Luís Ferreira

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Vendavais - A fraqueza dos ministros

Quando se quer fazer crer que alguma coisa vai ser feita em prol de uma qualquer reivindicação, surgem as promessas e de igual modo se faz se queremos atingir um objetivo imediato ou mesmo retardar um determinado processo.

Antes do governo fechar as portas e ausentar-se para férias “administrativas” ou outros se ausentarem em férias legislativas, foram feitas algumas negociações ou pelo menos tentativas, com diversos sindicatos, deixando para depois do período de férias, uma agenda bem preenchida de promessas de resoluções, com uns e com outros. Todos foram gozar os seus merecidos dias de lazer na firma convicção de que na devida altura tudo se iria resolver ou no mínimo, elencar soluções possíveis para levar a um termo justo e digno, quer para o governo, quer para os que reivindicavam, essas soluções.

Agora, no tempo em que se esperavam algumas resoluções, eis que o país está, na sua plenitude, em manifestações de greve, arrastando para o caos a maior parte dos serviços nacionais dos diversos ministérios. O governo parece ainda estar de férias! Nada se diz e nada se faz. Os taxistas esperam que António Costa regresse do estrangeiro para conseguir chegar a algum entendimento, já que com o ministro do ambiente nada se consegue e eles também não estão interessados em conversar depois das últimas afirmações face ao problema que querem resolver. A lei não justifica tudo, pelos vistos.

Os enfermeiros entraram em greve nacional e entravaram completamente os serviços mais essenciais como as urgências e os Centros de Saúde que se vêm completamente entupidos. As cirurgias deixaram de se fazer por falta de profissionais suficientes do setor e os tratamentos mais prementes ficaram adiados por mais dois dias. Ao que chegámos!

O novo ano letivo iniciou-se este mês de setembro com alguns contratempos e com algumas esperanças no que se refere ao diálogo com o ministério da tutela. O senhor ministro não quis conversar e o governo continua a dizer que tem razão e que o orçamento, sempre o orçamento!!, não comporta os ajustamentos exigidos pelos professores.

Depois da greve nacional dos professores no final do ano letivo anterior, que criou alguns constrangimentos nas avaliações finais e nas entradas nas universidades, ficou prometido que o governo se sentaria à mesa das conversações para nova ronda de negociações. Promessas. Só promessas. Valeram somente para que durante as férias todos estivessem calados e esperassem calmamente pelo início do presente ano letivo. Mas no ar pairou sempre uma ameaça de greve se as negociações não fossem efetivas. E não foram. Até agora tudo continua na mesma e o governo mantem-se firme à margem de todas as promessas. Diálogo de surdos.

Assim, não admira que a convicção dos sindicatos de levar a cabo uma greve no início do ano letivo, se vá confirmar em outubro. Era uma promessa dos sindicatos. Pelo menos alguém cumpre as promessas. Mas se o objeto da greve é a contagem do tempo de serviço e a sua reposição perfeitamente legal e em tempos negociada e aprovada, já o mesmo não se verifica por parte do governo que continua a esgrimir o orçamento como uma espada de Dâmocles a cair não se sabe bem em que pescoço.

Para fazer esquecer toda esta problemática das carreiras dos professores e dos quase dez anos roubados, o governo inventou um processo para entreter os professores e levá-los a perder horas numa análise de uma ou duas leis sem sentido algum e que em nada contribuem para a melhoria do sucesso escolar. Estamos a construir escolas para alunos que supostamente, deveriam ser óptimos, mas que acabam por não ser, perante as alcavalas que lhes são impostas e o tempo que lhes é roubado ao seu currículo e aos professores que com isso têm de lidar. Não tem nexo esta alteração, principalmente quando este sistema, copiado, falhou completamente no norte da Europa. Nós copiamos sempre o que não presta. Como haveríamos nós de encaixar num sistema feito para um povo de mentalidade completamente diferente da nossa e cujos padrões de vida não se coadunam com os do sul da Europa? Impraticável. Aliás, já é a segunda vez que o tentamos e parece que não se aprende. Queremos uma escola inclusiva. Pois bem, a nossa escola sempre o foi, mas tem sabido fazer as adequações necessárias. Não se pode ser inclusivo quando se levantam barreiras para todos os alunos. Sempre tivemos e teremos alunos bons, menos bons, normais e com deficiências e não foram excluídos quer uns, quer outros. Seguiram sempre um rumo com objetivos certos e corretos. Agora este ministro quer abrir uma auto-estradas onde todos circulem, independentemente de saber ou não o código da estrada. Claro que vai haver acidentes. Aqui reside a grande fraqueza deste ministro. As outras já são conhecidas.

Vendavais - De portas abertas

Quando pensamos que as férias são para usufruir de um descanso merecido e até poderão ser, o certo é que para outros elas são um tempo de ocupação, mais ou menos séria, que acaba por dar alguns frutos. Lógica do objetivo laboral.

Esgotado agosto e pensando em fechar a porta do lazer, eis que se abrem outras portas que nos deixam entrar em compartimentos menos estanques e revelam pormenores menos lógicos de azáfamas igualmente menos lícitas.

