class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-taxonomy page-taxonomy-term page-taxonomy-term- page-taxonomy-term-77">

            

Luís Ferreira

PUB.

Vendavais - A Escola do desespero

A escola começou por ser um espaço onde alguém ensinava os que queriam aprender e não eram muitos nesse tempo. Desde que a História se iniciou e ela começou precisamente quando se inventou a escrita, logo se equacionou a possibilidade e a necessidade de ensinar outros para que perpetuasse o conhecimento e se transmitisse o saber. Surgiu um espaço adequado a essa nobre missão e um professor para ensinar os que deviam aprender o essencial para mais tarde poder transmitir toda a aprendizagem.
Na Grécia antiga a importância da educação da juventude foi levada ao extremo. O homem tinha de ser perfeito e isso incluía não só os escalões de aprendizagem como também a educação do próprio físico. Foi aqui que nasceu o Liceu, a escola a que nos habituámos a frequentar até há 40 anos atrás. O 25 de abril trouxe as escolas secundárias e com elas novos currículos e novas regras para a educação. Mas nem tudo correu bem.
A escola deve continuar a ser um espaço de aprendizagem onde os alunos se sintam bem, onde os professores possam desempenhar o seu papel com satisfação e onde todo o pessoal sinta que todo o espaço lhes pertence. A escola não pode ser uma prisão para os alunos. Eles querem ser livres dentro desse espaço e sentir-se bem, tão bem que lhes apeteça ir para lá e aprender alegremente o que os professores lhes transmitem.
Há 32 ou 33 anos a Escola Secundária de Vinhais foi inaugurada e eu prezo-me de ter pertencido ao grupo de professores que a inaugurou. Uma família de nome da vila, cedeu um espaço enorme para que fosse possível construir uma escola nova. Fez-se. Era um espaço agradável, não só porque era novo, mas porque tinha uma envolvência maravilhosa que permitia aos alunos, professores e funcionários, uma possibilidade extraordinária de movimentação e uma imensa capacidade de aproveitamento desse mesmo espaço total. Por lá andavam cerca de mil alunos nessa altura.
Hoje os tempos mudaram é verdade. Os alunos hoje são metade dos de antigamente, mas amanhã poderão ser mais. Essa não pode ser a razão para desistir desta escola, plena de potencialidades. Passados trinta anos a escola necessita de melhoramentos. É normal. Outras já foram melhoradas pela Parque Escolar e outras estão neste momento a ser melhoradas. A escola de Vinhais deveria estar nesse lote, mas não. A única razão para não estar parece prender-se com o facto de a Câmara Municipal fazer pressão para se construir outra nova em terreno adquirido para o efeito há algum tempo. Uma questão de terreno! O projeto foi apresentado há dois anos e foi rejeitado liminarmente pelos professores, que são os únicos a saber o que é necessário para que uma escola possa funcionar em condições. Ninguém os quis ouvir. O Ministério ficou na dúvida sobre o que fazer e retardou o processo, não se sabe se por falta de dinheiro, se mesmo por indecisão. Afinal são mais de 3 milhões!
Um projeto de escola que não tem espaço onde os alunos possam brincar, correr, saltar, um recreio digno onde extravasem o seu stress diário e dêem liberdade às suas tropelias, uma escola onde esse recreio está situado num terraço de primeiro andar, perigoso só por isso, restrito também por isso mesmo, uma escola que não tem um polivalente para o exercício de atividades desportivas e físicas, uma escola com muito menos salas do que a atual, não pode ser uma solução digna nos tempos que correm. O dinheiro para a sua construção é muito mais do que o necessário para remodelar e actualizar a escola secundária atual e até fazer mesmo mais um bloco de aulas e laboratórios, estes sim mais necessários do que tudo. A exemplo de outras remodelações modernas, a Escola Secundária de Vinhais, deveria ser urgentemente objeto prioritário para bem dos alunos, da comunidade local, dos professores e de todos os vindouros. Minimizar uma realidade como a que temos é prejudicar toda uma rede de dependências sociais e apoucar verdadeiramente a vila de Vinhais. Não se podem servir outros interesses que não sejam os que estão realmente ligados à educação. Espero que os vinhaenses não se deixem levar no canto da sereia e vão atrás de uma escola nova que não servirá os desígnios futuros do concelho e dos alunos que vão chegar. O desespero é enorme, não só por parte do Município, como dos alunos, dos professores e de alguma forma do Ministério da Educação que não tem dinheiro para estes devaneios. Haja a hombridade para os alertar de que a remodelação da Escola Secundária é imprescindível e urgente, mas que não se metam em aventuras minimalistas. A comunidade escolar e não só, tem essa obrigação. Até porque se acontecer desactivar a Escola atual e os donos do terreno exigirem que o mesmo seja limpo, terão de deitar abaixo todos os edifícios escolares e o dinheiro sai dos cofres do Estado e não vai ser pouco. Deixem-se de aventuras. Quem está habituado a comer em prato de louça, por que razão vai ter de comer em prato de barro?

