Luís Ferreira

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VENDAVAIS - Fases da Lua, a política e o futebol

Desde que o homem é homem que se habituou a olhar para o céu à procura de respostas às perguntas que ele próprio fazia e aos problemas que o universo constantemente lhe propunha. Como não obtivesse soluções plausíveis, procurava na Natureza algo que o satisfizesse minimamente como modo de solucionar as dúvidas que lhe surgiam.

Nessa procura incessante e no perscrutar do firmamento, a Lua surgiu como algo mais próximo e capaz de ser a solução para as explicações que ele necessitava. Estava ali mesmo à mão no meio da imensidão celestial e talvez por isso mesmo, deveria ser a resposta para algumas das muitas dúvidas que ele tinha. Mas a Lua não era sempre igual. Tinha fases e ele também não sabia explicar o porquê dessas modificações. Demorou muitos anos a encontrar alguma explicação razoável para as suas interrogações a esse propósito e ainda hoje o homem remete para a Lua a culpa de algumas coisas que sucedem na Terra.

Deste modo, é frequente ouvirem-se expressões como “está com a Lua”, “está como as fases da Lua” ou “funciona como as fases da Lua” ou ainda “está com fases”. Enfim, a Lua que resolva! A verdade é que ela aparece ou Cheia, ou Crescendo ou Minguando ou completamente Nova.

Se alguma coisa se pode comparar às interrogações e procura de respostas que o homem primitivo se colocava a si próprio, ela é a política, os políticos e o modo de fazer política, entenda-se o modo de proceder. É que este vem por fases. Nem sempre se age da mesma forma com respeito às mesmas coisas. Perde-se frequentemente a verticalidade.

De facto, quando se dizia que o ministro das Finanças era fraco e que não iria resolver os problemas do défice excessivo de Portugal, não se equacionava a possibilidade de entrar numa nova fase da economia, um pouco melhor, que levou a uma redução do montante da dívida ao FMI, aliviando deste modo, a pressão que se exercia sobre o país. Agora que estamos na porta de saída do défice excessivo, já se apressam a apelidar Centeno de “Ronaldo” da economia. Deve isto significar que o governo está em fase de Lua Cheia, mas não invalida a fase Minguante em que se encontra a dívida pública uma vez que ela está em Crescendo. No meio de todas estas fases, qual escolher? Qual a melhor?

Mas se Centeno é um suposto “Ronaldo” da economia, a realidade no futebol é quase idêntica já que o nosso Ronaldo, o melhor do Mundo, também tem as suas fases. E para sermos realistas podemos dizer que ele tem estado numa fase de Lua Cheia, mas como esta fase não dura muito tempo, segue-se a fase do Minguante. O auge que atingiu recentemente está a desmoronar-se devido à acusação de fraude fiscal posta pelo ministério público espanhol. Mas se isto se pode resolver investigando mais aprofundadamente, o mesmo já não se pode dizer do facto de a imprensa espanhola querer dividir o Ronaldo em dois. Dois? Como? Porquê? Pois é. Para os espanhóis a questão agora é não serem melindrados nem eles nem o Real Madrid por coisas de um jogador Português e que está na Seleção Portuguesa, em vez de um jogador do Real Madrid e que ganhou o Campeonato e a Champions. Afinal onde está o Ronaldo que ganhou tudo isto? Ou será que só deve contar o Ronaldo que ganhou o Campeonato Europeu pela Seleção Portuguesa? São fases diferentes! Há uma fase que os espanhóis querem ignorar. Não lhes interessa ter um Ronaldo acusado de fraude como jogador do Real. Esta fase que Portugal fique com ela. Ronaldo que aguente! Então e o campeonato de Espanha e a Champions também passam a ser de Portugal? É só uma pergunta! E se ele sair do Real? Vamos ver como se comporta ele agora na Taça das Confederações. Mas não entremos em euforias. Isto são apenas fases e estas também acabam.

Do mesmo modo parece que se está a acabar a fase de Lua Cheia do Benfica. Depois de uma fase boa, parece que tudo se está a desfazer e onde tudo era bom, passou a muito mau. E agora? Tal como o Ronaldo, também este Benfica parece estar a entrar em Minguante. Enfim. Fases!

 

 

Vendavais - Os milagres que Maio trouxe

O mês de maio é rico todos os anos em acontecimentos, uns com data marcada, outros que acontecem ao sabor do vento. Este ano não foi muito diferente.

Com data marcada está, agora e sempre, o dia 13, comemorado todos os anos com a dignidade que o dia e o acontecimento merecem. Fátima, bafejada pela graça divina, elevou-se há 100 anos ao mais alto pódio da religião cristã e se desde então tem sido palco onde se encontram os crentes e até alguns não crentes, este ano o dia mereceu a comemoração do centenário das aparições da Virgem. Também este ano e para realçar o centenário das aparições, juntaram-se mais dois eventos de relevo: a presença do Papa Francisco e a canonização dos pastorinhos. Portugal ganhou mais dois santos.

