Luís Ferreira

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Vendavais - Despedidas e desejos

Toda a separação é uma despedida ainda que temporária e quando queremos bem deixamos sempre um desejo na esperança de que se concretize. Mas nem sempre nos despedimos de uma pessoa mais ou menos chegada, mas o desejo, esse sempre fica no ar.
O ano que agora acaba talvez não tenha deixado a vontade de pronunciarmos muitos desejos para repetir, mas como nem tudo foi mau, algumas coisas gostaríamos que se repetissem dentro de algum tempo, outras, enfim, nem é bom falar delas.
Despedimo-nos de 2016 com a pompa e circunstância a que já estamos habituados e desejamos que o Ano Novo traga sempre o que mais falta nos faz, a nós e ao mundo. Desejamos paz, amor, saúde e felicidade. Alguns ainda desejam dinheiro, esse que tem andado tão arredio das bolsas de muitos portugueses, mas apesar do que se diz, esse é um desejo que ficará mesmo só como desejo. Os aumentos que estão anunciados e que entram agora em vigor vão levar muito dos pequenos aumentos que se apregoaram. Não se pode dar tudo, nem dar o que se não tem!
Mas o ano que passou trouxe muitos desgostos para todo o mundo. Foi demasiado cáustico. As mortes que se contabilizaram foram demasiadas e imerecidas. As catástrofes que se verificaram um pouco por todo o mundo deixaram rasto de miséria e morte como se fosse necessário carimbar o ano com um selo tão caro. Os tremores de terra que abanaram o planeta desde a América do Sul até à Europa e deixaram uma marca terrível na Itália, destruíram casas e sonhos e mataram quem não estava à espera que tamanha crueldade os atingisse. Os que ficaram de pé, despediram-se dos entes mais queridos e desejaram que nunca mais se repetissem estes arrepios que o planeta tem, como se quisesse avisar-nos de algo que não vai bem.
A Europa foi o grande alvo de ataques levados a cabo por gente que não sabe o que quer, não pensa pela sua cabeça e não age por vontade própria. De França à Alemanha, passando por outras localidades, as bombas estoiraram, destruíram e mataram em nome de algo que não se entende, não se percebe e não sei mesmo se existirá. Mata-se por matar como se daí resultasse uma satisfação enorme e a resolução de muitos problemas que possivelmente nem têm. O islamismo não defende este tipo de crimes e muitos não entendem por que se mata em nome do Islão. Porquê? Não têm outra justificação nem defesa. Se um dia Alá aparecesse à frente desses grupos, certamente que veriam o erro e talvez se arrependessem e arrepiassem caminho na malvadez que os envolve. Como se pode envolver uma rapariga de 9 anos com bombas e enviá-la para o meio de uma multidão para que se faça rebentar, matando uma dúzias à sua volta? Como se pode ser tão cruel? Que mentalidade retorcida deu a volta à cabeça desta rapariga? Que medos lhe incutiram? Esta nem teve tempo de se despedir e não deixou certamente nenhum desejo futuro.
Mas ao bater as doze badaladas todos nos despedimos do ano velho e desejámos paz para o ano novo. Ao despedirmo-nos de 2016 e talvez só porque era uma despedida, foi acordado o cessar-fogo na Síria, não sem antes milhares de sírios saírem da sua cidade e das suas casas, as que ainda se conservam de pé, e abandonarem o seu país por culpa dos que ainda acreditam que ao morrer vão ter ao seu dispor sete virgens num campo de leite e mel. Como é possível matar tantos milhares de pessoas, destruir uma enorme cidade que tantos anos levou a construir, derrubar uma civilização marcante para a História da humanidade em nome de … nada? Os desejos dos que destroem não serão nunca os mesmos dos que não querem essa destruição.
Por cá, mais terra a terra teremos de ser e, os desejos além da saúde e paz que todos queremos, sempre vamos acrescentando que não queremos voltar a ver por aqui os tais três reis que nada trouxeram para pagar a dívida que ainda perdura. Despedimo-nos deles e do ano que acabou e desejamos que não voltem. Enfim, haja saúde! Feliz Ano Novo.

Onde pára a minha escola?

