Uni-vos, mulheres!

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Bons dias! Espero que estas palavras vos encontrem de bom ânimo nesta época sempre singular para o Nordeste, abundante em ouriços, castanhas e magustos, “rebulhana, subaldana, sobre quantos?” Ainda se faz esta espécie de jogo da moeda em que um dos jogadores lança essa pergunta e o outro tem de adivinhar quantos bilhós tem na mão? Se acertar fica com elas, se não, tem de lhe dar outras tantas castanhas assadas. Castanha, uma palavra do género feminino devido a esta aleatoriedade masculino-feminina que tocou os vocábulos das línguas latinas. Hoje venho falar-vos precisamente do género feminino, das suas qualidades e da sua grande e principal limitação. Tendo em conta o meu percurso profissional (e paternal) tenho algumas coisas a concluir sobre a condição feminina. Quando estava a iniciar a vida laboral, lembro-me de um primeiro dia de aulas de um ido ano letivo em que, ao intervalo, dei uma mirada pela janela aos estudantes adolescentes que se reuniam lá em baixo. Nessa manhã tinham sido feitas as apresentações para desanuviar mútuos desconhecimentos. Foi interessante reparar que, embora não se conhecessem previamente, os rapazes estivessem todos reunidos num grande grupo, ao passo que as raparigas estavam já apartadas em cada canto, formando quatro ou cinco pequenas e fechadas comunidades. Ainda guardo essa memória com incredulidade pela forma como as mulheres revelam esse instinto quase inato ou automático de se identificarem com algumas das suas pares e desconsiderarem outras quase visceralmente. Desde esse primeiro dia que o professor podia identificar com clareza distanciamento e incompatibilidade entre as mulheres. Creio que para um homem é difícil de perceber como essas divergências são adquiridas e praticadas de forma quase espontânea tendo em conta que não conhecem das outras mais do que uma primeira e imprecisa impressão. Será a forma de falar, de entrejeitar, de vestir? É um mistério da humanidade feminina que parece tão congénito que nem sei se as próprias conseguirão decifrá-lo, explicá-lo, torná-lo inteligível. Mas quiçá devessem tentar fazê-lo para o seu próprio bem. Só em Portugal temos desde há décadas mais mulheres a concluir os estudos superiores que os homens (ver Pordata) e também mais mulheres no meio universitário ou a produzir ciência. São tão ou talvez até mais capazes num mundo em que a faca e o queijo estão desde o princípio dos tempos na mão do homem. Mas à mulher parece faltar sempre alguma coisa, quiçá o mais importante para que possa assumir, equilibrar, inverter. Outra sociológica observação e conclusão foi retirada aqui na China no ano passado quando estava a lecionar a crianças da pré-primária. É interessante reparar que as meninas nessas idades são incomparavelmente mais perspicazes, com mais rapidez de raciocínio e uma capacidade de aprendizagem e compreensão muito mais desenvolvida. As diferenças são tão grandes nessas idades que eles parecem uns abrutalhados e meio pré-históricos seres ao pé delas. Isto pode ser apenas impressão minha, uma inferência empírica e equivocada. É somente a minha opinião, mas as mulheres parecem demonstrar desde cedo uma capacidade de aprender e de entender o mundo muito mais robusta e apurada. Contudo, a recorrente segregação é também facilmente reconhecível, os grupinhos, o diz-que-disse, a tendência separatista. Com base na minha observação, este sugere ser um fenómeno global, mundial, inerente à condição feminina. Sobre a minha filha, que tem os seus dias mas nem é má criança, não tenho propriamente um termo de comparação. Mas consigo com relativa facilidade antever já aos oito anos algumas divergências quando por vezes traz para casa as intrigazinhas com as amigas “porque fulana hoje não falou comigo, porque beltrana isto e aquilo”. Por um lado, eu sei (e digo-lhe) que tudo passa e amanhã umas e outras já estarão sem os azeites, mas por outro sei (e às vezes também lhe digo) que é uma condição meio crónica na forma de se ser e de se crescer mulher. Haverá exceções certamente, tal como há mulheres que, por estes motivos, preferem relacionar-se com os pares masculinos. Mas este último comportamento não combate o problema na raiz, esta fuga para o outro lado, menos dado a estes intricados enredos, talvez favoreça quem opte por esta via, mas não resolve o problema de fundo. Mas, pergunto-me, será que é realmente um problema que tem de ser abordado ou resolvido? Será que há, fora de brincadeiras, um certo inatismo ou natural propensão para este comportamento? Não sei. Nem me compete a mim preocupar-me com estas coisas, afinal até posso assobiar para o lado e dizer “elas que se entendam”. Temos a tradição dominante (de domus, senhor = homem), ou o mito da força física que historicamente pendem para o lado masculino, mas tanto um como outro já não são o que eram, não são já exclusivos de um género. A premente e primeira questão que se deve colocar para a afirmação das mulheres, de modo a fazer ruir o domínio sedimentado é combaterem e destruírem o seu inato ou inconsciente instinto para a segregação, para a divisão, para se medirem e identificarem automaticamente com umas mulheres, excluindo outras de forma impassível e irrevogável. Se o género masculino fomenta essa segregação feminina? Francamente, pelo menos nas sociedades desenvolvidas que advogam a paridade, não me parece. Está nas vossas mãos mudarem este encrostado e paradoxal paradigma. As lutas continuam, continuam sempre e são muitas, mas tem de haver espírito de equipa, caso contrário facilitam o jogo ao género masculino, marcam auto- -golos, entregam o resultado de bandeja. Sem olhares reprovadores nem comentários depreciativos, de uma vez por todas e por todo o mundo: uni-vos, mulheres!

Manuel João Pires