À volta da presença do Papa em Portugal, geraram-se vários comentários, que alguns acharam ter alguma relação com o facto e tudo passou a ser justificado como se de mais um milagre se tratasse. Se para uns isso foi motivo de sorrisos, para outros foram piadas de muito mau gosto. A verdade é que temos de ter mais postura e responsabilidade no que afirmamos especialmente se isso pode colidir com sentimentos e modos de estar de outros que pensam de modo diverso.

Na verdade, o facto de o Benfica ganhar o tetra pela primeira vez, não terá muito a ver com a vinda do Papa a Portugal já que o Benfica estava à frente da classificação do campeonato há já algum tempo e não se esperava grande alteração a esse respeito. Mas outros vieram dizer o contrário e até puxaram a brasa à sua sardinha ao dizer que o Porto não ganhou precisamente devido a forças externas ao mundo do futebol. Nós sabemos que em Portugal sempre se celebraram os três Fs: Fátima, Fado e Futebol, mas francamente, isto é abuso.

Outro facto que mereceu e bem, a atenção do país inteiro, foi termos ganho o Festival da Eurovisão pela primeira vez. Salvador Sobral foi, com toda a prioridade, o Salvador da Nação. Há muitos anos que perseguíamos esta vitória e chegámos mesmo a ficar em sexto lugar, mas o salto para o primeiro não estava nos melhores prognósticos nos tempos que antecederam o festival. Salvador “amou pelos dois” e Portugal agradeceu e até o ”condecorou” de certa forma ao homenageá-lo na Assembleia da República com aclamação unânime dos deputados. Também a este respeito, muitos correram a afirmar que foi mais um milagre que o Papa Francisco fez ao vir a Portugal, juntando assim uma mão cheia de “milagres” que fizessem esquecer alguns momentos menos bons que o país pudesse estar a atravessar. Enfim! Coitado do Papa Francisco! Se mais nada tivesse que fazer, isto bastava-lhe para se promover a ser o próximo santo em nome de Portugal. Pois, mas ainda há mais.

A verdade é que Costa ao anunciar a melhoria da situação económica de Portugal, a redução do défice, a redução da taxa de desemprego e mais umas descidas quase inesperadas, logo apareceu quem dissesse que se devia a mais um milagre do Papa Francisco. Pois claro! Eu, pessoalmente, não imaginava que o Papa pudesse ter tanto poder! Será que alguém imaginava? Francamente, ponho-me a pensar no que dirão os que não tiveram a sorte de serem bafejados por toda esta panóplia de favores celestiais.

Não sei se Trump é fervoroso de Nossa Senhora de Fátima ou até do Papa Francisco, mas o que lhe está a acontecer este mês de maio não lhe é muito favorável. Não sei se pelo facto de ele não ser suficientemente inteligente para não dizer certas coisas, ou se pelo facto de mesmo falta de sorte! Pode ser que esta visita ao Médio Oriente e ir até ao Muro das Lamentações, o alivie do peso que traz às costas!

Já cá dentro de portas, finalmente Passos Coelho admitiu que a economia melhorou um pouco, mas sempre foi dizendo que era preciso ter cuidado pois não vá ela voltar a piorar. É que ele baixou de 11% para 3% o défice que agora até está em 2,8%. Será que também aqui o Papa teve alguma influência? Não me parece que seja milagre, mas que este mês foi bem recheado de coisas boas, lá isso foi. Venham mais maios!

Vendavais - Na corda bamba

O equilíbrio é essencial para não se cair, mas para que ele exista é necessário saber manobrar muito bem todos os fatores. Um dos fatores é ter a consciência que a queda é sempre uma possibilidade presente, outro é que cai-se sempre muito depressa. Para baixo todos os santos ajudam!

A Europa vive neste instante, momentos cruciais, já que há eleições em vários países e, numa conjuntura difícil, nunca se sabe como vão reagir os que são chamados a votar e a decidir o futuro. Não podemos pôr de lado as várias hipóteses que se levantam aos decisores políticos, nem pensar que a tarefa lhes é fácil de concretizar.

Da França à Inglaterra, passando por Portugal, todos os partidos estão a entrar em ebulição. Neste fim-de-semana foi a vez da França. E ela tremeu. Mas não tremeu só. Toda a Europa abanou ou pelo menos receou que os resultados fossem favoráveis à extrema-direita e a França fosse abrir uma brecha enorme na coesão europeia. No meio da confusão de candidaturas, as sondagens iniciais davam a possibilidade de ganhar Le Pen e muitos franceses, talvez por um impulso primário subjacente a um incomodativo processo de desgaste socialista, quiseram mostrar que era fácil mudar de rumo. E não nos enganemos. Era mesmo fácil e é fácil. As mudanças existem, são reais e surgem quando menos se espera e no meio de conjunturas difíceis. As pessoas fartam-se de determinadas políticas e dos políticos que as exercem e quando se pensa mais com o coração do que com a cabeça, tudo pode acontecer. Felizmente, à hora de decidir, sempre pode prevalecer o bom senso. Um arrepiar do caminho! Certo é que a França andou na corda bamba algum tempo e muitos se convenceram de que era desta vez que a extrema-direita chegava ao poder. Não foi.