Embora se soubesse ou desconfiasse do que se passava lá para as bandas da Luz, inesperadamente abriu-se uma porta imensa que revelou pormenores de manobras menos lícitas que poderão levar a sanções terríveis, pelo menos em termos desportivos. O que veio a lume recentemente, trouxe-nos uma teia de corrupção, que não pára somente na Luz. As possíveis sanções, em termos desportivos, com base nas declarações já pronunciadas pela comunicação social, arrasta para a lama a verdade desportiva e os clubes que a ela faltaram, manchando completamente o que de melhor ainda tínhamos no país.

Quando damos por nós a pensar que existem pessoas que se dedicam a comprar favores para adulterar completamente os jogos e com conhecimento dos dirigentes máximos desses clubes, sabendo que a verdade virá sempre ao cimo, como o azeite, indignamo-nos e começamos a desacreditar no que conseguia arrastar multidões para ver jogar os seus atletas preferidos em defesa dos clubes em palco. Mentira! Jogos de mentirinha.

O que se está a passar no Benfica é o descalabro completo se tudo se provar devidamente. É uma tristeza. Imaginemos que realmente o Benfica fica castigado de participar no campeonato nacional durante 6 meses ou mais, já que pode ir até três anos. Se forem seis meses, perde a possibilidade de lutar pelo campeonato, se for um ano ou dois ou mais, o Benfica vai completamente ao charco. Desaparece! Os jogadores terão de sair e ir para outros clubes e o Benfica não vai comprar nenhum jogador e pagar-lhe para estar sem jogar. Fica inanimado. Uma desgraça para o futebol nacional e para o clube, já para não falar dos adeptos e sócios. Como é possível correr riscos destes em nome de vantagens desportivas ilícitas?

Não está aqui em questão ser deste ou daquele clube. Não, nada disso. Está em causa a verdade desportiva de que tanto nos gabamos, da veracidade dos nossos clubes, da paixão que nos movimenta quando vamos a um estádio. O que fica depois disto tudo? Uma vergonha imensa e um desânimo atroz. Dá-nos vontade de castigar cada um dos culpados de modo a que nunca mais se pudessem esquecer que andaram a brincar com os sentimentos dos que os apoiam, com o dinheiro de quem lhes paga e até com a justiça como se ela fosse efetivamente cega. Mas não é. Nem deve ser.

Quando Bruno de Carvalho veio a lume com os vouchers do Benfica, todos o criticaram e, embora provado, não foi objeto de sanções, mas no ar ficou a desconfiança e nem Vieira conseguiu apagar esse sentimento. Apesar de conhecermos as razões de Bruno de Carvalho e o modo arruaceiro de se pronunciar, além do ódio figadal que nutre pelo rival da segunda circular, ele tinha alguma razão no que revelou. Foi uma porta aberta, na ocasião, que acabou por levar a outros corredores que por sua vez desvendaram salas maiores. Infelizmente.

De toda esta panóplia de acontecimentos, de diz e que não disse, a justiça tirará as suas conclusões e dará o castigo ajustado, ou não, a tudo o que se provar. É com muito pesar que vejo a possibilidade de o Benfica ser afastado do campeonato nacional durante algum tempo. A ser assim, os sócios e adeptos deveriam castigar fortemente este tipo de atitudes e quem as levou a cabo. É inadmissível.

Mas também outra porta se abriu. O Moreirense está metido em igual lamaçal. Compraram a verdade desportiva. E o que lhe pode acontecer? Já foi proclamado culpado e o tribunal já decretou a sua suspensão por um ano, do campeonato nacional. E agora? A suspensão só fará sentido no próximo ano, já que este ano seria difícil continuar o campeonato depois de se terem jogado alguns dos jogos do campeonato onde se envolveram todas as equipas que dele fazem parte. Mas como vão jogar os atletas sabendo que estão a jogar a feijões? Como vão jogar sabendo que no próximo ano estão de fora do campeonato e do clube? No próximo ano, o que fazer aos jogadores que têm assinado contratos por alguns anos? Pagar-lhes sem jogar? Mandá-los embora e ressarci-los de acordo com o que for negociado? E como preparar o clube para um próximo campeonato? De onde vem o dinheiro para comprar jogadores?

Por favor fechem a porta da corrupção o mais depressa possível. Assim, ninguém aguenta.