Vendavais - Nas “Cristas” das ondas

Num fim-de-semana em que o tempo climatérico esteve muito mau e causou demasiados estragos, outros assuntos estiveram na baila.
É verdade que Portugal tem sido varrido por demasiadas intempéries nestes últimos tempos, desde o Algarve ao Minho. Todo o litoral foi fustigado pela ventania e por ondas enormes que impediram a circulação em estradas importantes como a marginal de Cascais, as zonas ribeirinhas ou a Ponte 25 de abril.
Face a estas intempéries e à quantidade de chuva que tem vindo, poderíamos dizer que finalmente foi feita a reposição dos níveis das barragens e dos níveis freáticos que nos permitirão passar um verão mais descansado, mas não. Efetivamente ainda não chega. Tem sido muita a chuva, mas tudo o que vem demasiado depressa, também vai da mesma forma.
Todo este vendaval vai muito para além disso mesmo. Este ano é um ano de lançamento político. E se nos lembrarmos, decerto concordamos que este temporal já começou antes do Congresso do PSD, quando Passos Coelho se viu obrigado a prescindir da liderança do partido. Vimos e assistimos a uma onda de manifestações sobre quem poderia liderar na época pós-Passos. Santana, Rio ou qualquer outro que estivesse no escuro. E como iria ser? Uma série de incógnitas que só obteriam resposta firme nas eleições internas e no Congresso onde Rio foi empossado como presidente. Passos saía pela porta pequena! Não esteve muito tempo na crista da onda!
Mas as ondas não pararam de agitar o panorama político dentro do PSD. As escolhas de Rio e a necessidade de um líder parlamentar seriam as ondas que agitariam ainda mais todo o espectro político social-democrata. Montenegro resolveu amenizar a situação ao não concorrer para o lugar da bancada parlamentar, mas a solução que veio a lume também não foi pacífica nem convincente. Tal situação não trouxe acalmia nas hostes internas partidárias. Há falta de garra, de acutilância política, de segurança. Rio, interpelado sobre a situação, disse que deveria ser desse modo, com calma, sem arrogância, sem gritaria, que um líder de bancada teria de agir. E que não fosse! Não tinha outra alternativa!
Onda quebrada, ou não, foi a escolha para vice-presidente do partido. Uma onda enorme de vozes contra levantou-se. Outras ondas mais pequenas se levantaram, mas quebraram para não desembocar em temporal. Enfim! Agora, com o mar mais chão, procuram-se limar arestas e rumar seguro até 2019. Mas como fazer oposição? Passos abandonou a bancada parlamentar! Um a menos. Bom ou mau, estava lá e sabia o que se passava. Agora há incertezas. Dava jeito Rio poder ocupar o lugar de Passos. Será que pode? Não! Também se pode fazer oposição cá fora, mas é diferente, muito diferente. O combate político não tem a mesma graça, nem a mesma força. Vamos esperar para ver.
Neste fim-de-semana teve lugar o Congresso do CDS. Uma nova onda! Toda a força e garra que era possível esperar da líder, teve eco. Cristas afirmou-se e adiantou-se na confirmação de líder da oposição. Quer o CDS como um partido forte, seguro, de oposição e também foi o primeiro a apresentar o cabeça de lista para o Parlamento Europeu. Adiantou-se a todos os outros. Cristas está na onda da vitória, por enquanto.
Sem “papas na língua” disse o que queria e ao que vinha. Pediu para dentro e disse para fora. O CDS nunca esteve parado, nem vai ficar parado. Está em movimento e em direção a 2019. Alertou para a esquerda unida e a necessidade de a derrubar. Uma oposição séria e eficaz no palco legislativo por excelência. Pedem-se votos sobre assuntos importantes. Votos ganhadores. É preciso encostar os partidos ou comprometê-los.
Cristas disse e voltou a afirmar que o centro direita está vivo e firme e que o seu espaço é para ocupar plenamente. No centro e na direita. Recado para fora e para quem pode precisar. Os valores e a história não são para esquecer. São para pôr em prática. Deverão enformar tudo o que o CDS fizer ou vier a fazer. Ações. Leis. Diplomas.
Mas Cristas disse mais. Disse que se os portugueses quiserem, ela pode ser a presidente do próximo governo. Claro. Outros o foram sem tantos atributos. Porque não?
É esta garra de líder que leva ao topo os políticos. O guindaste indispensável que eleva e sustenta toda a ambição de quem se quer afirmar e vencer. Na crista da onda, Cristas, navega, por enquanto, em mar calmo. Mas terá de saber surfar e aproveitar bem o vento favorável!

Vendavais - União na desunião

Como sempre acontece em questões de liderança partidária, o líder é escolhido em Congresso e desta feita o PSD escolheu Rui Rio. Depois de uma longa estrada em que inspeccionou todas as bermas, Rio submeteu-se ao escrutínio natural, sem correr muitos riscos. Para Santana, a vitória seria natural, mas a sombra de Rio acompanhou-o ao longo de toda a caminhada, o que lhe trouxe muita incerteza. A derrota não o desmotivou e apostou na continuidade da sua presença em vez de dizer que “estaria por aqui”. Está efetivamente.
O Congresso mostrou-os unidos e a união do PSD parecia ser uma realidade, mas o acordo com Rio não lhe granjeou muitos apoiantes e os seguidores foram ficando para trás. Nada que favoreça o PSD. Mas será que favorece Rio?
A verdade é que para Rio não chega ser líder. Tem de mostrar mais alguma coisa e não é fácil já que não está na Assembleia, local ideal para fazer política partidária e uma oposição ao governo que o poderia elevar a patamares mais altos. Deste modo a tarefa não se mostra nada fácil. A escolha de uma líder parlamentar que funcionasse de acordo com o presidente do partido era imprescindível e urgente. E se à partida poderia parecer tarefa fácil, a verdade é que não foi. Fernando Negrão apresentou-se aparentemente por falta de outro candidato e foi apoiado por Rio, já que também não havia outro para o lugar. Mas ganhar com uma margem tão pequena não dá segurança nem ao partido, nem a Rui Rio. De facto, 39,7% não era a margem que Negrão estava à espera, mas foi a que obteve. A eleição foi complicada e isto mostra muito bem a desunião que se instalou entre os deputados do PSD.
Neste momento, dentro de todas as tendências existentes internamente no PSD, tudo o que se pretende é muito questionável. Não se pode fingir que tudo corre bem e que Rui Rio está à vontade com o que tem à sua volta. Com quem é que ele pode contar?
Rui Rio quer alterar toda a estratégia do partido e mudar a corda em que tem vindo a girar, dando-lhe uma nova dinâmica, mas tudo se complicou. E complicou-se mais ao escolher para vice-presidente a célebre Elina de quem ninguém parece gostar. Tem muitos handicaps, é verdade, mas Rio deveria saber disso e também deveria perceber que isso lhe traria muitos problemas na sua governação. Agora não há volta a dar. Tem de aguentar.
Não podendo funcionar dentro da Assembleia, Rui Rio tenta negociar com Costa algum tipo de acordo, de modo a influenciar algumas decisões dentro da Assembleia, à margem dos seus deputados. Ora isto pode-lhe trazer grandes dissabores. Para ultrapassar isso, Rio está a tentar formar um “governo sombra” o que lhe permite fazer alguma oposição e analisar a funcionalidade do governo em determinadas matérias. É urgente que Rio faça oposição séria ao governo e Marcelo já lhe terá pedido isso mesmo.
Contudo isto, o CDS e Cristas lideram a oposição e está um passo à frente do PSD nesta matéria. Rui Rio terá de acelerar o passo para levar o PSD a tomar decisões importantes em matéria de oposição se quer liderar esse processo que Marcelo lhe incumbiu. Não é tarefa fácil.
Para já, Costa não se mostra muito preocupado com estas movimentações. Tudo parece estar sereno lá para as bandas do PS. Mas estará? Claro que para Costa toda esta azáfama e desunião do PSD é-lhe benéfica. Negrão, Elina Fraga e mais algum desentendimento interno, só beneficia o PS, portanto Costa, para já, respira desafogadamente. Mas atenção, o excesso de confiança pode ser prejudicial. Nunca fiando.
O facto de os militantes e apoiantes do PSD estarem desconfiados e desiludidos, não significa que fiquem assim muito tempo. Esta fraca união do PSD, facilmente se converte em união forte se for necessário e vai ser. Não se enganem os que pensam o contrário. As eleições estão a um passo e será necessária uma união enorme se querem derrotar Costa e o PS. Não vai ser fácil. Todas as ovelhas tresmalhadas do PSD terão de se juntar atempadamente no redil e sob o comando de Rio para sair à conquista de todos os votos que lhe permitam fazer uma campanha agradável e obter um score vitorioso. No entanto, enquanto Costa continua a contar com a geringonça, Rio não conta com ninguém. Cristas já disse que corre sozinha. O CDS arranca para a campanha sem coligações o que leva Rio a fazer um esforço tremendo para enfrentar o PS com alguma dignidade. Se aparentemente a geringonça se mantem unida, o mesmo não acontece no PSD o que obriga Rio a fazer um jogo de cintura enorme. A tentativa de negociar com Costa neste momento, pode querer abrir uma brecha para que o PS possa deixar para trás um elo da geringonça, mas nada está garantido. Se Costa tiver a certeza que a geringonça lhe garante a vitória e um governo coeso, Rio vai passar muito mal e a única solução será negociar, a posteriori, com o CDS e com Cristas. Esta união pode ser mais frutuosa. No entanto, primeiro há que arrumar a casa e unir o que está completamente desorganizado. O futuro exige-o.

