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Luís Ferreira

Vendavais: Quando se depenam frangos

As eleições europeias são já em Maio e, embora não pareça, mexem já e muito com os partidos políticos em Portugal. Uns querem ver nelas um teste, outros vêem somente um encargo e uma necessidade, porque se está na Europa. Para a Inglaterra, elas eram descartáveis, mas agora parece já não serem. Coisas do destino ou da má sorte. Lá como cá, também os partidos não se entendem muito bem.
Este ano, vive-se em toda a Europa, eleições para o Parlamento Europeu e preencher os lugares que cabem a cada país e a cada partido, com os deputados respetivos. É uma tentação, uma ambição e uma compensação. Os partidos tentam compensar os seus mais fiéis seguidores dando-lhes a oportunidade de não só representarem condignamente o seu partido e o seu país, mas também de ganhar uns cobres a mais do que ganhariam se por cá se mantivessem. Claro que estamos a falar de Portugal, porque em outros países isto não acontece, como é o caso dos países nórdicos onde certas mordomias como as que os deputados portugueses esperam, não existem. O trabalho é igual para todos, mas as ajudas, em todos os aspetos, praticamente não lhe são disponibilizadas. Eles que se desenrasquem. 
Tal como por cá, os deputados que para lá forem querem as mesmas condições de alojamento, de assistência e de ajudas às despesas, sejam elas quais forem. Ora assim é que é. Se assim não fosse, as tentações e ambições de pisar as alcatifas dos corredores do Parlamento, seriam muito menores. Mas estas eleições, independentemente disto tudo, servem também os interesses dos partidos, quanto mais não seja, para tirarem ilações do peso que têm, antes das legislativas que mais lá para o fim do ano, terão lugar cá dentro. Catarina Martins do Bloco já se adianta neste aspeto, dizendo que as europeias testam condições do próximo governo. Na realidade, ela ameaça o governo ao dizer que vai está lá longe o cheque da pensão, o recibo do salário, as condições da saúde, vai estar na sala de aula, nos transportes e nas condições ambientais e em todo o lado da nossa vida quotidiana. E continua afirmando, que estas eleições vão decidir as condições do próximo governo de Portugal e decidir se ele terá ou não, condições para investir, para defender quem trabalha e quem constrói este país. Pois é. A franga do Bloco, já canta de galo!
Por outro lado, Jerónimo de Sousa do PC, já se diz alvo de ataques, no meio de uma campanha para denegrir o seu apoio a uma solução governativa, bem como estar contra as medidas implementadas ao nível dos salários e dos impostos. Claro. É preciso ver de que lado deverá estar quando as legislativas ditarem quem vai governar. Será galo ou virará mais um frango?
E o PSD? Paulo Rangel que já está na Europa e vai continuar a estar, com todas as mordomias a que julga ter direito, vem afirmar que o PS está com medo e muito nervoso com tudo isto, especialmente o caso do preenchimento de lugares de governação com familiares. Na verdade, Costa mantém-se muito mais calado do que é habitual e com alguma razão. É desconfortável. Mas para Rui Rio, tudo isto se resolve com eleições. Dito desta forma, até parece que está muito seguro quanto ao resultado que o partido irá ter em outubro. Não cantes de galo Rui, porque podes muito bem ser depenado.
O mês de campanha que decorre até 26 de maio, poderá, portanto, ser muito do que disse, mas pouco do que se espera. Estas eleições não medirão muito do peso dos partidos, tanto cá dentro como lá fora, mas para os líderes serão um barómetro da sua ambição e da sua liderança. Claro que isto pode dar-lhes a força necessária para melhor enfrentarem as legislativas de outubro, mas não pensem que tudo é assim tão linear. Julga-se mais depressa o que se passa cá dentro do que o que se passa na Europa. Os portugueses deixam um pouco à margem dos seus interesses, o que se passa em Bruxelas. A comunicação trata de os informar e relevar os interesses do que é mais apetecível. E, neste aspeto, se for preciso depenar os deputados que por lá se pavoneiam, não pensa duas vezes. É tudo uma questão de informação. Por cá interessa a geringonça e o modo como se vai comportar até outubro. Costa, sem adiantar as certezas que parece por vezes ter, vai tentando ler nas entrelinhas dos parceiros, os interesses que querem ver resolvidos para poder apoiar soluções que a todos interessem. Mas sente-se ameaçado e muito, apesar de, no Parlamento, se erguer confiante e determinado nas opções que toma em nome do governo.
Pois é senhor primeiro-ministro. Pode ser, mas não pense que é por querer ser galo que também não pode virar frango e ser depenado quando menos espera.

 

Vendavais - A manifestação das vontades

As vontades são sempre de quem as tem e nunca de quem as quer resolver. É o que aconteceu com a manifestação dos professores neste fim-de-semana em Lisboa.

O Terreiro do Paço quase encheu com cerca de oitenta mil professores de todo o país que se juntaram para exigir ao governo o cumprimento do que está legislado. É uma luta de vontades. A que têm os professores e a que tem o governo. Uns querem, outros nem por isso. É só uma questão economicista, o que não é de somenos convenhamos. Mas isso não justifica a atitude de irreverência com que o governo se apresenta nas supostas negociações, onde nada se negoceia.

Muitos meses depois do início destas negociações entre o governo e a plataforma sindical, tudo permanece na mesma, o que equivale a dizer que nem o governo adiantou qualquer solução, nem a plataforma conseguiu algum acordo de princípio. Simplesmente nada.

Por mais vontade que a plataforma sindical tenha e por mais professores que consiga juntar e apresentar em manifestação, não consegue demover a vontade do governo que é só uma: não dar nenhum tempo de recuperação aos professores. As desculpas são sempre as mesmas e todos as conhecemos. Não adianta.

