Vendavais - O poder a par da burrice

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Portugal é um país pequeno, todos sabemos disso. Nascemos de um pequeno território que graças à perseverança e denodo de um rei que não o era efetivamente, mas acabou por ser reconhecido como tal, resolveu ir contra tudo e contra todos, acrescentando palmo a palmo, toda a terra que conseguiu conquistar. Nasceu, pois, um país resultado de muito esforço, muita luta e muita conquista.
Desde então, a vontade de crescer não morreu e nos séculos que se seguiram isso foi demonstrado pelo mundo inteiro onde aportámos, ficámos e aculturámos. Significa isto que ensinámos a muitos povos a nossa língua e a nossa cultura. Até hoje, ainda se fala por lá, a língua de Camões. Infelizmente ou não, não chegámos à América do Norte. Foi pena!
No meio de tantas viagens que os portugueses fizeram, no meio de tantas riquezas transportadas e aureolados pela importância que chegámos a ter, nunca conseguimos ter relacionamentos chegados com a América que se tornaria os EUA. Ficámos pelo sul e para lá levámos o nosso saber tão completo e perfeito que fizemos o que hoje é um país imenso. O Brasil deve-nos essa quota-parte, mas nem por isso somos mais alguma coisa do que a semente que cresceu e floriu. Até a nossa língua querem que se torne subserviente da multidão que por lá pulula, mesmo a mais ignorante.
Entretanto, a América cresceu sem a influência lusa o que lhe permitiu continuar a ignorar o grande povo que descobriu o mundo, mas que por azar não chegou à baía do Hudson ou a outra mais propícia à demanda das nossas caravelas. Coisas do acaso!
Talvez por isso mesmo, passados séculos os americanos continuam a ignorar-nos. Sim, ignorar-nos no sentido de não saberem exatamente quem somos e onde ficamos. Será possível?
Hoje a América é um país poderoso, é verdade, mas é talvez o mais ignorante do planeta. Só se interessam pelo imediato e pelo que lhes diz respeito diretamente. Não sei o que ensinam à juventude deste país, mas sobre o mundo que os rodeia não será grande coisa.
A Jetcost levou a cabo um inquérito cultural e entrevistou um pouco mais de 4.000 norte-americanos com mais de 18 anos. O resultado é triste. 49% dos inquiridos acredita que a África é um país, 39% pensa que o Polo Norte não existe e 9% acredita que a Terra é plana. É preciso dizer que os jovens inquiridos tinham um emprego estável e tinham efetuado pelo menos uma viagem nos últimos dois anos. Isto é inacreditável.
De facto, não chega ser poderoso para saber muitas coisas. É preferível ser pobre e ter conhecimentos do que rico e ignorante! Mas eles são pobres em sabedoria, em conhecimentos o que não supera a riqueza e o poder. São, é verdade, os mais poderosos e mais ricos do mundo, mas de que adianta se nem sequer sabem que Portugal existe? Questionados sobre os países que existiam na Península Ibérica, disseram que só havia um: a Ibéria. Será possível? Para que lhes serve a riqueza e o poder se são completamente ignorantes?
Há uns anos atrás, questionados sobre quem era Al Gore, 25% desconhecia que era o vice-presidente dos EUA. Ora quando nem sobre o seu país conhecem quem os governa, como poderão saber o que vai nos outros países ou onde é que eles ficam?
Realmente fico com pena de os nossos marinheiros não terem chegado às costas da América do Norte. É que pelo menos hoje eles falariam a língua lusa, teriam uma cultura muito maior sobre o mundo e com a riqueza que conseguiram acumular ao longo destes anos todos, seriam não só os mais ricos e poderosos, mas também os mais cultos e com certeza saberiam onde fica Portugal. É que ser pobre e burro é triste, mas mais triste ainda é ser rico e poderoso e ignorante. É a sua sina, talvez. Também quando a rapaziada anda aos tiros dentro das escolas e mata os colegas e professores como forma de afirmação ou vinganças mesquinhas, não se pode esperar grande coisa! O mundo não pode girar só à volta deles!

Luís Ferreira