Em época natalícia seria bom que todos os presentes fossem animadores, interessantes, educativos e criassem uma empatia razoável entre todos os que dão e os que recebem. Infelizmente não é isso que se verifica na maior parte dos casos. 
É quase sempre nesta época que sai o ranking das escolas nacionais como se de um presente de Natal se tratasse, vá-se lá saber porquê! Todos os anos se ouvem as críticas acerca deste episódio classificativo e não são as melhores. As escolas são o que são e pertencem todas, ou quase, ao mesmo sistema de ensino e sujeitam-se aos mesmos currículos o que não é, de modo algum, termo de comparação entre todas elas.
Assim, têm-se ouvido críticas sobre o modo de comparar os estabelecimentos de ensino, sobre a autonomia de umas escolas face a outras, sobre currículos alternativos adequados à região onde se inserem e os alunos mais propensos a um profissionalismo futuro de razoável incerteza, sobre a capacidade dos professores e mais grave, entre os que lecionam no litoral e os que se limitam a andar pelas terras do interior onde a interioridade parece ser um handicap extraordinário nesta coisa das aprendizagens. Enfim, um sem número de premissas para uma conclusão nada lógica.
O que é certo é que, no meu modesto entender de professor deste sistema e deste interior há mais de trinta anos, não se compara o que deve ser comparável e não se diz muito do que se devia dizer. Fala-se muito, critica-se e posicionam-se as escolas numa escala que não traz nenhuma vantagem nem para as escolas nem para os alunos e, poderá servir para exacerbar o ego de alguns pais que conseguem colocar os seus filhos nos tais colégios particulares ou nas escolas que ocupam os lugares cimeiros da escala. Enfim! Será que no meio disto tudo não se estão a esquecer de coisas como o perfil dos alunos, a inclusão de alunos com deficiência em que algumas escolas fazem um trabalho extraordinário, ou mesmo do humanismo com que se devem tratar os alunos de modo a prepará-los e alertá-los para uma melhor sociedade futura através do desenvolvimento de projetos de promoção da cidadania? E já conseguiram aquilatar se o grau de pobreza de algumas famílias é ou não um redutor do sucesso que há em algumas escolas, nas tais que não recebendo um presente de Natal, se posicionam no fundo da tabela, mas não deixam de ser tão escolas como as outras?
Mas é facto que a comunicação social continua a divulgar os dados que recolhe e parece não questionar muitas das coisas que lhe dizem. Parece-me que é uma guerra entre o Ministério da Educação e a comunicação social. Aliás, esta guerra começou já em 2001. Este foi o ano em que pela primeira vez saíram classificações sobre as escolas embora só se referissem aos alunos do 12.º ano. E aqui levanta-se outro problema: até agora têm-se comparado as escolas e as notas dos alunos, sejam de 4.º ano, de 6.º ano, de 9.º ano ou de 12.º ano, mas penso que era relevante comparar as médias dos alunos que entram nas universidades e a média com que de lá saem. Será que têm medo de o fazer? Possivelmente seria uma desilusão e/ou a prova de que há algumas escolas que inflacionam as notas dos seus alunos para que entrem nos melhores cursos ou nas melhores instituições. Isto teria interesse para um ranking? Se calhar não.
Contudo e mesmo com todos os handicaps que possam estar associados a este interior desprezado, a verdade é que daqui têm saído dos melhores alunos a nível nacional e cujas médias rondam os 20 valores. Melhor do que isto, nem os do litoral, nem os das escolas particulares, nem dos colégios famosos que todos nós ajudamos a pagar.
A minha escola anda perdida neste ranking, mas os seus alunos dignificam tanto a escola como os professores que lhes transmitem o saber com a humildade de serem simplesmente professores e com a humanidade que eles merecem, porque são tão filhos deste país como os demais. Temos pena!

Vendavais - Um continente em ebulição

Durante muitos séculos desconhecia-se que outros continentes podiam existir para além do Europeu. Depois de descobertos e nós muito contribuímos para que isso fosse uma realidade, logo foi uma correria à procura do que na Europa não existia. A facilidade de aquisição de riqueza era um motivo muito forte e todos os países europeus tinha sede de riqueza.
Não demorou muito para que em cada um dos continentes descobertos, a realidade fosse outra. No continente americano, começou a corrida ao ouro e à prata e não foram só os americanos, foram igualmente os espanhóis e os portugueses. Onde havia paz, serenidade e quase nenhum progresso, nasceu a discórdia, a guerra, a escravatura e a corrupção. De facto, esta não é de hoje. Sempre existiu e continuará a existir.
Muitos outros séculos depois, deparamo-nos hoje com outros problemas, não muito diferentes dos antigos, mas as realidades são também elas diversas. O continente americano, todo ele, vive hoje momentos de muita conflitualidade e controvérsia.
Os Estados Unidos da América experienciam tempo difíceis. Na realidade as últimas eleições deram-lhes o que não esperavam ao elegerem Trump. Contudo, o que este ameaçava se não ganhasse, está a acontecer-lhe ao ser feita a recontagem em três dos Estados em que supostamente, Hillary ganharia. Agora vem dizer que é um complot contra ele! Antes não seria! Enfim. Mas claro que a parte mais difícil e indefinida é quando Trump começar o seu governo. Ninguém sabe o que ele vai fazer. Ou talvez alguns saibam!
No Brasil a situação é igualmente efervescente. Afastada Dilma por artes que indiciam manipulações a raiar o ilícito, vê-se agora Temer vaiado por todos e à beira de ataque de nervos. Quase não pode sair à rua com medo do que lhe possa acontecer. Prova disso é o dia em que chegaram ao Brasil, os corpos da equipa do Chapacoense. Temer estava presente no aeroporto de Chapecó, mas limitou-se a entregar as medalhas às famílias das vítimas e não foi ao estádio onde foi feita a cerimónia fúnebre. Os noticiários revelaram que estavam com receio do que lhe poderiam dizer as cem mil pessoas que estavam presentes. De facto, não era o momento mais propício para ouvir desaforo! Indecisões seguidas de indecisões é o que se vive no Brasil. Há quem exija a demissão de Temer e há quem peça eleições o mais depressa possível. O Brasil vive em ebulição constante. Está quase a rebentar!
Ali quase ao lado, o Presidente Juan Manuel Santos, da Colômbia, negociou a paz com as forças rebeldes, as FARC, com a promessa de alguns elementos integrarem o Parlamento Nacional. O processo não tem sido fácil e o curioso é que muitos colombianos não querem a paz e não querem que elementos das FARC ocupem lugares no parlamento. No entanto, o dia 1º de dezembro seria o dia D que marcaria o fim de 52 anos de violência e mais de 200 mil mortes e mais de 6 milhões de deslocados. Mais de meio século de constante ebulição. Será que vai arrefecer?
Na Venezuela vivem-se igualmente momentos muito conturbados e de indecisão. Perdida a maioria no Parlamento, Maduro tenta aguentar um governo demasiado contestado através da imposição da força e de uma série de manobras à margem do correctamente político. Por quanto tempo vai conseguir? Todas as ditaduras têm um final e nem sempre o mais agradável.
Um pouco acima, Cuba vê desaparecer o seu ídolo revolucionário. Fidel desaparece aos 90 anos e com ele vai toda a força que segurou um povo e um país durante mais de cinquenta anos. Um homem com um carisma enorme, com uma vontade férrea extraordinária que conseguiu incutir no povo cubano uma ideia de revolução constante. Mudou mentalidades, mas do Mundo recebeu muito pouco. Soube retirar-se a tempo e não levar com ele o rótulo de ditador eterno. Ao passar o governo ao irmão, pelo menos saiu de cena com alguns pontos a favor. E o mais importante, arrefeceu a efervescência em que vivia o país. No entanto deixou a sua marca na educação e na saúde. Neste aspeto, os cubanos não se podem queixar muito.
Mas a ebulição não é só apanágio da América. Por cá as coisas também andam a ferver. Atente-se no que anda a acontecer na Caixa Geral de Depósitos, ou melhor, na sua administração. Entra um e sai e entra outro e até parece um jogo do gato e do rato. Resta saber se o rato cai no caldeirão! É que ele está em ebulição!