Vendavais - As fronteiras

No mundo tanto das ideias como dos países ou dos comportamentos humanos, há fronteiras que muitas ultrapassam e outros querem ultrapassar ao mesmo tempo que muitos se preocupam em as defender a todo o custo.
Quando o homem andava pelos montes e vales e a Terra era um simples paraíso onde não havia fronteiras, as preocupações limitavam-se em conseguir o sustento para os próximos dias. Não era coisa fácil, mas era constante o problema que ocupava as mentes dos primeiros homens. Não é menos importante hoje a mesma inquietação, mas já o desassossego é menos intenso. A fronteira, embora ténue, marca a linha entre a saciedade e a fome ou a morte.
Outras fronteiras existem bem mais marcantes nos dias de hoje em todas as vertentes. Não me refiro somente a fronteiras físicas, pois se essas são delimitadas politicamente, outras situam-se no patamar da consciência e da responsabilidade ou mesmo da ética, seja ela psicológica ou de teor diferente.
Confrontamo-nos diariamente com situações deste género que nos parecem cada vez mais objeto de críticas profundas e de reparos indispensáveis. As fronteiras do razoável são frequentemente ultrapassadas e pouco se faz para inverter as situações. Limitamo-nos a desabafar vitupérios e a dizer que “este mundo está a ficar louco”! E mais não parece!
Os meios de comunicação social enchem os títulos com enormes paragonas onde nada pulula a não ser o desastre, a morte, o assassinato, o ataque gratuito, a ameaça. Tudo no limite do que seria desejável, tudo muito para além do razoável ou do possível.
Felizmente, ainda há fronteiras que, ao ultrapassar nos dão uma imensa alegria e satisfação. Não são passíveis de sanções ou críticas, antes pelo contrário. Foi o caso, por exemplo de termos ganho o campeonato europeu de Futsal, derrotando a Espanha e tornando-nos, pela primeira vez, campeões da Europa da modalidade. Ultrapassámos uma fronteira difícil, mas conseguimos. Para a Espanha, a notícia surgiu quase em rodapé dizendo que eram subcampeones europeus de futsal! Sobre Portugal, nada. A fronteira está lá. Ténue, no limite, mas está. Eu compreendo que os espanhóis não tivessem gostado de perder tão importante troféu, mas a nós deu-nos uma alegria imensa e a única fronteira que está em causa é somente a de nos tornarmos pela primeira vez campeões europeus e não por termos derrotado a Espanha, pois se tivéssemos derrotado na final qualquer outro país, a alegria seria a mesma. A fronteira é a que separa a vitória da derrota e nada mais.
Mas há fronteiras que nos metem medo quando ultrapassadas. Por exemplo a da Coreia do Sul. Os jogos olímpicos de inverno que decorrem na Coreia do Sul, levaram a que, por uma qualquer razão que é desconhecida, se permitisse que a Coreia do Norte participasse com alguns atletas e que a irmã do ditador Kim ultrapassasse a fronteira que os separa. Para um país que ameaça com uma guerra nuclear e que não acata as recomendações internacionais perante os desmandos que comete, não seria espectável uma tal atitude que nos remete para uma desconfiança extraordinária. Claro que, com um pouco de boa vontade, eu até sou levado a considerar que esta atitude vem embrulhada numa tentativa de reconciliação não só com o parceiro do Sul, mas também com a comunidade internacional. Na verdade, estando a sentir-se absolutamente estrangulado economicamente e tendo ao seu lado, com muita condescendência, a China, Kim tenta através do desporto, fazer uma jogada de mestre e livrar-se do peso enorme que o avassala. Ultrapassar a fronteira do inimigo irmão, pode relança-lo para uma outra fronteira, a da possibilidade de uma paz económica com os que lhe negam a abertura necessária da sobrevivência. A necessidade a tudo obriga. Resta-nos saber se o presidente dos EUA consegue também ele, ultrapassar a fronteira do desejável e do razoável, não atirando mais achas para uma fogueira que já está demasiado quente. De Trump não se espera grande coisa, pois se alguém ultrapassa todas as fronteiras e mais algumas, é ele. Uma coisa, para já marca o ultrapassar desta fronteira sulcoreana. O facto de ficar o convite para o presidente do Sul visitar a Coreia do Norte. Será que Seul vai aceitar? Possivelmente sim, num esforço de manter a paz tão necessária na região, mas se a tensão abrandar não significa que o problema existente esteja resolvido ou que as fronteiras voltem a ser abertas e facilmente ultrapassadas.
Mas as fronteiras do razoável continuam a ser pisadas e abusadas por muitos de nós seja no aspeto político ou até no nosso querido futebol. Aqui tudo acontece a começar pela fronteira do recente VAR e dos presidentes dos clubes. Uns queriam e já querem, outros não queriam e já querem. Ninguém se entende. Pelo meio, uns perdem e e outros ganham, com VAR ou sem VAR. Simplesmente pelo facto de que ainda há árbitros que conseguem ver as fronteiras entre o que é real e o que é uma autêntica farsa. Simplesmente fronteiras.

