Luís Ferreira

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Vendavais - Os Homens do leme

Nas voltas que o mundo dá e no dia-a-dia de cada um de nós, sucede de tudo um pouco. Sucessos e desastres, vitórias e derrotas.
As derrotas não são muito lembradas embora algumas sirvam de exemplos para que outros as não imitem pelo menos no que elas têm de menos bom. As vitórias, essas são mais saborosas, mas nem todos as consideram assim tão dignas de serem referenciadas.
Na verdade, as vitórias apesar de serem sempre vitórias, são vistas quase sempre com olhos críticos e mesmo até acusadores. Tudo depende de quem vê e o que pretende ver. Os olhos de um político não vêm o mesmo que os olhos do vencedor, especialmente se ao político não interessar esse tipo de vitória ou se esta for contrária ao seu objetivo político. Do mesmo modo, se a vitória ou o sucesso for de índole diferente da económica, os olhos que a vêm podem não gostar da vertente em análise e que é considerada um sucesso.
Há pois, deste modo, quem analise tanto os sucessos como as derrotas de um modo diferente. Mas tudo isto tem uma outra análise bem mais profunda quando o derrotado ou o vitorioso deixa o mundo dos críticos e se vai juntar aos que nada têm a dizer. Nessa altura são referenciados pelo que fizeram, pelo que deixaram, pelo que viveram, enfim, pela sua obra. E é esta obra que passa a ser analisada e discutida. Diz o povo que todos depois de morrer se tornam boas pessoas. Pois é. Infelizmente é assim mesmo, com algumas exceções como é óbvio.
Durante muitos anos ouvimos falar, com mais ou menos críticas, de Belmiro de Azevedo. Muitos o elogiaram pelo que fez e pelo modo como o fez. Homem simples, que subiu a pulso toda a sua vida e que conseguiu ajudar milhares de pessoas e foi um dos maiores empregadores deste país nos últimos trinta anos. É verdade que era um homem muito rico, mas soube sê-lo e soube usar essa sua capacidade com toda a imparcialidade política que todos lhe reconheceram. Aqui residia a sua maior riqueza. Não estava nem nunca esteve refém de nenhuma política nem de nenhum governo. Soube ser isento e deu disso exemplo. Era um homem de negócios e ao longo da sua vida também teve algumas derrotas, mas foi afinal um vencedor nato. Morreu novo, mas deixou uma obra extraordinária em termos económicos por todo o país, obra essa que emprega milhares de pessoas. Exigente, mas reconhecedor do esforço e do trabalho dos seus empregados. Afinal quem critica este homem? Quem critica a sua obra? Evidentemente só o poderiam fazer os políticos de esquerda ou extrema-esquerda que vêm a riqueza como o submundo das vivências humanas, como o lamaçal da vida que proporcionam a quem se cruza por essas bandas. Mas não tem de ser assim e não foi assim. Depois da sua morte, quase todos reconhecem o homem íntegro, trabalhador, direto e imparcial que foi. Resta agora à família, continuar a sua obra com a dignidade e o reconhecimento que ele merece. Afinal de contas ele foi um dos homens do leme da economia deste país!
Mas não foi o único. Deixou-nos e partiu para sempre outro homem do leme. Zé Pedro deu um Xuto na vida e neste mundo e, com a imensa mágoa que recordamos esse momento, ele morreu. Não era homem de negócios. Não era homem de arrebanhar derrotas. Não era criticado pelo que fazia ou deixava de fazer. Era um homem de consensos. Era um homem que navegava no meio de colcheias e semifusas. Foi o fundador, ou um dos fundadores do grupo que ao fim de tantos anos no meio musical português ainda se mantém ativo. Agora com menos um elemento. O rock português perdeu um músico fantástico. A sua viola calou-se. As notas com que marcou canções como o Homem do Leme, acompanharam-no na despedida. Ele foi de facto, o homem do leme dos Xutos e Pontapés. Mas não foi o único. Claro que não. Que diríamos hoje se em vez dele tivesse partido um outro elemento do grupo? Seria outro homem do leme certamente, que perderíamos.
Tanto na despedida de um como de outro, esteve um outro Homem do Leme. Talvez porque era muito importante que estivesse nessa despedida e em comunhão com a dor sentida por todo o país, Marcelo, o Presidente da República disse presente. Outros não tiveram essa coragem! Os interesses pessoais ou intenções políticas, impediram-nos de fazer jus à importância dos Homens do Leme! Paciência.
No meio de toda esta azáfama política e social, resta agora ver quem se tornará o próximo Homem do Leme. Novamente por razões políticas, há quem concorde e quem discorde de ver que a possibilidade de Mário Centeno ser eleito para o Eurogrupo. E quem discorda? Quem são os que não lhes diz nada que tal aconteça? Sempre os mesmos. Os partidos de extrema-esquerda. Porquê? A Europa não lhes diz nada! Como é possível? Que ignomínia! Afinal, o que mais necessitamos são Homens do Leme neste país à deriva.

