É difícil ajuizar o que pensam alguns políticos, mas não só, em determinadas situações. Também não vale a pena perder muito tempo com esse assunto, mas há casos e casos. São esses casos porventura diferentes do normal funcionamento da política, pelo menos do que podemos esperar dela, que nos levam a expressar a nossa humilde opinião.
Poderíamos questionar a decisão extemporânea de Bruno de Carvalho depois da derrota em Madrid e a reação dos jogadores, mas isso é somente mais uma vertente que justifica o quão mal anda o mundo do futebol. De facto, a bola é e deve ser dos jogadores e são eles que a jogam, muito embora se exija sempre mais do que o que eles dão. Contudo isso não justifica, de forma alguma, o que fez BdC. Uma atitude simplesmente desastrosa e irreverente, como se se tratasse de um menino mimado a quem lhe roubaram o brinquedo preferido. Paciência.
Mas não era este o assunto que me levaria a perder mais alguns minutos. A semana que agora acabou trouxe notícias que mexeram tremendamente com a política internacional. Diretamente não nos toca, mas indirectamente somos, de algum modo, abrangidos, quanto mais não seja pela proximidade.
Lula da Silva foi condenado há já algum tempo. Todos sabemos disso, mas esperávamos que com toda a habilidade política que se conhece, ele conseguisse prolongar no tempo a decisão final que o levaria à prisão e lhe permitiria candidatar-se à presidência do Brasil. Se assim fosse, conseguiria ultrapassar esse desiderato e até convencer o Senado a eliminar essa lei incómoda e a relevar a sua sentença de prisão. Mas não. O juiz Sérgio Moro leu a sentença final e deu ordem para prender Lula. Ponto final.
Muito embora Lula continue a dizer que está inocente e a verdade é que parece que por ter recebido um triplex como suborno de uma construtora em troca de favorecimentos à Petrobrás, isso não o torna um criminoso tão perigoso que deve permanecer 12 anos dentro de uma prisão. Culpado? Talvez, sim. Por corrupção passiva! Mas quantos criminosos andam por aí à solta e por bem menos? Quantos corruptos se passeiam impunemente por este país e pelo Brasil? Mata-se e esfola-se e não se condena ninguém! Lula, quer se goste ou não, teve o condão de elevar o nível de vida dos brasileiros e criar uma classe média que não existia no Brasil. Mais de 12 milhões de brasileiros viram os seus salários aumentarem e permitir-lhes uma vida completamente diferente. Permitiu-lhes sonhar! Não estou a defender nem a condenar. Simplesmente comparo situações que no fundo todos conhecemos e todos condenamos. Para o que se quiser comparar, Lula foi o Presidente do Brasil mais popular e que mais obra mostrou a favor dos mais desfavorecidos. Não sei quantos presidentes não receberam subornos, sejam eles quais forem! Conceder favores? Ele concedeu e todos concedemos. Mas o que aqui está em palco é francamente uma atitude política. Sérgio Moro riu sarcasticamente ao afirmar que se limitou a cumprir o que o tribunal de segunda instância decidiu. Temos um Brasil dividido como está Portugal. Curioso!
Mas se no Brasil se assiste a um suposto golpe político, o que se passa na vizinha Espanha, mais concretamente na Catalunha e com Puigedmeont? É a tentativa de outro golpe político, só que perpetrado por um elemento de um clã que tem dominado a Catalunha e quer a sua continuidade custe o que custar. A família Puigdemont, dona de uma fortuna enorme conseguida à custa de negócios ligados aos governos da Catalunha, face a uma delapidação enorme desse património quer controlar um governo e uma Catalunha independente para poder reinar a seu bel prazer, único modo de voltar a ser rica e poderosa. Ele faz parte de uma oligarquia catalã que quer a todo o custo manter-se à frente dos interesses da região. Mas os espanhóis não são tão burros assim e não lhe querem conceder essa possibilidade. Acusado de rebelião e burla e outras coisas que tais, o senhor em causa vê-se obrigado a andar fora de casa para sobreviver e não ir para a prisão por longos anos. A Alemanha quase o extraditava e se o tivesse feito, Puigdemont estava agora na prisão e a Catalunha sem o seu líder revoltoso. Mas porquê tudo isto? A Catalunha é uma região rica, com enormes potencialidades e onde se situam imensas empresas espanholas e estrangeiras de renome. A tentativa independentista falhada levou a que essas mesmas empresas levantassem ferro e se sediassem em território espanhol, deixando a Catalunha desprovida de interesse económico imediato, o que é demasiado mau para os catalães que pretendiam viver dessa riqueza e à custa dela. Em solo alemão, Puigdemont diz não renunciar ao mandato de deputado no Parlamento da Catalunha, mas para isso terá de regressar e o seu regresso implica prisão. Depois da Alemanha vem novamente a Bélgica, refúgio prisão para quem não tem muito para onde ir. Opções políticas, fora de casa. Por enquanto!
Vendavais - Fora de casa
Luís Ferreira