Na Inglaterra, a pressa do referendo levado a votação, possivelmente com o coração a bater em vez de uma cabeça a pensar, levou a um Brexit que parecia ser consensual de início, agora gera uma confusão tremenda e se fosse possível voltar atrás, estou convencido que a maioria votava contra a saída da União Europeia. Arrepiava caminho igualmente. Theresa Mae que era contra a saída, mas que teve de engolir um enorme sapo para poder ficar à frente do partido e do governo, limitou-se a continuar com o programa antes adiantado. Agora pretende que se façam eleições antecipadas para que consiga ter uma maioria confortável para manobrar o Brexit a seu favor. Isso quer dizer, minimizar os estragos da saída perante uma Europa que lhe pode ser hostil essencialmente em matérias económicas e financeiras e também sociais. Não nos podemos esquecer que na Europa estão cerca de quatro milhões de ingleses e que na Inglaterra estão igual número de continentais. Há que negociar termos de permanência e de trânsito de pessoas e bens. Shengan deixa de ser a grande referência e as fronteiras voltam a ter alguma importância. Está pois, a Inglaterra na corda bamba e vai permanecer por mais algum tempo.

Mas se quisermos passar a corda por este país à beira mar plantado, também as coisas não andam mais seguras. A Geringonça continua a dançar e a tremer ao som dos acontecimentos diários. Ora ameaça o PS, ora ataca o PC, ora adianta projetos que obrigam a tomar decisões comprometedoras ao governo de António Costa. Se ele é efetivamente um negociador hábil, ainda tem de sê-lo um pouco mais para não deixar cair o que a custo tem conseguido manter à tona.

A nível partidário, o PS anda à deriva, especialmente no que se refere às eleições autárquicas para a Câmara do Porto. Disse o que não devia, ouviu o que não queria. Moreira não precisa e rejeitou mesmo o apoio do PS. Nem as desculpas de Costa vão valer o equilíbrio, porque esse, já Moreira tinha adiantado: Pizarro vai estar na lista e na Câmara. Mas não. Enganou-se porque Costa não ficou sossegado e pescou Pizarro para encabeçar a lista. Esta é a parte do PS que está garantida. Não há coligação e o PS também não ganha tudo como queria a Vice de Costa. Era só o que faltava! Mas também o PSD não está seguro em coisa nenhuma, embora Passos venha a terreiro dizer que não tem ninguém a expulsá-lo de qualquer coligação, fazendo uma crítica velada à situação do Porto. Enfim! Tudo numa corda bamba.

Vendavais - A coragem de querer

Para querer é necessário ter coragem, muito embora muitos pensem que não. Claro que depende sempre do que se quer, mas a coragem de o afirmar estará sempre subjacente a essa vontade, mesmo que indelével na sua assunção.
Um dia o homem ao sentir-se livre em plena Natureza e desconhecendo que o mundo girava e tinha coordenadas para que cada um se situasse orientado na imensidão desconhecida do espaço universal, quis afirmar essa mesma liberdade através de diferentes modos que, sendo díspares, também eram contrários ao mesmo sentido da liberdade universal. Gerou-se a confusão. Confusão entre os homens, entenda-se.
Saltando século e séculos de aprendizagem, o homem confundiu sucessivamente como aplicar a sua primeira dádiva, que não conquista. Tentou roubar cada um para si, a liberdade que lhe fora dada ao nascer e no início dos séculos, quando ainda quase não falava e não sabia para onde ir. Perdido, orientou-se e acabou por se perder quando já conhecia os caminhos que queria seguir. Não teve coragem para corrigir o engano. Sucederam-se os enganos e faltou a coragem de querer emendar-se. Frequentemente a coragem esteve arredia na remissão dos pecados praticados.
Na universalidade dos países que compõem este mundo que continua a girar como no início, os homens continuam a querer reaver a tal liberdade que não souberam ou não tiveram a coragem de guardar e dividir por todos. Um bem precioso e duradouro, inesgotável, mas muito mal utilizado. Penso que todos o querem, mas não têm coragem de o afirmar. Não é suficiente dizer que se quer, é necessário ter coragem para o querer.
Assistimos com o passar dos tempos a exemplos onde os homens se libertaram da liberdade. Paradoxo absoluto. Em seu lugar, substituindo a liberdade, colocaram ídolos de pés de barro, que aos poucos se têm desfeito porque não têm sustentabilidade, preciosidade e a durabilidade que a liberdade exige. A esses faltou a coragem para querer a liberdade em vez dos ídolos obsoletos e irracionais cujos objetivos se esfarelam na falta de exequibilidade dos projetos em que assentam. Infelizmente hoje ainda continuamos a ver quem não tenha a coragem para querer mudar. Penso que querem mudar, mas não têm coragem para querer mudar.
O mesmo aconteceu em Portugal há muitos anos atrás. Trocou-se uma ténue liberdade, por um projeto cuja exequibilidade viria a falhar porque os homens não queriam continuar sem a dádiva inicial. Durante trinta e seis anos Portugal viveu um tempo de obscurantismo e manteve a liberdade na gaveta de onde sairia em Abril de 74, uma vez mais por vontade dos homens.
Quem governava só não teve coragem para admitir o engano por falta de coragem e porque esse engano lhe dava o poder de continuar a não ter coragem para lutar pela liberdade. Queria certamente, mas não teve a coragem de afirmar que queria efetivamente mudar. Fechado numa gaiola, tentou exercer a influência que o poder lhe permitia e viver na liberdade reduzida que a gaiola facilitava. Era necessário muito mais. Felizmente outros houve que tiveram a coragem de querer a liberdade e de derrubar a gaiola onde a liberdade era somente para alguns. Mas todos queriam esse tremendo bem que lhes permitiria descobrir os caminhos para onde ir e orientar-se neste mundo que continua a girar como no início dos séculos. Aconteceu em Portugal.
Hoje, anos depois, a liberdade continua por aí, mas muitas vezes associa-se na viagem a companhias menos aconselháveis e baralham os caminhos para onde deveriam seguir. É que a liberdade também dá ao homem a facilidade de se enganar muitas vezes. Novamente a coragem para querer desfazer o engano deve ter prioridade.
Pois é. Se a liberdade tem estas duas facetas, cabe ao homem saber o que quer e ter coragem para querer mudar e ir em busca da liberdade pura, a tal dádiva que não foi conquistada pelos homens no início dos séculos, mas que foi subestimada pelos que vieram a seguir. É preciso continuar a ter coragem de querer.