Vendavais - À procura do Éden

Portugal, desde sempre foi procurado por muitos e bons motivos e por muita gente bem intencionada. Localizado mesmo à beirinha do Atlântico, mar aberto logo em frente, estrada de ida e volta para todo o tipo de embarcações, não seria de modo algum de descartar a possibilidade de aqui se ancorarem algumas delas.
Desde os primórdios temporais onde assenta alguma da nossa História, já por aqui vinham povos à procura de grandes negociatas, num leva e traz metafórico, incentivando desse modo, um sistema económico de trocas bastante eficaz. Com algumas lutas à mistura, uns fixaram-se por cá, outros simplesmente passaram e poucos rastos deixaram dessa fugaz passagem. Mas algo ficou, quanto mais não fosse uma leve aprendizagem que se foi transmitindo aos que por cá ficaram e desenvolveram o sistema.
Os séculos não pararam e através deles podemos ler o que escreveram os que moldaram esses tempos e o resultado que por ventura daí se possa concluir, de toda essa azáfama.
Portugal só o foi efetivamente há cerca de 900 anos, mas o território onde se insere, não seria demasiado grande para a alma lusitana que aqui se iria expandir. E foi essa alma lusitana que acabaria por definir os contornos do território, lhe marcaria as fronteiras e acabaria por dizer bem alto “aqui mandamos nós”. O “aqui” é o mesmo hoje. Não vou entrar em pormenores. Não é necessário. Claro que os nossos vizinhos não deixaram de tentar a sua sorte, mas sempre gorada. Feliz ou infelizmente, a História foi assim escrita.
Hoje, quando sentimos o peso de alguma fraqueza e a desventura de algum sucesso, acabamos por constatar que ainda há quem nos procure e queira ficar por aqui, apesar do enorme êxodo que temos sentido nos últimos anos. Se uns querem sair e outros querem vir e ficar, qual será a explicação? De facto, parece haver aqui um contrasenso, mas se calhar não há. Os que partiram foram procurar o que aqui não acharam. Os que vêm querem o que não têm, seja lá onde for. Se os que partiram tivessem cá o que os que vêm procuram, escusavam de sair. Mas isso seria difícil de satisfazer. Então o que esperam uns e outros?
Na verdade, os que partiram não tinham emprego compatível com o seu estatuto profissional e os que vêm têm estatuto profissional, mas querem muito mais e esse muito mais passa além das fronteiras que os nossos antepassados definiram. Hoje, passados séculos, as fronteiras não se limitam ao espaço terrestre. Têm outros contornos e eles são quase ilimitados.
Afinal quem demanda este país e para quê? Pois ao que parece até podemos dizer que estamos com sorte, visto que quem nos procura são gigantes económicos da área das novas tecnologias, a começar pela Google e a acabar na Amazon. Colossos económicos que se querem sediar neste Portugal de séculos à beira-mar plantado.
Ao que se diz, ninguém os chamou ou lhes prometeu contrapartidas de qualquer ordem. Ainda bem que assim é, pois não há lugar a subornos aparentes. Os investimentos são enormes e os lugares de emprego também, o que significa que temos vantagens enormes nesta concessão agradável aos que nos procuram. Sejam pois bem vindos.
O que me custa por vezes entender é a relutância com que alguns partidos políticos encaram estas coisas. Nenhum país cresce ou se desenvolve sem que o grande capital se instale e desenvolva, desde que não seja selvagem. Esse, não queremos cá. As ideias de cada um e do partido a que possa pertencer, são deles e têm todo o direito de o possuir. Ninguém lhes rouba essa privacidade, mas sejam razoáveis ao ponto de compreender que sem capital nada feito.
Portugal precisa de investimentos, nacionais ou estrangeiros, que possam dar emprego e garantias para que muitos não tenham a tentação de abandonar o território que os viu crescer e aqui deixar lágrimas de esperança nas faces de quem os vê partir. Se a Google e a Amazon querem investir aqui é porque têm razões para isso. No meio de tantas possibilidades, a escolha de Portugal não será casual certamente. O local é promissor, as pessoas também. Em termos políticos já há quem questione que razões levam estas multinacionais a investir num país onde o governo é composto por partidos extremistas de esquerda. Sim, por que sendo grupo económicos enormes, esperam ter aberturas à sua altura para os negócios internacionais que querem operar. E o espaço é enorme! Vai até ao Médio Oriente. Muitas fronteiras! Não querem entraves políticos no seu caminho e muito menos de partidos pequenos e extremistas, porque se for o caso, levantam ferro e rumam a outras paragens. Aqui, será o Éden para eles, mas também não poderá ser o paraíso para alguns malandros. Vamos estar atentos.