O Presidente da República perante a teimosia do governo, resolveu desatar o nó antes que fosse tarde e promulgar o decreto que recupera quase três anos dos quase dez perdidos. Nem todos ficaram contentes. Sindicatos e professores. Esta janela aberta por Marcelo, poderia ser uma lufada de ar para que as negociações adiantassem soluções num espaço de tempo aceitável, mas o governo nem isso quer aceitar. Não adianta qualquer possibilidade de resolução do problema. Vontade férrea de quem não tem soluções nem quer resolver coisa alguma.

A ex-secretária do PS Ana Benavente já avisou que o governo vai ter de pagar a fatura por esta falha enorme. Se nos lembrarmos bem, há onze anos, a greve dos professores desgastou o governo de Sócrates e contribuiu para o seu descalabro. O curioso de tudo isto é que passado tanto tempo ainda não se resolveu a questão dos professores. Como é possível?

As greves são armas de dois gumes. Cortam ou agradam em ambos os lados. Para o governo, podem ter interpretações variadas sendo uma delas, talvez agradável, que é o facto de poupar dinheiro já que não paga aos professores em greve os dias em que estas se realizam, com exceção dos fins-de-semana, claro. A outra, menos agradável, é que elas fazem mossa no governo e na opinião pública e pode ter um peso enorme em ano de eleição, como este. Que professor vai votar no governo que o está a prejudicar? Para os professores, as greves são um trunfo para mostrar o seu desagrado para com o governo, mas se este não paga os dias de greve, os professores saem sempre prejudicados. Fazer greve às avaliações, às aulas ou aos exames, não adianta. Perdem dinheiro e não conseguem nada. E não conseguem nada porque o governo pode decretar serviços mínimos e lá estão os professores obrigados a cumprir o que o governo pede. O que adiantam? Quase nada. O que fica é mera opinião pública e esta ferida de coerência já que muitos dos encarregados de educação não dão razão aos professores. Mas a questão é mais profunda do que isso. Eles não dão razão aos professores porque não podem ficar com os filhos em casa e não sabem o que fazer com eles. É que se estiverem na escola, estão arrumados e despreocupam-se durante o dia todo. Alguém trata deles! Quem? Os professores, claro. Vontades diferentes, mas relevantes. Presos por ter cão e presos por não ter.

Uma proposta da plataforma sindical apresentada no Terreiro do Paço para que o governo ouça bem, foi de greve ao arranque do ano letivo. É um momento crucial e pode ter um impacto enorme já que as eleições estão à porta e Costa vai ter de pensar muito bem se quer correr riscos desnecessários. Se conceder aos professores alguma recuperação de tempo de serviço e agendar a recuperação restante ao longo de mais dois ou três anos, ele ganha as eleições facilmente. Se não houver nenhum acordo, o risco é muito maior. Por um se ganha e por um se perde.

Outra proposta é greve geral a 23 de março. Será que vale a pena? Em tempo de Páscoa, as sensibilidades são outras e bem diferentes. Férias à porta e descanso à espreita, não são grandes motivações para quem agora acabou de se manifestar na capital sem aparente resultado. Mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Pode ser que o desgaste que sofreu Sócrates atinja agora Costa.

Pois perante tantas vontades antagónicas, não será fácil resolver o problema dos professores, mas mais do que isto é difícil resolver a questão da Educação em Portugal e isso é trabalho do governo, mas não de qualquer um. Terá de ser um governo com os pés assentes na terra e que saiba o que é ensinar para o futuro, com bases sustentáveis, com saber formado e adquirido, que permita aos jovens de hoje serem verdadeiros homens de amanhã. Não enganemos ninguém.

Vendavais … e nela mando eu

O Mundo acabou de homenagear a mulher num dia simbólico para o efeito. Ótimo. Quando existem dias para comemorar tantas coisas e algumas delas dispensáveis, seria péssimo que não se dedicasse um dia especial à mulher. E não me venham dizer que sem os homens as mulheres não existiam e vice-versa. Machistas e falsos moralistas não fazem História.

A mulher desempenhou sempre ao longo da História um papel importantíssimo. Esposa e mãe, rainha e governante, aliada e até moeda de troca para os grandes Tratados de Paz e harmonia entre Estados.

Desde os tempos pré-históricos que ela foi olhada com importância, porque fazia crescer o grupo e quanto mais elementos este tivesse melhor se podia defender dos outros grupos, pela cobiça, inveja e disputa entre os elementos do grupo, mas também com desdém quando era relegada para um segundo plano, cabendo-lhe tarefas consideradas próprias das mulheres. Mas na Grécia Antiga não era muito diferente num regime onde se apregoava a democracia e a igualdade. Aqui valia pouco na sociedade.

Foram precisos séculos para que a mulher tentasse conquistar um lugar digno na sociedade mundial. No início do século XX iniciou-se essa luta pela afirmação da mulher com Emmeline Pankhurst na Inglaterra. Nascia o movimento feminista que se iria alastrar por todo o mundo, embora de uma forma bastante irregular. A mulher era considerada somente como mãe e esposa, a cuidadora do lar, a progenitora.

A primeira Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial vieram dar-lhe um lugar merecido, quer no mundo do trabalho, quer na família. Desde então vemos a mulher a ocupar o lugar do homem em muitas empresas e a ter um papel de algum relevo até mesmo na política, onde os homens sempre pontuaram.