Vendavais - Juventude irreverente

Nas últimas décadas já apelidámos a juventude de muitas formas e todas elas tinham algo de substancial nessa união. Nos nossos tempos e não no desta juventude, os anos 60 marcaram a grande transformação e afirmação da juventude perante uma sociedade bastante conservadora e ciosa dos seus princípios. E a Inglaterra foi o palco dessa enorme mudança. Nascia a famosa Generation Gap. Afirmou-se com novos princípios, novos valores, novas metas e objetivos, mas não abandonou a tradição. Foi o desapertar dos laços inibidores e o dizer o que queriam realmente. Foi a juventude do amor, da paz, da alegria e do repúdio pela guerra. E foi esta juventude que acabou por escolher como palco da sua afirmação maior, os Estados Unidos em 1969, para dar um outro salto e fazer nascer a juventude Hippie. Este salto foi mais perigoso e assustador para todo o mundo.
Desde essa altura, um pouco por todo o lado, a juventude tem tido laivos de mudança, mas de pouca duração. São tiques mais ligados a ondas musicais do que a uma mensagem global que agregue a juventude como um todo. Recorrem à moda e à música para ter alguma ligação, mas não basta. É muito pouco e o cimento é demasiado fraco para aguentar a obra feita que acaba por ruir.
Em Portugal a nossa juventude não é muito diferente das outras e vai facilmente a reboque do que a moda traz, do que vêm, do que ouvem e do que se diz. Não há um mote de afirmação digno e nacional que só a ela diga respeito.
Este fim-de-semana, fomos confrontados com notícias deveras decepcionantes, relativas ao comportamento de alguns milhares de alunos que resolveram ir para Espanha passar alguns dias de férias e comemorar o que supostamente seria o ano dos finalistas do ensino secundário.
Cerca de oito mil alunos portugueses espalharam-se pelo Sul de Espanha, em dois locais deferentes e resolveram dar largas a esse contentamento, numa euforia irreverente e inapropriada, que acabou mal.
Mil alunos que estavam em Torremolinos, foram expulsos do hotel onde se sediaram porque praticaram atos indignos e desacatos com destruições à mistura, o que não foi aceite pelo dono e lhes deu ordem de expulsão depois de chamar a polícia. Os outros sete mil que estavam em outra localidade, divertiram-se, cantaram e dançaram e passaram uns dias esplêndidos sem causarem problemas a ninguém. Então porque é que estes sete mil se divertiram e souberam estar em harmonia e os outros mil só arranjaram complicações?
Penso que é tudo uma questão de cidadania, de educação, de formação cívica para não ir mais longe. É urgente formar civicamente esta juventude que sem rumo certo, quer afirmar-se pela negativa, usando métodos que põem na lama o nome do país a que pertencem e das famílias que se vêm confrontadas com situações complicadas e comprometedoras.
Não pode ser através de métodos irreverentes e sem sentido como o deste fim-de-semana, que a nossa juventude se vai afirmar. É certo que também numa concentração desta natureza há sempre alguma irreverência comportamental, alguns excessos, mas é necessário saber até onde se pode ir e essas metas têm de lhe ser ministradas o quanto antes por quem de direito, sejam os professores, sejam os pais. Agora que parece voltar a Formação Cívica às escolas, é tempo de alertar para estes problemas de irreverência que não dão bons resultados a ninguém.
Depois de toda a poeira assentar, ouvimos várias versões, tanto dos alunos como dos pais ou mesmo dos espanhóis e até podemos ficar perplexos e sem decidir a quem atribuir as culpas, mas onde há fumo, há fogo e quem o ateou não foi certamente o dono do hotel. Mas se houvesse fogo, era fácil mil alunos apaga-lo imediatamente e o que vimos foi reanimá-lo ainda mais. Assim não! Sabemos que de Espanha não vem nem bom tempo, nem bom casamento, mas então porquê ir até lá quando temos cá locais esplêndidos para passar uns dias com os colegas e amigos? Puxem pela cabeça e esqueçam as euforias do Sul de Espanha que leva sempre a maus resultados. No ano passado morreu um aluno, lembram-se? Pois foi. E onde ficou a culpa? Ninguém a quis trazer. Irreverência, somente.