Vendavais - Ano Novo, velhos problemas

Depois de todos termos desejado indiscriminadamente um ano novo repleto de sucessos, resta-nos esperar pela consumação dos desejos na esperança de que as surpresas, quase sempre adversas, não nos apliquem taxas demasiado acentuadas. No entanto, e apesar de ainda estarmos a dar os primeiros passos neste janeiro um pouco madrasto, parece que quase tudo ainda se mantém e os problemas continuam os mesmos, apenas esvoaçando alguns devaneios por aqui e por ali.
A posse de Centeno na presidência do Eurogrupo poderia indiciar uma mudança, mas esta já estava acertada do ano anterior, pelo que foi somente o consumar de uma realidade. O que daí pode advir para o país ainda não sabemos, se bem que Centeno diz que será bom para Portugal. A ver vamos.
Do ano anterior vinha também a promessa do descongelamento das carreiras dos funcionários públicos, incluindo a dos professores. Pois o ano começou com uma reunião que a nada de concreto levou, mantendo o impasse na forma de descongelamento das carreiras e da passagem dos professores do 4.º para o 5.º escalão e do 6.º para o 7.º. No ar está a possibilidade de uma greve, mais uma, para levar a geringonça a decidir cumprir o prometido sem arrepios de última hora. Uma coisa é prometer, outra é fazer. À espera continuarão os professores dos outros escalões, especialmente os mais antigos que estão congelados desde 2005.
As maleitas de Marcelo também vêm do ano anterior, mas agora já recomposto da sua hérnia, voltou a boa disposição, só beliscada pela lei do financiamento dos partidos onde parece haver muitos desentendimentos. Também lhe feriu a suscetibilidade o caso da substituição ou não, de Joana Marques Vidal, afinal um não-caso. Coisas de que a ministra Van Dunem poderá vir a arrepender-se daqui a nove meses. O tempo de uma gestação! A última palavra cabe a Marcelo e ele fez questão de o afirmar. As rivalidades entre Marques Vidal e Van Dunem terão de se solucionar por si só. Aliás, o presidente Marcelo fez boa nota do assunto, embora indirectamente, ao aceitar o entendimento levado a cabo no setor da justiça e ao referir que o mesmo devia ser feito em outros sectores como a saúde ou a educação. Claro. Seria ótimo!
As eleições do fim-de-semana para eleger o líder do PSD não sei se terá ajudado a clarificar muito toda esta situação em termos políticos. Para Costa, um ou outro tanto lhe serviria. Tem mais dois anos para governar e afirmar a sua política que poderá ser de geringonça ou não, a partir das próximas eleições legislativas. Rio não vai ter tempo de alavancar todo o PSD e chegar a um bom resultado eleitoral. Para o PS, será difícil perder esse escrutínio, pois o PSD e o CDS, mesmo juntos, poderão não ter fôlego suficiente para ultrapassar o score socialista. Não será neste ano novo que isso acontecerá, mas os próximos meses serão a rampa de lançamento. A queimar um dos candidatos, seria preferível ter sido Santana, pois Rio vai queimar-se, eleitoralmente, entenda-se, com toda a certeza.
Mas muitas coisas estão ainda no ar à espera de decisões. O uso legal da Canábis para ilegalizar determinadas doenças, é ponto de ordem no Parlamento e ficará a aguardar tempo de esclarecimento para votação positiva. Tempos modernos!
Outro caso que marca este início de ano é a tremenda mudança dos CTT e a sua falta de organização espacial. A desativação de algumas dezenas de lojas tem alertado a população para um efeito altamente negativo de proximidade e tem levado a manifestações um pouco por todo o lado. E o governo nada faz e nada pode fazer possivelmente. Vendeu-se, escreveu-se, contratou-se, mas não se salvaguardaram devidamente todos os aspetos além dos económicos, como se somente estes interessassem. Estamos habituados! Parece, no entanto, haver a nível nacional, um abaixo-assinado para que os CTT voltem à mão do Estado. Será possível? Seria desejável.
Bom é o facto de Sobral ter saído do hospital e estar a recuperar muito bem em sua casa. Pesem embora todas as restrições normais a que fica sujeito, é sempre bom saber que ele conseguiu vencer mais esta etapa difícil da sua vida. De 2017 ficou esta grande vitória. Foi a marca de um ano pouco recheado de coisas boas. Ele conseguiu “amar pelos dois”: por ele e por Portugal! Ainda bem, pois precisamos de um Sobral sóbrio.
Muitos outros velhos problemas pairam no ar neste universo português à espera de solução. Não vale a pena enumerá-los. Seria fastidioso e, por ventura alguém se lembraria de se referir a eles ou a mais alguém, do mesmo modo que Trump o fez em relação a alguns países que não têm culpa de simplesmente existirem tal como são. Infelizmente, os americanos e não só, têm de ir ouvindo e aturando as “trumpices” deste presidente cada vez mais “off side”! Já vai sendo tempo de lhe marcar um “penálti”. Os velhos problemas continuam. Enfim!

 