Vendavais Quem terá razão?

Não sei se é razoável fazer previsões sobre um futuro próximo. Certamente será sempre uma previsão e nada mais do que isso. A ninguém interessará até porque possivelmente poderá falhar. Afinal, as previsões são o que são e nós já estamos habituados a elas. No entanto e apesar de tudo e como somos supersticiosos, queremos sempre saber se saíram acertadas ou não.
Muitas vezes fazem-se previsões sobre coisas tão banais que é fácil acertar, contudo outras há que falham redondamente. Foi o caso das eleições americanas. Ao longo de semanas todos seguimos atentamente as sondagens e previsões tanto de agências como de personalidades que a esse respeito se pronunciavam e concluímos o quê? Que certamente Hillary venceria e que se os americanos escolhessem Trump, seria uma loucura. Dos americanos tudo se espera e estas eleições foram prova disso. Teve mais votos Hillary Clinton, mas arrecadou menos delegados. Perdeu, pois, as eleições e ninguém contava com isso. Resta agora fazer previsões para o que aí vem.
Como será então o mandato de Trump? Depois do que ele disse e desdisse, fica-nos pouco espaço para prever seja o que for. Realmente o que hoje é dito, amanhã ele desdiz e o que hoje promete, amanhã já não promete. Quem se aventura a fazer uma previsão sobre o que ele vai fazer ou que atitudes tomará em relação ao mundo que o rodeia e aos compromissos que existem? Penso que ninguém. Mas é esta incerteza que nos leva a prever uma coisa: de Trump, tudo pode vir. Esperemos pois, tudo e mais alguma coisa.
Uma coisa ele conseguiu até agora e não é muito agradável para a Europa e para muitos países em outros continentes. Pôs todos em sobressalto e ainda nem sequer começou o seu mandato. Durante a campanha atirou em todas as direcções e ameaçou tudo e todos. Prometeu o que não é de prometer e ameaçou quem não deve ameaçar. Depois das eleições esqueceu-se do que disse e moderou o discurso, mas penso que não engana ninguém. Afinal ele é e será sempre um prepotente, ditador e não admite que ninguém o contradiga. E como tem o Congresso e o Senado nas suas mãos, pelo menos a maioria deles, quem o vai travar? Claro que os americanos têm outras armas e são muitas as surpresas que podem aparecer, mas que alguém tem de ensinar este senhor a governar, lá isso tem. Afinal, como é que foi possível eleger uma pessoa que não tinha experiência de governo, que não conhece os países com quem tem de tratar assuntos de Estado, que não conhece os assuntos de Estado e que comete erros de palmatória ao referir-se a assuntos políticos? E ainda por cima um vaidoso de primeira. Só na América, realmente!
Mas há sempre uma questão que fica no ar: quem terá razão? Estamos habituados a eleger sempre o que nos parece mais plausível e talvez por isso dizemos que esta eleição foi um enorme erro. Será que foi? Não arrisco previsões, mas duvidando muito das capacidades governativas de Trump sempre espero não me enganar muito nas minhas apreciações, contudo como as surpresas existem, pode ser que este senhor não seja mais um Bush disfarçado e consiga ir contra todas as previsões possíveis. Pelo menos sai do esquema normal das eleições facilmente previsíveis. Depois do que disse em campanha, o que todos previmos foi que ninguém elegeria tal pessoa. Enganámo-nos. Todos, incluindo os americanos, esperavam que Hillary ganhasse. Enganaram-se. Será que nos enganamos todos se arriscarmos dizer que esta administração vai ser um desastre? Quem arrisca?
Pois se for um desastre, todos perdemos, se for bem sucedida é porque afinal uma vez mais nos enganámos a fazer as previsões. Futurologia é disciplina arriscada.
Mas à lais de conclusão, sempre arrisco dizer que possivelmente os americanos votaram em Trump para não verem uma mulher na presidência. Deles tudo se espera! Certamente seria mais agradável terem uma mulher democrata na presidência do que um arrogante independente republicano, mas quem escolheu foram eles. Vamos esperar para ver quem terá razão.