Mas ser mulher é muito mais do que tudo isto. Não é só mais uma peça de uma engrenagem enorme. A mulher tem de ser vista como mulher e não como uma peça sobresselente. E ao ser descortinada como um ser feminino com todos os atributos que lhe são devidos, descobrimos facilmente os problemas que muitos querem ignorar. A solidão atroz a que muitas são devotadas, não só pelos maridos, mas também porque estão verdadeiramente sós. Não têm família porque não conseguiram casar ou porque a família simplesmente não existe. Abandonadas, vêem-se num mundo de predadores e o esconderijo é uma das soluções para escapar. A infertilidade que atinge muitas mulheres que gostariam de ser mães, coloca-as numa zona desconfortável, porque os maridos as culpam da culpa que não têm. Daí até as agredirem por essa culpa ou porque essa será a desculpa para todas as agressões, é um passo muito pequeno.

Não será um problema somente atribuído à sociedade portuguesa, aquele com que nos deparamos hoje em dia, o da agressão gratuita. Quando nos informam que só este ano já foram assassinadas mais de uma dezena de mulheres sujeitas a violência doméstica, temos forçosamente de parar para pensar e pensar profundamente, pois algo está muito mal na nossa sociedade do século XXI.

Portugal sempre foi tido como um país pacífico, conservador e acolhedor. Pois toda a agressividade que está patente neste ranking, não abona nada em nosso favor e desvirtua completamente os adjectivos que nos têm sido atribuídos.

A mulher não pode ser um bombo de festa onde o homem descarrega todo o seu mal-estar. As razões que vêm a lume para justificar toda a série de violações e assassinatos de mulheres, são na sua grande parte, o justificativo do falhanço dos homens ao não saber lidar com os seus problemas familiares e mesmo profissionais. Isto é inadmissível.

Por outro lado a justiça pouco faz para resolver o problema. A legislação é muito dúbia e a sua aplicação divergente. Mas acima de tudo isto o que não existe é consideração. Todo o ser humano merece ser considerado e se a mulher é tida como mais fraca fisicamente, e só aqui, não é razão para o homem abusar da sua força e descarrega-la onde a fraqueza abunda para que possa vangloriar-se da sua ação. Fraqueza é o homem usar a sua força para castigar a mulher indefesa para justificar o seu próprio falhanço e incapacidade. Pior ainda é matar. Matar a esposa, a mão dos seus filhos e muitas vezes matar a sua própria mãe. Simplesmente inqualificável. O velho ditado sobre a mulher que dizia “Lá em casa manda ela e nela mando eu” tem de ser alterado urgentemente em nome do feminismo e de uma sociedade mais justa e igualitária. O homem que pense a sério qual o seu lugar nesta sociedade moderna, antes que não tenha lugar certo.

Vendavais - À deriva

Atravessamos tempos difíceis indubitavelmente. Por todo o canto e esquina deparamos com situações tão inusitadas e exasperantes como incríveis e aterradoras. Temos a impressão de que a humanidade corre sem rumo, fugindo do que não consegue solucionar e com medo de que algo terminal acabe efetivamente com a última réstia de esperança que lhe pode possibilitar a salvação.

Os acontecimentos que têm marcado este mundo nos últimos dias, tanto por cá como por lá, são tão exasperantes quanto aberrantes. Sabemos perfeitamente que os superiores interesses políticos e económicos, comandam desesperadamente os destinos das nações e dos governos, mas quando esses interesses se sobrepõem a um povo, a uma necessidade global de sobrevivência e colidem com uma ajuda humanitária que a comunidade internacional se dispõe a conceder, é simplesmente inqualificável. A máxima “antes quebrar que torcer” está aqui bem exemplificada. Não interessa a Maduro e ao seu governo se muitos venezuelanos morrem de fome e se nos hospitais há falta de medicamentos. Não interessa se não há dinheiro para comprar bens alimentares, até porque esses bens não estão à venda, também porque não há dinheiro para os adquirir. O que interessa é fazer frente a tudo e a todos em nome de uma democracia que não existe, em nome de um socialismo que nada mais é do que uma ditadura militar. O chamamento para uma realidade que lhe poderia render votos, não interessa. Rodeado de capangas militares, bem pagos e a quem nada falta, vai cantando vitória e ameaçando quem se lhe opuser. Até quando? Guaidó talvez tenha perdido uma batalha este fim-de-semana, mas certamente ganhará a guerra. Os venezuelanos ficaram a perder. Não tiveram acesso aos medicamentos importantes para tratar os doentes nos vários hospitais que anseiam por eles, adiando o sofrimento e a morte, nem aos bens alimentares para matar a fome que os atormenta diariamente. Impedir uma ajuda humanitária e destruir camiões de mantimentos é crime contra a humanidade. Que sanções vão ser aplicadas? Maduro é, neste momento um governante a prazo e ele deve saber que os ditadores têm os dias contados. Resta saber quantos mais lhe restam. Entretanto anda à deriva!

Também à deriva anda Costa cá por dentro e lá por fora. Com eleições à vista, accionam-se os motores para uma campanha diversificada. Para a Europa e para o Parlamento, o que conta é obter votos e quantos mais melhor. Espanha recebeu-o de braços abertos como a estrela salvadora para o PS espanhol e Costa discursou num arremedo de catalão, dizendo o que eles queriam ouvir, mas também para que os portugueses soubessem ao que ia e ao quer para cá. Campanha! A última remodelação ministerial dá bem conta disso mesmo. Foi uma promoção completa. Uns vão para a Europa onde se ganha bem e se passeia muito e outros de secretários vão a ministros sem ninguém saber quem são e o que fizeram. Não interessam perfis, talentos e percursos. O que é preciso é construir uma espécie de árvore genealógica, onde todos se relacionam e derivam uns dos outros e todos acabam por ter um mesmo interesse ou objetivo. A única diferença é que estes têm a cara desconhecida e isto acaba com a repetição dos ministros em pastas diferentes, mas acaba por ser quase uma oligarquia. Isto é muito mau. Vamos a ver o que tem a dizer a Catarina e o Jerónimo depois das eleições. Perante a inépcia dos outros partidos do espectro político nacional, parece-me cada vez mais certo que Costa ganhará este desafio. Resta saber a que custo. No entanto, parece-me que a Catarina anda à deriva também, empurrada pelos elementos mais conservadores. A vida custa!

