Luís Ferreira

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Vendavais - Ainda hei de roubar um gato

Dizia-me um amigo há uns dias atrás que ainda havia de roubar um gato. Fiquei perplexo e a minha insistência em receber uma explicação saiu frustrada. Ainda vais perceber, disse-me. Parece-me hoje que talvez tenha atingido o que ele queria dizer.
Quando o ano letivo está a chegar ao fim, o governo resolve levantar um problema terrível e de difícil solução. A educação é um direito de todos e todos devem ter acesso a ela sem que para isso tenham de despender grandes somas de dinheiro. O ensino público é gratuito. Inicialmente gratuito só na escola primária, claro. Depois alargou-se. Foi uma conquista recente de que ninguém quer abdicar.
O meu amigo é professor e a sua ânsia de querer roubar um gato, metaforicamente falando, claro, prende-se com o facto de se dizer que quem não tem cão, caça com um gato. Mas só se for ratos, pois com gatos não se pode aceder a caça maior. Como o entendo agora!
Na realidade, levantar o problema dos colégios privados e do subsídio estatal às turmas numa altura em que o ano letivo está prestes a chegar ao fim e os exames estão à porta, não demonstra grande inteligência política e só escassamente compreendo tal atitude do governo, porque possivelmente por detrás está a pressão bloquista e comunista a esse respeito. Para esses não timings certos ou errados. È quando lhes apetece interferir e ter antena.
A posição de cada um fica com a justificação que lhe dão. Eu pessoalmente, não sou contra o ensino privado, até porque estudei sempre em colégios particulares, pois nessa altura só havia Liceus e nas capitais de distrito. Não havia alternativa. Tinha que se pagar se se queria estudar. Neste momento, a proliferação de colégios particulares não está percentualmente de acordo com o número de alunos, principalmente no interior do país, onde as distâncias são maiores e mais difíceis de percorrer. Contudo, penso que quem quer andar a estudar em colégios particulares quando tem à porta ensino público, deve pagar esse luxo. Penso que não tem de ser o Estado a pagar a educação de quem quer frequentar colégios privados, podendo estudar na escola pública se esta estiver por perto, como é o caso de muitas em Lisboa, Porto, Coimbra ou em outras cidades maiores.
Apoio o ensino privado e a liberdade de escolha, mas quem quer ter um colégio e dedicar-se ao ensino, é como ter uma empresa e portanto, terá de a saber gerir de modo a ter lucro e a governar-se com ela. Não pode estar à espera de ser o Estado a pagar-lhe as dívidas e a conseguir-lhe as turmas. Se não pode aguentar o colégio, muda de ramo. Penso que todos entendem isto. Pois se eu não posso caçar com cão, tenho de tentar caçar com gato. Será que há gatos que cheguem?
Alguma coisa terá de mudar a este respeito. A altura não foi a melhor para mexer neste assunto. Os alunos e professores ficaram abalados e durante algum tempo não vão conseguir acalmar a ansiedade que lhe tolheu os passos na reta final. Com o terceiro período a terminar e os exames à porta, exigia-se mais comedimento por parte do governo e apoiantes que se esqueceram dos alunos, pais e professores, para pôr em prática uma medida puramente economicista, tendente a colmatar as falhas de uma política que alargará o défice perante Bruxelas e corre o risco de sanções mais graves. A Escola Pública foi o argumento que serviu para esgrimir contra um privado que faz o seu serviço dentro dos parâmetros exigidos e de acordo com os contratos assinados. Mudar tudo quando falta um mês para o final do ano letivo é um atentado sem exemplo e com consequências enormes. Prova disso, foi a manifestação de mais de vinte ou trinta mil pessoas em frente à Assembleia da República no domingo passado. É muita gente para desprezar o ensino privado!
É forçoso que se chegue a um entendimento rápido e duradouro que contente as partes, pois não chega exigir que os nossos alunos atinjam metas, que tenham hábitos de estudo, que o ranking das escolas suba e que se demonstre ao resto da Europa que os níveis de sucesso estão a subir. Isto é simplesmente falacioso. Temos alunos dos melhores do mundo e a prova-lo estão alguns que enfrentam concursos internacionais e ficam nos primeiros lugares. Muitos são do ensino particular. Será que andaram à caça com gato?

