reunidas à mesa, comida, bebida, criançada bem-disposta, uns brindes para findiniciar o ano e haja saúde! Mas esta passagem de ano trouxe outro brinde, sendo que não foi o do bolo-rei. Nisto das Uniões Europeias não percebo porque é que os espanhóis continuam alegremente a colocar a fava e o brinde nos roscones de Reyes e nós não. Nem de propósito, reparei que escrevo isto no dia seis, dia de Reis, feriado em Espanha, dia de roscones com fartura. Fim das festas natalícias. Em Portugal também já foi feriado, aliás as aulas recomeçavam apenas após os Reis, segundo me contou minha mãe. Antigamente o dia de Reis era para alguns o dia mais alegre da quadra natalícia. Mal chegava a noite, após a ceia, era ouvir grupos de crianças e jovens pelas ruas fora, entre o frio e às vezes a chuva, mas nem isso os impedia de cantar as janeiras. Paravam às portas e cantavam as canções típicas dos Reis. Quando tinham sorte, entravam para comer qualquer coisa e se aquecerem. Quando tinham mais sorte ainda, podiam receber alguma peça do fumeiro. Tradições singulares que o tempo levou. Voltando à entrada neste ano, o brinde de que vos falo foi o do fogo de artifício. Numa era em que tudo se faz portátil, o fogo já se pode adquirir encaixotado e pronto a fazer-se estrondar. Não há dúvida de que dá um colorido único, a cor, a ascensão aos céus, as cabeças levantadas a especarem lá para cima. É daqueles pequenos prazeres que nos torna pequenos, crianças, seres simples. E que humanamente nos une porque não há quem não goste de ouvir o fogo a zumbir e o céu a abrir-se em multicores. O fogo no final de festa, o fogo que faz as festas. Todos nos recordamos das festas de Verão que tinham os fogos de artifício mais grandiosos e proeminentes. Não sei bem como agora andam aí as coisas a esse nível, muito mais tímidas do que noutros tempos, creio. Antes, dizia-se “vamos a tal sítio ver o fogo”. Às vezes nem se ligava ao resto, saía-se de casa já tarde expressamente para ir ver o fogo. E depois do fogo, ala, debandada para casa. No concelho de Vimioso, havia (ou continua a haver, não sei) duas aldeias particularmente fortes em matéria de botar fogo, Campo de Víboras e São Joanico. No Campo era o ponto alto que chegava por volta da meia-noite. Momento ansiosamente aguardado por mirones de nariz empinado para o céu, e por intrusos que volta e meia aproveitavam o baile de estouros para larapiar os recheios mais abonados das casas dos camponeses. São Joanico também tinha bom fogo, mas como o recinto da aldeia era mais exíguo era preciso dobrar ainda mais o pescoço, além de que aquela chuva de morteiradas no final até fazia saltar os paralelos e com eles um ou outro tímpano. Era sabido que os emigrantes brasileiros enviavam dinheiro especificamente para financiar o fogo da aldeia. A diáspora a enviar remessas para garantir que não falhava esta parte integrante das festas é mais um exemplo da importância deste artifício que abrilhanta qualquer celebração. Por isso, bem-haja a todos os pirotécnicos que trabalham com pinças, risco e minúcia, para nos proporcionar estes coloridos momentos. Antigamente apanhavam-se as canas e brincava-se com elas. Outros tempos. Hoje em dia nem canas nem artifícios por causa de outros fogos mais nefastos. Comparativamente, devem ter uma percentagem ínfima na origem dos fogos florestais, mas neste caso também pagam os justos, as festas, as empresas de pirotecnia, todos nós, privados que ficamos desse prazer cada vez mais raro que é apreciar regozijados um espetáculo de fogo de artifício. A magia do fogo tem um poder maior e singular sobre o humano, seja ver arder uma simples fogueira de Natal ou de Ano Novo, ver crepitar uma lareira a domar o Inverno ou às vezes até só a chama de uma vela a regambolear. Já repararam que agora até inventaram umas velas falsas cuja luz, refletida numa palhetazinha que se move, recria na perfeição os efeitos de uma vela natural. Os artifícios do fogo têm algo que mexe com o que de mais elementar possuem os homens. Talvez reverência, talvez admiração e respeito por aquilo que é simples e naturalmente tão maior e mais poderoso do que nós. Que a luz e a magia do fogo se mantenham presentes nas nossas vidas e que tragam bons augúrios para este novo ano. Um caloroso abraço!