No meio de toda esta confusão inusitada e complexa, faltava somente o absurdo. Como qualificar alguém que deixa uma fortuna de milhões a uma simples gata? Francamente! Sem dúvida inqualificável será a atitude deste senhor Lagarfeld que ao morrer deixa uma fortuna de 170 milhões à sua gata de quatro patas. Outra parece impensável! Aos olhos da justiça, não sei se isto é possível. Depende, obviamente, do país e das leis de cada um, mas um animal ser herdeiro de uma tal fortuna, parece simplesmente insano. Que deixasse alguém para cuidar da gata enquanto vivesse, seria o mínimo aceitável e para isso bastavam alguns milhares de euros, pois comer, lavar e asseio da bicha, custa dinheiro e pagar a quem o faça, igualmente. Até aqui é compreensível a deveras aceitável. Nada mais. Quando temos crianças a morrer à fome em países africanos e asiáticos, completamente desnutridas e sem medicamentos, ver um sujeito milionário a deixar a fortuna a uma gata, faz-me acreditar que a humanidade está a ficar louca. Exemplos destes são simplesmente incríveis e aterradores. O futuro é ao virar da esquina, mas parece-me que ainda andamos todos à deriva. O melhor mesmo é encontrar o rumo certo e rapidamente.

 

Vendavais - Aliança em terras improváveis

Há países onde proliferam os partidos políticos como se fossem cogumelos silvestres. Não entendo se acontece por vontade própria, por apetência política ou por sede de poder. Seja qual for a razão, é certo que ao acontecer esse alfobre político, todos se deparam com uma parafernália de escolhas que podem confundir o mais comum dos mortais que têm intensão de descarregar o seu voto no dia em que são chamados a fazer a escolha democrática a que os gregos nos ensinaram há muitos séculos.

Portugal não foge á regra. Habituados que estamos a referir somente os partidos que têm assento na Assembleia da República, quase nos esquecemos dos que não têm votos suficientes para eleger um único deputado. E por isso mesmo, perdem-se muitas centenas ou milhares de votos. Nós não somos muitos votantes e talvez por isso mesmo, não devêssemos desperdiçar os votos que pomos nas urnas com as melhores das intenções. Enfim.

Se o cenário que se apresenta cada vez que há eleições, em termos de partidos políticos, é já desconcertante, não se entende por que razão os partidos que mais votos conseguem, acabam por se fraccionar, dividindo os votos que seriam muito úteis no apuramento final, para os principais partidos. Exemplos desta atitude são vários se nos lembrarmos da cisão do PS há uns anos, do aparecimento do partido de Eanes, da cisão da ala esquerda do PS e do aparecimento do BE, enfim, uma série de divisões que em nada deram além do seu próprio desaparecimento.

Pois, agora, Santana resolveu desligar-se do PSD que ajudou a fundar, e formar um novo cujo nome é bem significativo: Aliança. Só e sem nada mais. Simplesmente Aliança. Tivemos neste fim-de-semana o seu primeiro Congresso. Aconteceu. Em Évora.

Évora! Não sei qual a razão subjacente à escolha desta cidade, mas seja qual for, o certo é que assistimos a um Congresso com muitos congressistas. Um plenário repleto de interessados em saber as linhas gerais com que têm de se governar daqui para a frente e saber o que é que o líder tinha para dizer neste arranque mais a sério para chegar às eleições legislativas deste ano.

Independentemente do peso político que queiramos dar às terras onde esperamos os votos, o certo é que em terras alentejanas, os votos são mais à esquerda do que ao centro ou à direita. Então por que razão Santana escolheu Évora? Pois se quer uma Aliança, terá de contar com todos e o que ele acabou por dizer no Congresso foi isso mesmo, ou quase, já excluiu qualquer aliança com Costa. Mas se com Costa não faz aliança, também não a fará com os comunistas ou com os bloquistas. Conta com quem? Com o antigo partido, cama dos seus votos, e com os centristas, a almofada dos seus interesses. De Évora e dos comunistas é muito improvável um resultado de tal modo satisfatório que agrade a Santana.

Vamos a ver o que daqui sai, mas de uma coisa eu tenho a certeza. Os votos que forem depositados nas urnas direccionados à Aliança, serão votos que irão fazer uma diferença imensa ao PSD no apuramento final. Não vejo vantagem nenhuma na criação de mais um partido, primogénito do social-democrata e cujo fim será o seu desaparecimento a curto prazo tal como aconteceu aos outros. Voltarão os filhos pródigos?

Neste Congresso duas coisas ressaltaram: uma foi a apresentação do programa e das linhas de atuação feita por dois jovens, uma advogada e um professor universitário, a quem falta ainda o traquejo destas andanças, mas que Santana quis afirmar como seus peões de brega e a outra foi a enorme quantidade de congressistas mais velhos, alguns com idade para se reformarem das lides políticas. Foi um Congresso às avessas! Mas como poderia ser de outra forma? A verdade é que Portugal é um país envelhecido e a juventude está desiludida com a política e com os políticos, para não dizer, mais drasticamente que já quase não há juventude neste país. É verdade, embora nos custe admitir isso. O interior está desertificado e as principais cidades viram muita da sua juventude sair à procura de melhores oportunidades pelos quatro cantos deste mundo global.

Claro que assim não poderia Santana ter um pavilhão cheio de juventude, aliás, juventude que não se identificaria nem com ele nem com a sua política que nada mais é do que um costilo bem armado à espera que o tralhão caia. Cairá? Penso que não, mas há sempre quem seja enganado ou se deixe enganar pela formiga de asa!