Vendavais - Quando Maduro ficou verde

As tradições são uma parte da memória de um povo e nessa memória reside uma grande parte da História da Humanidade. Por isso hoje referimo-nos constantemente às tradições deste ou daquele povo, país, região ou localidade. Elas diferem imenso, mas há umas que se mantêm e são quase que uma marca registada de um povo.
Nesta época onde o ano se esgota e os seus últimos estertores denunciam essas mesmas tradições, apercebemo-nos facilmente da necessidade de as mantermos e muito poucas vezes as esquecermos. No Natal, em Portugal, bacalhau e polvo significa tradição a cumprir e raras são as mesas onde não aparecem estes companheiros gastronómicos. Mas outros países há onde o bacalhau nada significa, até porque bacalhau mesmo, confecionado como o português sabe, só existe em Portugal. Deste modo, como poderia o fiel amigo ser amigo de mais alguém? Não há país no mundo inteiro que saiba cozinhar o bacalhau à moda portuguesa. Isto é uma realidade.
Enfim, à mesa de cada povo aparece nesta época uma especialidade gastronómica tradicional e ainda bem que assim é. Do bacalhau ao peru ou do pudim ao pernil, tudo parece ser pacífico em termos de tradição nacional. Mas claro que há tradições gastronómicas desta época muito diversas e até incríveis para nós, ocidentais, que estamos habituados a coisas diferentes. Evidentemente que cada povo tem o seu próprio costume e paladar e o que para nós é bom, para outros não presta, ou seja, não cabe no seu paladar.
A este propósito, ficámos a saber que na Venezuela o prato tradicional na época natalícia é o pernil de porco. A grande maioria de nós não estaria a par desta tradição se não fosse o recente acontecimento que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enfatizou nos canais de televisão, acusando Portugal de não lhe fazer chegar este produto tradicional para a ceia de Natal e que destinava, segundo ele, a chegar a todas as mesas dos venezuelanos. Maduro ficou verde (de raiva) por não poder cumprir o prometido e ao mesmo tempo a tradição nacional. Sabemos o que aconteceu depois. Afinal o pernil de porco estava na Colômbia e Portugal tinha efetivamente despachado tudo, mas parece que o pagamento da exportação é que não tinha chegado aos cofres de Portugal. A culpa deixou de ser de Portugal e passou a ser dos EUA, segundo Maduro. O que ele se esqueceu de dizer é que a Venezuela deve cerca de 40 milhões a Portugal de importações que recebeu, mas que não liquidou. No entanto, teve o desplante de afirmar que fez a importação e assinou o pagamento dela. Como é fácil mentir!
Não ficaria nada mal a este Maduro, ser mais honesto e não enganar tanto o seu povo que, esse sim, morre de fome e não tem dinheiro para comprar um simples pernil para cumprir a tradição. Um país que tinha todas as condições para ser uma potência económica, encontra-se à beira da falência e do descalabro e o seu presidente mantém-se à frente do leme deste navio desgovernado, sem se aperceber que está prestes a desfazer-se contra a rocha mais próxima. O poder ofusca a visão da realidade e nunca vemos o que se devia ver, mas são tantos os indícios de falta de visão e de receitas para curar tal deficiência, que seria fácil debelar tal doença se ele quisesse. Mas não quer e prefere ganhar votos e apoios à custa da falta de pernil de Portugal. Que pague o que deve. À sua mesa não faltou o pernil, já que ele disse que mandou comprar todo o pernil que havia na Venezuela. Não chegou! Foi pouco!
Não foi nada digno ver a multidão que se enfileirava ao longo das estradas à espera que chegasse o tão afamado pernil ou, na sua falta, algo com que se pudesse celebrar o Natal. As pessoas diziam mal da sorte e do seu presidente e queixavam-se de não ter dinheiro para nada e de passarem fome numa época em que a família deveria ter razões para celebrar e não para morrer de fome. Culpa de quem? Não. De Portugal nunca foi, porque Portugal não deve nada à Venezuela e porque não tem nada a ver com o que se passa na governação daquele país. E se o pernil não chegou a tempo, deveu-se a outros inconvenientes e a culpa de terceiros.
Eu fiquei sentido pelo que aquelas pessoas sentiram face ao incumprimento de uma promessa de uma pessoa que passa a vida a prometer e só dá desgraças. Sentido também porque elas não puderam cumprir uma tradição que lhes era muito cara. O sentimento de fracasso e impotência foi enorme e isso certamente destroçou os corações de quem esperava ter um momento de satisfação no meio de tanta desgraça. A tradição, ainda que simples, ficou por cumprir para muitos milhares de pessoas. Um simples pernil de porco! O suficiente para pôr Maduro completamente verde! E como ninguém quer culpas, lá as endereçou a Portugal. Francamente.
Esperemos que o próximo ano de 2018 lhes traga a eles e a todos nós a possibilidade de cumprirmos as tradições em paz porque será sinal de que estamos à beira de passar para 2019 e o ano da falta de pernil, já passou. Bom Ano Novo.

Vendavais: Prendas de final de ano

Após a incomensurável labuta de todo um ano em que todos, ou quase, deram o seu melhor trabalho e talento como contribuição para melhorar este santo país, seria natural que tal esforço fosse prendado nesta época natalícia. Efetivamente, recebemos variadas prendas natalícias, muito embora com alguma antecipação o que desfaz o suspense da meia-noite que tanto agrada aos mais jovens.
O Pai Natal já não desce pela chaminé de saco às costas e muito menos vem transportado pelo trenó puxado pelas simpáticas renas desde o polo Norte, atravessando meio mundo num abrir e fechar de olhos. Não. Essa história pertence a outros anais da História onde as crianças se continuam a perder e a pertencer e, ainda bem que assim é, já que pelo menos para eles toda essa fantasia é uma realidade que vivem com alguma alegria e esperança.
Para os mais crescidos, que já ultrapassaram essas fantasias, ainda que não acreditem nelas, têm de as transmitir aos mais novos para que se eternize a tradição e toda a mística que envolve o Natal. Afinal de contas, o que custa passar de geração em geração essa inofensiva tradição? Nada. Fá-lo-emos com gosto certamente.
Mas deixando de parte essas crianças e toda a alegria que as envolve nesta época, viremo-nos para as prendas que todos gostaríamos, ou não, de receber. Falemos de coisas maiores. Portugal recebeu neste final de ano algumas prendas inesperadas, quer pelo seu valor, quer pelo seu significado. E se pensam que todas elas foram boas, desenganem-se. Não foram.
De facto, fomos abalados pelo que sucedeu numa instituição onde pautam crianças e que, infelizmente para a maior parte delas, o Natal nada significa ou se tem algum significado, é o que os adultos que com elas trabalham, tentam dar-lhe nesta época. Apanhados pelas desventuras da vida e do destino, elas tem doenças raras, aliás raríssimas e merecem que o melhor a que tem direito lhes seja dado com a alegria que eles podem entender e receber. Para isso, é necessário muito trabalho, dedicação, honestidade e dinheiro. Trabalho de quem com elas convive e delas trata e dinheiro de todos nós. O que se passou e tem sido ventilado nas duas últimas semanas sobre a Raríssimas e sua diretora, é demasiado grave para passar impune. Grave pela forma como foi gasto o dinheiro que tinha um só endereço no postal de Boas Festas, as crianças, grave pela desonestidade da sua diretora e grave porque a prenda não chegou ao destino. E, penso eu, mais grave ainda porque a senhora que supostamente gere a instituição, é além de desonesta e pretensiosa, tanto ou mais desnorteada e desconforme que os menos incapacitados que por ela são geridos. Pena é que se tenha rodeado de personalidades que lhe deram a carapaça que a tem protegido até agora. Estou certo que muitos deles contribuíram sem se darem conta do logro em que flutuava toda a embarcação solidária! Talvez fosse isso. Dou-lhes o benefício da dúvida. Vamos ver agora em que águas vai continuar a flutuar esta barcaça prestes a dar à costa. Esta prenda não mereciam certamente as crianças e os adultos que a ela recorreram e que dela esperam momentos de alegria, conforto e esperança. Pois então que dêem uma prenda mais valiosa a esta Raríssimas e que venha envolta num postal mais digno e honesto. Afinal estamos no Natal!
Mas também recebemos prendas mais agradáveis, felizmente. São resultado do trabalho e sacrifício de todos nós e por isso, uma parte das prendas cabem-nos por direito, ainda que não sejamos nós a desembrulhar o presente.
A algumas semanas, quando Mário Centeno resolveu candidatar-se para presidente do Eurogrupo, foi criticado por uns e agraciado por outros, sempre na dúvida da sua aceitação. Ganhou, para mal dos que estando contra a Europa e suas decisões, não achavam nada de substancial nessa eventual vitória. Para os outros, foi a aceitação de uma política económica visivelmente satisfatória e de um país que, aos poucos, se afirma na senda de um progresso económico e social, tão do agrado de todos e até mais dos que criticam a tal Europa de quem não querem receber encomendas. Enfim! Mas as prendas são para serem aceites, ainda que só o invólucro seja o mais apetecível.
Mais recentemente foi-nos enviada outra prenda de Natal. Esta bem mais cheirosa! Finalmente saímos do lixo onde estávamos há tantos anos! Realmente já tresandava este cheiro tão nauseabundo e que tão mal nos fazia sentir. Oito anos a navegar num mar de tão intenso fedor, não é agradável. Estava a tornar-se insuportável! Finalmente uma boa prenda de Natal! Agora, fora dessa lixeira toda, podemos finalmente respirar um pouco mais livremente e ter acesso a um ar menos poluído. O raio do rating finalmente acordou! Mas não embandeiremos em arco, pois as festas ainda não começaram!