 

Vendavais - Uma punhalada nas costas

Como tudo o que acontece na vida, há momentos elevados e dignos de menção e outros que são mesmo para esquecer. Na perspicácia analítica de cada um pode-se salientar o bom e o mau de tudo quanto se faz ou de quem faz. E como diz o povo, é mais difícil subir do que descer.

Exemplos, temos às dezenas e quando pensamos que se vão esfumando por entre as cogitações mundanas, eis que surgem de novo para acicatar a perspicácia de quem se sente atingido. Ou não! A verdade é que é vulgar dizer-se que somos apunhalados pelas costas por quem se diz mais amigo e isto acontece frequentemente e quando menos se espera. 

Quando Passos Coelho ganhou as eleições e se guindou a primeiro-ministro, todos diziam e afirmavam que o deveu a Miguel Relvas. Nunca foi desmentida esta influência dentro do PSD e de tal modo que o número dois de Passos Coelho era efetivamente Miguel Relvas, de tal modo que Passos parecia uma autêntica marioneta nas mãos de Relvas. Chegou uma altura em que o partido se sentiu muito incomodado com essa influência e criticou mesmo Passos Coelho de se deixar manipular tanto.

O problema que surgiu com a falsa licenciatura de Relvas e que levou ao seu afastamento do governo e até do partido, marcou o divórcio entre os dois grandes amigos. Relvas saiu, afastou-se da política direta e foi para o Brasil. País que parece predestinado a receber os políticos portugueses e não só. Parecia que Passos Coelho ficava órfão do amigo íntimo e meio desorientado e não era mentira. Muito se disse então e muito se viu depois. Facto é a perda de maioria que lhe permitisse novamente assumir o governo. E nessa altura alguém culpou Relvas por razões diversas. Ou porque fez o que não devia e deu mau nome ao partido, ou porque sem ele o partido e Passos Coelho não conseguiram renovar o mandato governativo. Ficou marcado.

Agora, e quando Passos Coelho continua a sua senda de ex-primeiro-ministro, muito à deriva e sem rumo certo por este Portugal de geringonça, o amigo Relvas vem apunhalá-lo quando menos se esperava. Do Brasil mandou recados ao partido e vem propor uma nova forma de eleição dentro do partido, imitando as diretas do partido socialista, numa alusão lógica ao modo como foi afastado José Seguro. Pois deste modo, Passos seria afastado dando lugar a nova figura de proa. Resta saber quem.

Como a amizade entre Relvas e Coelho está fortemente beliscada e não é seguramente com Passos que Relvas volta à política, é necessário arranjar outro escadote que lhe permita subir e abrir uma porta nesse setor, o mais depressa possível. Face a algumas alusões do próprio Relvas, podemos concluir que tanto Montenegro como Rui Rio seriam hipóteses sérias e ganhadoras e que afastariam definitivamente Passos Coelho da liderança do partido. Facada mais certeira ele não poderia inventar. Resta saber se Passos estaria à espera dela ou não, mas quem tem amigos destes, não precisa de inimigos.

Mas Relvas vai mais longe ao não concordar com a escolha de Teresa Leal Coelho como candidata à Câmara de Lisboa, indo de encontro a muitos notáveis do PSD a esse respeito, o que vale dizer contra Passos Coelho já que a escolha foi imposição sua e não do partido. Relvas tem muitos contactos dentro do partido e domina ainda um setor bastante alargado no aparelho o que lhe permite recolher muitos apoios que decerto poderão desmontar o que o seu ex-amigo Coelho anda a tramar. A verdade é que este sai muito beliscado de tudo isto. Parece que as asneiras não são só do outro lado do Atlântico! De facto seria muito mais apoiado e tiraria mais proventos políticos se tivesse optado por apoiar Cristas na candidatura contra Medina, mantendo uma união lógica e possivelmente muito mais ganhadora. Enfim!

Mas Relvas está à espera. E a derrota em Lisboa, deve ser, segundo ele, o passaporte para Passos Coelho abandonar definitivamente o partido. E segundo outros, já vai tarde, pois com alguma demora, desfaz o partido por inteiro! As punhaladas sucedem-se. Cuidado.

Vendavais - O diz que nunca disse

Somos o povo que somos e não é por ser assim que vamos mudar a nossa maneira de estar e de dizer as coisas que nos vêm à cabeça. De facto, é frequente dar o dito por não dito, embora isso não abone a credibilidade seja de quem for. Nós sabemos que somos assim, mas não mudamos. E não mudamos porquê? Porque simplesmente ninguém exige explicações sobre o que, no fundo, são puras mentiras ou falsas promessas.