Icardiar

Muito bom dia a todos. Espero que estas palavras vos encontrem de boa saúde e de bom ânimo e que o advento traga mais paz e calor aos vossos dias. Hoje venho contar-vos um episódio ocorrido comigo no ano passado. Como nessa altura foi noticiado pelos meios de comunicação, a Itália referendou a população sobre a redução do número de deputados e de senadores. Após a votação, 65% dos cerca de 50 milhões de votantes disseram “sim” e o parlamento foi reduzido em cerca de um terço dos deputados. Concretamente passou de um total de 945 deputados e senadores para 600. A partir da próxima legislatura a Câmara dos Deputados terá 400 deputados (630, atualmente) e 200 senadores (em vez dos atuais 315). A questão é que de forma inesperada também acabei por ter voto nessa matéria numa história que envolve três países e três continentes. Um dia fui levantar o correio de um casal amigo, a pedido de uma família de argentinos que vive aqui, mas que neste momento está na Argentina. É uma família que também tem nacionalidade italiana por via dos progenitores, aliás, eles também já viveram vários anos em terras transalpinas. Acontece que entre as cartas recolhidas estava uma proveniente do consulado de Itália em Cantão, embora não fosse essa a missiva que o destinatário andasse ansiosamente à procura. Quanto à carta endereçada pelo consulado italiano, o destinatário mandou- -me abri-la para ver do que se tratava. Depois de tomar conhecimento do seu conteúdo, disse- -me para eu me livrar dela e dar- -lhe o destino que eu bem entendesse. De modo que, depois de a abrir e perceber do que se tratava, entendi destiná-la para aquilo a que estava destinada. Além do mais, todo o trabalho que requeria era pegar numa caneta e fazer uma cruz no lugar do sim ou do não, o resto já vinha tudo pré-cozinhadinho, era só seguir as instruções, pôr uns envelopes mais pequenos dentro de outros maiores e colocá-la no marco do correio mais próximo. Um voto por correspondência de longa distância, submetido por quem à partida não era para ser tido nem achado sobre o assunto. Por cartas e travessas, senti-me um verdadeiro cidadão europeu, embora sob o nome de outro menos interessado. Não foi bem icardiar, foi só submeter um boletim, fiz apenas o subscrito seguir o seu secreto e cívico destino. A propósito do verbo que utilizei na frase interior, informo que leu bem e que foi mesmo isso que eu quis dizer. “Icardiar”, uma palavra que vos trago precisamente da Argentina, e que tem uma história que merece ser contada, envolvendo como principal protagonista o jogador Mauro Icardi, avançado da seleção alviceleste, anteriormente no clube italiano Inter de Milão e, presentemente, no Paris Saint-Germain de França. Este jogador, há coisa de meia dúzia de anos, roubou a esposa a outro futebolista igualmente famoso na Argentina (Maxi López) arrebatando para ele a mulher e os três filhos dela e deixando o ex- -companheiro em evidente fora de jogo. De criança que pedia autógrafos ao ídolo, até jogar no mesmo clube e passar a ser amigo de trazer por casa foi um passinho, ou um passe fácil, se quisermos. Após o drible, a nova mulher tornou-se agente de Icardi e a sua condição de (literal) influenciadora, assumiu ainda maior visibilidade depois deste romântico conto de farpas. Uma novela com todos os ingredientes ao melhor estilo Pôr-do-Sol, com um elenco composto por ricos e famosos, e como cenário do fundo o fervoroso e religioso mundo do futebol. É deste guião que fez correr rios de viperina tinta (e continua a fazer até hoje) que brotou o termo “icardiar”, comummente usado pelos argentinos. É hoje usado nesse país nas mais diversas circunstâncias como sinónimo de roubar (passionalmente), aldrabar, trapacear, mentir, etc... O vocábulo é tão correntemente utilizado que segundo outro amigo que aqui esteve (não o da cidadania italiana) e com o qual tinha épicas conversas sobre futebol (defendia que os programas “sobre futebol” ao estilo CMTV estão hoje para os homens como as revistas cor-de-rosa estavam para as mulheres), segundo ele, “icardiar” é tão usado na Argentina que “deve estar muito próximo de ter uma entrada no dicionário”. É verdade que do futebol se extraem muitas palavras e expressões aos países que não chutam este desporto para canto. No entanto, apesar de termos tido jogadores lendários dentro e fora das quatro linhas nunca nenhum deles se tinha ativa e coloquialmente transformado em verbo. No princípio era o futebol, agora é o verbo. Da terra da “Mão de Deus” e do próprio Diós em pessoa abençoado pelo número dez da glória eterna, chega-nos o contributo de um jogador deveras improvável dadas as suas pouco impressionantes exibições. Não sei se é a primeira vez que o nome de um futebolista se verbaliza ou entra por um idioma adentro para ficar, mas com toda a certeza será a primeira vez que acontece não pelos seus atributos dentro de campo, mas pelas suas aventuras fora dele. É também a primeira vez, até prova em contrário, que este inspirado e semanticamente redondo vocábulo pisa relvados portugueses. Por isso, companheiro leitor, tente não icardiar o homem ou a mulher do próximo nem ande por aí a icardiar os outros, porque é provável que mais cedo ou mais tarde o apanhem. Agora em relação ao vocábulo, use e abuse dele enquanto for original nestas paragens. Se não o entenderem faça como eu, sempre tem uma história para contar. Um abraço e bom advento!

Uni-vos, mulheres!

Bons dias! Espero que estas palavras vos encontrem de bom ânimo nesta época sempre singular para o Nordeste, abundante em ouriços, castanhas e magustos, “rebulhana, subaldana, sobre quantos?” Ainda se faz esta espécie de jogo da moeda em que um dos jogadores lança essa pergunta e o outro tem de adivinhar quantos bilhós tem na mão? Se acertar fica com elas, se não, tem de lhe dar outras tantas castanhas assadas. Castanha, uma palavra do género feminino devido a esta aleatoriedade masculino-feminina que tocou os vocábulos das línguas latinas. Hoje venho falar-vos precisamente do género feminino, das suas qualidades e da sua grande e principal limitação. Tendo em conta o meu percurso profissional (e paternal) tenho algumas coisas a concluir sobre a condição feminina. Quando estava a iniciar a vida laboral, lembro-me de um primeiro dia de aulas de um ido ano letivo em que, ao intervalo, dei uma mirada pela janela aos estudantes adolescentes que se reuniam lá em baixo. Nessa manhã tinham sido feitas as apresentações para desanuviar mútuos desconhecimentos. Foi interessante reparar que, embora não se conhecessem previamente, os rapazes estivessem todos reunidos num grande grupo, ao passo que as raparigas estavam já apartadas em cada canto, formando quatro ou cinco pequenas e fechadas comunidades. Ainda guardo essa memória com incredulidade pela forma como as mulheres revelam esse instinto quase inato ou automático de se identificarem com algumas das suas pares e desconsiderarem outras quase visceralmente. Desde esse primeiro dia que o professor podia identificar com clareza distanciamento e incompatibilidade entre as mulheres. Creio que para um homem é difícil de perceber como essas divergências são adquiridas e praticadas de forma quase espontânea tendo em conta que não conhecem das outras mais do que uma primeira e imprecisa impressão. Será a forma de falar, de entrejeitar, de vestir? É um mistério da humanidade feminina que parece tão congénito que nem sei se as próprias conseguirão decifrá-lo, explicá-lo, torná-lo inteligível. Mas quiçá devessem tentar fazê-lo para o seu próprio bem. Só em Portugal temos desde há décadas mais mulheres a concluir os estudos superiores que os homens (ver Pordata) e também mais mulheres no meio universitário ou a produzir ciência. São tão ou talvez até mais capazes num mundo em que a faca e o queijo estão desde o princípio dos tempos na mão do homem. Mas à mulher parece faltar sempre alguma coisa, quiçá o mais importante para que possa assumir, equilibrar, inverter. Outra sociológica observação e conclusão foi retirada aqui na China no ano passado quando estava a lecionar a crianças da pré-primária. É interessante reparar que as meninas nessas idades são incomparavelmente mais perspicazes, com mais rapidez de raciocínio e uma capacidade de aprendizagem e compreensão muito mais desenvolvida. As diferenças são tão grandes nessas idades que eles parecem uns abrutalhados e meio pré-históricos seres ao pé delas. Isto pode ser apenas impressão minha, uma inferência empírica e equivocada. É somente a minha opinião, mas as mulheres parecem demonstrar desde cedo uma capacidade de aprender e de entender o mundo muito mais robusta e apurada. Contudo, a recorrente segregação é também facilmente reconhecível, os grupinhos, o diz-que-disse, a tendência separatista. Com base na minha observação, este sugere ser um fenómeno global, mundial, inerente à condição feminina. Sobre a minha filha, que tem os seus dias mas nem é má criança, não tenho propriamente um termo de comparação. Mas consigo com relativa facilidade antever já aos oito anos algumas divergências quando por vezes traz para casa as intrigazinhas com as amigas “porque fulana hoje não falou comigo, porque beltrana isto e aquilo”. Por um lado, eu sei (e digo-lhe) que tudo passa e amanhã umas e outras já estarão sem os azeites, mas por outro sei (e às vezes também lhe digo) que é uma condição meio crónica na forma de se ser e de se crescer mulher. Haverá exceções certamente, tal como há mulheres que, por estes motivos, preferem relacionar-se com os pares masculinos. Mas este último comportamento não combate o problema na raiz, esta fuga para o outro lado, menos dado a estes intricados enredos, talvez favoreça quem opte por esta via, mas não resolve o problema de fundo. Mas, pergunto-me, será que é realmente um problema que tem de ser abordado ou resolvido? Será que há, fora de brincadeiras, um certo inatismo ou natural propensão para este comportamento? Não sei. Nem me compete a mim preocupar-me com estas coisas, afinal até posso assobiar para o lado e dizer “elas que se entendam”. Temos a tradição dominante (de domus, senhor = homem), ou o mito da força física que historicamente pendem para o lado masculino, mas tanto um como outro já não são o que eram, não são já exclusivos de um género. A premente e primeira questão que se deve colocar para a afirmação das mulheres, de modo a fazer ruir o domínio sedimentado é combaterem e destruírem o seu inato ou inconsciente instinto para a segregação, para a divisão, para se medirem e identificarem automaticamente com umas mulheres, excluindo outras de forma impassível e irrevogável. Se o género masculino fomenta essa segregação feminina? Francamente, pelo menos nas sociedades desenvolvidas que advogam a paridade, não me parece. Está nas vossas mãos mudarem este encrostado e paradoxal paradigma. As lutas continuam, continuam sempre e são muitas, mas tem de haver espírito de equipa, caso contrário facilitam o jogo ao género masculino, marcam auto- -golos, entregam o resultado de bandeja. Sem olhares reprovadores nem comentários depreciativos, de uma vez por todas e por todo o mundo: uni-vos, mulheres!

