É costume dizer-se Ano Novo, vida nova, mas nem sempre assim sucedem às ambições que legitimamente se têm. Contudo, há sempre a tentação de mudar algumas premissas de silogismos pouco lógicos.
Quando há alguns meses houve eleições no PSD e se perfilaram Rio e Santana, eu disse que era errado o risco que Rio corria e que melhor seria deixar Santana assumir uma vitória momentânea, deixando sempre o partido em situação de recuperar com mais certezas, um resultado favorável. Tal não aconteceu, como se sabe e, as consequências foram as que sabemos. Santana com quase 46% de votação achou-se no direito de fazer valer o seu valor e saiu do PSD para fazer a Aliança. Perdeu o PSD. Perdeu e continua a perder. Um tiro no pé.
Rui Rio ao ser eleito neste confronto amigável, levou os seus apoiantes a esperar dele muito mais do que tem mostrado, arrastando o partido para um lamaçal tremendo onde, aos poucos, todos se estão a enterrar.
As sondagens dão uma baixa considerável ao PSD o que leva a outras movimentações dentro do partido. O medo do afundanço é assustador e, antes que seja tarde, logo se estão a perfilar candidatos para a liderança numa tentativa de salvação rápida. É verdade que Rui Rio gorou as espectativas dos apoiantes e até dos que não o são. Parece-me que ele mesmo falhou consigo próprio. A verdade é que não conseguiu afirmar-se nem como líder nem como oposição ao governo. Não se vislumbram soluções. Mas também é verdade que não teve muito tempo para marcar um ritmo e descompassar o governo. De qualquer modo, até parece, em determinadas ocasiões, querer aliar-se ao PS, levando algumas soluções a afastarem-se da geringonça, encostando-se deste modo a um PS que está cada vez mais forte e afirmativo.
Estamos a meses de umas eleições e a sensatez diz que não se pode brincar nem com os eleitores, nem com os objetivos pessoais que aparecem só em tempos conturbados. Montenegro, que não quis assumir ser candidato para enfrentar Rio e Santana, vem agora desafiar Rui Rio, numa investida despropositada e sem assumir riscos, arrastando o partido para um desgoverno e desorientação interna assustadora, correndo sérios riscos de descer para níveis nunca antes atingidos. Neste momento o PSD já desceu 50% em relação ao que já conseguiu quando foi governo, mas esses tempos servem só para satisfazer a memória.
Perante este descalabro interno, resta a Rui Rio afirmar-se através do Conselho Nacional e deixar Montenegro a queixar-se com dores de mais um tiro que deu no pé. É que não há possibilidades de levar o partido para eleições internas neste momento quando há eleições nacionais a alguns meses de distância. Seria a maior irresponsabilidade jamais praticada pelo partido social democrata! Deste modo não se auguram tempos fáceis para o PSD e seus supostos líderes. Mas a Rui Rio falta-lhe o poder da liderança. Demasiado mole, diria o povo.
No meio do que se diz e não diz, lá estão os velhinhos do Restelo de quem o partido nunca se conseguiu desprender e que estão sempre a dar palpites. Os antigos barões não se desmarcam nem se desligam do partido. Vão dando opiniões e até são ouvidos, mas não seguidos. Isto leva-nos a concluir que o PSD não conseguiu ainda arranjar personalidades de nomeada que se afirmassem partidariamente de modo a conduzir o partido a praias serenas e seguras. Cavaco só houve um e com ele alguns foram formados e foram vistos num rodopio fantástico na governação, durante dez anos. Acabaram. Passos tentou, mas as condições não lhe foram favoráveis. Acabou. Santana, tentou, mas também falhou e foi embora. E agora?
Face a este cenário, quem se pode rir um pouco é realmente Santana Lopes que já chamou a terreiro os partidos da direita para se unirem após eleições para formar governo. Claro que ele está a contar com os votos divisionistas que a Aliança irá obter e que poderão equivaler aos que o PSD irá perder com toda esta balbúrdia interna. Mas para que isto aconteça serão necessários mais cerca de 700 mil votos. Onde estão eles?
Com eleições à porta e com este desacerto do PSD, Costa e o PS respiram um pouco de alívio. As sondagens são-lhe favoráveis e o mais certo é ganharem as eleições. Resta saber se Costa terá de aguentar com o PCP e com BE ou se seguir a batuta de Rio se coligar ao PSD ou ainda, se a direita coligada com a Aliança conseguirá formar governo em mais uma geringonça à direita. Tudo são possibilidades já que não vislumbro uma maioria absoluta para o Partido Socialista.
Seja como for, Montenegro acabou de dar mais um tiro no pé e arrastar o PSD para um buraco demasiado profundo. Resta saber se vai conseguir sair de lá rapidamente.