Vendavais - Quem recebe os louros?

Desde os tempos muito antigos, que os heróis recebiam um reconhecimento na forma de um ramo de fores ou uma coroa de louros ou de ramos de oliveira. Só os vencedores tinham direito a esse prémio que era carregado de uma simbologia enorme. Tão grande que na Grécia antiga, alguns se tornavam heróis, adorados como deuses.
Mas se recuarmos a tempos mais antigos, encontramos igualmente casos semelhantes em que os vitoriosos acabavam por receber a coroa da vitória que os distinguia de todos os outros que com eles tinham competido de alguma forma.
O problema surge quando muitos querem ter acesso ao troféu e só um o pode receber. A luta para chegar ao fim em primeiro lugar e receber essa gratidão não é fácil e muitos atropelam-se e acabam por cair antes do fim. Mas nem tudo se resume a uma corrida. E se na Grécia antiga, o desporto era o ponto alto onde os heróis se adivinhavam e eram aclamados nesses jogos olímpicos, que acabaram por se eternizar até à actualidade, a verdade é que nos dias de hoje não é só no desporto que se entregam esses troféus. Os louros banalizaram-se e as coroas também.
Significa isto dizer que quando nos referimos à coroa de louros, não passa de uma metáfora para significar simplesmente uma vitória ou a conclusão de uma obra qualquer e portanto, alguém pode ter direito a receber os louros da vitória, nem que seja somente palavras banais de circunstância.
Não sei se isto é apanágio somente dos portugueses ou se em outros países também acontece com a mesma sofreguidão estar à espera de receber os tais louros da vitória por algo que se fez. A realidade é que se não for o interessado a reclamar, outros o farão em seu nome, sejam amigos ou mesmo a comunicação social na ânsia de noticiar e abrir casos onde muitas vezes eles não existem.
Todos têm direito à sua opinião, justa ou não, mas apontar vitórias antes do tempo e chamar pelos nomes os que poderão receber a coroa de louros, não é nem simpático, nem digno, especialmente se todos os possíveis interessados percorreram o mesmo caminho para chegar à meta.
As boas obras merecem reconhecimento. Não são necessários falsos moralismos. E em termos políticos, onde mais se notam os que querem arrecadar louros, os moralismos andam um pouco por baixo porque os interesses partidários se sobrepõem ao interesse comunitário. Penso mesmo que até as obras acabam por serem relegadas para um segundo plano em detrimento dos interesses partidários, servindo somente de salvo-conduto para poder subir ao podium.
Seja como for, quando as obras são dignas e meritosas, são elas que merecem ser relevadas, já que elas ficarão muito mais tempo do que os seus mentores. É o caso do túnel do Marão. Finalmente foi inaugurado e com toda a pompa e circunstância, noticiada em toda a comunicação social e, como não podia deixar de ser, com o frisson político habitual. Uns porque estavam, outros porque não estavam, mas deviam estar, outros que estavam porque foram convidados, outros ainda porque estar era imperioso face à grandeza da obra e, talvez ao interesse comunitário. Pois é. Uns estavam porque quiseram inaugurar uma obra que não fizeram, outros estavam porque não fizeram, mas iniciaram a obra, outros porque faz parte da praxis, outros não estiveram porque não puderam ou porque não costumam ir a inaugurações.
Afinal o que é que isso interessa? Será que a obra se vai incomodar com quem esteve ou não esteve lá? Claro que não. Quem se incomodou foi quem não devia e por razões que não lhes deveria interessar certamente. A grandeza da obra deverá sobrepor-se a todos e a tudo, nomeadamente à comunicação social. O alarido não enalteceu nem o momento nem a obra do túnel do Marão. Mas quem vai receber os louros? Quem inaugurou, quem iniciou, quem acompanhou, quem suspendeu ou quem esteve presente e, sem merecer, quis ser o candidato principal à coroa de louros? Parece-me que todos se esqueceram dos mil trabalhadores que escavaram os quase seis quilómetros de montanha. Paciência!