Educação

Bons dias, caros amigos. Amigos e amigas, bem subentendido. Hoje em dia arrastam-se as regras da língua para servir os propósitos destes nossos dias pós-modernos em que tudo tem de ser dito com as devidas pinças e ressalvas. Há quem considere amig@s mais inclusivo, há quem prefira usar os dois géneros e talvez inventar um terceiro, enfim, a imaginação e os gostos são variados e infindáveis. Nesta matéria, eu prefiro deixar a língua portuguesa como está e falar por si mesma (com redundância e tudo), até porque na língua portuguesa o género masculino tem essa dimensão abrangente porque absorveu, digamos assim, o género neutro do latim. Ou, se preferirmos, o género neutro, talvez por conveniência e economia linguística, foi incorporado no género masculino, embora ainda se avistem algumas reminiscências como isto, este, esta, ou isso, esse, essa, entre outras. Mas não foi de educação no sentido dos conhecimentos linguísticos de que vos vim falar. Antes de mais, nem vos perguntei pela saúde. Espero que estejais bem e que o Outono vos traga boa-ventura e ouriços em quantidade e bem pesados. Hoje vim falar de educação e da sua importância, embora o objetivo inicial fosse o de dedicar palavras de apreço ao contributo que os militares têm dado ao nosso país. Num país ainda com uma crónica aversão a fardas e a disciplina, fruto dos efeitos pós-traumáticos que perduram das largas e cinzentas décadas de regime fascista, temos a sorte de ter do nosso lado grandes militares que nos dão a mão com grande perspicácia, coerência e um inabalável sentido de missão ou dever cívico sempre que deles precisamos. Só no decorrer do Portugal mais contemporâneo escolho três nomes demonstrativos da qualidade e distinção dos nossos militares: Salgueiro Maia, nome maior dos capitães de Abril, homem cuja determinação e coragem fez carburar uma revolução e que, pela integridade de não querer nada em troca nem de tomar partidos, acabou semiabandonando por entre as recentes brumas da memória. De seguida, o ex-Presidente Ramalho Eanes. Um presidente-militar num tempo em que presidir um país com ânsia de tudo por ter falta de quase tudo, com pressa de deixar de ser terceiro-mundista, constituía uma autêntica, diária e minuciosa Task Force onde não havia ainda escolinhas de presidentes patrocinadas pelo comentário televisivo nem selfies para sustentar popularidades. Ser presidente não era ser-se popular nem o confortável passeio que é hoje. Por todas as grandes qualidades que soube colocar ao serviço do equilíbrio e da sustentabilidade que o país tanto precisava, qualidades essas que sempre demonstrou ao longo da sua vida, o ex-Presidente Ramalho Eanes é e será sempre das pessoas mais admiráveis e insignes da nossa sociedade. O último nome que escolho é o Vice-Almirante Gouveia e Melo. Ninguém sabe bem o que é um vice-almirante, mas todos reconhecemos a hombridade e sucesso com que este homem liderou, contra alguns ventos e marés, um processo de vacinação no meio de uma pandemia. A sua obra é recente, mas não menos digna de reconhecimento e agradecimento. Todos estes citados militares não nos pediram nada, no sentido de terem sido eles a querer assumir um papel de destaque, nem quiseram mais do que cumprir a missão que lhes atribuíram. Temos os melhores desportistas do mundo, mas também temos militares com os quais nos devemos orgulhar, com formação, sensibilidade e princípios para responder e assumir da melhor forma quando o país necessita deles. Este artigo era para se chamar “oficiais e cavalheiros” e discorrer sobre a preciosa mão que os militares deste país tem dado ao Portugal contemporâneo. O denominador comum destes homens é a educação. A educação, a formação superior, humana e académica, que fez parte da vida destes militares e que contribuiu para que se tornassem grandes homens para grandes missões. Educação, é também o título do livro que acabei hoje de ler e que, a talhe de foice, me virou um pouco o tema da crónica. Um livro de memórias ou autobiográfico de uma cidadã norte-americana que cresceu num meio demasiado improvável e insólito para ocorrer nos dias de hoje. No seio de uma família Mórmon, encrostada no sopé de uma montanha do Idaho, com uma visão do mundo vincadamente peculiar e apocalíptica. A jovem cresceu naquele meio sem conhecer uma escola, um hospital ou um bilhete de identidade até aos seus 17 ou 18 anos. Uma família onde, ainda hoje, os partos continuam a ser feitos em casa e as doenças por mais sérias que sejam são tratadas à conta de ervanária e fé na providência, não tanto por motivos estritamente religiosos, mas sim por uma construção muito própria, ameaçadora e paranoica do mundo em redor. Apesar do tardio começo académico, a pessoa que nos conta a sua inusitada vida conseguiu chegar aos corredores de Cambridge e Harvard, graduando-se e libertando-se das suas restritivas correntes. Aquilo que permite que esta jovem mulher nos conte a sua história e que a sua vida não se tornasse como a dos seus irmãos que continuam a viver num meio tétrico e a perpetuar as mesmas verdades quasi-medievais por entre os seus congénitos, é precisamente, tal como a própria autora sublinha, a palavra que intitula, mas também que termina e coloca uma última pedra nas mais de 300 páginas de uma vida psicoticamente verosímil: educação. A educação é a arma mais libertadora que existe. A educação, em sentido lato, do conhecimento do mundo de maneira a que possamos antever e acreditar em novos mundos e poder ir além das amarras e correntes do nosso próprio. Poder extrapolar o mundo que nos foi destinado. Negar a educação é atrofiar, aprisionar, matar. A educação abre portas, desbrava caminhos, é um valor maior, superior. Eu nutro gratidão por ter crescido num meio familiar e num tempo histórico de uma sociedade ou de um país em que o acesso à educação me foi permitido, facilitado, privilegiado. Necessitei apenas de fazer a minha pequena parte para alcançar os valores e princípios que dela podemos recolher. A todos os muitos cidadãos do mundo, novos e velhos, femininos e masculinos, enclausurados, cativos ou privados deste bem, que a educação entre de alguma forma nas vossas vidas e que vocês a consigam agarrar seja como for. O sonho comanda a vida, a educação permite o impossível, sonhar com liberdade, corporizar os sonhos. Educação e liberdade. Um abraço fraterno!