Vendavais - Os Homens do leme

Nas voltas que o mundo dá e no dia-a-dia de cada um de nós, sucede de tudo um pouco. Sucessos e desastres, vitórias e derrotas.
As derrotas não são muito lembradas embora algumas sirvam de exemplos para que outros as não imitem pelo menos no que elas têm de menos bom. As vitórias, essas são mais saborosas, mas nem todos as consideram assim tão dignas de serem referenciadas.
Na verdade, as vitórias apesar de serem sempre vitórias, são vistas quase sempre com olhos críticos e mesmo até acusadores. Tudo depende de quem vê e o que pretende ver. Os olhos de um político não vêm o mesmo que os olhos do vencedor, especialmente se ao político não interessar esse tipo de vitória ou se esta for contrária ao seu objetivo político. Do mesmo modo, se a vitória ou o sucesso for de índole diferente da económica, os olhos que a vêm podem não gostar da vertente em análise e que é considerada um sucesso.
Há pois, deste modo, quem analise tanto os sucessos como as derrotas de um modo diferente. Mas tudo isto tem uma outra análise bem mais profunda quando o derrotado ou o vitorioso deixa o mundo dos críticos e se vai juntar aos que nada têm a dizer. Nessa altura são referenciados pelo que fizeram, pelo que deixaram, pelo que viveram, enfim, pela sua obra. E é esta obra que passa a ser analisada e discutida. Diz o povo que todos depois de morrer se tornam boas pessoas. Pois é. Infelizmente é assim mesmo, com algumas exceções como é óbvio.
Durante muitos anos ouvimos falar, com mais ou menos críticas, de Belmiro de Azevedo. Muitos o elogiaram pelo que fez e pelo modo como o fez. Homem simples, que subiu a pulso toda a sua vida e que conseguiu ajudar milhares de pessoas e foi um dos maiores empregadores deste país nos últimos trinta anos. É verdade que era um homem muito rico, mas soube sê-lo e soube usar essa sua capacidade com toda a imparcialidade política que todos lhe reconheceram. Aqui residia a sua maior riqueza. Não estava nem nunca esteve refém de nenhuma política nem de nenhum governo. Soube ser isento e deu disso exemplo. Era um homem de negócios e ao longo da sua vida também teve algumas derrotas, mas foi afinal um vencedor nato. Morreu novo, mas deixou uma obra extraordinária em termos económicos por todo o país, obra essa que emprega milhares de pessoas. Exigente, mas reconhecedor do esforço e do trabalho dos seus empregados. Afinal quem critica este homem? Quem critica a sua obra? Evidentemente só o poderiam fazer os políticos de esquerda ou extrema-esquerda que vêm a riqueza como o submundo das vivências humanas, como o lamaçal da vida que proporcionam a quem se cruza por essas bandas. Mas não tem de ser assim e não foi assim. Depois da sua morte, quase todos reconhecem o homem íntegro, trabalhador, direto e imparcial que foi. Resta agora à família, continuar a sua obra com a dignidade e o reconhecimento que ele merece. Afinal de contas ele foi um dos homens do leme da economia deste país!
Mas não foi o único. Deixou-nos e partiu para sempre outro homem do leme. Zé Pedro deu um Xuto na vida e neste mundo e, com a imensa mágoa que recordamos esse momento, ele morreu. Não era homem de negócios. Não era homem de arrebanhar derrotas. Não era criticado pelo que fazia ou deixava de fazer. Era um homem de consensos. Era um homem que navegava no meio de colcheias e semifusas. Foi o fundador, ou um dos fundadores do grupo que ao fim de tantos anos no meio musical português ainda se mantém ativo. Agora com menos um elemento. O rock português perdeu um músico fantástico. A sua viola calou-se. As notas com que marcou canções como o Homem do Leme, acompanharam-no na despedida. Ele foi de facto, o homem do leme dos Xutos e Pontapés. Mas não foi o único. Claro que não. Que diríamos hoje se em vez dele tivesse partido um outro elemento do grupo? Seria outro homem do leme certamente, que perderíamos.
Tanto na despedida de um como de outro, esteve um outro Homem do Leme. Talvez porque era muito importante que estivesse nessa despedida e em comunhão com a dor sentida por todo o país, Marcelo, o Presidente da República disse presente. Outros não tiveram essa coragem! Os interesses pessoais ou intenções políticas, impediram-nos de fazer jus à importância dos Homens do Leme! Paciência.
No meio de toda esta azáfama política e social, resta agora ver quem se tornará o próximo Homem do Leme. Novamente por razões políticas, há quem concorde e quem discorde de ver que a possibilidade de Mário Centeno ser eleito para o Eurogrupo. E quem discorda? Quem são os que não lhes diz nada que tal aconteça? Sempre os mesmos. Os partidos de extrema-esquerda. Porquê? A Europa não lhes diz nada! Como é possível? Que ignomínia! Afinal, o que mais necessitamos são Homens do Leme neste país à deriva.