Vendavais - Pau para toda a colher

Quando nos referimos a tempo de crise, falamos sempre de situações aflitivas quer económicas como sociais. Ao longo da História, já podemos contabilizar muitas crises e algumas delas, demasiado graves e que se espalharam pelo mundo inteiro. A que mais recentemente vivemos, apanhou-nos de surpresa e levou a Europa a repensar a sua posição no mundo moderno em termos económicos e, equacionar a sua dependência, essencialmente face aos EUA, até porque foi lá que ela surgiu e rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro. Resta saber se foi intencional ou não. Há quem afirme que foi propositada e bem estudada.
Seja qual for a resposta, é certo que a Europa foi apanhada desprevenida e todos os países viveram desde 2008 situações terríveis que levaram os diferentes governos a tomar decisões drásticas em termos económicos. Austeridade era e foi o mote de toda a governação. Portugal não foi exceção. Durante anos os governos eleitos levaram ao extremo a austeridade e com ela arrastaram a sociedade para extremos nunca vividos. Era necessário dinheiro para pagar a crise e por isso foi preciso arranjá-lo. Lembramo-nos que o FMI, mas não só, logo emprestou o que precisávamos, mas como era insuficiente, exigiu que o governo cortasse, sem dó nem piedade, nos salários, nas carreiras dos funcionários, nas reformas, nas pensões e impedisse a progressão de funcionários públicos. Foi o fim do mundo! Uma revolta silenciosa invadiu os lares portugueses ao verem-se despojados de parte dos seus salários ou das pensões e muitos ficarem desempregados quando as fábricas ou empresas onde trabalhavam fecharam.
Perante tanto desnorte, previa-se que a solução passasse por tomadas de posição restritivas, especialmente onde o governo tinha acesso direto. Claro que os funcionários foram os primeiros a serem expropriados do seu dinheiro. Era preciso pagar a crise e alguém tinha de o fazer. Não bastou subir os impostos e cortar salários e pensões. Tinham que travar a possibilidade de progredir nas carreiras para que não se gastasse mais dinheiro do Estado. Os Orçamentos foram espremidos e os vários ministérios viram-se em palpos de aranha para sobreviver nas teias da crise. Tudo foi controlado ao pormenor.
Agora que vamos saindo da crise e, de algum modo, vamos sentindo algum alívio em termos económicos nacionais, o governo já anuncia mudanças previsíveis para todos os portugueses, já concedidas no orçamento que vai ser aprovado. Mas não nos iludamos. Se algumas mudanças mais acentuadas se vão sentir, vão dever-se aos partidos que com o PS formam a geringonça, pois eles é que obrigam a que elas sejam uma realidade a curto prazo.
De todas as medidas em apresentadas, se umas foram bem recebidas, outras foram contestadas e ainda estão a ser objeto de discussão entre os partidos da coligação e os atingidos. É o caso dos professores. Vimos esta semana uma enorme greve nacional de milhares de professores que juntou as duas sindicais e fez repensar o governo quanto ao posicionamento dos professores nas carreiras que estão congeladas desde 2005. Alguém tinha que pagar a crise!
O governo já tinha dito que iria proceder ao descongelamento das carreiras, mas ninguém sabia exatamente como seria feito e o ministro da educação também não adiantou nada de concreto a esse respeito. Face à exigência dos sindicatos, o governo lá se abriu um pouco, o suficiente para se perceber que o tal descongelamento de carreiras não contaria com o tempo de serviço prestado ao longo de mais de 9 anos. Isto foi o suficiente para alertar os professores e os sindicatos para a possibilidade de uma greve nacional se o mesmo tempo não fosse contado e se as carreiras a descongelar não tivessem um limite temporário curto de execução. Com uma ameaça de greve por um lado e uma negociação difícil por outro, o governo teve de ceder em alguns pontos, mas a greve foi uma realidade e teve o condão de alterar muita coisa e adiar outras, mas também de manter a possibilidade de outra greve se nada mais for conseguido.
Não é despiciendo dizer que os professores pagaram uma parte considerável da crise. Pagaram efetivamente. A carreira que estagnou durante 12 anos e o que deixaram de receber durante todo esse tempo representaram muitos milhões para o cofre do Estado. Agora, no mínimo, o que o governo deve fazer é repor alguma justiça em toda esta injustiça. Os professores não podem continuar a ser pau para toda a colher. São sempre eles a pagar as crises! Quando não há dinheiro, corta-se no orçamento da Educação e lá estão os professores a apanhar por tabela. Isto tem de acabar.
É tempo de repor a justiça e contar todo o tempo de serviço prestado para poder progredir na carreira. Não contar esse tempo é simplesmente roubar. É crime e o crime deve ser sancionado, mas o Estado nunca é julgado nem condenado. Talvez seja por isso que os governos e alguns governantes fazem o que lhes apetece, inclusive servirem-se de dinheiros públicos que possivelmente chegariam para pagar aos professores o que se lhes deve. Basta. Penso que os professores irão ter a sorte do seu lado devido à proximidade de eleições e também porque os partidos da geringonça exigem e querem tirar frutos deste seu pressing. Pode ser que sim!