Vendavais E eis que se acaba Agosto

Mês por excelência, para gozar férias merecidas após um ano de labuta, agosto esgota-se na tenência mundana de todos os dias e fins-de-semana. Não interessa muito se os dias são passados na montanha, no litoral, à beira-mar ou no remanso de um rio que, alindado com uma areia fina, se lhe impõe uma praia apetecível para que os veraneantes se apaixonem e por ali fiquem a desfrutar momentos inesquecíveis deste mês de agosto que teima em ser demasiado quente. O que interessa, no fundo, é que os dias de férias sejam gozados com alegria junto dos que mais se amam. Assim, enquanto uns vão ver as ondas a espraiarem-se nas areias finas dos mares do sul, outros apreciam as ondas de mares mais revoltos no litoral atlântico ou chegam-se ao litoral algarvio para apreciar as águas mais quentes e dar conta do que o fogo queimou num ápice de ironia como se por ali quisesse fazer férias à custa dos que por ali moram, rouban
do-lhes a vida, a dignidade e até a própria identidade. Enorme ironia do destino num fado tristemente cantado em dias do mês de agosto! Outros ainda, longe das praias e dos fogos, passeiam-se pelos passadiços com a família a levando a reboque a comunicação social para que todos saibam que por ali andou o mayor de Portugal, desfrutando da frescura do interior e da beleza do rio que por ali serpenteia, o Paiva. Porém, outros há que, não gozando as férias que mereceriam certamente, passam os dias quentes de agosto pelos montes fazendo as malhas de colheitas mínguas e se enchem do pó da terra dura que espera pela chuva que teima em chegar. Concepções diferentes de férias e de momentos que não se esgotam nos magros exemplos apontados. Um pouco por este país de História tão rica, aproveita-se este mês de agosto para realçar os feitos que os antepassados marcaram, escrevendo nas páginas desse livro imenso, o que em 
tempo oportuno, lhes aprouve fazer. Deste modo, assaltaram-se castelos fazendo da História uma festa para mostrar aos mais jovens o que muito lá para trás nas esquinas do tempo, se fazia para manter a integridade do nosso país nos diferentes locais em que eram chamados a defender a todo o custo. Perfeito medievalismo em exibição, enaltecendo a História de Portugal em numerosas facetas. Tempo de lutas sérias e de feitos gloriosos. Outros tempos! Pois também eu fui passar uns dias de férias por este Portugal de nós todos. Nunca conhecemos demasiado destes recantos que por cá temos. Montes e serras, praias fluviais de águas serenas e praias de marés vivas, temos para todos os gostos. Constatei, contudo, que se lê muito pouco em qualquer desses lugares. Estendidos nas areias sublimes sob um sol escaldante, usufrui-se mais do astro rei, do que das páginas de um bom livro. É pena. Recordo tempos em que não se ia para a praia sem um livro em parceria 
com a toalha. Bons tempos! Mas em vez do livro, lá está o telemóvel ou o tablet para apaziguar o vício ultrajante da conversa necessária que se esfuma nos clics que as pontas dos dedos se apressam a dar. Outros tempos! Claro que as férias não se esgotam em agosto. Elas passeiam-se por junho, por julho e até por setembro. Por aqui, estamos habituados a que também o verão se esgote depois da novena da Senhora da Serra. Assim, depois do dia 9 de setembro preparemo-nos para dias mais frescos. Nada de novo, mas com estas alterações climáticas, nunca sabemos se o verão se prolonga até outubro. Disso temos exemplo há dois anos atrás. De chuva é que nem rasto. É um bem que poucos apreciam e imploram, a não ser o agricultor atarefado e muito preocupado com a incerteza do porvir. A chuva é a sua apólice de seguro, o seu ouro escondido que nem sempre brilha e que faz jus ao ditado popular, já que não é necessário brilhar para ser uma riqueza imensa. Estamos à espera que chegue. Os solos estão secos e o fogo espreita. Já estão em perigo alguns frutos. Acaba-se agosto, acabam-se as férias, mas que não se acabem as colheitas das necessidades prementes. Deste modo, incutiu-se na mentalidade dos portugueses que agosto é o mês das férias e que em setembro tudo recomeça. De facto, é um pouco assim. Lá vai o tempo em que se falavam de férias grandes, quer para os alunos, quer para os professores, já que só eles as gozavam ou disso tinham menção. Hoje tudo se esgota em agosto. Setembro traz de novo o início de um ano letivo que vai dar passos de enorme incerteza já nos primeiros dias. As escolas e os alunos não têm a certeza de um começo pacífico. Anunciam-se greves de professores face à ineficácia do governo na resolução de pontos acordados e incluídos no orçamento. Tudo está em stand by. Gozemos então, os últimos dias de agosto que setembro vir não parece sereno.

O fogo que nos consome

Passou quase um ano depois do fatídico braseiro que incendiou o centro do país e que matou umas dezenas de pessoas e atirou outras para o desespero da ignorância, para a pobreza arrastada, para a ingratidão e para o esquecimento. O país sofreu imenso com tudo o que aconteceu. Todos lamentaram e todos prometeram que não mais haveria de acontecer semelhante atrocidade. Promessas.

De tudo isto ficou essencialmente o nome de Pedrógão e o da estrada da morte. Sinais indicadores da localização da tragédia. Não são placas. Não são necessárias! Mas são avisos que deveriam levar os responsáveis a evitar repetição. Teatros de tragédias tão grandes, que os atores pereceram em plena cena de dois atos.

Depois disto, alimentou-se o ego dos portugueses com a interajuda em prol dos que tudo perderam. Era necessário ajudar a reconstruir o que se perdeu. Chegaram muitas ajudas e em várias formas, desde roupa a dinheiro. E o que não deveria acontecer, aconteceu. Uma confusão tremenda para saber como distribuir o dinheiro e por quem. Quando há dinheiro à mistura, há confusão! Por que será?

Quase um ano depois, vem a lume a triste notícia de que o dinheiro foi manipulado por quem não devia e não chegou a quem deveria. Alguém se aproveitou do que não lhe pertencia. Será possível? Claro que sim e não me causa estranheza. Estamos um pouco habituados a estas atitudes, infelizmente.

Assim, muitos que esperavam ter a sua casa de volta, ainda não têm porque alguém resolveu desviar para proveito próprio o que a outros pertencia. E as mentiras? Mais que muitas!

As promessas do governo e as certezas de atuação em massa com milhões à mistura para assegurar o bem-estar das populações, soaram como calmantes no coração dos portugueses. Não mais haveria de se correr riscos de tamanha enormidade. Assim se esperava!