Vem isto a propósito do que o governo disse e disso fez eco, sobre as reformas a levar a cabo na Educação a partir do próximo ano letivo. Todos ouvimos, lemos e comentámos a “decisão” do Ministério da Educação sobre grandes alterações em diferentes áreas disciplinares dando como exemplo as disciplinas de Português e Matemática que seriam objeto de redução de algumas horas para beneficiar disciplinas como História ou Geografia que necessitariam de uma nova redistribuição de horas. Durante dias e dias a fio o discurso manteve-se, embora não especificasse concretamente se seriam as disciplinas de Português e Matemática as que seriam sacrificadas e se a História e a Geografia as beneficiadas, deixando contudo, essa possibilidade em aberto já que se discutia a matriz e a operacionalização do perfil do aluno. Neste aspeto, teriam de se valorizar sempre as áreas curriculares e visto por essa óptica, faria todo o sentido essa distribuição de horas para novas disciplinas.

Pois passados alguns dias e durante o mês de Fevereiro, o Ministério da Educação veio dizer que nunca esteve equacionada qualquer redução da carga horária das disciplinas de Português e Matemática, reforçando que nunca o tinha afirmado. Sinceramente! Está tudo louco?

Como se isto não tivesse grande importância, mas querendo firmar os pés antes de poder cair, o Ministérios fez questão de voltar a afirmar que essas disciplinas não iriam sofrer qualquer redução horária. Deste modo passava uma esponja nas afirmações proferidas e alinhava em outra direção, deixando, mesmo assim, algumas dúvidas no ar especialmente no que se refere à disciplina ou tema, ou área da famosa Cidadania que não têm professores e que terão de se recrutar para o efeito. Caberá aqui os tais 25% da carga curricular que o Ministério adiantou e que as escolas poderiam gerir dentro da tal autonomia que nunca chegou?

Segundo parece, o Ministério tem vindo a contactar e a reunir com algumas escolas e associações de professores, diretores de escolas e outras identidades ligadas à educação, no sentido de aquilatar as melhores soluções a implementar, sem no entanto adiantar seja o que for que descubra o que agora está no segredo do governo. Afinal, parece que tinham começado pelo fim! As casas não se começam pelo telhado!

Resta agora perceber quando é que todo este processo estará resolvido e quando poderá ser implementado nas escolas e quais as escolas “cobaias” que o irão experimentar. Mas será que podemos contar com essa certeza? Sim, porque isso não foi desmentido pelo governo. É verdade que disse coisas que agora negou, mas também há coisas que nunca veio dizer que nunca disse e que nunca se iriam implementar. Já estamos fartos do diz que disse…, mas não disse.

Uma coisa é certa: antes de estar concluído todo o processo com as estratégias de implementação adequadas, ou não, nada vai ser divulgado e ainda bem, pois ninguém quer ser embalado em camas de sonho e acordar em esteias de arame. Haja responsabilidade no que se faz, mas também nos caberá a nós que somos os lesados ou beneficiados, uma quota de responsabilidade, pois teremos sempre de julgar os que nos impõem as suas decisões seja em que campo de análise for.

O que se pede é uma grande dose de responsabilidade por parte do governo e dos seus Ministérios e como não estamos em campanha, que parem de adiantar supostas decisões que afinal não o são, mas que dão falsas esperanças de resolver o que necessita de ser resolvido. Nem resolvem nem dão certezas de o fazer e no que se refere à Educação, é bom que se pare de experimentar reformas que também o não são e que só trazem confusão. São já anos e anos seguidos, governos e governos uns atrás dos outros a fazer experiências na Educação e o que temos visto não passa mesmo de experiências falhadas. E não venham dizer que já o tinham dito!