Vendavais - O medo saiu à rua

Depois de tantos acontecimentos horríveis que bafejaram este país de que muitos se orgulham, o melhor era vivermos uns tempos de paz e sossego sem preocupações de maior. O que se passou em Pedrogão e recentemente em Santa Comba Dão e Tondela, deveriam envergonhar-nos durante algum tempo e equacionar soluções para obviar idênticos sucedâneos. Contudo, parece que o governo, tão solícito a esse respeito, está um pouco confuso com as medidas que deve tomar futuramente. A verdade é que depois da reportagem de uma estação de televisão nacional desvendar a possibilidade de haver um Cartel do Fogo que esconde negócios de milhões e onde aparecem indícios de ligação do Estado a esse mesmo cartel, o assunto fica muito mais difícil de deslindar. Aliás não é nada que nós não soubéssemos ou pelo menos não desconfiássemos. Era impensável um fogo começar à meia-noite ou à uma da madrugada! Mas alguém viu caírem do céu, durante a noite, “pára-quedas” de fogo que, pendurados em ramos de árvores tratavam de atear mais um ou dois incêndios. E como as nuvens não trazem fogo desse género, também ouviram os motores dos aviões que passavam e atiravam esses presentes com objetivos bem específicos. A justiça anda de viagem. Possivelmente em algum cruzeiro lá para as bandas das Caraíbas! Deve ser difícil patrulhar os céus especialmente de noite! Francamente!
Infelizmente as coisas não pararam por aqui. As más notícias e o que nos chega a envergonhar tremendamente continuam. Mas não se trata somente de vergonha. O medo começa a espalhar-se por todo o lado e as pessoas receiam andar livremente por onde costumavam andar ou ir a locais que frequentemente serviam para espairecer, esquecendo os desgostos do dia-a-dia e os males do mundo. As recentes notícias divulgadas sobre agressões de jovens à saída de discotecas, sem motivos aparentes que as justificassem, levantaram uma onde de revolta nacional. Na verdade, os vídeos divulgados são de uma atrocidade tão grande que chega a parecer irreal que aconteça semelhante coisa. Mas aconteceu. Agora, a onda de revolta espera que os culpados sejam castigados. Severamente castigados. Mas, serão?
Tudo se complica quando se descobre que são os próprios seguranças que agridem quem lhes apetece, como se se tratasse de um qualquer jogo de vídeo game, onde o objetivo é descarregar toda a fúria no primeiro individuo que aparecer pela frente. Não há motivos. Há somente objetivos.
Perante tanta ineficácia da polícia, o governo viu-se na necessidade de intervir. Finalmente! Resta agora saber se a justiça consegue acompanhar esta vontade intrínseca do executivo e do Presidente da República. Aliás, parece que o motor da decisão saiu da boca de Marcelo que tem estado sempre na linha da frente nos assuntos mais prementes. A opinião do Presidente serve de mote às quadras do governo e a dança desenvolve-se de seguida.
O país viu completamente desagradado toda esta sucessão de notícias escabrosas. Está em pânico. Tem medo. Temos medo. Invisível, ou talvez não, ele está no meio da rua e pode atropelar qualquer um de nós que se cruze no seu caminho. Pior do que isso, é que ninguém está disposto a confessar o crime com medo das represálias veladas dos criminosos. Há vídeos dos crimes, mas ninguém se quer queixar. Há feridos, há quase assassinatos, internamentos em urgências, em cuidados intensivos, jovens em coma, mas não há que apresente depoimentos sérios que levem os criminosos à cadeia. Parece mesmo um jogo. Perde-se, volta-se a tentar desde o princípio até conseguir chegar ao fim. Ao objetivo. Já não bastam as ameaças.
Envolto em manta de medo e desassossego, o país vive sob a ameaça de represálias de indivíduos que, em vez de proteger os incautos, agridem os inocentes. Choram-se a cada esquina os mortos e os feridos. Não é para menos. A justiça não funciona. Se uns não têm medo, outros morrem de medo. Quando o país precisava de descansar do desgaste dos incêndios que assolaram o interior e destruíram vidas e bens, eis que surge, de modo diferente, outro tipo de ameaça, menos visível que o fogo, mas onde até se visionam os criminosos. E depois? Vale o que vale. Não serve de grande coisa. Prendem-se uns e deixam-se outros em liberdade. Os de Lisboa não tiveram tempo de fugir. Os de Coimbra foram de passeio, calmamente até Espanha ou França, visitar a família! São conhecidos, são reincidentes, mas a polícia não se quis meter com eles. Porquê? Por medo. Também eles! Claro. Não há dúvidas. A verdade é que o medo saiu à rua.

Vendavais - A Vergonha não é combustível

Não fosse a ajuda celestial e a solução para o problema gravíssimo que o país vivia não chegaria certamente pela mão dos homens. Estes viram o país a arder, por entre arrepios de dor e lágrimas de sangue, sem soluções apesar do muito esforço de alguns. Esforço meritório de quem, no meio das chamas infernais, lutava contra o demónio, tentando impor-lhe um travão que pouco resolvia. Razões? Culpas? Porquês?
Tremenda ignomínia e insensatez na apoucada inteligência de quem no obscurantismo do seu parco pensamento, o resolve iluminar com o fogo infernal que tudo destrói e mata quem não tem culpa de nada. Esta realidade é muito triste, mas é a realidade. Desolação. Dor de alma consentida. Atrasada, a ajuda veio dos céus em forma de gotas, breve e mansa, mas eficaz. Aqui, pode sobrepor-se uma questão de alguma forma pertinente. Porque razão os fogos surgiram quase todos ao mesmo tempo, um pouco por todo o centro do país, quando se anunciou que iria chover dentro de dois dias? E ainda podemos perguntar, quais as razões que estão subjacentes ao facto de todos ou quase todos os fogos, terem começado por volta da meia noite? Será que já alguém sabe a resposta a estas questões? Eu quase tenho a certeza de que muitos as saberão, mas paira no ar uma vergonha tão intensa que não há a coragem para desabafar.
É pena que a par de toda esta miserável panóplia de acontecimentos tenham sucumbido 44 vítimas que não tiveram culpa alguma da culpa que motivou alguns mentecaptos que, ou por interesse e motivação próprias ou de terceiros, se prestaram a incendiar um país lindo, com o qual eles não se identificam certamente, mas que é o nosso há muitos séculos. Que motivações estarão por detrás desta ações tão ignominiosas? Negócio? Interesses económicos? Vinganças surdas?
O meu orgulho está a arder. É pena que a vergonha não seja combustível. Podia virar-se o feitiço contra o feiticeiro! Mas a vergonha não arde. Lamentavelmente. Acabou de arder uma página importante da História de Portugal. Incúria ou distracção ou outra coisa qualquer contribuíram para que o pinhal de Leiria se extinguisse nas chamas imensas que rapidamente se propuseram apagar o que a História tinha escrito há cerca de quinhentos anos. E agora? Era património do Estado. Infelizmente pouco cuidado! Culpas? Claro que quem acendeu o fósforo foi o diabo! Mas um fósforo só, sem nada mais, extingue-se de seguida e não foi isso que aconteceu! Resta esperar 75 anos para que o pinhal, a ser reposto, possa estar em condições de ser utilizado. Uma vida! Uma vida para escrever esta página que acabou de arder. Francamente!
Há sempre lições que se extraem das coisas que acontecem inesperadamente e com consequências más como foi o caso, mas será que cento e tal vítimas mais tarde se vão aprender bem essas lições? Que soluções se vão apresentar para evitar novos reacendimentos no pouco que ainda resta deste país negro de tanto fogo e tão pouco claro na vergonha que ilumina os renegados?
As muitas manifestações que surgiram no país contra os fogos, parecem-me terem um propósito e um sentido positivo, mas de nada adiantam pois não contribuem para envergonhar quem por iniciativa própria ou a mando de terceiros, risca o fósforo fatal que vai destruir vidas e bens, mas que não consegue destruir quem o acende. E aqui, a justiça dos homens de pouco vale! Talvez a justiça divina fosse mais eficaz! Nem tudo pode ser assim tão mau!
Ardeu a árvore de Natal de muitas crianças! Fico frustrado! É triste. Desesperante na incapacidade de apanhar os culpados. O governo está a falhar. Costa falhou. Em vários aspetos. Talvez por orgulho ou por despeito ou mesmo incapacidade. Talvez, mas falhou. Agora, depois da tentativa de remendar o que estava errado, adiantam-se soluções futuras. Exército, plantações organizadas, reflorestação ordenada, enfim, um sem número de aspetos a ter em conta, hoje, porque aconteceu ontem o que não podia ter acontecido. Basta.