Vendavais - O nome das coisas

Não sei, mas possivelmente a palavra “coisa/s” deve ser a que mais usada é na língua portuguesa para nos referirmos a tudo e a nada, especialmente em ocasiões onde a necessidade de nos expressarmos rapidamente falha a expressão conveniente e lá teremos de chamar a “coisa”. Deste modo, todas coisas são coisas e qualquer coisa é uma outra coisa qualquer.
Mas a verdade é que seja qual foi a coisa a que nos queremos referir, o melhor mesmo é chamá-la pelo nome e mesmo quando não nos lembramos dele, fazer um esforço de memória para que ele surja. Mas não é fácil. Tentar não custa! E não adianta rodear o assunto invocando “aquela coisa” uma série de vezes à espera que outra pessoa pronuncie o nome e nos livre de termos sido nós a chamar pelo nome o que deve ser chamado pelo nome. Enfim! Felizmente ainda há quem chame os bois pelo nome.
Todos sabemos o que é a Caixa Geral de Depósitos. Todos sabemos que é um Banco público. O maior Banco público nacional. Todos sabemos que tem uma nova administração que está a dar que falar e muito. Tanto que está a pôr em perigo não só a sua própria credibilidade como a de toda a banca portuguesa e do governo. Todos sabemos que a culpa de toda esta celeuma é a teimosia do novo administrador não querer declarar os seus rendimentos. Todos sabemos que isso “cheira muito mal”. Pois é.
Quando se advogam razões para que tal não se faça, temos de invocar outras que contradigam aquelas e até referir o porquê de elas existirem numa instituição pública que quer ser diferente de todas as outras instituições públicas. Quero eu dizer com isto que o facto de se querer justificar a atitude do senhor administrador com uma legislação que permite ou torna legal a ocultação dos seus rendimentos, não deveria existir pois não se compreende que um banco público não seja objecto de igual legislação que os outros ou tenha de ser diferente. Se todos são “obrigados” a declarar os seus rendimentos em situações análogas, por que razões o administrador da Caixa não é ou não pode ser sujeito ao mesmo procedimento? Que “coisas” haverá por trás de toda esta complicação que tanto impedem o administrador de cumprir o que se lhe exige e continuar a bater o pé, como se de uma birra de garotos se tratasse? Ora como diz o povo e com razão, quem não deve não teme e sendo assim, o senhor administrador, se nada teme, que declare os seus rendimentos e os torne públicos, já que está numa instituição pública e que a todos nós diz respeito. E não adianta o ministro das finanças reclamar de sua justiça, porque ele é um dos culpados de tal situação. O mesmo se passa com todo o governo ao querer defender o indefensável. Não sei se isto tem um nome mais apropriado. Digam vocês. Experimentem, mas não recorram à “coisa”.
No meio de tanta hipocrisia lá apareceu alguém com vontade de esclarecer todas estas “coisas” e adiantou que o melhor mesmo é o senhor administrador declarar os seus rendimentos. Bom Marcelo. É assim que se exprime um Presidente da República. Com verdade e pondo o nome nas coisas. Sempre quero ver o que é que ele vai fazer agora. Como ameaçou que se ia embora se o obrigassem a declarar os seus rendimentos, pode ser que o faça perante esta sugestão presidencial. Caso o não faça, o governo deveria ter a coragem de o demitir do cargo e ir saber que “coisas” estão a impedir que o senhor não cumpra o que lhe pedem ao mesmo tempo que o impedem de ganhar mil euros por dia, ou seja 30 mil por mês, ou seja quase meio milhão por ano. Quem assim faz e corre risco de não receber tal salário, é porque tem muitos outros rendimentos e não precisa de mais. Haja coragem de pôr o nome nas coisas e de dizer o que se passa afinal com este senhor. É assim tão importante e tão brilhante e indispensável na Caixa? Não haverá mais ninguém que não tenha segredos e não queira ocultar certas “coisas” como os seus rendimentos? Certamente que haverá. Ainda temos gente séria neste país e com vontade de ganhar um bom salário. Acabemos com as hipocrisias e já agora com os salários chorudos num país que passa os dias a contar tostões para pagar milhões a quem não deve.