A verdade é que se deve dizer que foi preciso muita coragem para fazer um Congresso deste partido em terras comunistas, improváveis para uma Aliança, mas onde Santana espera certamente conseguir elos para reforçar a mesma Aliança. Não será fácil, mas afinal não isso que ele espera? Uma Aliança! Seja com quem for, mas que dure e magoe os que o fizeram afastar-se do tronco materno.

Vendavais - Os rios nascem no mar

palco redondo que gira e gira sem parar, parece que tudo está a girar ao contrário. Sem desprimor para a ordem natural que tudo comanda, por vezes temos a sensação de que realmente andamos ao contrário. Há qualquer coisa que nos leva a pensar que o que acontece não deveria acontecer deste ou daquele modo, o que nos leva a concluir que estará errado o que realmente se passa.

Desde há muitos séculos que falamos e admitimos que a democracia é o sistema que mais se aproxima da natural fluência de vida que aos humanos é atribuída. Claro que antes de os gregos terem experienciado e admitido a democracia como o regime que menos permitia aos governantes acessos à corrupção e à eternização do poder, outros regimes existiram e a humanidade não desapareceu e os governos não deixaram de exercer o seu poder executivo. Mas depois de tantos séculos e tantas lutas para conseguir afirmar a democracia como regime mais justo para governar em todos os sentidos e em todos os países, como é que ainda há governantes que não aprenderam nem o significado dessa palavra nem a necessidade da sua aplicação? Muito pior que isso é o facto de chamarem regime democrático a regimes puramente ditatoriais onde só um comanda, só um decide, só um governa.

O mundo está à beira de um conflito enorme se ninguém for capaz de explicar devidamente a Maduro o que significa democracia. Como é possível no século XXI um governante querer eternizar-se no poder e matar à fome os seus súbditos em nome do que chama democracia?

Também não se entende muito bem como é que tantos apoiam o regime, mesmo sabendo que não lhe darão o dinheiro para comprar o pão no dia seguinte. Será por medo ou convicção? Os que imbuídos de uma vontade férrea de mudança, se atrevem a mudar alguma coisa em nome da democracia, são considerados fascistas, capitalistas e imperialistas. Maduro estudou bem estas palavras, mas porque lhe interessava. Elas permitem-lhe ficar no poder e mudar as regras do jogo quando e sempre que quiser. Mas o peso da espada que pende sobre ele, pode cortar-lhe a cabeça de um momento para o outro e ele ainda não pensou nisso.

O movimento iniciado por Guaidó pretende para a Venezuela a mudança que todos esperam e a dignidade que todos os venezuelanos merecem. A transição é necessária e urgente, mas o que internamente é sentido de uma forma, para a comunidade internacional é diferente, principalmente para os países que ainda não aprenderam corretamente o significado da palavra democracia. Isto pode levar este mundo a girar de forma contrária, o que será desastroso.

Perante esta manifestação de oposição ao poder de Maduro que todos afirmam ser ilegítimo e fraudulento, logo se perfilaram países a defender o ditador e outros, mais politicamente cuidadosos, a exigir eleições antecipadas e sem cariz fraudulento. Aos poucos, por causa de um ditador, o mundo divide-se nas suas opiniões. E se formos a ver quem está de um lado e de outro da barricada, vemos que de um lado estão países como a Rússia e a China onde as ditaduras permanecem a seu bel-prazer, e do outro os países da União Europeia e os EUA. Afinal parece que nem todos os países sabem o significado real da democracia e como aplicar o regime que a ela subjaz. É verdade que da legislação internacional ressalta o facto de que nenhum país se pode ingerir no modo de governação de outro a não ser em casos muito específicos e urgentes. Será que este não é um desses casos? Não se entende de facto como é possível permitir que um país como a Venezuela que tanta riqueza tinha, tenha perdido tudo a favor da ganância e incoerência política de governantes como é o caso do atual.

O mundo está suspenso das movimentações que se irão seguir e esperemos que sejam tomadas com base na democracia, mas daquela que não conhece Maduro. Se ele anda ao contrário, o mundo terá de girar de outra forma. A verdade é que os rios não podem nascer no mar!

Vendavais - Mais um tiro no pé

É costume dizer-se Ano Novo, vida nova, mas nem sempre assim sucedem às ambições que legitimamente se têm. Contudo, há sempre a tentação de mudar algumas premissas de silogismos pouco lógicos.

Quando há alguns meses houve eleições no PSD e se perfilaram Rio e Santana, eu disse que era errado o risco que Rio corria e que melhor seria deixar Santana assumir uma vitória momentânea, deixando sempre o partido em situação de recuperar com mais certezas, um resultado favorável. Tal não aconteceu, como se sabe e, as consequências foram as que sabemos. Santana com quase 46% de votação achou-se no direito de fazer valer o seu valor e saiu do PSD para fazer a Aliança. Perdeu o PSD. Perdeu e continua a perder. Um tiro no pé.

Rui Rio ao ser eleito neste confronto amigável, levou os seus apoiantes a esperar dele muito mais do que tem mostrado, arrastando o partido para um lamaçal tremendo onde, aos poucos, todos se estão a enterrar.

As sondagens dão uma baixa considerável ao PSD o que leva a outras movimentações dentro do partido. O medo do afundanço é assustador e, antes que seja tarde, logo se estão a perfilar candidatos para a liderança numa tentativa de salvação rápida. É verdade que Rui Rio gorou as espectativas dos apoiantes e até dos que não o são. Parece-me que ele mesmo falhou consigo próprio. A verdade é que não conseguiu afirmar-se nem como líder nem como oposição ao governo. Não se vislumbram soluções. Mas também é verdade que não teve muito tempo para marcar um ritmo e descompassar o governo. De qualquer modo, até parece, em determinadas ocasiões, querer aliar-se ao PS, levando algumas soluções a afastarem-se da geringonça, encostando-se deste modo a um PS que está cada vez mais forte e afirmativo.