Estupidicídio colectivo

Boas tardes, meus caros. Espero que estas palavras vos encontrem com boa saúde e disposição, abrigados do calor destes meses de inferno nordestino. Como sabem não sou um consumidor de redes sociais além do WhatsApp e do seu sino-equivalente Wechat, mais os emails e alguns eteceteras que já são muitos. Nunca tive paciência para redes sociais. E até tenho conta no Facebook, embora não a use. Não apago o Facebook por causa do argumento estúpido de que há muitos contactos antigos que eu só tenho ali e um dia posso necessitar deles (embora se realmente precisar de algum, haverá sempre maneira de o encontrar). Eu que até tenho o Facebook desde muito cedo, 2008, numa altura em que, de tão primordial, ninguém sabia o que era. Abri a conta quase pelo mesmo motivo pelo qual Zuckerberg e os amigos o criaram, para colocar as fotos de um jantar. Lembro-me que depois de um jantar no Bairro Alto, uma amiga disse “abram conta numa nova rede social chamada Facebook, que eu vou pôr lá às fotos.” Face quê? Perguntámos todos.” Já não vou para novo, mas nem de mais novo achava grande piada. Ia lá uma ou duas vezes por mês e encontrava sempre tudo na mesma. Feita a minha declaração de desinteresses vou falar do que para mim é a forma mais evidente da taxa de estupidicídio em Portugal, e da humanidade em geral, o ser humano a revelar-se impotente contra a sua própria estupidificação. Vocês sabem também que eu vou acompanhando Portugal pela rádio. Ora, é interessante ver que os radialistas há uns largos meses falavam da chegada da rede social chinesa Tik Tok como sendo absolutamente estúpida, adolescente, fútil, desnecessária e dispensável. Algo de que eu não duvido. Acontece que as mesmas pessoas, meses volvidos, falam da mesma rede social, dos vídeos e do espaço que ela ocupa nas suas vidas com toda a naturalidade de quem a frequenta e a consome. Não sei se isto é o cúmulo da estupidez, ou se a estupidez está do meu lado e de mais quatro ou cinco gatos pingados como eu que ainda andamos a viver estes fenómenos de fora como se estivéssemos algures na década de 90, pensando que o mundo e os deuses estão loucos, quando de facto os únicos loucos somos nós. É uma seita, uma onda de estupidicídio coletivo. As redes sociais a serem muito mais fortes do que as pessoas. Perdemos a capacidade de escolha ou de live arbítrio diante de uma rede social por mais estúpida e inútil que seja. Consumimos tudo. “Olha, já leste esta: abriu o “Estúpido bar” aqui na cidade, um bar da parvoíce a escorrer azeite pelas paredes. Só para pirosos, até a decoração é pirosa, que parolice, que foleirada (Pierre Zago, 2019)”. Criticamos, gozamos, e, no entanto, semanas depois estamos todos ao balcão do bar da foleirada, dos fúteis e azeiteiros a beber uma cerveja com groselha e a olhar uns para os outros. É incrível, o grau de toxicodependência digital, o poder destes estupefacientes sociodigitais que nos têm completamente na mão. E nós a julgar que não, que deixamos esta droga quando quisermos, enganando-nos a nós mesmos como qualquer verdadeiro toxicodependente. “Não, isto da droga eu saio quando quiser, amigo. Eu estou no controlo, se eu quiser largar, largo num instante”. “Tik Tok?! que piroseira, isso até é uma vergonha para quem tem mais de 12 anos e usa isso” Após um par de semanas: “Por acaso, ontem vi um vídeo no Tik Tok muito fixe, tens de ver...” Mas a rede social mudou num par de meses? Ou foi o cidadão que não é capaz de dizer não às drogas que lhe passam pela frente, “agarrei-me a isto porque os meus amigos costumavam consumir. Eu tenho quase 50 anos, mas a minha personalidade digital ainda não está completamente desenvolvida”. Agora fala-se muito do ódio digital. Pergunta (absolutamente) estúpida: é assim tão difícil sair do digital e desfazer esse ódio ou reduzir substancialmente o uso de redes sociais? Ou mudar os usos da internet, pelo menos para não lá andar a destilar ódio, inveja e mesquinhez? Claro que é. Tão difícil como para um heroinómano deixar de usar heroína ou reduzir a sua utilização com um estalar de dedos. Para quem nunca andou metido no cavalo é muito fácil. Mas para quem anda agarrado, só Deus deve saber como é cruel estar enleado nas malhas do vício. Somos todos toxicodependentes, estupidificados, afogados em informação, completamente engolidos e manipulados por este admirável mundo novo do outro lado dos ecrãs. O grande irmão está a ver-nos, nós estamos a ver o grande irmão, estamos a dançar e a dar o nosso melhor para fazer a máquina deste grande irmão não parar. Unidos pela parvoíce e pela estupidez. Unidos por postiças sensações de empatia, proximidade, afecto. Vamos perdendo as valias do convívio, da interação. Praticamos a cidadania do teclado, somos cidadãos do like e do post, passamos a viver sentados na bancada. Nada aconteceu se não foi consumido no ecrã, tudo só vale a pena se for diretamente injetado nas veias dos ecrãs. Tudo o que de jeito e desenjeitado fazemos na vida tem de constar da tela. Todos os dias, minutos, segundos, de garrote no braço, entorpecidos, à procura de já nem sabemos o quê, a ter de estar a ali a ver caravanas a passar e cães a ladrarem. O ódio na internet é só a overdose. O evidente e incontrolável excesso. Mas não queremos ver, não queremos procurar ajuda, não queremos mudar. Aliás, vamos postar, partilhar, comentar, debater para que isto mude. A cada segundo que passa alimentamos e cometemos um incessante estupidicídio colectivo. Mas não há problema. Afinal, nós estamos no controlo, largamos isto quando quisermos.