Vendavais - Dinheiro a rodos

Todos sabemos a dificuldade que Portugal atravessa para conseguir sair do buraco financeiro em que está metido há já muitos anos. Todos sabemos quanto tem custado aguentar a austeridade a que todos, ou quase, fomos submetidos para conseguir mandar embora o FMI e continuar a tentar equilibrar o barco completamente sem rumo certo e ainda bem longe do porto de abrigo, ainda em lugar desconhecido. Todos sabemos, mas parece que há quem não se importe muito com isso.
Depois de se terem efetuado cortes nos salários dos funcionários públicos, de haver despedimentos por insustentabilidade financeira em muitas empresas, depois de haver uma redução imensa de empregos e efectivos na maioria das fábricas e empresas em Portugal, poderíamos pensar que agora tudo iria entrar no bom caminho da recuperação, tal como o governo tem anunciado. Realmente já chegava de austeridade! Mas não.
O Orçamento para 2017 está aí e não está fácil haver uma concordância entre os vários players políticos, mesmo os que suportam o atual governo. Hoje disse uma coisa, amanhã outra, hoje está bem assim, amanhã, nem por isso. No entanto, parece que quanto ao facto de o Orçamento ser aprovado, não há dúvidas. Para já as ondas revoltas de uma imensa tempestade para logo a seguir se passar a um mar calmo, plano e sereno onde se pode navegar ao sabor das marés. De facto, o que interessa é estar na onda, na grande, aquela que é imensa e que permite ganhar campeonatos, que o mesmo é dizer estar à frente, comandar, dar o mote.
Pois é. É de bom tom defender o aumento das pensões ainda que seja só de uns míseros 3 euros, ou dizer que o salário dos funcionários fica reposto como estava em 2011 (isso era bom!), ou agendar para 2017 todo um processo de entendimento a três e deixar passar uma quantidade enorme de assuntos graves e que deveriam ser já solucionados. Mas como não interessa entrar em colisão com o governo ou este com os parceiros, levanta-se a lebre e depois vamos a ver quem é capaz de dar o primeiro tiro. Francamente!
Na realidade, como se pode permitir pagar a um presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos mais de mil euros por dia num país que tem uma dívida tremenda, que tem de manter um défice no limiar do lixo e que tem a mesma Caixa Geral de Depósitos a precisar de um financiamento de mais de três mil milhões? Como é que isto é possível acontecer? Afinal, quem analisar isto tudo, pode chegar à conclusão que Portugal tem dinheiro a rodos e que só o governo é que sabe disso. Será que andamos a ser todos enganados?
Eu tenho para mim que ninguém neste país deveria ganhar mais do que ganha o Presidente da República. Mesmo as empresas particulares deveriam reconsiderar os salários dos seus administradores, pois não basta querer não aumentar os salários de quem realmente trabalha e recompensar extraordinariamente os que se sentam à secretária. Todos são necessários, mas não precisamos de abusar!
Nos últimos anos tem entrado muito dinheiro em Portugal para vários projetos, sejam do governo sejam para distribuir pelos vários sectores que o Quadro Comunitário de Apoio comporta. É dinheiro a rodos, mas que não chega à maior parte das regiões deste país. Fica no litoral, em Lisboa, Porto, Setúbal, Leixões e locais semelhantes, mas no interior, despovoado, continua a ser marginalizado completamente por todos os governos. Promessas, muitas. Nada mais. Pois bem, se querem aumentar as pensões e reformas, comecem por retirar aos administradores os milhões que lhes dão e distribuam por quem realmente precisa. Assim, talvez Bruxelas ficasse mais contente, as agências de rating talvez tirassem Portugal do lixo onde o meteram e… os reformados ficariam com mais alguns tostões para além dos três euritos que dão para enganar o pessoal. Nós não somos ricos, metam isso na cabeça.