Estamos a meses de umas eleições e a sensatez diz que não se pode brincar nem com os eleitores, nem com os objetivos pessoais que aparecem só em tempos conturbados. Montenegro, que não quis assumir ser candidato para enfrentar Rio e Santana, vem agora desafiar Rui Rio, numa investida despropositada e sem assumir riscos, arrastando o partido para um desgoverno e desorientação interna assustadora, correndo sérios riscos de descer para níveis nunca antes atingidos. Neste momento o PSD já desceu 50% em relação ao que já conseguiu quando foi governo, mas esses tempos servem só para satisfazer a memória.

Perante este descalabro interno, resta a Rui Rio afirmar-se através do Conselho Nacional e deixar Montenegro a queixar-se com dores de mais um tiro que deu no pé. É que não há possibilidades de levar o partido para eleições internas neste momento quando há eleições nacionais a alguns meses de distância. Seria a maior irresponsabilidade jamais praticada pelo partido social democrata! Deste modo não se auguram tempos fáceis para o PSD e seus supostos líderes. Mas a Rui Rio falta-lhe o poder da liderança. Demasiado mole, diria o povo.

No meio do que se diz e não diz, lá estão os velhinhos do Restelo de quem o partido nunca se conseguiu desprender e que estão sempre a dar palpites. Os antigos barões não se desmarcam nem se desligam do partido. Vão dando opiniões e até são ouvidos, mas não seguidos. Isto leva-nos a concluir que o PSD não conseguiu ainda arranjar personalidades de nomeada que se afirmassem partidariamente de modo a conduzir o partido a praias serenas e seguras. Cavaco só houve um e com ele alguns foram formados e foram vistos num rodopio fantástico na governação, durante dez anos. Acabaram. Passos tentou, mas as condições não lhe foram favoráveis. Acabou. Santana, tentou, mas também falhou e foi embora. E agora?

Face a este cenário, quem se pode rir um pouco é realmente Santana Lopes que já chamou a terreiro os partidos da direita para se unirem após eleições para formar governo. Claro que ele está a contar com os votos divisionistas que a Aliança irá obter e que poderão equivaler aos que o PSD irá perder com toda esta balbúrdia interna. Mas para que isto aconteça serão necessários mais cerca de 700 mil votos. Onde estão eles?

Com eleições à porta e com este desacerto do PSD, Costa e o PS respiram um pouco de alívio. As sondagens são-lhe favoráveis e o mais certo é ganharem as eleições. Resta saber se Costa terá de aguentar com o PCP e com BE ou se seguir a batuta de Rio se coligar ao PSD ou ainda, se a direita coligada com a Aliança conseguirá formar governo em mais uma geringonça à direita. Tudo são possibilidades já que não vislumbro uma maioria absoluta para o Partido Socialista.

Seja como for, Montenegro acabou de dar mais um tiro no pé e arrastar o PSD para um buraco demasiado profundo. Resta saber se vai conseguir sair de lá rapidamente.

 

Vendavais: As falsas promessas

Na falsa educada utilização promíscua das palavras, todos acabam por adiantar algo em que talvez gostassem de acreditar, mas que no íntimo do seu ser, não acreditam ser possível, a não ser no vão contentamento de quem as ouve. Sempre foi assim no deslizar do tempo incomensurável e continuará a ser no que está para vir.
A despedida do ano que agora chega ao fim faz-nos desejar imensas coisas boas. Somos demasiado egoístas ou gananciosos. Deveríamos ser mais comedidos e desejar simplesmente um novo ano com saúde e paz e ficar por aqui. Só isto. Mas é impossível porque queremos tudo e acabamos por cair nos desmandos tremendos que nos levam aos abismos mais profundos. Exageros. Nada de novo. A ambição é própria do homem e a parcimónia raramente faz parte do seu comportamento habitual. Novidade é, ou talvez não, quando para conseguir esses desejos se promete muita coisa em troca, na firme convicção de que nunca vão passar de vãs promessas.
Antes do ano acabar tinha que ser aprovado o Orçamento de Estado para o próximo ano, como é normal, e ser homologado pelo Presidente da República, a fim de ser implementado a partir de janeiro. Discutiram na Assembleia todos os requisitos necessários a esse objetivo e os partidos políticos assumiram as suas responsabilidades tendentes à aprovação em causa. No meio desta discussão, bailava um decreto promessa antigo do governo sobre a contagem do tempo de serviço dos professores a ser implementado a partir de janeiro de 2019, após acordo com os sindicatos respetivos, mas que estava incluído no Orçamento, como sabemos. Estava. Antes da discussão do orçamento o governo tornou bem claro que isso não iria acontecer e fez uma proposta de contar somente dois anos e nove meses e alguns dias. Seguiram-se greves e negociações a par da intransigência do ministro da tutela. Nada se alterou.
Aprovado que foi o Orçamento e perante a teimosia do governo em apresentar ao Presidente da República o tal decreto de conceder apenas dois anos e nove meses aos professores, esperaria certamente que Marcelo o aprovasse e tudo ficaria resolvido. Mas não. Marcelo não só não aprovou como remeteu para nova discussão toda a problemática da contagem a ser cedida. Teremos assim a continuação da saga que já tem algum tempo e muita discussão sem soluções à vista. 
Quando o governo dava os primeiros passos nos meandros ministeriais, prometeu tudo e mais alguma coisa para se poder manter em exercício. Agora que já está a ver uma luz ao fundo do túnel, que é como quem diz eleições e a possibilidade de se manter nos gabinetes, puxa dos galões da teimosia e arroga-se da importância necessária para desdizer o que disse e faltar às promessas proferidas. Não está à espera do reverso da medalha!
Se os meus alunos me respeitam, por que razão não me há-de respeitar o governo? Pois bem. Vamos fazer uma proposta aos senhores ministros. Todo o tempo que têm de trabalho não contará nem como tempo de serviço nem para a reforma. Ficamos quites. Será que aceitam? Se os professores podem ficar sem quase dez anos de serviço, como se não tivessem exercido a sua profissão, então eles também podem ficar sem essa equivalência. Que percam todas as mordomias que têm e as regras especiais que os envolvem nos meandros e corredores do poder e vamos ver se aceitam ficar sem tudo isso. E nós não estamos a fazer promessas! São meras propostas. Aceitam? Claro que não.
Constatamos deste modo que as promessas têm sempre uma razão de ser, nem que não seja mais que uma simples promessa para atingir alguns dividendos imediatos, como foi o caso. A verdade é que as promessas ficaram, mas apesar de terem atingido um objetivo de curto prazo, terão de ser renegociadas, custe o que custar. Mas como este ano de 2019 tem eleições decisivas para o governo e para o partido socialista, as negociações poderão ser mais fáceis. No entanto, também se pode dar o caso de o partido socialista estar tão convicto da vitória que não vai arredar pé da sua promessa inicial e arrastar o caso até às eleições. E a ser assim, só um milagre de S. Marcelo pode resolver a contenda. 
Para já, resta-nos despedir de 2018 com um ligeiro amargo de boca e com a esperança de em 2019 os professores terem, não uma falsa promessa, mas um entendimento razoável que lhes permita reaver o que lhes foi tirado indevidamente.
Certo é que fica no ar a promessa dos professores de continuar a luta para adquirir o tempo perdido. O governo terá de enveredar pelo diálogo e pela negociação e ver se assim consegue tirar dividendos políticos em ano de eleições. Como diz o povo, assim como assim, as promessas são sempre falsas! Viva a esperança que é a última a morrer.