Bar da Santa Paciência

Ora muito boas tardes! Espero que vos encontreis bem de saúde, devidamente protegidos do sol abrasador, em casa, à sombra ou, tanto melhor, a molhar os pés pelo Azibo. Temperaturas altas e gentes da terra foi coisa que este ano voltou a trazer, aproximando-se dos níveis de afluência habituais para esta época calorosa e convivial que moldura o mês de Agosto. Tal como o Nordeste aqui noticiou, migrantes e emigrantes voltaram a preencher as casas, as ruas e os cafés das nossas pictóricas aldeias, o que é sempre de saudar e brindar. E aproveito este gancho dos cafés para contar uma anedota passada por estes dias em Avelanoso, uma aldeia como certamente muitas outras, já bafejadas pelas regulares brisas das campanhas eleitorais. Os peditórios das comissões de festas são este ano substituídos por peditórios de votos mais ou menos disfarçados. Aqui há uns anos botei um texto sobre a “Política dos últimos” - à imagem do icónico programa de futebol “Liga dos últimos” - com base numa conversa que apanhei numa camioneta Lisboa-Bragança em que o motorista dizia a um passageiro que por causa de políticas não falava com o irmão havia “quase 10 anos”. Como em muitos misteres, quem ganha milhões sabe sempre separar as águas, quem ganha tostões normalmente não tem intelecto para tanto. Quem ganha milhões põe os olhos na direção apontada, quem ganha tostões não alcança mais que a contemplação do dedo espetado. E essa é uma característica realmente definidora: a política dos pequenos é pessoal. É tacanha, é de ajuste de contas, é de canela até ao pescoço. É um anti-futebol e uma anti-política porque quando não se tem ideias a única obsessão é não deixar jogar, nada acrescentando ao jogo, à comunidade. E vale tudo nessa missão sarrafeira e caceteira de fazer política. Penso que quando se entra para a política deve haver duas portas. Há uma porta de entrada que por mais ou menos portas e travessas pode levar os políticos a algum lado e depois há uma porta que diz “curros” e que mal aberta leva outros a irromper pela praça a toda a velocidade, investindo contra tudo o que encontram, seja irmão, pai, vizinho, o que interessa é colidir, destruir, botar abaixo. Acredito que alguns destes se encostem às tábuas depois de tanto marrar e nada ganhar com isso, mas outros são bravos bovídeos capazes de levar essa política missão pela vida fora. Quiçá garbosos do seu contributo para a respetiva ganadaria. Voltando à anedota: a aldeia de Avelanoso não sendo pequena, tem desde há uns anos apenas um único bar. Um único ponto de encontro onde se pode tomar café, encontrar amigos, ver a bola: conviver. No fundo, conviver é o que nestes tempos mais faz falta para animar a malta e provavelmente a coisa que mais dá gosto fazer numa aldeia no mês de Agosto. O Bar da Santa é habitualmente gerido pelos mordomos das comissões de festas. Com a pandemia não se nomearam novos mordomos e alguns jovens pegaram no espaço simplesmente porque a aldeia precisa dele. Entre eles está o atual presidente da junta. Acontece que os candidatos do outro partido, começaram a campanha em modo “Bonito, 550kg, Ganadaria: António Brito Paes” e arrancaram praça adentro a toda a velocidade em direção a um capote rubro que diria incompatibilidade de funções ou uso inapropriado do espaço, pelo que forçaram o seu encerramento. Uma jogada de fino recorte político que mais não fez do que privar uma aldeia do seu único espaço público e social em pleno mês de Agosto. Espaço que os próprios frequentavam também. A primeira e quase de certeza última medida política que conseguiram produzir merece uma salva de palmas ou um “olé” lançado em uníssono pela afición nas bancadas. A população, a aldeia, agradece ter sido abatida pelas balas perdidas destas ferozes e impiedosas batalhas políticas de terceira divisão. Destes políticos-soldados da matarruanice pouco mais se pode esperar do que o bota-abaixismo. É pena que a esta data ainda se entre para a política sem ter nada para acrescentar, sem ter dois dedos de testa e, ironicamente, complicando a vida da comunidade em vez de a facilitar. Nossa Senhora da Saúde nos dê saúde e paciência para aturar estes políticos e estas politiquices de pé rapado. Antes de começarem, já deram um tiro no pé descalço, um autêntico tiro na nuca. Prevê-se uma vitória no sofá, ainda antes de entrar em campo, para o atual presidente ou uma campanha como a do professor Marcelo, sem precisar de gastar um cêntimo. Não bastasse ser rapaz solícito e disponível para ajudar, resolver e cooperar, os adversários... se a política tivesse mínimos nem se qualificavam. Precisamente, para este vasto número de atletas não qualificados proponho a fundação do PDU, o Partido dos Últimos. Um partido que vem para agregar, de norte a sul do país, todos os que entram para a política com a sensibilidade e a perspicácia de um rebolo dos grandes. Um partido sem segundas nem sequer primeiras intenções. Um partido dos que vêm verdadeiramente para partir. Um partido de U’s, Universal, de Últimos e de Ursos! Um partido em que os últimos são sem sombra de dúvida os primeiros! No PDU, vota tu! Além disso, a sigla do partido acaba em U, o que é bastante propício à criação de slogans ou lemas de teor elementar e cativante. O PDU, Partido dos Últimos, do qual, tristemente, nem todos os militantes sofrem dos gravitacionais e avançados efeitos da PDI. Fora (e dentro) de brincadeiras um saudoso e refrescante abraço a todos! E bons convívios (respeitando as normas) se não vos mandarem fechar o tasco. Saúde, um abraço!

