Frequentemente lançamos nas dúvidas algumas certezas que, na imponderabilidade da sucessão de determinados acontecimentos, julgamos ser o melhor para resolver certas situações. Não quer isso dizer que acertemos nas dúvidas ou que as certezas sejam realmente certezas. Contudo o futuro, sempre sábio, acaba por nos dar a certeza avançada no meio das dúvidas que nos surgem.
Foi o que aconteceu esta semana. Aliás já há muito que todos lançávamos dúvidas para ver se conseguíamos ter certezas, mas esta semana e depois do resultado das eleições, acabámos por lançar ainda mais dúvidas. Claro, dúvidas sobre a continuidade ou não de Passos Coelho à frente do PSD. A verdade é que apesar de ter somado mais votos, somou menos câmaras do que há quatro anos, mas o que conta é mesmo o número de municípios e esse foi muito menos.
Mas as dúvidas que todos lançavam eram se ele conseguiria manter-se à frente do partido perante um resultado que se adivinhava menos bom, se desistiria ou não, se arriscaria seguir em frente até às legislativas, enfim, dúvidas que toda a gente queria ver resolvidas. Mas também outras dúvidas se levantaram para elencar quem o substituiria se fosse esse o caso.
Para baralhar tudo e todos, Passos Coelho foi dizendo que não seria um resultado mais negativo que o faria recuar ou desistir e todos ficámos com uma dúbia certeza sobre ao assunto. Afinal ele iria continuar mesmo com um mau resultado? E o partido iria permitir que isso acontecesse? Será que ninguém se insurgiria contra esse mau resultado? Demasiadas dúvidas para poucas certezas. Mas se uma certeza já todos têm, muitas dúvidas pairam no ar.
A verdade é que Passo já disse que não iria continuar e que deixava o lugar em aberto para quem o quisesse ocupar. O Congresso vai ser a rampa de lançamento para o senhor que se segue.
No dia seguinte ao desaire eleitoral, logo se desenharam estratégias e logo se lançaram nomes para juntar às dúvidas que buscavam certezas. Parece senso comum que o nome de Rui Rio reúne a maioria dos apoiantes, mas outros foram apontados e ainda mais dúvidas se levantaram. No entanto, alguns como Montenegro ou o deputado europeu Paulo Rangel, soluções possíveis, demarcaram-se do interesse pelo cargo. Outros deixaram aberta a porta para uma possível entrada. Foram pensar. Ainda outros estão a preparar um programa para apresentar no Congresso o que significa puderem candidatar-se a presidentes do PSD. É o caso de Santana Lopes. Assim, as dúvidas subsistem e as certezas também.
A verdade é que as legislativas estão a dois anos de distância e Costa está em vantagem. Não só ganhou estas eleições autárquicas como, a nível nacional está a somar pontos com a situação económica a melhorar e com o alargar da bolsa neste orçamento, apertado pelo Bolo de Esquerda. Claro que se isto soma pontos, também lança dúvidas sobre quem vai pagar a fatura mais tarde. Não nos podemos iludir. Alguém vai ter de pagar tudo isto e não será o partido socialista certamente. Contudo e no imediato, Costa vai somando vitórias que lhe podem ser muito úteis dentro de dois anos. E quem é que vai querer arriscar a carreira neste intervalo de tempo? Quem for ocupar a liderança do PSD, terá duas possibilidades claras, ou é para se queimar (e será mais um), ou será para trabalhar muito e diminuir a vantagem do PS e ganhar as legislativas. Fácil? Não.
Assim sendo, o PSD terá de equacionar todas as possibilidades e avançar somente uma destas soluções. Quem der a cara vai ter de conseguir muita coragem para enfrentar qualquer desaire, pois é o que mais certo pode ter. E quem quer arriscar um tal futuro?
Quando Santana Lopes deixou no ar a possibilidade de voltar a ser presidente, abriu a porta à salvação de outro qualquer elemento do partido, pois não vejo que esse ato não seja simplesmente um suicídio político para salvar, quiçá, Rui Rio. E este se avançar como candidato, arrisca-se a ganhar com toda a certeza, mas terá de trabalhar muitíssimo para chegar às legislativas numa posição confortável para poder discutir com Costa quem vai liderar o próximo governo. E como as maiorias são indesejáveis e difíceis de conseguir, não nos podemos esquecer de uma Catarina Martins que até já admitiu que pode fazer parte do próximo governo. Não significa isto que o PCP está fora da geringonça, mas com o score que também lhe saiu na rifa das autárquicas, ficou com menos peso político e pode não ser suficiente para equilibrar a balança.
Pois é. Passos sai de cena finalmente. Mais vale tarde que nunca! Mas a herança que fica não é nada apetecível. Só mesmo um “desconhecido” poderá estar interessado nela. Valerá a pena?