Vendavais - Tudo é uma questão de política

Numa época em que deveria prevalecer a sensatez, a paz, o amor e a amizade, eis que nos deparamos com a agressividade, com a loucura, com o fanatismo, com a insensatez e com a guerrilha fortuita.

Um pouco por todo o lado levantaram-se as manifestações, as greves, as ameaças, os tiroteios e as mortes sucedem-se numa injustiça incontida como se o preço da vida fosse comparável ao de uma alface que se adquire no supermercado da esquina. Em Estrasburgo um lunático que ainda acreditava que do outro lado tinha à sua espera uma dúzia de virgens, leite e mel para amaciar as dores da passagem, acabou por matar 4 pessoas e ferir catorze que, num momento de lazer, apreciavam o mercado de Natal da cidade. Acabou morto, pois outra coisa não seria de esperar perante tais atrocidades contra quem nem sequer conhecia e nem era culpado da sua loucura. Nem a época natalícia conseguiu amaciar-lhe a alma terrorista de infiel!

No Reino Unido a moção de censura imposta a Theresa May foi uma dura prova para provar coisa nenhuma, a não ser que ela era e continua a ser contestada como governante devido ao facto de ter engolido sapos enormes. Na verdade, ela que sempre foi contra a saída do Reino Unido da União Europeia, teve que enveredar pelo caminho inverso e defender a saída após um referendo que lhe saiu muito mal. O acordo conseguido não satisfaz os ingleses. Conseguiu ultrapassar a moção de censura, mas não conseguirá sair airosamente de toda a confusão, até porque o Parlamento irá impor-se e acabará por derrubar o governo e exigir novo referendo. E a ser assim, o Reino Unido dificilmente sairá da União Europeia. Isto será bom para os ingleses, para os irlandeses e para os europeus incluindo especialmente, os portugueses. A comunidade portuguesa no Reino Unido é grande e necessita de segurança quer no trabalho, quer nas condições que a União permite e impõe. Promessas leva-as o vento.

Voltando a França deparamos com as manifestações dos coletes amarelos. Nas ruas, acompanhados de violência, as manifestações que deveriam ser pacíficas, transformaram-se em loucuras terríveis e quase numa batalha campal que fez lembrar Maio de 68. Mas o que estavam a fazer os coletes amarelos que não eram amarelos e que se aproveitaram da onda de manifestação? Aproveitaram para incendiar a multidão contra tudo e todos e afirmar uma direita extremista que nada tinha a ver com os verdadeiros coletes amarelos. Há sempre quem se queira aproveitar de alguma coisa que outros fazem. Quem não pode aluga!

No entanto, a onda amarela parece querer espalhar-se por toda a Europa. Os países que estão a atravessar dificuldades económicas e sociais, estão a aceitar a entrada dos coletes amarelos para, dentro desta onda, se espraiarem pelas areias das injustiças e ganharem terrenos firme. Portugal está dentro dos países que querem vestir de amarelo. Haverá aqui alguma incongruência? Então num país onde tudo vai bem, onde a economia está a crescer, onde o Orçamento foi aprovado e traz benefícios para todos, um país que até as agências de rating classificam como estável e a recuperar, será necessário vestir de amarelo e contestar alguma coisa? Será?

Bem, se calhar estamos a esquecer alguns pormenores. De facto, estou a lembrar-me da greve dos estivadores que quase levavam ao fecho da fábrica de Palmela, das demissões no hospital Dª. Estefânia em Lisboa, da greve dos enfermeiros que acabam de adiar 5.000 cirurgias a nível nacional, da greve dos juízes que arrastam os processos sine die pelos tribunais, da greve anunciada pelos professores que não vêem as promessas cumpridas e outras tantas injustiças e falsas promessas deste governo que prepara já as eleições do ano que aí vem. Afinal, parece que será necessário vestirmos um colete amarelo e erguer a voz, pois será a única maneira de nos fazermos ouvir todos. A verdade é que alguma coisa tem de mudar.