Vendavais - Há sempre um plano … depois de um falhanço

Estamos demasiado habituados às palavras que a maioria dos políticos proferem e do mesmo modo percebemos que elas não dizem tudo o que deveriam.
Durante muitos anos, acreditámos que poderia haver alguma verdade por detrás das frases repletas de intencionalidade, mas depois de nos apercebermos que era somente uma mão cheia de intenções, começámos a desconfiar e a não acreditar. Contudo, ao longo dos tempos ainda fomos esperando para ver o que vinha a seguir. Desencanto, puro e simples.
Hoje, penso que todos acreditamos que há sempre algo para além do que se diz e do que se promete. De facto, nos últimos tempos, os governos que se têm sucedido, muito têm prometido e, às vezes só falta jurar que é verdade o que realmente dizem e prometem para bem do povo. Mas a inocência do povo foi-se perdendo como se se tratasse de uma rapariga bonita a quem todos querem prometer tudo e mais alguma coisa. A troco de quê? Ela acaba por perceber que a sua inocência é simplesmente a moeda de troca para outros voos, mas quando a realidade cai, a noite já está demasiado escura.
Se fizermos um esforço de memória, depressa lembraremos que a maioria dos governos sempre nos prometeram melhorar a situação do país, melhorar a vida dos portugueses, diminuir a dívida e a submissão a Bruxelas ou a quem quer que seja, aumentar o emprego e os salários, enfim um sem número de coisas bonitas de ouvir, mas difíceis de cumprir e com alguma falsidade à mistura. A realidade diz-nos que cem por cento do que se promete, somente trinta são cumpridos. Cada cem promessas, traz trinta possíveis! E se calhar nem tanto.
Seja no governo ou na oposição, as promessas são sempre fáceis de fazer e para quem não tem de as executar, ainda mais fáceis são de proferir. É curioso, pois por vezes quase não se entende como é que a oposição a um qualquer governo pode fazer promessas do que não está nas suas mãos poder cumprir! Enfim! Que sejam os elementos do governo a fazê-lo, ainda aceitamos a sua boa vontade em aquietar o povo, mas o contrário já me parece mais caricato.
A verdade é que neste governo atual, isso está a acontecer. Seja o governo a prometer o que não poderá cumprir, sejam os partidos supostamente apoiantes a adiantar o que querem fazer pelo governo, empurrando este para um beco sem saída do qual só se aperceberá demasiado tarde. Ou se calhar já se apercebeu! Mas o certo é que tanto o primeiro-ministro como os partidos que o apoiam disseram que não havia nenhum plano B e mais, disseram que não seria necessário. Centeno, por meias palavras foi dizendo que se fosse necessário algum ajustamento, não interferiria com a vida do dia-a-dia dos portugueses. Costa vem a público tentar sossegar os incrédulos e desconfiados de tanta segurança política, dizendo que não havia nenhum plano B e que nada levava a que fosse necessário implementá-lo. Portanto, todos descansados!
Eis que, de um momento para o outro, passa a haver um plano B. Afinal, há ou não há? Havia ou não a necessidade de o ter na gaveta? Claro que todos têm um plano B para a eventualidade de falhar o primeiro plano, como parece ser o caso. De facto, não se pode prometer só porque é bonito e se tenta convencer os mais distraídos. A verdade vem sem ao cimo, como diz o povo e tem toda a razão. Não adianta escamoteá-la.
Bem gostaríamos de não precisar de um plano B. Era bom sinal, mas infelizmente parece que não será assim. A oposição tinha razão ao confrontar o governo numa das últimas sessões da Assembleia da República. E quem ouviu as variadas respostas, do governo e dos partidos que o apoiam, hoje podem retirar as devidas conclusões. Todos sabiam que havia um plano B e que, mais tarde ou mais cedo, vai ser necessário implementá-lo para infelicidade dos portugueses. Porquê? Quem tem culpa disto? Não me digam que é do Banif e dos Papéis de não sei onde e dos bancos todos, nacionais e estrangeiros, porque de certeza que não é dos portugueses que têm de pagar tudo isso. Estamos fartos de mentiras e de promessas bonitas e mais falsas que Judas. Basta! Estamos fartos de falhanços!

Onde pára o nosso dinheiro?