Pois assim deveria ser. Mas eis que surge de novo o fogo que nos consome a alma e nos desestabiliza o ser. Monchique volta a ser notícia pela pior causa. Uma dúzia de anos depois de ter ardido e ter reduzido toda a serra a terra queimada, volta a arder e a invadir propriedades alheias, roubando casas, terras, herdades, automóveis num autêntico caos e desorganização total. Ninguém estava à espera de coisa semelhante depois de todas as promessas feitas e de todas as garantias de segurança, quer a nível de comunicações, de organização, de meios de combate e de homens no terreno. O governo ordenou que se limpassem as bermas das estradas e dos terrenos e isso foi feito. Gastou-se dinheiro e parece que valeu de muito pouco, pelo menos nas povoações da serra por onde agora lavra o fogo terrível que põe o Algarve em sobressalto.

No ano passado acusaram o Presidente Marcelo de andar pelo meio dos locais afectados, levando algum consolo a quem precisava de se sentir amparado. Este ano, ele afastou-se e preferiu banhar-se nas águas calmas dos rios por onde o fogo lavrou no ano transacto, mas não desligou do que está a acontecer no sul do país. Mas as críticas chovem de igual forma e se elas se transformassem em chuva, certamente que o fogo se apagaria bem mais depressa.

Se daqui a uma dúzia de anos voltar a acontecer, como no Algarve, o que aconteceu em Pedrógão e em Santa Comba Dão, voltaremos a falar da tal segurança que nunca mais chega e dos riscos que todos corremos quando chega o Verão. Oxalá que tal não aconteça!

Sem haver ainda culpados e explicações plausíveis para o desaparecimento do dinheiro que deveria ser aplicado em Pedrógão e nas localidades afetadas pelo fogo no ano passado, deparamo-nos com outra situação idêntica onde casas e terras desaparecem com a voracidade das labaredas infernais que tudo consomem e deixam na miséria os seus proprietários. E agora? Questionemo-nos pois, sobre o que poderá acontecer. Quem vai movimentar os dinheiros e as ajudas para estas pobres pessoas que ficaram sem nada? O governo? As Misericórdias? Os grupos (!!!) arranjados à pressa para levantamento dos prejuízos e para a aplicação do dinheiro destinado à reconstrução das casas?

Ainda os de Pedrógão não têm as suas casas todas pelas razões que sabemos e já estas estão perante situações iguais que levam, desde já, a desconfianças do mesmo teor. Ficaram sem as suas casas e quando voltarão a ter outra? Até lá, onde vão ficar?

Afinal o fogo não consome somente a floresta e as casas, consome do mesmo modo, o nosso interior, o nosso ego e a nossa identidade.

Vendavais - Barba rente

O homem faz a barba desde que é homem. Primeiro com pedras aguçadas, com conchas e outros objetos cortantes. Para facilitar a operação e proteger a pele, mais tarde, usou o azeite, a banha e outras gorduras.
Com a descoberta dos metais apareceu a faca que, neste domínio, prestou muito bons serviços, durante séculos. 
Em finais do século XVIII, a grande descoberta deve-se ao francês Jean Jacques Perret que criou uma navalha especial, dobrável e de aço extraordinariamente fino e cortante. Foi a navalha que todos ainda conhecemos, mas que poucos usam. Só nos barbeiros e não é em todos, é que ainda se faz a barba com a célebre navalha.
Esta navalha foi já objeto de grandes discussões e análises e já esteve proibido o seu uso em alguns locais e épocas variadas devido ao uso ameaçador do proprietário quando alguém mais comprometido se sentava na cadeira do barbeiro. 
Realmente ter a navalha no pescoço, era estar a um passo da morte pois a ameaça do manejador sentenciava muitas discussões e também igual número de chantagens. Coitados dos que tinham alguns rabos-de-palha.
Hoje, seria talvez um bom instrumento para endireitar caminhos menos claros que muitos dos nossos políticos percorrem. Tal como a necessidade aguça o engenho, também o medo faz arrepiar caminhos.
Todavia, considerando o elevado preço desta navalha, o americano King Kampfe Gillette fez a grande descoberta que havia de chegar ao mundo inteiro e conquistar todos os mercados: a lâmina de dois gumes, de usar e deitar fora.
Esta não trazia ao mundo nenhuma ameaça e era de uma ligeireza extraordinária, quer no desfazer da barba, quer no seu tempo de utilização e não precisava de ser afiada constantemente como a célebre navalha ameaçadora de pescoços.
Instalada numa pequena máquina de baixo custo, para uso individual, facilmente conquistou os utilizadores. Contudo, os barbeiros não se desfizeram do antigo instrumento de barbear. Resta saber se por comodidade ou se para sua defesa e não só. O barbeiro com a navalha na mão, é juiz em sede própria, ainda que a sentença possa tombar para qualquer lado.
Apesar de tudo, o espírito de economia e poupança breve levou à criação de uma maquineta capaz de afiar estas lâminas já em fim de vida, prolongando-lhes o tempo de duração. A fábrica Allegro, na Suíça e também em Inglaterra, entre os anos 30 e 60 do século XX, criou e difundiu este dispositivo de fácil utilização e de resultados satisfatórios. Tinha o inconveniente do seu custo, relativamente elevado, razão por que a sua generalização se ficou pelas pessoas com maior poder aquisitivo. E se ao tempo, alguns se dedicavam nos tempos mortos a afiar essas lâminas da Gillette, outros que não tinham tempo para essas modernices, limitavam-se a usá-las mais tempo e depois deitá-las fora.
Entretanto, a criatividade do homem encontrou outras alternativas, mais baratas e descartáveis e que não oferecem perigo de maior.
Contudo, o homem imbuído nas andanças das modernices e do progresso, inventaria de seguida a máquina eléctrica de barbear. Mais cara e menos versátil, não é de todo o instrumento preferido para fazer a barba.
A velha navalha de barbear, essa sim, continua a marcar pontos quer no desfazer da barba, quer nas ameaças para quem se senta na cadeira da justiça popular que no dizer do barbeiro, “aqui só senta quem não está comprometido”. Pudera!