Vendavais Regresso ao passado

Portugal bem podia ser o país das experiências falhadas. Na verdade, já tivemos tantas tentativas para resolver alguns dos assuntos mais prementes e sem sucesso que o melhor será equacionar muito bem o modo de as implementar antes de saírem completamente goradas. De facto não é bom sinal andar a tentar resolver determinadas vertentes sociais e saltarmos de falhanço em falhanço sem avançar um metro que seja.
A Educação é bem o paradigma de tal insucesso e das tentativas falhadas. Sem grande esforço, conseguimos recordar as várias tentativas de reforma na Educação e nos currículos e a desistência de uns e outros para recomeçar numa outra perspectiva. A verdade +e que andamos neste vai e vem há imensos anos e sem resultados papáveis e profundos que sirvam de uma vez por todas, de cimento para a formação de uma sociedade futura digna e conhecedora.
Neste momento e com este Ministério da Educação a Educação volta a estar em risco de mudança profunda. O termo mudança é possivelmente demasiado assertivo. Seja como for, a informação que está a ser veiculada é a de que os currículos vão ser alterados. Os alunos vão ter menos tempos de Português e menos de Matemática, as disciplinas que continuam sem ter grande sucesso em termos de aprendizagem. Vai voltar a Educação para a cidadania e desta vez desde o pré-escolar e em termos obrigatórios. Eu até me atreveria a dizer “ainda bem” perante tanta falta dessa tal cidadania, especialmente no que respeita a aspetos como a corrupção e lavagem de dinheiro e à ladroagem que pulula por este país fora. A este nível até podia dar jeito!
Pois então, tal como em 2001, volta a estar inserida nos currículos a Educação para a cidadania! Nada de novo, como vemos. Mais uma tentativa de formar ou moldar uma juventude para amanhã ser o futuro da nação! Isto faz-me lembrar outros tempos, mas enfim!
As ideias agora avançadas já foram práticas correntes até 2012. Nuno Crato retirou-as e agora estes governantes querem voltar ao passado e experimentar o que não terá dado o resultado esperado. Não me parece muito acertado tal resolução.
O querer pôr em prática um “novo modelo” de ensino e novos currículos, envolvendo as escolas, professores e alunos de diferentes áreas, não me parece exequível. No mínimo, não é fácil face à carga horária quer dos professores, quer dos alunos. Na verdade, os professores não têm tempo para perder com reuniões transdisciplinares, pois o trabalho que têm com os alunos e com as aulas retira-lhes tempo para essas avarias curriculares. Depois ainda temos a pressão que os alunos e os professores têm com os exames, especialmente a nível do ensino secundário.
Acresce a tudo isto o facto de querer dar às escolas a possibilidade de flexibilizar os seus currículos de acordo com as regiões onde se inserem. Pois bem, isto até podia ser uma vantagem se não criasse desigualdades de aprendizagem em termos curriculares, já que os alunos passariam a aprender coisas diferentes de acordo com a região onde vivessem, para não falar também de outro problema que é o dos professores que não pertencem a essas regiões e andam a percorrer Portugal consoante as suas colocações. Estes teriam de passar ano após ano a aprender os assuntos temáticos dos currículos regionais. Parece-me uma aberração.
De tudo isto o que me parece ter algo de positivo é o facto de dar mais tempo às Ciências Sociais especialmente à disciplina de História. Na verdade, a História de Portugal tem passado para segundo plano e parece-me que já é tempo de os alunos aprenderem um pouco mais da História que enche a boca de todos quando se referem aos feitos antigos dos portugueses para preencher a lacuna dos tempos modernos da nossa História.
Se este regresso ao passado é mais uma tentativa para falhar, mais vale deixar tudo como está. Aos olhos dos outros países, que até seguem de perto este percurso sinuoso de tentativas goradas, este passo não merece aplausos da sua parte e não nos dá o retorno que desejamos, nem da juventude, nem de uma sociedade mais justa, equitativa e formada, para um futuro mais próximo.

Vendavais - Os piores cegos….

As últimas sondagens dão ao partido socialista uma subida notável e à beira de dispensar o apoio tanto do BE como do PCP. Ou seja a geringonça está prestes a desfazer-se!
A simplicidade com que se faz um telefonema e se juntam respostas a uma ou duas questões pré formuladas e com objetivos claros, levam a ter percentualmente um resultado que pode interessar ou não a quem for o objeto do inquérito. As sondagens são o que são e embora não sejam infalíveis, também não são totalmente despiciendas. O interesse delas é que animam as guerrilhas internas especialmente no que diz respeito aos partidos envolvidos nelas.
O facto do PS estar a subir nessas sondagens e situar-se no 42%, faz supor que, a continuar esta subida, o partido socialista irá dispensar o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, desfazendo assim a tal geringonça que lhe permitiu governar numa situação em que tinha perdido as eleições nacionais. Os amigos de ocasião passarão assim aos eternos opositores, dispostos a lutar novamente contra aquele que os ajudou a ter igualmente, alguma visibilidade política. Mas não nos enganemos. Estamos longe das eleições e as polémicas estão agora a começar.
De facto, são várias as vertentes em jogo neste tabuleiro político. A iniciar está no centro Centeno, que se vê acossado pela oposição quanto ao problema da Caixa Geral de Depósitos e sua administração. É uma nódoa que se alastra e que pode não sair facilmente por mais que se lave o fino tecido em que caiu. Será que a ida à Comissão parlamentar para prestar esclarecimentos vai resolver alguma coisa? Afinal há cartas escritas e, segundo parece, o rabo está preso aí mesmo. Quem o irá soltar? Domingues acederá a esclarecer alguma coisa, entalando quem o tentou ajudar? É certo que Domingues fixou salários, incluindo o seu e Centeno aceitou. Há ou não acordos entre os dois? Terá de passar ainda muita água debaixo desta ponte para limpar as nódoas que se vislumbram. E não nos esqueçamos que ela alastra até Belém.
Mas se o PS continuar a subir nas sondagens e acabar por ganhar as eleições, é necessário prepararmo-nos para deixar de ouvir falar de benesses e passar a ter atenção aos cortes que se avizinham passando novamente a uma austeridade galopante. Sim, porque não há milagres a este nível na economia. Ou se tem para pagar, ou não se tem e nós não temos. Todos sabemos disso. A divida portuguesa é astronómica e iremos pagá-la durante os próximos cem anos. Parece muito? Pois parece. O Governo disse que vai entregar ao FMI uma tranche nas semanas próximas no valor de 1,6 mil milhões e até adiantou já os valores aproximados das próximas entregas. Com este ritmo de entregas anuais, levaremos cerca de 80 a 100 anos para liquidar a dívida. Claro que as coisas não se processam com esta simplicidade, pois admito que alguma coisa melhorará neste ciclo económico de crise. Mas são muitos milhares de milhões para pagar e a divida não pára de crescer diariamente. Quem vai herdar este fardo enorme? Parece, no entanto que, segundo informações do governo, já se pagou cerca de 42,5% do empréstimo inicial e a ser assim, talvez consigamos pagar tudo em menos tempo. Talvez! O que nos deixa um pouco descansados é que seremos sempre fiscalizados enquanto não chegarmos a um nível inferior a 200% da dívida. Já imaginaram? 200% da dívida! Uma enormidade.
Se, num laivo comparativo um pouco marginal, dissermos que em Lisboa todos os meses fecham cinco lojas comerciais históricas, isto não ajuda nada a resolver o problema da dívida.
Seja como for, podemos preparar tudo para a suposta vitória do PS nas próximas eleições, mas sem esquecer que se eles endividam cada vez mais o país, será bom que sejam eles a pagar essa dívida, porque estar à espera que outros venham pagar o que eles ficam a dever é pouco ético. É que, em terra de cegos, quem tem olho é rei. E os piores cegos…