 

Vendavais - Mais vale tarde…

Frequentemente lançamos nas dúvidas algumas certezas que, na imponderabilidade da sucessão de determinados acontecimentos, julgamos ser o melhor para resolver certas situações. Não quer isso dizer que acertemos nas dúvidas ou que as certezas sejam realmente certezas. Contudo o futuro, sempre sábio, acaba por nos dar a certeza avançada no meio das dúvidas que nos surgem.
Foi o que aconteceu esta semana. Aliás já há muito que todos lançávamos dúvidas para ver se conseguíamos ter certezas, mas esta semana e depois do resultado das eleições, acabámos por lançar ainda mais dúvidas. Claro, dúvidas sobre a continuidade ou não de Passos Coelho à frente do PSD. A verdade é que apesar de ter somado mais votos, somou menos câmaras do que há quatro anos, mas o que conta é mesmo o número de municípios e esse foi muito menos.
Mas as dúvidas que todos lançavam eram se ele conseguiria manter-se à frente do partido perante um resultado que se adivinhava menos bom, se desistiria ou não, se arriscaria seguir em frente até às legislativas, enfim, dúvidas que toda a gente queria ver resolvidas. Mas também outras dúvidas se levantaram para elencar quem o substituiria se fosse esse o caso.
Para baralhar tudo e todos, Passos Coelho foi dizendo que não seria um resultado mais negativo que o faria recuar ou desistir e todos ficámos com uma dúbia certeza sobre ao assunto. Afinal ele iria continuar mesmo com um mau resultado? E o partido iria permitir que isso acontecesse? Será que ninguém se insurgiria contra esse mau resultado? Demasiadas dúvidas para poucas certezas. Mas se uma certeza já todos têm, muitas dúvidas pairam no ar.
A verdade é que Passo já disse que não iria continuar e que deixava o lugar em aberto para quem o quisesse ocupar. O Congresso vai ser a rampa de lançamento para o senhor que se segue.
No dia seguinte ao desaire eleitoral, logo se desenharam estratégias e logo se lançaram nomes para juntar às dúvidas que buscavam certezas. Parece senso comum que o nome de Rui Rio reúne a maioria dos apoiantes, mas outros foram apontados e ainda mais dúvidas se levantaram. No entanto, alguns como Montenegro ou o deputado europeu Paulo Rangel, soluções possíveis, demarcaram-se do interesse pelo cargo. Outros deixaram aberta a porta para uma possível entrada. Foram pensar. Ainda outros estão a preparar um programa para apresentar no Congresso o que significa puderem candidatar-se a presidentes do PSD. É o caso de Santana Lopes. Assim, as dúvidas subsistem e as certezas também.
A verdade é que as legislativas estão a dois anos de distância e Costa está em vantagem. Não só ganhou estas eleições autárquicas como, a nível nacional está a somar pontos com a situação económica a melhorar e com o alargar da bolsa neste orçamento, apertado pelo Bolo de Esquerda. Claro que se isto soma pontos, também lança dúvidas sobre quem vai pagar a fatura mais tarde. Não nos podemos iludir. Alguém vai ter de pagar tudo isto e não será o partido socialista certamente. Contudo e no imediato, Costa vai somando vitórias que lhe podem ser muito úteis dentro de dois anos. E quem é que vai querer arriscar a carreira neste intervalo de tempo? Quem for ocupar a liderança do PSD, terá duas possibilidades claras, ou é para se queimar (e será mais um), ou será para trabalhar muito e diminuir a vantagem do PS e ganhar as legislativas. Fácil? Não.
Assim sendo, o PSD terá de equacionar todas as possibilidades e avançar somente uma destas soluções. Quem der a cara vai ter de conseguir muita coragem para enfrentar qualquer desaire, pois é o que mais certo pode ter. E quem quer arriscar um tal futuro?
Quando Santana Lopes deixou no ar a possibilidade de voltar a ser presidente, abriu a porta à salvação de outro qualquer elemento do partido, pois não vejo que esse ato não seja simplesmente um suicídio político para salvar, quiçá, Rui Rio. E este se avançar como candidato, arrisca-se a ganhar com toda a certeza, mas terá de trabalhar muitíssimo para chegar às legislativas numa posição confortável para poder discutir com Costa quem vai liderar o próximo governo. E como as maiorias são indesejáveis e difíceis de conseguir, não nos podemos esquecer de uma Catarina Martins que até já admitiu que pode fazer parte do próximo governo. Não significa isto que o PCP está fora da geringonça, mas com o score que também lhe saiu na rifa das autárquicas, ficou com menos peso político e pode não ser suficiente para equilibrar a balança.
Pois é. Passos sai de cena finalmente. Mais vale tarde que nunca! Mas a herança que fica não é nada apetecível. Só mesmo um “desconhecido” poderá estar interessado nela. Valerá a pena?