Chega de fossa nova

Boas tardes, meus caros. Parece que as notícias têm sido mais animadoras e isso é de saudar. Que a primavera nos traga calor e mudanças para melhor. Vocês sabem que eu sou cada vez mais um estrangeiro na maneira como vejo o país, não é fácil levar uma vida minimamente ocupada em GMT+8 e ir acompanhando todas as vicissitudes do que se vai passando aí dentro. De maneira que aos poucos me vou metaformoseando num desconhecedor do meu país, que vai sabendo dele muito au ralenti. Algumas coisas têm-me chegado através da rádio, agora que se pode ligar o rádio em qualquer lado. Ainda no outro dia ouvia a história de um artista que começou a ouvir música com o rádio do avô, à volta do qual se reunia toda a aldeia, porém, o rádio era ligado unicamente ao domingo à tarde “para não gastar muita pilha”. Outros tempos, outros sofrimentos. Uma coisa que tenho vindo a notar recentemente é que a música que se tem feito em Portugal anda muito diferente, pelo menos a pouca que me vai chegando. Tudo são musiquinhas moles, envergonhadas, tudo muito acústico, mas onde até o eletrónico não quer incomodar os vizinhos, letras curtinhas, cansadas, umas vozes que não queriam ter sido arrancadas da cama, artistas que se expressam pelas vestimentas, mas em que depois as gargantas só conseguem lançar aquela expressão muda, seca, palavras mal saídas a quererem voltar para dentro, botadas em modo meloso, pegajoso como o álcool que escorrega das garrafas vazias espalhadas pelo chão da sala. Tudo soa a uma mesma Adriana Partimpim sem forças, empurrada para a frente de um microfone por recomendação e insistência do médico-psiquiatra, tudo meio imberbe, inacabado. Eu sei que a música é expressão do seu tempo e estes não são tempos nada comuns, também sei que para destilar descrença e abissal tristeza somos os primeiros, mas já é hora de começarmos a mudar um bocado o registo. Agora que vem o sol e a primavera, é uma boa oportunidade para desconfinar a música portuguesa, sair de casa, tirar o pijama borbotado de quinze dias, passar uma água pela cara e ir ver o mundo, apanhar um bocado de vitamina D e saborear uma esplanada. Já cansa esta ladaínha cantada por favor que faz o fado parecer Carnaval e em que tudo parece ser uma bossinha nova portuguesa extraída lá do fundo da fossa, uma autêntica fossa nova. Vamos sair da fossa, variar o registo, voltar a pôr as guitarras a rasgar, umas letraças daquelas, as bandas a justificar o aplauso feroz. É tempo disso, vamos voltar com força e desligar o modo abatido, desgostoso e agridocinho. Pimbalhada, rockalhada, martelada, metalada, popzada, venha tudo o que traga vida, sangue, decibéis. Tragam de lá o façam barulho e enfiem os “violões” e as violazinhas no saco. Por exemplo, as músicas do festival da canção têm sido uma tristeza, na mais literal acepção da palavra, no sentido de serem tão tristes e soturnas que até as pedras da calçada ficam a pensar se de facto não seria melhor cimentarem os passeios todos e irem desta para melhor. A gente às vezes até quer gostar destas músicas, mas nem consegue de tão apagadinhas e insuficientes que são. É imperativo levantar o estado de emergência da música portuguesa porque ela precisa de nos levantar a moral. Já não queremos esta música-ansiolítica, queremos algo com vida, com raiva, queremos os pés de dança, o salto, o golo, o orgasmo, o pontapé na atmosfera. Queremos música! Queremos a música portuguesa a gostar dela própria e não a música portuguesa a matar-se a ela própria, a desistir de si própria. Bora, música portuguesa, acredita em ti, tens tanta gente que te quer bem, salta da cama, anda viver meu amor que o sol está lá fora à espera de te ouvir cantar. E não nos venham com fatiotas nem outfits, tragam-nos música, queremos vibrações e variações, mas dispensamos esses palquistas quarenta-anos-depois que só têm a arte do guarda-roupa e da maquilhagem para mostrar. Queremos o antigo, o moderno, o revisitado e futurista, os agudos e os graves, sintonias de gritarias, sintetizadores e distorcedores, oboés e bués jambés, gaitas e guitarras, a vida nuns sopros, o bate-coração das baterias, cordas bambas e vocais, pandeiretas, palhetas e baquetas a bater nas mesmas teclas, quem canta seus males espanca, xilofones, saxofones, estar nos concertos e vê-los através dos telefones, castanholas portuguesas, carrilhões, apitos e berimbaus, queremos ir para cima das colunas, cabines de som e pregos no prato quando cai a noite na cidade, cornetas de pistões e órgãos de soberania, a cauda dos pianos com a vara dos trompetes, caminhos de ferrinhos e triângulos de bermudas, o atabaque faz bem à saúde e contrabaixos não há argumentos, ponham a boca no trombone nesta noite de açucenas, venham de lá os címbalos a chocalhar e as hormonas da harmónica, é uma guitarra portuguesa concertinas, o estradivários está tantã desde que a rabeca se foi embora, a ver se vejo o realejo e o alaúde em Mafamude, os pandeiros são os primeiros, venham de lá os bombos da festa, queremos o lirismo das liras e o herpes das harpas, as mãos nas flautas e sanfonas, faça chinfrim o bandolim, acordem os acordeões, ponham-se finos os violinos… e todos juntos vamos em fanfarra bater à porta da música portuguesa e arrancá-la de casa, da fossa em que se enfiou. A fossa nova já foi chão que deu uvas. Não queremos essa coisa entorpecida, quebradiça, sem coragem. Queremos as nossas músicas, a nossa música de volta. Precisamos da intervenção da música, da vida que ela tem e da vida que nos dá. Renasce a música e renascemos nós. Precisamos todos de renascer já!