É pena que em tempo de paz se faça guerra. Que em tempo de amor se criem inimizades. Que em tempo de entendimento se agrida o próximo. Quando apelamos à justiça e ao bom senso, fazemo-lo com a sinceridade com que queremos o seu cumprimento, nunca com a esperança de enfrentarmos a loucura de um fanatismo absurdo, a irreverência de políticos cegos pela politiquice que os cargos lhes permitem exercer ou pela necessidade que alguns têm de se imiscuírem nas políticas que outros aplicam e julgam como sensatas ou quase. Tudo é uma questão de política!

Em tempo de Natal, devemos esperar felicidade, amor, carinho, saúde e muita paz.

Espero que sejam todos muito felizes. Bom Natal e Boas Festas.

Vendavais - O Orçamento do desencontro

Apesar de toda a polémica que se levantou no que à discussão e aprovação do Orçamento diz respeito, o certo é que todos sabíamos que não haveria grandes novidades e que seria aprovado para bem de toda a geringonça e em especial para António Costa e o seu governo. Contudo, algumas desconfianças existiam no seio de alguns partidos, quer da oposição, quer dos partidos da geringonça.

Quando se aprovou na generalidade, os mais ansiosos pela polémica, ficaram descontentes já que não houve polémica. Aprovou-se simplesmente e sem grandes discussões. Depois, contava-se, seria uma questão de pormenores. Mas não foi. Ou talvez até fosse. Estamos para ver.

A discussão na especialidade trouxe algumas controvérsias para o governo. Costa não contava com algumas delas e Centeno estava a tremer com as propostas de alteração apresentadas na Assembleia. Cinco mil milhões de euros! Centeno estava em pânico e não era para menos. Foi uma maratona de discussão para que tudo fosse aprovado a tempo e entregue ao Presidente da República. No final Centeno respirou de alívio e Costa também. Igualmente o Bloco de Esquerda e o PCP que conseguiram impor a sua força juntamente com o CDS e o PSD. Coisa curiosa, mas felizmente boa para quem saía favorecido.

É facto que a contagem de tempo dos professores foi uma vitória para a esquerda e para os partidos que se coligaram nesta votação curiosa, mas será que para os professores vai ser também uma vitória? O governo vai continuar obrigatoriamente as negociações com os sindicatos e vai ter de ceder, resta saber como e quando e de que modo. Os quase três anos que o governo estava disposto a descongelar na carreira dos professores não vai ser objeto de apreciação de Marcelo e não vão ser equacionados para já. Esperemos como vão decorrer as negociações, mas não tenhamos muitas esperanças pois a serem repostos os quase dez anos das carreiras, sê-lo-ão ao longo de alguns anos certamente. Se foi um revés para Costa, possivelmente também o será para quem tem demasiadas esperanças na progressão. Enfim!

Pois Orçamento aprovado, trato acabado. Agora começa a campanha e será cada um por si. O PS já tem as estratégias todas delineadas para o ano que se aproxima. Aliás, já esta semana sai para a rua em campanha, porque não há tempo a perder. Costa não quer perder na caminhada por isso sai a tempo, pois perder seria demasiado mau. Dentro de pouco tempo não se ouvirá falar mais de Tancos, de greves, de Borba e de corrupção. Isso serão fait divers para entreter o povo quando for necessário. O que interessa no ano que vai começar é discutir promessas e arrasar os que podem erguer barreiras na caminhada dos socialistas. Aliás, quando se apregoa que tudo está muito bem e que a economia está a crescer e que até a agências de rating mantêm a sua posição em relação a Portugal, para quê falar de coisas más como as greves de norte a sul do país ou da própria geringonça ou de Tancos e da corrupção que grassa no país? Claro que não. Interessa sim preparar o caminho para as eleições e para uma possível vitória e ela só acontece se todos acharem que estamos muito bem e que o governo está a fazer milagres.

E onde pára a oposição? Não se sabe muito bem. Na assembleia faz pouca mossa e na rua nem Rio nem Cristas castigam o governo de forma assertada. São vergastadas que não abrem buracos, como diria Bruno de Carvalho. Mas atenção Rui Rio, pois com a sua própria oposição interna, pode acontecer um suicídio colectivo. E depois? A tudo isto, Sócrates assiste de camarote de luxo que, sendo de um amigo e familiar, era de um magnata angolano que resolveu pagar uma dívida cedendo a sua casa. Curioso! Mas já vamos estando habituados às manigâncias do antigo ex-primeiro ministro! Continuam as touradas! Já não chegava a redução para os 6% de IVA para as touradas… com touros!

E Marcelo? Será que também assiste de camarote a todo este alarido? Não parece muito incomodado, é certo, mas já deve estar a equacionar o modo de resolver uma certa questão que o remete para segundo plano na hierarquia nacional. Parece que o governo vai passar a dar posse aos oficiais generais que nomeia. Inédito! Então as Forças Armadas não estão na dependência do Presidente da República que é o Chefe Geral das Forças Armadas? Isto deve-se somente ao caso de Tancos. Pois é. As queimadelas não foram só as de Pedrógão ou de Monchique. Já vinham de trás. Tancos queimou alguns generais, ministros e secretários. Queimou o governo, claro. Agora Costa não quer correr mais riscos, mas será que Marcelo está de acordo? Afinal há ou não uma inversão de poderes na chefia do Estado? Parece-me que afinal, as touradas ainda não acabaram.

Afinal de contas, o Orçamento foi aprovado, mas há um desencanto enorme que não sei como vai ser resolvido! Pode ser que sim.