 

Vendavais - Ora atiras tu, ora atiro eu

Num momento tremendamente perigoso para o mundo inteiro, continuamos a assistir a um jogo de meninos mimados que querem mostrar que são já crescidinhos. Se não fosse o caso real do que se passa entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos da América, certamente teríamos outros exemplo para referir e ilustrar o título do presente artigo. Na verdade, as ameaças constantemente proferidas entre os dois beligerantes verbais, cujas palavras ameaçadoras rasam o inconcebível, o caricato e o mundano, não deverão passar disso mesmo. Ora atiras tu, ora atiro eu e se as coisas chegarem a vias de facto, atiras tu mais eu. Um jogo de guerra do mais sofisticado que pode existir.
Igualmente neste período vivem-se na Europa outros momentos que, sendo igualmente jogos, são um pouco mais leves do que o que se passa lá para as bandas da Coreia do Norte. A Espanha debate-se com o eterno problema das reivindicações independentistas da Catalunha e não permite que o referendo por eles requisitado seja efetivamente levado a cabo. O país que já foi, tanto pode voltar a ser como não. É um jogo do empurra que o governo espanhol terá de continuar a travar com o governo regional da Catalunha.
Mas nesta altura em que as eleições surgem um pouco por todo o lado, também a Alemanha viveu esse momento, apesar de saber que Merkel seria reconduzida para um quarto mandato. Contudo, e isso ela não previa, a extrema-direita chega ao parlamento e terá de saber lidar com ela, coisa que será basicamente difícil. Vai ser mais um jogo de infantilidades. Mas as eleições trouxeram a continuidade dos problemas para Merkel resolver. Como não tem maioria, terá de arranjar parceiro de coligação e Shultz já disse que com ela não faz coligação. O SPD vai ser oposição! O jogo continua.
Mas as coisas também não passam ao lado de Portugal que, estando à beira de eleições autárquicas, vê esgrimirem-se razões por todo o lado, neste mesmo jogo do atiras tu ou atiro eu. A campanha está na rua e se em Lisboa as coisas estão mais ou menos seguras para Medina, a luta está entre o PSD e o CDS, onde a Teresa Leal Coelho está em maré baixa e aflita para chegar à praia, não conseguindo passar as ondas que levantam à sua frente. É que Assunção Cristas consegue nadar bem em águas revoltas e mantém-se num segundo lugar a alguma distância. Apesar de ser um jogo de “ora chegas tu, ora chego eu”, pode bem ser um chegas tu e eu. Claro que isto era muito bem escusado se Passos Coelho tivesse feito a coligação com Cristas, pois possivelmente Medina nem sequer ganharia a Câmara de Lisboa. Mas o tal jogo do empurra, leva a erros deste género. Tão depressa se ganha, como se perde. É um jogo.
Claro que o PS assiste a tudo isto e tenta fazer a sua campanha sem grandes sobressaltos, até porque tem de ir engolindo alguns sapos bem gordos. Foi o caso do comício da CDU deste fim-de-semana onde Costa marcou presença e teve de valorizar a lista da CDU, arremessando louvores ao PCP. Até aqui a geringonça terá de subsistir! Houve locais onde o PCP se atirou ao PS e ao governo com toda a fúria, mas outros houve em que o contrário também é válido. Pois é: ora atiras tu, ora atiro eu!
Quem não tira e só atira, é Assunção Cristas que quer que o governo explique o que se passou em Tancos. Parece que afinal não existe relatório ou que até pode ser falso o que se apresentou. A ser assim, pode ser que o próprio Ministro da Defesa também seja falso e não exista – diz ela.
Tal como já eu havia dito, a culpa ninguém a quer e o que se passou em Tancos não deixa de ser grave, seja o caso de ter havido assalto agora ou há cinco anos atrás. O material desapareceu e ninguém sabe como? Impossível. Senhor Ministro, alguém o levou. Também aqui continuamos com o jogo do “ora atiras tu, ora atiro eu”, já que não se chegará a nenhum resultado.
Voltando à Coreia do Norte e aos Estados Unidos e aos imberbes governantes que se entretêm a jogar pedras um ao outro, só espero que não sirvam de exemplo para jogos bem piores e que venham a envolver outros intervenientes. É que as pedras que estão a atirar um ao outro, podem transformar-se em bombas H e, nessa altura ninguém sabe quem sairá vencedor. A loucura que envolve o menino da Coreia, não é muito diferente da do outro dos EUA, muito embora seja mais fanática e irresponsável. A verdade é que este jogo é demasiado perigoso para se tornar realidade jogável.
O melhor é mesmo jogarmos com as pedras que por cá temos. Pelo menos não magoam tanto, ganhe quem ganhar.

Vendavais - Geringonça – “nunca mais”!

A necessidade aguça o engenho, já há muitos séculos se diz e se verifica. Desde que o homem apareceu no planeta e teve de se adaptar no seu dia-a-dia para poder sobreviver num meio que lhe era cada vez mais adverso, teve de recorrer ao engenho e arte que o seu parco conhecimento lhe permitia. A sobrevivência assim o dita, ontem como hoje.