Manifesto ecofágico

Boa tarde, meus caros. Espero que a anunciada Primavera vos traga saúde e esperança renovada. Hoje falo- -vos da natureza, de fauna e de flora, raposas, lobos, gamos, ginetos e javalis. Vai fazer um século que o manifesto antropofágico despoletou um movimento modernista brasileiro com o mesmo nome, inspirado no surrealismo francês de André Breton, para centrar a expressão artística na brasilidade, nas suas raízes indentitárias ameríndias, desprendendo-se das estrangeiras influências europeias e norte-americanas. Daí esse canibalismo, essa deglutição do Outro que o nome sugere. A antropofagia trasmontana de hoje não tem nada de surrealista, mas sim de ultra ou hiper-realista. Também não é bem antropofágica, porque não se trata de homens que comem outros à refeição, mas sim de naturofagia, biofagia ou ecofagia, ou seja, a natureza a dizer que o homem está ali um bocado a mais (ou a menos, na verdade). Às vezes costumo chamar à praça o académiquês no qual hoje em dia tudo consegue caber, mas, fora de brincadeiras, não sei qual a terminologia, mas estou certo de que haverá algum ramo da ciência que estude estas coisas. Temos por exemplo o caso de Chernobyl, conhecido por, depois da debandada das suas gentes, albergar agora uma vida natural única e vigorosa em termos de espécies vegetais e animais que vivem sem qualquer influência de actividade humana. O mesmo fenómeno se passa numa zona ainda mais difícil de aceder situada na divisão entre as Coreias, onde poucos ousam pôr o pé, mas onde muitos juram haver uma biodiversidade igualmente rara e especial. Uma faixa de terra desmilitarizada e sem presença humana desde a Guerra da Coreia, nos anos 50, com quatro quilómetros de largura e 250 de extensão onde a natureza se instalou com toda a naturalidade sem passar cartucho a humana e desavinda vizinhança. No caso do Nordeste Trasmontano as pessoas das aldeias relatam a cada vez maior propagação de animais selvagens pelos termos e pelos povoados, animais esses que muitas vezes se passeiam pelas aldeias natural e despudoradamente, alguns até já vão comer da gamela que lhes dão. Nos dias de batida ao javali os caçadores dizem avistar muitas dezenas, centenas destes animais. Nesta relação e interação entre gentes e fauna, quando deixa de haver pessoas, a fauna e a flora começam a deglutir e a envolver o meio involvente. Os animais selvagens proliferam e os humanos passam a ser para eles apenas quatro gatos pingados. Para todos os efeitos esse é um dos sinais mais realistas dos tempos que as aldeias do Nordeste vivem. Antes costumava ouvir-se muito a frase “antigamente estes caminhos andavam todos limpinhos, não havia uma brossa, umas silvas, isto até brilhava, cheios de gente pelos termos”. Depois os caminhos dos termos começaram a ficar abandonados, sem gente para os escanhoar, e agora estamos num outro inverso ponto em que são os animais que devem fazer semelhantes comentários: “Antigamente não se podia andar nestes caminhos de tanta gente. Agora, meu filho, se quiseres ir até à aldeia jantar a comida do gato à porta das pessoas, não tem nada que enganar, sempre a direito pelo carreiro. Não vale a pena andares aí a arranhar as patas no meio dos touções”. Raposas, cervos, javalis, gatos selvagens, etc., vivem tempos de liberdade. Tem a sua beleza, mas também tem os seus perigos e prejuízos. As aldeias do Nordeste Trasmontano fazem-se cada vez mais deles e cada vez menos de pessoas. Na perspectiva biológica e ecológica, e na perspectiva do PAN, é algo de enorme riqueza e singularidade. Na perspetiva demográfica e trasmontana, em termos de presença humana, é um bocado triste porque a natureza está literalmente a morfar ou a antropomorfar as pessoas e as suas pequenas comunidades. Pegando num termo muito ligado a Trás- -os-Montes, celebrizado pelo insigne poeta, estamos perante um telúrico-morfismo em que a terra enquanto elemento vivo, está a engolir os da terra enquanto elemento filosófico. Sendo que o elemento filosófico são as pessoas e sem elas há muitas coisas bonitas de serem apreciadas neste mundo, mas não filosofia nem outras formas que tais de ocupar o tempo. A natureza a ganhar espaço ao homem, um movimento cíclico, uma segunda parte de um jogo em que o marcador revira a favor da fauna e da flora. A terra a ir para as mãos de quem a trabalha. Há no Nordeste municípios de vastas centenas de metros quadrados com quatro, cinco mil pessoas. Na China isso pode perfeitamente ser a população de um prédio ou dois. Que o mundo é feito de desequilíbrios nao é novidade para ninguém. Que passados tantos anos não consigamos fazer grande coisa para inverter ou sequer impedir o acentuar desses desequilíbrios também não, mas é decepcionante. É urgente o amor e é urgente o equilíbrio, mas a questão que se coloca é sempre a mesma: como? Se o Polígrafo fosse investigar e analisar a veracidade da seguinte afirmação “O ser humano nas aldeias do Nordeste Trasmontano é um elemento em francas vias de extinção”, o veredito final seria: “Falso, mas...”. Um saudoso abraço a todos e muita saúde!