Há já bastante tempo que nos sobra mês para o dinheiro que temos. Como não consegue esticar, ele acaba-se, quando ainda vem longe o dia 30 e nada se pode fazer para contrariar tal situação.

Mas se assim acontece com a maioria dos portugueses, já a situação é outra para muitos outros que não se preocupam mesmo nada com o fim de cada mês e com o dinheiro que lhes sobra. Têm demasiado, talvez não porque o ganharam, mas porque o reproduziram, seja lá de que forma, que a nós é um pouco desconhecida.

Bem, é facto o que ouvimos agora nas notícias sobre os Papéis do Panamá e os dinheiros que andam por lá escondidos em Off-shores que são autênticas empresas fantasma. Ninguém sabe de quem são, como circula o dinheiro e quanto dinheiro pertence a quem. Nomes e mais nomes inscritos em milhões de papéis e muitos deles são portugueses e assim concluímos que algum do nosso dinheiro anda por lá a circular, internacionalizando-se, com é moda.

O que me intriga é que se ande a investigar tanta coisa por cá e não se chegue a nenhuma conclusão sobre a maior parte das coisas investigadas. A verdade é que o Estado Português anda a ser roubado. Não é ilegal ter dinheiro no estrangeiro, mas é crime não pagar os impostos desse dinheiro em Portugal. Falsas empresas há-as em todo o lado e não é só no Panamá e outros paraísos fiscais. Portugal não necessita de nenhum chapéu do Panamá, mas oferecem-lhos de borla.

Eu gosto muito de paraísos onde me possa perder à sombra de uma palmeira e onde a água do mar seja morna e apetecível, mas estes, os tais fiscais que se não pagam, não me motivam a não ser pelo prazer que me daria arrecadar nos cofres do Estado o dinheiro indevido que por lá anda a navegar e castigar os que roubam o Estado, muito embora por cá se passeiem como se nada acontecesse lá tão longe dos nossos olhos.

Mas além do Panamá há outros destinos interessantes para o nosso dinheiro. A Holanda, por exemplo, onde muitas falsas sedes de empresas portuguesas do PSI 20 são aceites, arrecada mais de 500 milhões de euros. Em 2015, segundo o jornal de negócios, distribuíram-se dividendos de 18 empresas cotadas em bolsa, no montante de mais de 2 milhões de euros, sendo que mais de dez delas levaram mais de metade do bolo e só pagaram à Holanda uma taxa de 5%, mas não pagaram a taxa portuguesa que é de 28%. Entre estas empresas está a Jerónimo Martins que tem sede na Holanda, como sabemos. Mas também a EDP distribui agora aos seus accionistas chineses, americanos e espanhóis cerca de 670 milhões de euros. Só a China Three Gorges vai encaixar 144 milhões de euros e sem pagar impostos. Isto é um roubo a Portugal. Assim não admira que andemos sempre com as calças na mão. Ao que parece, a Holanda é também um enorme paraíso fiscal, já que a taxa liberatória holandesa é de quase 50% para os dividendos resultantes de atividades na Holanda e de 5% para os das falsas sedes estrangeiras. Assim é fácil fazer dinheiro!

A taxa portuguesa é das mais baixas da Europa e não é proporcional. De facto, um taxista, por exemplo, que paga 28% do resultado do seu lucro anual em taxa de IRS, está na mesma situação de um milionário que tem um lucro de 10 milhões. Isto é normal? Claro que não.

Na realidade, perante estes factos, não é difícil saber onde pára o nosso dinheiro, não só o que devia estar no nosso bolso, como o que deveria estar nos cofres do Estado. Acho que se deveria investigar estas falsas sedes da Holanda entre outras, pois tudo o que é falso é crime, seja uma cópia de uma marca, uma fatura ou uma sede no estrangeiro onde ninguém existe para a administrar, mas onde o dinheiro flui como um rio subterrâneo. Há que acabar rapidamente com a corrupção e com esquemas de falsidade. Urgentemente.