 

Vendavais Obesidade mental

Sabemos bem que a obesidade, tão falada nos últimos tempos e olhada como causa de variadas doenças é excesso de gordura física devida a uma alimentação desregrada, mas não só. Há outros tipos de excessos que conduzem aos excessos físicos.

As notícias que hoje circulam tão rapidamente, alertam-nos para os perigos da obesidade, contudo, as próprias notícias são, por si só, tantas e tão alarmantes que são o exemplo da própria obesidade informativa.

É altura de notarmos que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que os decorrentes da obesidade física. A nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares comuns que de hidratos de carbono.

As pessoas viciam-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos e condenações precipitadas, de tal modo que todos têm opinião sobre tudo, mas conhecem pouco ou nada sobre as coisas. E isso parece não interessar muito. A opinião é livre.

Os jornalistas são hoje os “cozinheiros” da “fast food” intelectual e, os comentadores, editores e filósofos contribuem para isso. Dizia alguém, com prioridade, que os telejornais e as telenovelas são os hambúrgueres do espírito e as revistas os donuts da imaginação. Cada vez é mais verdade. Uns pela informação doentia e outros pela informação viciante.

Embora se queira escamotear a situação e dar outras justificações para tudo, o problema central de toda esta panóplia calamitosa está na família e na escola. A verdade é que qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem só doces e chocolates! Engordarão imenso se comerem só hambúrguers. É pois urgente que se informem sobre o que não se deve comer, ou sobre o que não se deve fazer. A sociedade é um palco enorme e complexo, tão mais complexo pela diversidade e quantidade de pessoas que nele contracenam. Então não se entende como é que tantos educadores aceitem que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas para não falar do uso excessivo do telemóvel. Com uma alimentação intelectual tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, como é que os jovens vão conseguir uma vida saudável e equilibrada?

Quando nas escolas se mencionam disciplinas curriculares como Educação para a Cidadania, leva-nos a equacionar o porquê de querer transmitir aos jovens como comportarem-se na sociedade, quando ao lado, mesmo os pais, lhes deixam espaço para a controvérsia comportamental.

A informação que se transmite tem que ser racionada, no bom sentido, no sentido positivo da realidade. Ora os jornalistas alimentam-se quase só de detritos de escândalos e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa não informa, seduz, agride e manipula. Só a parte morta e apodrecida da realidade, chega aos jornais ou são por eles transmitidas. O importante, o cerne das questões, não interessa. Todos sabem que J.F. Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi ele; todos sabem que a capela Sistina tem um teto lindíssimo, mas não sabem para que é que ele serve; todos acham que Saddam Hussein foi mau e que Mandela era bom, mas nem desconfiam porquê; todos ouviram falar de Pitágoras e do seu célebre Teorema, mas ignoram o que é um cateto. Ou seja, as realizações do espírito humano estão em decadência. Perdem importância.

De tudo isto resulta o quê? É simples. A família é contestada, a tradição é esquecida, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda e a arte é fútil e paradoxal. Em contraponto, floresce a pornografia, a imitação e o egoísmo. O âmago de todas as questões, não interessa. O que importa é a superficialidade das coisas. Interessa o quê e não o porquê. É quase uma falsidade compulsiva o que nos chega todos os dias, quer como informação, quer como saber.

É tudo uma questão de obesidade. E não é física. É mental.

O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo precisa de uma dieta mental urgente.

Vendavais - A incapacidade de meia dúzia e o desespero de milhões

Continuará ser uma eterna redundância dizer ou admitir que os portugueses são perpétuos sofredores na perseguição de objetivos que raramente atingem. Diremos o mesmo daqui a um século e os que vierem depois continuarão a dizer o mesmo. Penso que não é por burrice nossa ou desinteresse intelectual. É da própria natureza das pessoas. Somos assim.

A verdade é que quando conseguimos atingir objetivos concretos, tornamo-nos heróis e, se para os atingirmos sofremos como loucos, tanto melhor, pois o sofrimento valoriza substancialmente a vitória. É o caso do que aconteceu com a nossa seleção.

Perdemos ganhando! Claramente. Sofremos etapa após etapa, vitória após vitória, mas ultrapassámos a fase de grupos. Ganhámos e ultrapassámos essa dificuldade para chegarmos aos oitavos. Todos estavam esperançados em mais vitórias para conseguirmos chegar aos quartos. O Uruguai era uma seleção ao nosso alcance. Todos acreditaram nisso. Contudo já muitos sofriam por antecipação. Todos acreditavam que Ronaldo poderia resolver a questão. Puseram aos seus ombros um peso tão grande que quase não se conseguiu mexer em campo perante o muro defensivo do Uruguai.