Todos conhecemos o que é a geringonça que nos governa e como surgiu. Surgiu da necessidade do partido socialista poder governar em minoria, substituindo o partido social democrata que ganhando, não teve maioria e só o somatório da esquerda permitia governar em sua vez. Como lhe chamou na época Paulo Portas, era uma geringonça que permitia governar, mesmo sendo contranatura. Apesar de todos os vaticínios temporais de existência governativa, a geringonça tem-se mantido no poder. É certo que nem tudo tem corrido pelo melhor nem tem servido todos os que dela fazem parte e também é certo que Costa tem engolido muitos sapos. Paciência! Ou isso, ou nada. Ou assim, ou fora do governo.

Quem tem assumido cada vez maior força é o BE e Catarina Martins tem-se esforçado por dar a cara em todas as esquinas fazendo valer os seus votos e a sua negociação na geringonça. Jerónimo de Sousa, perdendo algum terreno neste caminho sinuoso, tenta-se afirmar com críticas e com promessas, mas pouco tem adiantado. Costa, prevendo talvez uma vitória nas próximas legislativas, tenta subir o seu score para se livrar da geringonça e remodelar o seu sistema governativo e vem a terreiro pedir força nas autárquicas para fazer o governo andar para a frente. Catarina é que não se faz rogada e aposta numa coligação, sem geringonça mas, onde ela ponha e disponha e até faça parte do governo. Governo?

Apesar de ainda faltar algum caminho para ser percorrido, a verdade é que o governo da geringonça, tem de trabalhar muito para que a engrenagem se não desmorone e cada peça caia para seu lado. O próximo orçamento de Estado está à porta e tem de ser aprovado pela geringonça e para tal Costa tem de ceder em muitos campos mesmo que isso lhe custe muitos milhões de euros e custa. Até onde pode ir Costa?

O governo prometeu o descongelamento das carreiras e dos escalões dos funcionários, por pressão do PCP e do Bloco mas, o cenário agora não se mostra fácil ao governo, pois as contas estão a sair furadas. Então como fazer? Será que vai haver descongelamento das carreiras? A geringonça não quer faseamento. O governo quer. O PCP quer que todos tenham acesso ao descongelamento e Costa diz que não há dinheiro que chegue para isso. Parece que a geringonça não se está a entender. Os funcionários públicos estão à espera que se cumpra a promessa. E se não se cumprir? As eleições não estão longe e os votos são necessários para que Costa se livre da geringonça! Mas é a pressão do PCP e do BE que mais conta nesta dança de votos, pois no final quem pode puxar pelos galões são eles, os da geringonça, que vão depois dizer que foi obra deles o descongelamento das carreiras. E Costa o que vai dizer?

Para o Bloco a certeza de que é imprescindível na próxima solução governativa é tão forte que já afirmou que a geringonça tal como está não se fará mais e que ela está disposta a fazer parte do governo. Deste modo a pressão sobre Costa e o PS é cada vez maior e pode causar falhas enormes. Catarina não quer mais geringonça, mas Costa também não. Como fazer?

A par desta trapalhada toda está uma série de acontecimentos que em nada beneficiam o governo. Foi o caso de Tancos, que afinal pode ter sido tudo menos roubo ou assalto, tal como eu tinha já aqui referido. Eu tinha razão! O Ministro veio agora dizer o mesmo! Enfim! Culpas, quem as quer? Foi o caso dos incêndios e do SIRESP. Tudo falhou e morreu gente a mais devido ao erro. Culpas? De quem? A geringonça pouco disse. E para quê? A culpa é sempre dos outros.

Pois é. Para Catarina a geringonça não se voltará a repetir, mas entretanto vai dizendo aos lisboetas que decidam se querem ou não uma geringonça para as autárquicas. Um pé no chão, outro no burro! Ninguém quer perder o poder, ou a falta dele. Se não for geringonça, será coisa semelhante certamente. O Costa que ponha a pau! No final pode-lhe acontecer o mesmo que aconteceu ao Coelho!