Continente condenado

Disse Malreaux, no século passado, que “politicamente, a unidade da Europa é uma utopia. Seria preciso um inimigo comum para a unidade política da Europa e o único inimigo comum que existe é o Islão”.
Não é uma afirmação de agora, nem deste século, mas possivelmente continua a ter razão. Os últimos acontecimentos que se têm verificado na Europa, demonstram que há necessidade de uma unidade que está a falhar em toda a linha.
A questão dos migrantes, que são na sua grande maioria muçulmanos ou de religião muçulmana e que estão a invadir a Europa, fugindo das atrocidades que os seus irmãos cometem, não estão a gerar a unidade que eles esperavam e a que muitos países preconizavam.
Os últimos acontecimentos que tiveram lugar em Bruxelas, nada tendo a ver com a questão das migrações, estão relacionadas com a religião islâmica e com uma tendência de dominação que está subjacente ao ideário das mentes retorcidas de quem retorce a sua própria religião.
A este propósito, referia Condorcet, no século XVIII, que“ a religião de Maomé condena a uma escravatura eterna e a uma incurável estupidez toda esta vasta porção de terra onde ela estendeu o seu império”. Não sei se a estupidez alastra pela Europa dentro ou se fica somente no tal império que Condorcet referia, mas a verdade é que não conseguimos vislumbrar as razões sensatamente plausíveis que permitam a um muçulmano fazer-se explodir em nome de Maomé ou de Alá. Isto, nada tem de sensato!
Seja como for, a verdade é que em nome de um deus menor !! ou será o mesmo Deus ?, as mortes sucedem-se um pouco por todo o lado acompanhadas de ameaças de dominação e conquista de uma Europa que nunca lhes pertenceu. É curioso que o Corão defende a paz e abomina a guerra e a sujeição, mas é em nome deste Corão que eles produzem as maiores atrocidades. Como se compreende isto?
A explicação, se assim lhe quisermos chamar, está no que disse Chateaubriand há dois séculos atrás quando afirmou que “todos os germes de destruição social estão na religião de Maomé”. Será que já naquele tempo ele se apercebia disso? Destruição e maldade contra a humanidade de que eles também fazem parte.
Ouvimos todos os dias nos meios de comunicação social falar do proclamado estado islâmico para perceber que, embora não tendo muitos meios, nem muita força, conseguem aterrorizar uma Europa que se está a ajoelhar a seus pés, tremendo de medo e vivendo em constante sobressalto. Desde Espanha a Bruxelas, passando por França, toda a Europa parece condenada a esta ameaça abominável, levada a cabo por meia dúzia de suicidas que pensam que o seu “morrer” é diferente do dos outros e que a promessa de leite, mel e muitas mulheres, está para ser cumprida com a sua chegada ao mundo que está do lado de lá do seu próprio muro.
A falta de unidade desta Europa ajoelhada é urgente e necessária. Malreaux tinha razão e continua a ter passados tantos anos. O curioso é que ao longo dos séculos já muitos se aperceberam das verdades que tanto Condorcet como Chateaubriand proclamaram no seu tempo e até hoje nada fizeram acreditando, talvez, na boa vontade do ser humano, seja ele muçulmano ou não. Talvez. Mas é facto que estas ações em plena Europa, em vez de a unir, estão a dividi-la, a amedrontá-la e a impedir a sua união, porque isso implica guerra imediata e a Europa não quer viver mais guerras. Já teve muitas e saiu sempre a perder. Será que perde mais esta?
O que se está a verificar até agora é que as batalhas têm sido ganhas pelos muçulmanos e jhiadistas e a Europa vai tentando apanhar o que sobeja dos despojos que para trás vão ficando. Temos vindo a apanhar os destroços. Será que estamos num continente condenado a viver amedrontado?