Vendavais - Pau para toda a colher

Quando nos referimos a tempo de crise, falamos sempre de situações aflitivas quer económicas como sociais. Ao longo da História, já podemos contabilizar muitas crises e algumas delas, demasiado graves e que se espalharam pelo mundo inteiro. A que mais recentemente vivemos, apanhou-nos de surpresa e levou a Europa a repensar a sua posição no mundo moderno em termos económicos e, equacionar a sua dependência, essencialmente face aos EUA, até porque foi lá que ela surgiu e rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro. Resta saber se foi intencional ou não. Há quem afirme que foi propositada e bem estudada.
Seja qual for a resposta, é certo que a Europa foi apanhada desprevenida e todos os países viveram desde 2008 situações terríveis que levaram os diferentes governos a tomar decisões drásticas em termos económicos. Austeridade era e foi o mote de toda a governação. Portugal não foi exceção. Durante anos os governos eleitos levaram ao extremo a austeridade e com ela arrastaram a sociedade para extremos nunca vividos. Era necessário dinheiro para pagar a crise e por isso foi preciso arranjá-lo. Lembramo-nos que o FMI, mas não só, logo emprestou o que precisávamos, mas como era insuficiente, exigiu que o governo cortasse, sem dó nem piedade, nos salários, nas carreiras dos funcionários, nas reformas, nas pensões e impedisse a progressão de funcionários públicos. Foi o fim do mundo! Uma revolta silenciosa invadiu os lares portugueses ao verem-se despojados de parte dos seus salários ou das pensões e muitos ficarem desempregados quando as fábricas ou empresas onde trabalhavam fecharam.
Perante tanto desnorte, previa-se que a solução passasse por tomadas de posição restritivas, especialmente onde o governo tinha acesso direto. Claro que os funcionários foram os primeiros a serem expropriados do seu dinheiro. Era preciso pagar a crise e alguém tinha de o fazer. Não bastou subir os impostos e cortar salários e pensões. Tinham que travar a possibilidade de progredir nas carreiras para que não se gastasse mais dinheiro do Estado. Os Orçamentos foram espremidos e os vários ministérios viram-se em palpos de aranha para sobreviver nas teias da crise. Tudo foi controlado ao pormenor.
Agora que vamos saindo da crise e, de algum modo, vamos sentindo algum alívio em termos económicos nacionais, o governo já anuncia mudanças previsíveis para todos os portugueses, já concedidas no orçamento que vai ser aprovado. Mas não nos iludamos. Se algumas mudanças mais acentuadas se vão sentir, vão dever-se aos partidos que com o PS formam a geringonça, pois eles é que obrigam a que elas sejam uma realidade a curto prazo.
De todas as medidas em apresentadas, se umas foram bem recebidas, outras foram contestadas e ainda estão a ser objeto de discussão entre os partidos da coligação e os atingidos. É o caso dos professores. Vimos esta semana uma enorme greve nacional de milhares de professores que juntou as duas sindicais e fez repensar o governo quanto ao posicionamento dos professores nas carreiras que estão congeladas desde 2005. Alguém tinha que pagar a crise!
O governo já tinha dito que iria proceder ao descongelamento das carreiras, mas ninguém sabia exatamente como seria feito e o ministro da educação também não adiantou nada de concreto a esse respeito. Face à exigência dos sindicatos, o governo lá se abriu um pouco, o suficiente para se perceber que o tal descongelamento de carreiras não contaria com o tempo de serviço prestado ao longo de mais de 9 anos. Isto foi o suficiente para alertar os professores e os sindicatos para a possibilidade de uma greve nacional se o mesmo tempo não fosse contado e se as carreiras a descongelar não tivessem um limite temporário curto de execução. Com uma ameaça de greve por um lado e uma negociação difícil por outro, o governo teve de ceder em alguns pontos, mas a greve foi uma realidade e teve o condão de alterar muita coisa e adiar outras, mas também de manter a possibilidade de outra greve se nada mais for conseguido.
Não é despiciendo dizer que os professores pagaram uma parte considerável da crise. Pagaram efetivamente. A carreira que estagnou durante 12 anos e o que deixaram de receber durante todo esse tempo representaram muitos milhões para o cofre do Estado. Agora, no mínimo, o que o governo deve fazer é repor alguma justiça em toda esta injustiça. Os professores não podem continuar a ser pau para toda a colher. São sempre eles a pagar as crises! Quando não há dinheiro, corta-se no orçamento da Educação e lá estão os professores a apanhar por tabela. Isto tem de acabar.
É tempo de repor a justiça e contar todo o tempo de serviço prestado para poder progredir na carreira. Não contar esse tempo é simplesmente roubar. É crime e o crime deve ser sancionado, mas o Estado nunca é julgado nem condenado. Talvez seja por isso que os governos e alguns governantes fazem o que lhes apetece, inclusive servirem-se de dinheiros públicos que possivelmente chegariam para pagar aos professores o que se lhes deve. Basta. Penso que os professores irão ter a sorte do seu lado devido à proximidade de eleições e também porque os partidos da geringonça exigem e querem tirar frutos deste seu pressing. Pode ser que sim!