Vendavais - Quando melhor, cada vez pior

Portugal tem andado numa roda-viva desde a política aos incêndios que têm assolado a zona centro do país. A própria política tem-se intrometido nos incêndios não se conseguindo separar o trigo do joio nem arranjar os verdadeiros culpados de tudo o que vai acontecendo. No meio de todo o turbilhão de informações, o primeiro-ministro vem a público apaziguar as hostes e realçar os progressos da economia portuguesa. Não basta. Só os incêndios já causaram e vão causar milhões e milhões de prejuízo na economia nacional e vão levar à falência muitas empresas ligadas ao setor madeireiro e afins.
O Banco de Portugal divulgou recentemente os dados da balança de pagamentos, relativos ao final de junho, com o défice das balanças corrente e de capital a fixar-se nos 685 milhões de euros, quase o dobro dos 356 milhões registados no mesmo período de 2016. O que explica esta evolução, segundo os entendidos, é o facto de as importações aumentarem a um ritmo superior ao das exportações, apesar do ‘boom’ do turismo em Portugal, setor que registou um excedente de quase 4 mil milhões de euros.
Segundo o Banco de Portugal, até junho, a balança de bens e serviços registou um excedente de 713 milhões de euros, menos 412 milhões de euros do que no período homólogo. Mas o aumento do excedente da balança de serviços em 825 milhões de euros – devido ao bom momento do turismo – foi insuficiente para compensar o aumento do défice da balança de bens ou de mercadorias que regista as exportações e as importações de mercadorias. 
Pois é, quando nos parece que tudo está a correr bem, de repente tudo se transforma em dívidas. Por mais que o governo se esforce por nos dar uma visão optimista da nossa economia e de quanto ela flui positivamente, a realidade vem dizer outra coisa. Será que as exportações subiram para obviar a que aos turistas nada falte, mesmo que sejam os portugueses a pagar tudo isso? Ou será que a alegria do crescimento fez disparar o disparate das compras ao estrangeiro? A verdade é que nós somos um pouco assim. Se temos muito, temos de gastar e comprar do melhor. Não podemos ficar atrás dos outros! Enfim!
Quando o governo vem a público enumerar o que de bom se está a verificar na economia portuguesa e até pode ser verdade, o certo é que esconde ou omite o que está cada vez pior. Todos os partidos são de opinião que a economia está a crescer a bom ritmo, mas a economia é um bicho-de-sete-cabeças e nós nunca sabemos exatamente qual das cabeças está a falhar. A dívida pública sim, essa sabemos que é cada vez maior. Como diz o povo, alguém há de pagar! Claro, todos nós pagamos. E o principal problema é que pagamos sem ter culpa nenhuma, como sempre.
Este ano até pode ser considerado um ótimo ano no setor do turismo, mas foi péssimo no que concerne aos fogos e à destruição do património florestal e o governo limita-se a dizer que já foram apanhados 70 possíveis incendiários sem referir o que lhes vai acontecer, quando vão ser julgados e condenados por delapidarem a riqueza florestal e levar à miséria centenas de famílias que, além de ficarem sem lar, ficaram sem a possibilidade de se sustentarem porque perderam as suas hortas, as suas vinhas, familiares, referências, gado, enfim, o que lhes dava no seu dia-a-dia, a possibilidade de se manterem vivos para enfrentar o futuro, sempre incógnito e avassalador. E tudo está a demorar tempo demais para se solucionarem os casos mais prementes.
A verdade é que Portugal é um país pequeno, mas como diz o povo, com uma alma enorme, mas não chega. Efetivamente não chega tapar o sol com a peneira. É positivo informar que a nossa economia vai melhor, mas é imprescindível reafirmar que temos dívidas grandiosas e que têm estado a subir enormemente desde há dois anos para cá. Isso tem de se saber e tem de se realçar. É a outra parte da questão. Neste momento estamos a atravessar um caminho muito difícil, mesmo muito complicado, perante as desgraças que se têm verificado. A campanha eleitoral que se avizinha que sirva para abrir os olhos dos eleitores e que alerte para os perigos que têm de ser resolvidos pelos próximos autarcas. Deixem as promessas. Limitem-se à realidade para que se não pense que o presente é bom quando o futuro é péssimo. As coisas não podem continuar a ser boas para uns e más para outros. Vamos lá a nivelar!

Vendavais - Ai, ai, ai Venezuela

Podia ser o mote para uma canção, mas não é. Infelizmente não. Lá vai o tempo em que Maduro dizia, num assomo de inteligência obscura, que um passarinho lhe veio trazer recados do falecido Chavez, para que governasse a Venezuela e desse continuidade ao seu projeto político. Hoje, posta de parte essa vontade, surge uma vontade titânica de assegurar o poder a qualquer preço e mostrar ao mundo que ali quem governa não é Maduro mas a democracia para bem de todos os venezuelanos. Democracia! À sua volta ardem os fantasmas do medo, as sombras do desespero, desfazem-se os panos da esperança que cobre a vontade tétrica de uma ditadura que tenta afirmar-se contra a vontade da maioria ameaçada que não se resigna no meio deste duelo de morte. Continua a falar de democracia para impor uma constitucionalidade que lhe transmitiria todo o poder para vergar os democratas que se erguem contra ele, mesmo sem que nos estômagos haja o pão necessário para lhes dar as forças mínimas para aguentar a refrega. Este governante não frequentou a escola da democracia e por isso troca os termos como se fossem peças de um tabuleiro de xadrez, onde os peões são efetivamente os primeiros a serem derrubados. Aqui tudo é permitido antes de haver xeque ao rei. Será que vai haver?

As eleições decorreram no meio de uma sublevação nacional e onde meia dúzia de pessoas aparece nas televisões, com ar de contentamento, dizendo que votaram para bem da Venezuela e onde milhões, proibidos de se manifestarem e sob uma capa de intolerância que os levará à prisão em nome da democracia, pasme-se, se ergueram como bandeiras desfraldadas, contra ventos e marés. Mortos, presos e feridos são a base de uma construção anómala de um país forjado num poder que é cada vez mais ditatorial, ainda que a realidade que o envolve seja bem diferente. Para onde vai esta Venezuela? O que acontece à esperança de milhares de portugueses que a ajudaram a crescer e que lá enterraram anos de vida para desenterrar à pazada o futuro e o sonho de gerações e que agora regressam ao seu país sem nada, trazendo apenas o sotaque de uma língua que aprenderam e que lhes fez esquecer a sua própria língua? Por lá ficou a esperança e o sonho enterrados no enorme buraco que abriram durante tantos anos e que agora Maduro quer tapar antes que seja ele próprio a cair lá dentro. Não duvido que o medo é enorme e que um dia será ele a ser corrido por todos os que tenta enganar com palavras de uma mentalização fanática e sem sentido. É o que acontece a todos os ditadores!

São muitos os que já regressaram a Portugal, especialmente à Madeira de onde partiram há muitos anos. O governo da Região, concertado com o Nacional, irá minimizar este enorme percalço na vida destas pessoas, mas não lhes pode dar o que já perderam, porque o sonho e a esperança que levaram não têm preço. E para os mais jovens, os que nasceram lá e lá aprenderam a língua de Bolívar, há todo uma caminho a percorrer de novo, toda uma aprendizagem e uma adaptação a cumprir, mas com a enorme vantagem de possuírem a força da juventude que os levará muito mais longe, atrás de um sonho novo e de um futuro risonho. As raízes ficaram por lá e por lá vão permanecer muitos anos, a não ser que Nicolás não caia de Maduro e lhes seja permitido regressar em segurança para apanhar novamente os despojos que por lá ficaram caídos. Oxalá seja possível, para bem de todos.