Vendavais - Alertas vermelhos

Li num diário que o governo e a oposição estavam de acordo e como achei que deveria ser uma piada, acabei por ler mais um pouco para perceber que premissa me estaria a falhar para ter uma conclusão tão óbvia. Fiquei decepcionado.
Na verdade, estavam de acordo sobre a queda do investimento público, o que é um enorme problema. Mas mais admirado fiquei ao ler que o PS assegura que as coisas vão melhorar com a execução do Portugal 2020. Caramba! Exclamei para mim próprio. Então temos de esperar mais quatro anos para ver crescer o investimento público e a economia nacional? E será que os portugueses vão ficar sossegados à espera desse momento? E como irá funcionar a geringonça daqui para a frente com um Orçamento à porta para aprovar?
A oposição acredita que “neste momento” o primeiro-ministro está a travar a fundo para conseguir as tão almejadas metas do défice. A verdade é que parece que há uma série de pagamentos em atraso e a economia está mesmo a asfixiar. Como é possível o Estado estar com pagamentos em atraso? Então não é suposto ser uma pessoa de bem?
Seja como for, nem as desculpas com os atrasos na execução dos fundos comunitários que o governo está a usar, servem para acalmar a onda enorme que se está a levantar contra esta geringonça. Nem Costa ainda encontrou a forma de lhe dar a volta! Embora tenha andado a aprender, a verdade é que não é um mestre do surf. Esta onda é pior que a da Nazaré que deu fama ao americano. Aqui, na Europa, os surfistas andam mais por baixo.
António Costa está cercado. Nem os parceiros do entendimento “pouco sustentável” lhe dão o apoio esperado. Da Europa vêm exigências para mais austeridade em 2016. Como é que ele se vai acomodar com as exigências de toda a extrema-esquerda? Ela não quer mais austeridade. Antes pelo contrário. Já pedem aumentos para inserir no Orçamento. É preciso ter em conta as promessas feitas.
Nos últimos dias, o Parlamento foi palco de uma esgrima confusa. Enquanto a oposição acusava o governo referindo que a economia está em estagnação, António Costa defendia-se dizendo que está em recuperação. Assim, a economia estaria a crescer segundo o governo, mas do outro lado dizem que o investimento está a cair e as exportações a descer. Quem fala verdade?
Se tudo estivesse bem, Costa não se sentiria cercado por todos e acossado pelos próprios parceiros e ainda mais por Bruxelas. Estes pedem mais austeridade, a estrema-esquerda pede aumentos e a oposição acusa Costa de não saber entender-se com ninguém.
O primeiro-ministro tem de se defender de qualquer modo e para isso servem também as crises que se vivem no Brasil e em Angola, que diminuíram as suas importações. Talvez tenha razão, pois a esse nível houve um decréscimo das importações, mas a economia de um país não se restringe às importações e exportações de dois países. Há muito mais do que isso.
Não sei se os portugueses já se aperceberam de todos estes alertas que são realmente vermelhos. A verdade é que nem tudo o que parece é. Se por um lado os portugueses ficam agradados com as promessas de reposição de salários e aumentos de pensões e descida de impostos, outros vêm aí o perigo de ter de suportar tais encargos quando a Europa exige que se façam cortes. Os sinais vermelhos piscam constantemente e quando o sinal está vermelho, manda o bom senso, que se pare. Parar para reflectir e decidir bem.
De um modo ou de outro, as coisas não estão bem para os lados do governo. Costa tem um Orçamento para apresentar e aprovar e os seus parceiros só aprovam se lá constarem as suas exigências e até este momento ainda não se vislumbram. A quem Costa vai dar ouvidos?

Vendavais - Os caminhos da corrupção

Todos os dias ouvimos falar de corrupção e dos malefícios que ela arrasta consigo e dos protagonistas que tão bem a sabem manobrar como se fossem timoneiros de um imenso barco que apesar de navegar num mar revolto, não se quer afundar nunca.
Por todo o Mundo, os caminhos da corrupção são imenso e têm encruzilhadas terríveis para enganar quem se aventurar sem ter licença para os percorrer. Para conduzir é necessário ter licença, carta de condução e, quem não tiver é apanhado, mais tarde ou mais cedo. Por esses caminhos sinuosos, fluem os que conhecem bem esses meandros e é difícil apanhá-los fora de mão. No entanto, quando são descobertos, esses prevaricadores nem sempre são condenados.
Muito recentemente o Ministério Público concluiu que Sócrates recebeu 21 milhões de euros do GES. Investigações nos caminhos estranhos e um pouco desconhecidos da corrupção ligada à Operação Marquês, uma auto-estrada formidável, levaram à descoberta de imensas encruzilhadas onde encontraram a PT, a Telefónica espanhola e o Grupo Lena, entre outros. Mas, apesar do Ministério Público concluir alguma coisa, nada sai em termos acusatórios contra ninguém. No final todos vão sair ilesos e chegar ao fim da estrada sem culpas formadas, estacionando numa Offshore formidável, bem longe de Portugal.
Mas não se pense que isto se passa só neste belo país à beira-mar plantado. Não. Na Rússia de Putin, prestes a ser escrutinado para nova eleição, ele resolveu fechar o único Instituto de sondagens independente que, por sinal noticiava uma redução nas sondagens e anunciava que havia quem quisesse vender o seu voto pela quantia de 70 dólares. Ao que chega a corrupção! Claro que ele vence do mesmo modo e a Rússia terá de novamente o seu presidente, o mesmo que anexou a Crimeia e se envolveu na guerra da Ucrânia e, possivelmente ainda terá pensado que poderia inverter a História e anexar umas quantas nações vizinhas como antigamente fizeram os seus antecessores comunistas.
Pelas bandas da Alemanha, Merkel anda aflita, não só com os imigrantes, como com as sondagens que mostram o partido anti-imigração como vencedor para a assembleia regional de Berlim. Mais de dois milhões de eleitores pronunciaram-se e a segunda derrota em duas semanas está aí para Merkel pensar como resolver a situação complicada em que está metida. Aqui não há corrupção, mas a ideia de como se poderia inverter estas sondagens, já terá atravessado alguns caminhos sinuosos certamente. E não me espanta nada se ela já não se terá arrependido de ter sido tão tolerante nesta encruzilhada.
Realmente os caminhos da corrupção são imensos, tomam formas variadas e espalham-se por diversas regiões com cruzamentos infinitos. É uma forma de despistar. Todos sabemos os propósitos, os objetivos, até algumas formas de a praticar, mas perdemo-nos pelos caminhos que ela percorre. Enfim!
Como já veio a público, até no Vaticano a corrupção se instalou. O Papa Francisco já tentou fechar todos os caminhos e tirar a licença a quem por eles circulava sem autorização. A criminalidade parece ter diminuído enormemente, mas não terá acabado. A vigília continuada é uma promessa e quem se arriscar está sujeito à pesada mão de Deus. Mas para os que se mantêm na sua mão, sem desvios e sem encruzilhadas, o Papa Francisco agradeceu a sua honestidade. É o caso dos polícias do Vaticano. Disse que muitos os queriam comprar e elogiou-os por não caírem em tentações e demonstrarem uma enorme honestidade e concluiu dizendo que lhe fazia impressão ver como a corrupção se espalhou por todo o mundo. Pois, e a quem não faz impressão? O que a mim faz impressão é não castigar severamente os que a praticam. Os caminhos da corrupção só acabam quando houver coragem para admitir que são caminhos ilegais e que ninguém por lá pode circular. Quem disser o contrário, é corrupto. Condene-se.