A tarefa foi da seleção, mas o sofrimento foi de milhões. Portugal parou para ver o jogo. O Brasil parou com os olhos postos nos ecrãs de televisão. No Uruguai, a incerteza cruzava-se com a ansiedade e a esperança. Tudo e todos estavam em suspenso. Parecia que o mundo inteiro dependia do resultado de um só jogo. Até o governo português se mudou para a Rússia! Enquanto a Catarina Martins se insurgia contra a lei das rendas e dos despejos em Portugal, na Rússia apostava-se na vitória da seleção.

A par de tudo isto, em Portugal inteiro não se ouvia falar de política. Tudo se calou. A vitória da seleção resolveria todos os problemas certamente. A alegria colmataria os possíveis problemas que surgissem e faria esquecer todas as desavenças. Mas era necessária a vitória.

Não aconteceu. Ronaldo não resolveu, a seleção não venceu e a vitória resumiu-se ao desespero de milhões que ansiavam por ela. Não podemos dizer que sobreveio a desilusão. Não. Não tivemos sorte. A incapacidade de meia dúzia foi notável perante a eficiência de um só. Nada que não se desconfiasse.

Arredado do mundial, Portugal terá de continuar o seu caminho e agora torcer por quem julgar que merece. Mas quem? Afinal as grandes selecções foram afastadas. Alemanha, Espanha, Portugal, Argentina. Atípico, mas real. Até Madona sofreu com a derrota de Portugal. Seguiu o jogo, minuto a minuto, jogada a jogada na esperança de uma vitória do país que escolheu para viver. Desiludida, manifestou-o publicamente. Nada a fazer. Mesmo parcialmente descontente com o que ainda não conseguiu ter por cá, pelo menos tem a seu favor o facto de a Câmara Municipal de Lisboa lhe ter cedido terrenos para parqueamento das quinze viaturas que lhe pertencem, pela módica quantia de 720 euros por mês. Ou seja 2,78€ por cada viatura por dia. Barato, não? Pois também não é para qualquer um. É que estas mordomias só são para quem tem muito dinheiro!

Pois, mas voltemos à ansiedade dos portugueses. À conta do futebol, tudo passou para segundo plano. Não ouvimos falar os governantes em questões de política interna. Só futebol. A comunicação social só fala e transmite futebol. E agora que a seleção foi afastada, há que realçar o feito de ter chegado aos oitavos de final. Os heróis nacionais foram recebidos de braços abertos no aeroporto de Lisboa. Claro que sim. Mereceram mesmo perdendo. No ar ficou a mensagem de que a seleção continua a ser a melhor e que daqui a dois anos ainda temos algo a dizer. Quem dera!

No meio de toda a confusão até a greve dos professores passou ao lado. Mas só por dois dias, porque ela continua esta semana, mesmo com os serviços mínimos decretados ilegalmente pelo ministro. Ofuscado pela seleção, também ele se esqueceu das leis e começou a esgrimir decretos ilegais em vez da bandeira nacional. Coisas de quem está confuso!

Agora que o futebol ainda tem quinze dias para arregimentar algumas atenções internacionais, cá por dentro também mexe com os sentimentos de muitos e continua a ser manchete de jornais. É claro que o Sporting está na frente ao ter já novo treinador e um Conselho Diretivo a trabalhar para reintegrar jogadores que se “ausentaram”. A ver vamos! As eleições serão um desafio. Mas também aqui, um sportinguista ferrenho quer criar um novo partido político. Outro? Que desespero! Já não bastava o futebol? Francamente!

Vendavais - Curioso é apoiar a mediocridade

No portão de entrada de uma Universidade na África do Sul foi afixada a seguinte mensagem para reflexão: “Para destruir qualquer nação não é necessário usar bombas atómicas ou mísseis de longo alcance. Basta apenas reduzir a qualidade da educação e permitir que os estudantes ‘cabulem’ nos exames.”

Nada mais verdadeiro. Bombas para quê? Somente para destruir, matar, arrasar. Mas a verdade é que as bombas matam quem não é culpado e destroem o que todos construíram para bem da comunidade. Arrasam sem nexo porque são obviamente incontroláveis os seus efeitos. E a isto assistimos todos os dias em vários países do globo e quase já achamos natural que assim aconteça tantos são os factos referidos diariamente pelos órgãos de comunicação social. E continuamos a perguntar, porquê e em nome de quê ou de quem se cometem tais atentados. As respostas já todos as sabemos e culpamos sempre os mesmos. Ao fim de tantos anos que progressos se obtiveram? Quer uns, quer outros. Nenhuns. Num mundo que aos poucos se despovoa em algumas regiões do planeta, estes factos acontecem frequentemente, mas os estudos mais recentes chegam igualmente à conclusão de que eles têm lugar em meios onde a educação e o desenvolvimento são efetivamente menores.