E o que trouxeram estas eleições? Alguma coisa vai mudar? Quem acredita que a mudança está ao virar da esquina? Não serão estas eleições que conseguem mudar a Venezuela e o seu governo. A oposição pode ter força, mas não tem o poder. Pode ter mais gente do seu lado, mas falta-lhe a força para se afirmar perante o exército e a polícia. Não vai ser fácil a mudança. Ganhar ou perder, é quase o mesmo neste momento. Só a demissão de Maduro será solução e nunca um ditador se deu por vencido. Nunca um ditador entregou o poder nas mãos da oposição de livre vontade. A Constituição não se torce, fabrica-se, forja-se na vontade popular e não pode ser torneada pelo medo. A suposta democracia apregoada por Maduro vai ser o início do seu fim, estou certo, mas não tão cedo. Como dizia um venezuelano seu adepto, “este senhor irá cumprir o mandato até ao fim ou seja até ao próximo ano”! Será? Ai, ai Venezuela, para onde estás a ir!

Vendavais - Terra queimada

Eu tenho esperança de que todos queremos o melhor para este país sempre em ebulição informativa e quase sempre pelas piores razões. Mas ninguém julgue que somos todos uma cambada de totós que acredita em tudo o que se diz e que engolimos todas as patranhas que nos querem impingir. Isso leva-nos a sermos desconfiados, o que também não ajuda muito, mas pelo menos pode minimizar o impacto final.

Este Verão tem sido demasiado penoso para os portugueses. Depois de se anunciar uma melhoria na economia, o que nos fazia sentir mais animados e ir para férias mais descansados porque afinal o governo tinha feito bem o seu trabalho, eis que vem a público que a dívida pública tinha aumentado substancialmente, ultrapassando todos os valores anteriores. Uma no cravo, outra na ferradura!

Chegada a época dos incêndios e pensando que os anos anteriores tinham dado lições de como combater o flagelo anual, eis que surge a desgraça de Pedrógão e Góis e faz sessenta e quatro vítimas, cujos culpados não se conhecem, além do próprio fogo assassino. Quando ninguém quer as culpas, tenta-se encontrar um bode expiatório, mas nem o tal bode parece querer aparecer. Azar dos Távoras! É fácil falar de prevenção. É bonito e fica bem dizer que as coisas vão finalmente mudar e que se vai alterar o sistema e gastar mais dinheiro na tal prevenção e envolver mais instituições neste combate desigual que todos os anos consome o que de mais rico temos. Mas para trás fica a terra queimada que sustentava famílias inteiras que agora se sentam nos escombros que as cinzas deixaram e nos bancos do desespero e do abandono. Queira Deus que daqui a um ano as pessoas que perderam as suas casas e a quem tanto foi prometido, não se encontrem ainda no meio da rua à espera do teto promissor.

Como uma desgraça não vem só, eis que surge o alarme de Tancos. Chego a questionar-me se tal acontecimento não terá sido forjado com o objetivo de desviar atenções, mas a verdade é que se fosse positivo o que aconteceu, eu talvez duvidasse das notícias que foram dadas, mas mais uma vez vemos a culpas a ser arrastada pelas ruas da amargura e continuar solteira mesmo em tempo dos santos casamenteiros.

O que aconteceu com o paiol de Tancos foi realizado por quem sabe e tem capacidade para o fazer. Pode-se por-se a hipótese que, se por acaso, a ronda militar apanhasse em flagrante o grupo assaltante, muito provavelmente seria neutralizada ou até eliminada. E porquê? É que as sentinelas nos nossos quartéis andam sem carregadores municiados nas armas e apenas dispõem de um outro, nas cartucheiras, com poucos cartuchos e lacrado. Em resumo: não podem defender as instalações que lhes são confiadas, mesmo que o queiram porque retirar o carregador vazio, deslacrar o que levam na cartucheira, colocá-lo na arma e disparar é uma impossibilidade, porque antes já foram desta para melhor.

Por outro lado, se uma sentinela, no exercício da sua missão, disparar a sua arma em defesa do pessoal, das instalações ou do material que lhe estão confiados, uma coisa é certa: está metido numa encrencada que pode resultar na sua prisão e pagar grossa indemnização a um ou mais assaltantes. Resumindo, o nosso exército está a trabalhar com enormes dificuldades e as culpas não podem ser assacadas aos militares, simples comandados das elites e do governo.

Este ataque, se é que ele aconteceu, só pode ter ocorrido através da porta d'armas, a entrada principal, e não através de um buraco na vedação, que foi, segundo consta, por lá que entrou e que depois saiu a viatura pesada de transporte. Quem estava a comandar o portão principal, ou era conivente com a conspiração, ou tinha sido autorizado por algum superior a deixar entrar e sair aquele camião concreto sem fazer perguntas, nem pedir papéis, e que depois nem vasculhou o conteúdo à saída. E na cerca da vedação ninguém falou de rasto de pneus, nem de que género de viatura entrou e saiu por lá. Isto parece um filme de desenhos animados.

Enfim. Tivesse sido um conjunto de responsáveis da Base a fazer uma “exportação” de material bélico a troco de muito dinheiro ou ser somente uma aldrabice para iludir ingénuos e tudo ser orquestrado para encobrir inventários mal feitos ou mesmo uma operação dos serviços secretos destinada a desestabilizar o jogo político e a criar medo e insegurança na opinião pública, o certo é que tudo o que aconteceu em Tancos dificilmente será investigado a fundo como quer Marcelo e nunca se chegará aos culpados verdadeiros.

Deste modo quase patético e inverosímil, Portugal vai continuar a ser simplesmente uma terra queimada onde a culpa arde lentamente ao sabor das vontades políticas.