Afetos quanto baste

Quanto vale um afeto? Muito sem sombra de dúvida. Um afeto é sinónimo de bom entendimento, de bem-querer, de pacificação.
Contudo, os afetos não são nem podem ser algo que dá só porque dá jeito ou porque fica bem. Os afetos são demasiado valiosos para se desperdiçarem e os que se dão não se recebem de volta. Talvez um reconhecimento, um acenar de cabeça em sinal de agradecimento.
Claro que há afetos e afetos. Nem todos têm o mesmo peso emocional.  Se o afeto pode significar gostar de alguém, particularmente ou globalmente, o certo é que esse gostar tem cambiantes muito diversos.
O Presidente da República eleito quer que a sua magistratura seja pautada pelos afetos. Tem todo o direito de o fazer e de querer que assim seja. E quem está à espera de os receber, certamente tudo fará para que isso aconteça. Marcelo acabou de abrir as portas a todo um povo que o elegeu e que lhe manifesta muitos afetos, como temos visto nestes primeiros dias do seu exercício. Mas a verdade é que nem todos estão dispostos a fazê-lo. Possivelmente, para esses, os afetos estão demasiado distantes.
Na tomada de posse do Presidente da República, onde estava a fina flor da sociedade portuguesa e alguns representantes estrangeiros, Marcelo foi aplaudido efusivamente mesmo ainda antes de alguém saber o que iria dizer no seu discurso de tomada de posse. Era de bom tom que se aplaudisse o homem, o magistrado, o Presidente e esperar o que ele tinha para dizer a todos os portugueses. Mas a verdade é que a esquerda, aquela que não governa, mas que condiciona e manda no governo do partido socialista, não aplaudiu o presidente. Ainda não sabiam se o que ia dizer lhes agradaria ou não e portanto, na dúvida, ficaria bem aplaudir, até porque senão foi eleito com os votos deles, vai com certeza ser o presidente de todos os portugueses e, desse ponto de vista, ganhariam certamente muitos pontos.
As criticas foram muitas e essa atitude não lhes granjeará muitos afetos e penso que também eles não estarão à espera que isso aconteça, até porque isso será o mote para as criticas que se seguem. Convinha, no entanto, fazer uma introspeção para ver se as merecem ou não.
Para Marcelo, os afetos significam entendimentos e proximidade, mas parece que nem todos são adeptos dos entendimentos e muito menos de proximidade. Em política valem as meias verdades e nem tudo o que parece o é efetivamente. O que vale são os interesses. Esses condicionam tudo e, possivelmente até os afetos.
O esfroço que o agora Presidente Marcelo terá de fazer é enorme e nem ele o terá já sopesado devidamente, sendo embora uma pessoa inteligentíssima. Mas de uma coisa ele tem a certeza: em política nada está resolvido com antecedência. Deste modo, os afetos são simplesmente intenções, boas intenções e só passarão a valer alguma coisa quando com elas conseguir resolver os problemas que se avizinham.
Falar dos problemas que se vivem no bairro do Cerco no Porto e nos pedidos a Marcelo para resolver alguns deles, não é a mesma coisa que falar dos problemas que Marcelo terá de resolver, já que os do bairro do Cerco estão a cargo do presidente do município do Porto e longe de Marcelo. Os dele estão mais perto e estendem-se a um espaço enorme onde muitos presidentes têm igualmente os seus problemas. Cá dentro de portas, são mais problemáticas as situações e vão dar-lhe mais que fazer. E é nessas ocasiões que os afetos podem valer alguma coisa ou não valerem coisa nenhuma.
A verdade é que não se pode espera muito de quem não aceitou a derrota, mas continua a querer mandar em tudo e em todos. E não penso sinceramente que os afetos resolvam esse diferendo. E mesmo que Marcelo continue a dizer que é preferível que o governo dure o seu tempo normal de vigência e eu esteja completamente de acordo com esse pressuposto, o mesmo pode não ser verdade entre os protagonistas do governo e apoiantes parlamentares. Um dos primeiros focos discordantes está em cima da mesa de negociação. O PC e o BE estão contra os apoios aos migrantes e à entrada da Turquia na União Europeia e embora o António Costa fosse dar o apoio do governo português, a verdade é que precisa de aprovação do parlamento e agora o PSD diz que vota contra. A ser assim, será reprovado e o que fará Costa? E será que Marcelo terá de usar a sua influência e todos os seus afetos para sustentar a discordância entre os partidos que apoiam Costa? E senão resultar?
Realmente os afetos têm o peso que têm e nada mais que isso. Será sempre uma boa tentativa a de Marcelo querer manter vivos os afetos e a possibilidade de entendimentos entre todos, mas se fosse assim tão simples, tudo se resolveria da mesma forma. Infelizmente não se resolvem assim. Seja como for, valham-nos os afetos e Marcelo.