A falta de cultura, de educação, de progresso, pode levar a situações deste nível, onde a destruição e a morte surgem como uma vingança e, em muitos casos, em nome de um deus que de todo em todo, não parece um deus menor. Isto leva­nos a concluir que a base essencial de um povo, seja ele qual for, é a educação. Um povo educado é evoluído, é culto e tem obrigação de saber conduzir os seus destinos com discernimento. À razão, o que é da razão. Daqui a analisarmos o que se tem passado em Portugal no que se refere à educação e ao momento presente. Presenciamos esta luta inglória entre os professores e o ministro da educação por uma questão que já deveria estar resolvida há algum tempo. Após discussão dos pormenores gerais, parece que os mais pequenos não se ajustam e daí este braço de ferro em que pagam os alunos, os pais, os professores e o país. Ora as culpas são apontadas em todas as direcções como sempre. Ou são dos professores porque querem o seu tempo contabiliza do integralmente, ou são dos pais que não querem ir para férias sem a avaliação dos seus filhos, ou são do ministro que não cede às exigências dos sindicatos. Não vislumbro uma ponta de sensatez. A greve que está no ar, não vai servir a ninguém, muito embora os professores pensem ganhar alguma coisa com ela. Também os sindicatos pensam que vão tirar dividendos dela, mas não acredito. E o governo, não cedendo, também não fica bem na fotografia. Esta pseudo greve faseada, em que se põe o sistema a funcionar aos bocadinhos e aos empurrões, não acrescenta nada aos objetivos pretendidos. No final, nem o governo cede, nem os sindicatos ganham, nem os professores obtêm o tempo perdido. E porquê? Porque não há dinheiro. Diz o governo. E chega!

O colapso da educação, é o colapso da Nação. Todo o sistema necessita urgentemente de ser revisto e ajustado à nossa sociedade, integrada num amplexo maior e ao qual nos queremos ajustar. Caso assim não seja, arriscamo­nos a ter pacientes que morrem nas mãos de alguns médicos, edifícios que desabam às mãos de alguns engenheiros, a justiça que se perde nas mãos de alguns juízes e dinheiro que se perde nas mãos de alguns economistas.

Não queremos que a mediocridade invada a nossa sociedade. Queremos ter os melhores técnicos, mas para isso temos de ter a melhor educação. Não continuem a brincar com os professores. São eles que formam os melhores. Sem eles, a educação  simplesmente desaparece.

Vendavais - A semana das loucuras

Se todas as coisas corressem sempre tão bem como desejamos, tudo seria muito mais fácil e todos andaríamos muito mais felizes. Infelizmente não é isso que acontece.

Apontarmos um tempo, um momento, um dia em que tudo corre mal, até pode ser fácil, mas verificar que toda uma semana é profícua em acontecimentos que clamam a atenção de todos, é mais difícil. E é tanto mais difícil, quanto os acontecimentos são díspares na sua temática e opostos nos seus objetivos. A sequência dos acontecimentos ao longo da semana quase não deixou espaço para refletir adequadamente sobre cada um, mas deu-nos a sensatez de separar os que poderiam merecer mais atenção. Foi o caso de Alcochete, foi o Sporting, foi o casamento Real, foi a final da Taça, enfim! Claro que cada um teve a sua própria apreciação sobre cada um deles e certamente nem todos acabaram por chegar à mesma conclusão. É natural.

Aquela triste terça-feira de mau agouro e de presságio temeroso, não estava na mais leve esperança de alguém que pudesse acontecer neste país onde o futebol é rei, apesar de nem sempre ser apreciado como deve ser. Nada ainda está explicado. Nada ainda foi julgado. Ninguém ainda foi condenado. Afinal o que se sabe sobre o assunto? Que razões estão por trás deste atentado terrorista levado a cabo por duas ou três dezenas de energúmenos, contra jogadores de um clube nacional? Quem os mandou? Quem os instrumentalizou para este atentado? Quem é o culpado?

Se pensavam que isto não teria consequências estão enganados. Claro que elas são terríveis e ao longo da semana foram bem visíveis. Foi um corrupio de asneiras sequenciais que teve como figura principal o presidente do Sporting. Ele não teve o bom senso, se é que o consegue ter, de estar calado e se ter demitido dando a oportunidade de os sócios poderem escolher nova direção em tempo oportuno. Mas não teve esse discernimento. Durante toda a semana os jogadores ficaram confusos, sem saber o que deveriam fazer e com uma final da Taça de Portugal para jogar. Jogar! Jogaram, mas perderam. Felicidades para o Aves. Mas como haveriam de jogar estes homens agredidos fisicamente, feridos no amor-próprio, acusados pelo presidente, desmoralizados, sem treinar uma semana inteira e tendo somente como referência maior o seu próprio treinador que foi quase um pai para todos eles durante estes cinco dias? Jesus foi o seu único amparo. Que motivações deveriam ter eles para jogar? Pois se calhar até poderiam ter feito mais do que fizeram, claro. Mas não contaram com a força do Aves e isso fez a diferença. Perderam a Taça e perderam a última esperança de ganhar mais alguma coisa e de entrar na Liga Europa pela porta grande. Agora terão obrigatoriamente as eliminatórias. E o que virá daí?

Mas a semana teve também momentos mais alegres e um deles foi o casamento Real. Contudo, a loucura que o rodeou não foi menos intensa do que os outros acontecimentos. Ao longo da semana de tudo se falou sobre este casamento. Foi o desconhecimento do costureiro que fez o vestido da noiva, o costureiro que elaborou o vestido da mãe da noiva, como iria vestido o noivo, quem levaria a noiva ao altar, enfim uma panóplia de questões, que sendo menores, foram enaltecidas suficientemente pela comunicação social. E no sábado aí estavam as televisões de todo o mundo a transmitir o casamento do Príncipe Harry que até é somente o quinto na linha de sucessão ao trono! Para segundo lugar foi remetida a Rainha de Inglaterra que viu tudo passar-lhe ao lado. Para Megan Markel tudo foi novidade, mas não ensaiou bem o papel, embora isto não fosse propriamente mais um dos filmes em que participou ao longo da sua carreira. Seja como for, foi a protagonista e embora a mãe ficasse na sombra já o pai sobressaiu por motivos diversos. Mas que loucura a dos paparazzi comprados para justificar o que não seria justificável, mas que a providência divina acabou por castigar com uma intervenção de urgência que realmente o impediria de comparecer no casamento da sua filha! Só loucuras!