Vendavais - Ping-pong político latino-americano e europeu

Passaram quase duas décadas desde que a esquerda avançou e tomou o poder na América Latina com a promessa de uma nova política para um novo século. A chamada "maré rosa" - por ser mais moderada do que os vermelhos comunistas revolucionários da Guerra Fria - alcançou 15 países, a começar pela Venezuela, com a eleição do falecido Hugo Chávez, em 1998.
Mas foi o Brasil que verdadeiramente tingiu de vermelho o contingente, com o carismático e popular Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando o PT chegou ao poder em 2010.
Lula - um metalúrgico e ex-líder sindical - e Dilma - uma ex-guerrilheira que foi presa e torturada durante o regime militar (1964-1985) - mudaram e revitalizaram a imagem da velha esquerda latino-americana e o seu modelo foi admirado em muitos países.
Através de uma aplicação de políticas ortodoxas e harmoniosas ao mercado com programas sociais revolucionários, Lula sonhou com um Brasil de classe média impulsionado pelo consumo. Teve a sorte de chegar ao poder com o 'boom' dos mercados emergentes nos anos 2000, quando a procura voraz da China impulsionou os preços das matérias-primas, diminuindo a dependência do crédito externo. Este sonho, no entanto, foi frustrado.
Quando passou o poder a Dilma após dois mandatos, o Brasil registava um crescimento de 7,5% e mais de 40 milhões de brasileiros tinham saído da pobreza.
Em toda a América Latina, mais de 75 milhões de pobres superaram, numa década, o limiar da pobreza. Gerou-se a sensação de que a América Latina estava finalmente a emergir.
Mas tudo desmoronou, não só para o Brasil, como para toda a região, que vive agora o seu segundo ano de recessão. Obviamente a dependência das matérias-primas é maior do que alguns pensavam.
Mas o certo é que as más notícias foram-se acumulando para a esquerda latino-americana.
Na Venezuela, a oposição obteve maioria parlamentar nas eleições legislativas de dezembro. Rico em petróleo, o país está à beira do colapso económico.
Na Bolívia, o líder indígena Evo Morales perdeu em fevereiro uma consulta sobre a possibilidade de se candidatar a um quarto mandato na Presidência, enquanto no Equador, o economista de esquerda Rafael Correa desistiu da ideia de um terceiro mandato perante sondagens nada favoráveis.
A maior parte destes governos afirmaram-se porque deram ênfase à redistribuição, mas faltou-lhes fomentar a criação de riqueza e o investimento. Se não se produz, não se pode repartir.
Além disso, uma série de escândalos de corrupção alimentaram o mal-estar da população.
A saída do poder do PT de Lula e agora a destituição de Dilma mudam definitivamente os ventos na região. Alguns dos seus seguidores consideram que o Partido dos Trabalhadores ficou muito rosa, coligando-se a partidos que só queriam acesso aos fundos públicos para benefício próprio. O PT foi isolando lentamente as suas bases, interrompeu a formação de novos líderes, e foi-se aliando a partidos de centro e direita para garantir a governabilidade.
Se a chegada ao século XXI foi um novo começo para a esquerda - após um século XX que a condenou à marginalização com golpes de Estado, a América Latina pode estar agora a viver o surgimento de uma nova direita, mais pragmática, comprometida com a democracia e com uma agenda social muito diferente do habitual.
A boa notícia para a esquerda, é que a direita nunca provou ser muito melhor na gestão das crises económicas. No entanto, não nos podemos esquecer que os partidos de centro-direita e de direita que estão a beneficiar do colapso da esquerda em toda a América Latina sofreram, eles mesmos, um colapso semelhante há uma década.
Do outro lado da mesa política, está a Europa, onde se está a manifestar um jogo político idêntico. A democracia afirma-se com uma esquerda cada vez mais titubeante e com partidos de centro-direita a percorrerem o caminho que há décadas já percorreram. No meio estão os Estados Unidos que teve impacto mundial com uma ligeira viragem política e com sorrisos de boa convivência mas que está a esgotar os seus trunfos, agora ameaçados por um lunático que a todos ameaça, inclusive a América Latina e a Europa. E é nesta Europa que se vai jogar o grande jogo de ping-pong. Numa mesa nada plana e onde a rede central está muito mal esticada, é natural que a bola política não faça o seu percurso normal em todas as jogadas. A Espanha não tem governo e está à beira das terceiras eleições, por teimosia de partido socialista que quer governar sem ter ganho as eleições, tal como sucedeu em Portugal; a França onde o regresso de Sarkozy é uma hipótese e onde Marie Le Pen avança de espada em riste; uma Inglaterra que se afasta da União por interesses ancestrais e é governada por quem até defendia a manutenção e ainda uma Turquia que, não querendo mais do que ajudas externas da Europa, não quer deixar de ser o que sempre foi, criando problemas internacionais gravíssimos.
Com um cenário destes, não sei como acabará o jogo, mas que não está fácil, não está certamente.