Vendavais - Pára Pedro para não caíres

Durante séculos enchemos a boca com a façanha dos Descobrimentos e reclamámos para nós a primazia da chegada aos novos mundos e a novas gentes a quem levámos a nossa língua, a nossa cultura, o nosso saber e a nossa religião. Durante séculos o mundo reconheceu essa extraordinária aventura portuguesa como ímpar na historiografia dos povos desses séculos tão longínquos ao ponto de não reconhecer qualquer alteração ao que nós realmente ensinámos aos povos por onde passámos e com estivemos. O orgulho nacional foi elevado durante muito tempo ao expoente máximo e dele fizemos bandeira que drapejámos em todos os continentes.
Não entendi nem consigo entender as razões subjacentes à necessidade estapafúrdia de alterar a nossa própria língua escrita e fazer para isso um acordo ortográfico que mais não serve do que servir os outros que nem são portugueses, mas que sempre falaram português, aquele que nós lhes ensinámos. Sim, esse mesmo, com acentos, hífens, com consoantes mudas e com todo o resto que da língua fazem e sempre fizeram parte integrante. Nunca quis entender essa necessidade de mudança. Não me convenceram com os milhões que falam a língua portuguesa em todo o mundo, nem com os milhões que não sendo portugueses, falam o português que afinal lhes foi ensinado por nós há muitos séculos. No Brasil sempre se falou a língua portuguesa, embora com as nuances que lhes são peculiares, mas não devem ser essas nuances linguísticas que nos obrigam a mudar a nossa própria língua, a mesma que nós para lá levámos e que eles aprenderam e falam até hoje. Eles sempre se deram bem com isso e sempre souberam falar a língua de Camões e com ela se entenderam ao longo dos séculos sem ver necessidade de alterar fosse o que fosse ao que aprenderam. Então porque haveria de alguém sumamente iluminado propor umas alterações a essa língua tão bonita e tão falada no mundo inteiro? Para mim serve a explicação de fazer o jeito a terceiros baseado em segundos acordos que nada têm a ver com o latim que nos foi transmitido pelos primeiros habitantes deste cantinho privilegiado e os seguidores tão bem privilegiaram. Não aceito as explicações de comodismo de linguagem. A caneta escreve redondo qualquer frase que saia da cabeça de cada um de nós e só escreve o que na cabeça estiver certo. Acertem-se as cabeças pensadoras.
Felizmente ao fim de alguns anos de tanta especulação, tantos a favor e tantos contra estas alterações ortográficas, lá se fez ouvir finalmente a Academia que acaba de sugerir o regresso de acentos, consoantes mudas e do hífen ao famigerado Acordo Ortográfico. Claro que há agora outros problemas a ultrapassar e advêm do facto de ter havido estas espertezas saloias em tempo inoportuno e que se prendem com os alunos que já aprenderam a escrever de modo diferente onde facilitismo supera a ignorância ortográfica. A esses, que não têm culpa do que alguns adultos fizeram e outros tiveram de ensinar, resta-lhes fazer umas correcções e acomodarem-se a um português mais português e mais igual ao que os pais aprenderam.
Dou os meus para bens à Academia ao sugerir este acerto que não sendo um retrocesso ao acordo firmado, pelo menos esclarece alguns vocábulos que francamente, eram uma aberração à língua original de Camões, aquela que nós tanto louvamos e que continuará a ser um emblema da marca portuguesa. Nela se espelha a alma nacional pelos poemas de Bocage e Pessoa, pelos textos de Aquilino e nos contos de Torga. Como é bom voltar a escrever espectador em vez de espetador ou recepção em vez de receção ou pára quando é pára e não para em vez de pára.
Realmente não vale a pena confundir o que é simples nem simplificar o que não deve ser simplificado já que lhe retira o cerne semântico que o caracteriza.
É tempo de parar! Então, pára Pedro para não caíres! Ponto final.