Volto, para acabar, à Taça de Portugal. Parabéns ao Desportivo das Aves. Foi quase humilhante ver a tristeza dos jogadores do Sporting depois de jogo. Mesmo perante o pior cenário que se imaginasse, nenhum deles equacionou a derrota com toda a certeza. E para BdC isso estaria fora do previsível e a vitória seria uma moeda de troca a jogar por ele na semana seguinte. Teve azar. Agora pode ser que caia na realidade e veja as aneiras que tem feito e se demita. Já é tempo. Chega de loucuras.

Vendavais - Quando cai o pano

A expressão é muito antiga e deixa sempre no ar, uma intriga, um enigma ou a descoberta de algo interessante. Ficar a descoberto nem sempre é bom sinal e quando o pano cai pode descobrir muitas coisas, agradáveis ou não, que estavam encobertas. Assim, nem sempre é desejável ficar a descoberto.
O pano encobre sempre alguma coisa ou alguém. Seja como for, a expressão é deveras interessante, independentemente do objetivo com que se aplique.
Esta semana finda, o pano caiu e deixou a descoberto uma série de coisas deveras desagradáveis. No centro está Sócrates e o PS. O pano que acaba de cair era imenso. Não cobria só Sócrates, se assim fosse não seria necessário ser muito grande, apesar de tudo. Sobre ele muita coisa está descoberta, mas muito mais continua a ser destapada. Sobre tudo o que tem vindo a público sobre o antigo primeiro-ministro, já muito se disse e até se julgou. Todos julgam, todos tecem críticas e opiniões. Haja liberdade! Nada foi admitido por ele que se tem limitado a negar tudo de que é acusado, mas também nada foi proferido com sentença definitiva. As coisas transitam em julgado quando é necessário e depois nada se sabe. Por parte do Partido Socialista, Sócrates não recebeu nunca o apoio que esperava, mas estava com essa esperança na manga, até porque, alguém adiantou que seria um trunfo para as eleições presidenciais. Possivelmente também ele esperava isso mesmo. Esperava. Mas o PS cansou-se e não aguentou mais. Com o desastre do ex-ministro da economia, o tal dos corninhos, e todo o drama que ficou a descoberto e que o liga ao BES e a Ricardo Salgado, o PS puxou o resto do pano que faltava cair. E todos ficámos a saber que o PS ficou envergonhado com as atitudes e trafulhices que se descobriram acerca de Pinho. A venda da casa de Lisboa por cerca de 2 milhões, a compra da casa em Nova Iorque por mais de um milhão e a nova vida que leva em Manhattan e na China, para além das ligações a Sócrates e a Ricardo Salgado, foram demais. A tudo isto juntaram-se as transferências de muito dinheiro para offshores. O PS não aguentou mais e deixou cair o pano de tanta vergonha que tinha e a que se expunha. Foi o mais ajuizado.
Depois do pano cair e já todo descoberto um e outro, também Sócrates, percebendo que todo o apoio que esperava lhe faltou, abandonou o barco e lançou-se a nado em direção a terra. Saiu do PS e caiu por terra todo o sonho que alimentou durante algum tempo de vir a ser candidato às presidenciais.
A verdade é que o Partido Socialista nunca se quis comprometer com a situação do antigo primeiro-ministro. Aliás Costa foi visitá-lo, lembramo-nos bem, quando já se lhe apontava o dedo por não o ter feito logo no início. Foi o último a ir até à prisão visitar o correligionário, como uma obrigação que se impunha e não um desejo que devia satisfazer. A partir daí, nada mais disse. Pronunciou-se agora depois de Sócrates dizer que ia sair do Partido Socialista. E pouco disse a esse respeito.
Mas o PS está ferido de morte. Não sei se consegue aguentar tanto desatino dos seus ex-ministros e mesmo dos atuais, já que alguns estão na porta de saída com tanta farpa que lhes atiram e podem ferir gravemente. Possivelmente o pano que acaba de cair ainda não destapou tudo.
O palco onde toda esta gente se movimenta e contracena, parece ser demasiado grande e isso permite-lhes uma movimentação extraordinária, tão grande que é muito difícil segui-los. Deste modo, mesmo com o pano todo aberto, eles conseguem fugir aos olhares de todos os que estão no recinto. No Teatro, assistimos a peças maravilhosas e conseguimos perceber e entender todas as movimentações dos artistas. Todos têm um papel primordial na trama. Normalmente gostamos de ver, de assistir e aplaudimos no final a enorme representação dos artistas. É normal que assim seja. E quando o pano cai, não fica nada a descoberto. A peça acabou e nós percebemos tudo.
Mas no palco onde se movimentam estes outros artistas, tudo é diferente. O pano caiu para descobrir o que não se devia saber. A peça não estava bem escrita ou era desconhecida. Nós não a conhecíamos. O mal foi o pano ter caído antes de tempo!