As quadraturas da liberdade

Boa tarde, meus caros. Que estas palavras vos encontrem com saúde e de bom ânimo. Hoje venho divagar sobre essa coisa onírica da liberdade. No outro fim de semana num restaurante estávamos à mesa umas quantas pessoas. Tal como começa a anedota, tinha o espanhol, o inglês, não tinha o francês, mas tinha representada várias nacionalidades como estado-unidense, brasileira, argentina, mexicana e alemã, entre outras que por ali andavam. Estávamos a falar de liberdade, na China, na esplanada multicultural de um restaurante propriedade de um italiano de Milão numa noite temática de comida mexicana preparada por um comum amigo de Guadalajara. Conversou-se entre tacos, cervejas e charros negros, os charros são os cóbois do México, ciosos da sua cultura charra ou charreria, já os charros negros não são mais do que o nome que os mexicanos dão a tequilha com coca-cola. A páginas tantas a conversa foi parar aos actuais e globais lugares comuns, as vacinas, o futuro, o mundo e os cantos do mundo de cada um. Falou-se também da liberdade e de liberdades... É difícil falar destes temas nestas linhas e fazer compreender plenamente estes tópicos pois no Ocidente existe um desconhecimento quase absoluto sobre a China e muito mais sobre a China de hoje. Isto digo eu e diz um sinólogo francês chamado François Jullien que tem também a expressiva e concludente frase “enquanto para o pensamento europeu a liberdade é a última palavra, para o Extremo-Oriente é a harmonia”. Esta afirmação ajuda a compreender os tempos que a Europa e o Extremo-Oriente vivem. Enquanto a Europa tem vindo a esforçar-se por preservar a liberdade como valor fundamental ainda que a harmonia (e o resto) decline e seja alvo de diversos tipos de ameaças, por outro lado o Extremo- -Oriente funda-se na harmonia como condição basilar de estabilidade e progresso ainda que algumas liberdades individuais tenham de dar o corpo ao manifesto e ser secundarizadas neste processo. São valores culturais, fundamentais, embora consideravelmente diferentes e às vezes contrários na forma de conceber e viver a sociedade. Por isso, aí quando se fala de China e restrições à liberdade, é sempre tudo por causa do regime, sendo na verdade tudo mais fruto da cultura intrínseca chinesa, inclusive a vigência do próprio regime. Uma visão eurocêntrica e coitadinha do mundo que não procura realmente conhecer o Outro, mas que parte sempre do princípio que os outros querem fazer as coisas à europeia, e se não o fazem é porque não podem, coitados, eles bem queriam ser em tudo tão mais- -que-perfeitos quanto nós. Actualmente na China as fronteiras continuam fechadas, entram os nacionais e os poucos estrangeiros que conseguem entrar no país. Na verdade não é que esteja fechado, a questão é que quem entra tem de cumprir quinze dias num hotel mais uma semana em casa. Sem excepções para ninguém, nem para diplomatas. No entanto, apesar deste filtro de três semanas engaiolado e a pagar o hotel do seu bolso para quem quiser andar livre cá dentro - tal como se faz na Austrália e em grande partes dos países do Oriente - a vida aqui corre absolutamente normal desde Abril do ano passado, tirando o requerido uso de máscaras em alguns locais. Deste modo, a pergunta que se colocou à mesa foi: o que é a liberdade? É querer andar a circular à vontade, porque é um direito que me assiste, quem é alguém para me impedir ou me encerrar num hotel, o que eu mais preciso no meio de uma pandemia é de viajar, na verdade de escarrapachar fotos no Instagram num sítio coiso, #life is a trip, respeitem a minha privacidade, era o que faltava num país democrático de plenos direitos quererem beliscar tamanhas conquistas... para depois acabar por ficar um país parado ou a meio gás, encerrado em casa e com as implicações todas que vocês conhecem melhor do que eu e que tantas consequências tem na vida, na economia e na saúde física e mental dos cidadãos? Quem tem mais liberdade, somos nós na China em que a normalidade já vai fazer um ano e nos podemos juntar e conviver à mesa de um restaurante ou são as pessoas em grande parte da Europa que em nome da liberdade são depois obrigadas a ter de vivê- -la dentro da quadratura das suas casas, da quadratura dos computadores, da quadratura dos postigos, da quadratura de tudo? Fica a questão sem mais juízos de valor. Antes que coloquem rótulos não se trata de defender certas concepções políticas, aliás, nessa mesa éramos todos nacionais de democracias bem fundadas, pessoas de esquerda, pelo menos as que conheço melhor. Trata- -se apenas de fazer concessões, de prescindir um pouco nestes tempos completamente invulgares para não andar na intermitência da liberdade, na cepa torta do hoje oito, amanhã oitenta. Praticar uma harmonia mais preventiva, abdicando de uma ou outra liberdade individual para não ter de desembocar na desarmonia de esgotantes estados de emergência. Não perdia nada a China em abrir mão de algumas liberdades individuais das suas pessoas e não faria mal à Europa trabalhar mais a harmonia colectiva dos seus cidadãos. Educamos os filhos com regras, com responsabilidades, mas a Europa não. Só liberdades, quase zero responsabilidades. Chegamos ao cúmulo dos dias de hoje de uma pessoa até se sentir fascista ao pedir uma ou outra regra ou concessão para a Europa, quando a questão é pecisamente a contrária. É dessa falta - desse só se poder abrir ou dar e não se poder corrigir ou recuar um milímetro que seja - que brota o perigo, o descontrolo, o descalabro. As democracias têm de agir e intervir, democraticamente, antes de males maiores. Dizerem “presente” para não dar tréguas a ameaças que se vão anunciando e alimentando da descrença. Tal como disse uma senhora, Grace Blakeley, há dias na Visão “a democracia não aguenta disparidades tão grandes. As pessoas tiram o seu apoio ao sistema e a legitimidade erode-se. Vejo muitos jovens a dizer que não acreditam na democracia, no capitalismo ou no liberalismo.” As pessoas, os jovens já não acreditam em nada e já começam a estar por tudo. Por estes dias, numa das suas mais recentes obras de rua, Banksy pôs o ladrão a escapulir-se da janela de um prédio com um cesto de comida, já não busca o dinheiro, as jóias ou televisor, mas comida. Uma imagem que diz tudo. Vivemos nos extremos, com disparidades económicas, sociais, disparidades entre os direitos e os deveres que não páram de aumentar e os partidos políticos a brincar aos moinhos de vento, sem fazer nada para mudar o rumo das coisas ou sequer para mostrar que não são instituições viciadas, narcísicas, a caminho da obsolescência. É triste e é perigoso. Enfim, tudo o que o mundo precisa é de equilíbrio. E também de mundivivência, de ver outras coisas, o outro lado, de se mostrar disponível para aprender com o Outro. Isto não é mais do que um desabafo, acaba por ser também para isso que estes textos servem, não espero que a natureza das coisas venha a mudar e muito menos que me queiram entender ou concordar com o que digo. Haja saúde e esperança, mas também acção. Um grande abraço!