Vendavais - Para onde estás a olhar?

A subjetividade das coisas está sempre no modo como as vemos e como as interpretamos e como nem todos as vemos e interpretamos da mesma forma, tudo acaba por ser subjectivo. Mas há sempre maior ou menor subjetividade sobre o que se nos depara no dia-a-dia das nossas vidas.

Ultimamente temos estado em contacto com acontecimentos demasiado negativos. Um rol de desastres imenso tem-nos sido brindado neste mês de agosto, trazendo a terreiro um peso demasiado negativo num tempo em que todos nos deveríamos libertar por algumas semanas, dessas preocupações sempre tão presentes ao longo do ano. Mas não.

Quando os ministros estão de férias e numa época em que pensamos que nada nos vai incomodar vindo dos lados do governo, eis que nos bate à porta uma alteração do IMI. Alteração de uma subjectividade tão grande que ameaça o ridículo e a incompetência de quem quer ser mais esperto do que o mais comum dos mortais. E porquê? Pela simples razão de que esta alteração se prende com as vistas que se tem de nossas casas. Pasmem! Se da minha janela vejo um lameiro, coisa sem importância, pago menos IMI, mas se vejo uma avenida movimentada onde proliferam as lojas de marca, então pago mais IMI. Pois bem, e quem é que disse que eu gosto de ver a avenida cheia de lojas e de barulho quando vou à minha janela? E quem lhes disse que eu não prefiro ver o lameiro onde pululam as cegonhas e os rebanhos ocasionais que por lá vão em busca de alimento? Quanta subjetividade! É claro que este tipo de análise já estava comtemplado na anterior legislação, mas tinha somente um peso de 5% no valor do IMI. Agora agravou-se 15%, passando para 20% do imposto, mas com a alteração mais acentuada das vistas que se têm e da localização do prédio onde se mora. Pois é, diz-me para onde está a olhar e eu dir-te-ei quanto vais pagar de IMI!! Francamente!

Mas o negativismo deste dia-a-dia não fica por aqui. Não vale a pena referir o desastre que atingiu 423 automóveis no festival de Castelo de Vide. Inacreditável! Mas o caso é que nenhum deles era certamente de algum amigo de Sócrates, pois se assim fosse, poderia ter sido oferecido pelo Grupo Lena, como se vem dizendo na comunicação social.

E para não fugir ao tema, fomos abalroados pela informação de que a Galp andou a oferecer passagens a secretários de estado para irem ao futebol! E eles aceitaram! Mas quando a comunicação social levantou a lebre, não se atrasaram a dizer que iam devolver o dinheiro das passagens. Levantou-se o problema da legalidade e da legislação e sua interpretação e a necessidade de dar um jeito aos decretos de modo a que não houvesse segundas interpretações. Pois claro, era só o que faltava. Mas o azar não acaba aqui. É que enquanto uns foram ao Euro ver jogar a seleção, outros foram aos olímpicos e … foram assaltados. Azar dos Távoras. Alguém disse aos brasileiros que o ministro da Educação andava de bolsos cheios, mesmo na praia de Copacabana e eles acreditaram.

Felizmente nem tudo tem sido negativo ou mesmo subjetivo. Há coisas que sorriem aos portugueses no meio de tanta adversidade. A Volta a Portugal foi ganha por um português. Rui Vinhas conseguiu escrever essa proeza nos anais da História recente, coisa que já não acontecia há muitos anos. Mourinho, um português dos maiores, ganhou a supertaça inglesa ao serviço do Manchester United. Foi entrar e vencer. Nos jogos olímpicos, a seleção nacional de futebol, soma e segue. Depois de ganhar à Argentina, ganhou agora às Honduras. Que contente está o treinador Rui Jorge. Valha-nos o desporto. Por acaso o desporto não paga IMI.

Se assim fosse, não chegaria aos nossos campeões o que ganham para pagar ao Estado as vistas que vão tendo dos locais onde vão abrindo as janelas das suas habitações ou das bicicletas que os levaram a ver a Meta do final da Volta.