José Mário Leite

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WEB SUMMIT (E uma cerveja ao fim de tarde)

De 5 a 8 deste mês, o Parque das Nações foi invadido por várias dezenas de milhar de visitantes, na sua maioria jovens, profissionalmente ligados às Novas Tecnologias, aficionados e utilizadores habituais de Apps, redes sociais, videojogos e muitos outros produtos digitais. O próximo futuro esteve visível na janela que se abriu e continuará a abrir, na próxima década, na zona ribeirinha que em Lisboa ladeia a Ponte Vasco da Gama. Quem percorreu os vários pavilhões e se embrenhou pelos inúmeros corredores, assistindo ou não às várias sessões paralelas do evento ficou com a impressão que a tecnologia informática, condicionando já a nossa vida, acabará por dominá-la ao ponto de substituir o género humano em todas as atividades produtivas atuais. O aparecimento de alguns robots no próprio certame, sendo a Sophia talvez o mais mediático, vem reforçar essa convicção.

Há quem comece já a anunciar cenários apocalípticos em que o mundo será dominado pelas máquinas cuja inteligência superará a humana levando a uma submissão incondicional ao silício e ao comando algorítmico residente nas memórias dos computadores e devidamente executados por processadores, cada vez mais rápidos e potentes. Não há que ter receio.

É certo que, qualquer tarefa, que seja possível mecanizar, com maior ou menor complexidade, há-de ser executada por uma máquina. Não haja qualquer dúvida que a fará melhor, mais rápido, com maior qualidade e com um custo inferior. Mas isso faz parte da natural evolução da humanidade. Esse é um passo evolutivo e nada de mal acontecerá por entregarmos a equipamentos sofisticados, alguns dotados de “Inteligência Artificial”, porque sendo produtos humanos apenas replicam os conhecimentos destes, mesmo que lhes seja afetada uma capacidade maior de processamento. O que é necessário é levar em boa conta o “ambiente” em que tudo isto acontece e, sabendo da superioridade virtual, deve ser-lhes entregue tudo quanto um algoritmo possa, de alguma forma, resolver ou solucionar. Por isso mesmo é importante que os curricula escolares comecem já a levar, em devida conta, esta realidade e orientar o ensino para as características vincadamente humanas, como a prática desportiva, a música, a pintura, a arte e a literatura. No futuro que vertiginosamente se aproxima, serão essas aptidões e capacidades a distinguir os homens dos andróides.

Se o objetivo dos engenheiros é procurar que as máquinas se assemelhem, cada vez mais, com os homens, o dos professores deverá seguir na direção oposta, procurando, incessantemente, que

os seres humanos sejam, o mais possível, diferentes dos robots.

Para finalizar, não posso deixar de referir um acontecimento ocorrido há alguns anos no Instituto Gulbenkian de Ciência onde uma investigação científica de relevo que foi, inclusivamente capa de uma prestigiada publicação internacional,  nasceu numa conversa descontraída de dois cientistas enquanto bebiam uma cerveja, ao fim da tarde.

Os computadores comunicam entre si, de forma contínua, a velocidades estonteantes e com uma exatidão sem paralelo. Contudo ainda não bebem cerveja ao pôr do sol!

A costeleta (o PCP e os CTT)

Imagine-se que alguém, tendo comprado num talho, dois ou três quilos de costeletas, regressa algum tempo depois a devolver os ossos, por serem duros demais. Obviamente que o talhante, se for educado, explicar-lhe-á que quando optou por aquele tipo de carne, em vez de bife da alcatra, sabia bem que o osso estava incluído e por essa razão o preço era mais baixo. Se estiver mal disposto, com pouca paciência ou se o reclamante for reincidente e agressivo, o mais provável é que seja corrido do talho, à frente de cutelo ameaçador! É esta, mutatis mutandis a resposta que se espera do Governo da Nação face à intenção da Administração dos CTT de fechar dezenas de postos de atendimento ao público. Contrariamente ao exemplo referido, aqui há uma terceira opção. Não podendo o dono do talho pedir a devolução do produto transacionado, o Estado pode reverter a privatização da empresa de distribuição de correio e encomendas.

Tal como o cliente do açougue, quem adquiriu as ações dos CTT, fê-lo na mira do uso da licença bancária, associada ao negócio, sabendo que a contrapartida era a garantia de assegurar o serviço público de correio e demais serviços postais em todo o território nacional independentemente da rentabilidade local. E é isso que têm de ser obrigados a manter. Mesmo que tal resulte em prejuízo. É essa lei do Mercado e esse o princípio que os empresários exibem quando lhes convém! Não se pode ignorar que, em causa está uma atividade imprescindível para uma larga faixa de portugueses, com anormes carências e fragilidades e que é necessário assegurar. Se o concessionário não o faz então que o volte a fazer o Estado que não se pode nunca assumir-se como um grande conglomerado mercantil nem basear a sua atividade na rentabilidade e no lucro.

Obviamente que a administração pública, sendo uma entidade de bem, deve comportar-se como tal. Deve cumprir os acordos que estabelece mas não pode negligenciar as contrapartidas negociadas. Os CTT estão numa senda de que já ninguém pode alegar ignorância, quanto ao destino final. Uma após outra, vai fechar TODAS as delegações onde não tenha assegurado rendimento adequado. Veja-se o que se passou, só este ano. Em janeiro anunciou o encerramento de 22 lojas e, antes de dezembro, a intenção clara e assumida, ultrapassa já largamente a meia centena. Com uma estratégia vil, cobarde e sorrateira, vai comunicando uma hoje, outra amanhã, esta no norte, a seguinte no sul, de forma a minimizar o impacto e a fazer passar suavemente o brutal golpe que pretende desferir no interesse e utilidade pública a que contratualmente se comprometeu.

Contrariamente ao que pretende fazer crer e que, de certa forma está a conseguir, a luta e a resistência contra tão ínvio intento não é uma contenda local ou sequer regional. Não é um problema de Arraiolos, Calheta, Izeda ou Vila Flor. Nem tão pouco do distrito de Évora, da CIM transmontana ou até da região autónoma da Madeira. Nem sequer uma questão partidária nem do governo ou da oposição. Este é um problema nacional e resposta adequada ao traiçoeiro e  pérfido ataque ao interesse público tem de ser de toda a população, multipartidária e situar-se muito para lá da ideologia. No meu entender, a melhor forma de o demonstrar, é assumir que não é necessário aderir a um qualquer partido nem subscrever a sua ideologia para abraçar posições claras e justas que este possa defender e liderar. Só um míope ou um cego é que não vê que, nesta situação concreta, quem está melhor posicionado para comandar as tropas é o PCP, não só pela coerência sempre assumida nesta matéria como ainda pela inquestionável capacidade de mobilização e congregação das razões de protesto. Não há-de ser preciso colocar um pin com a foice e o martelo, na lapela, nem sobraçar o Kapital para integrar uma significativa e inequívoca mega manifestação/protesto contra o golpe que estão a desferir nos nossos legítimos direitos.

De nada servem declarações grandiloquentes que não contribuam para o reforço desta urgente tarefa. Que ninguém seja questionado por engrossar este apoio. Se qualquer liderança partidária questionar um miltante por esta atitude, a este só resta mandar o partido às urtigas, já que a militância só tem sentido se puder ser canalizada para o interesse comum. Por mim, já tenho à mão um cachecol vermelho (que também é a cor do Benfica e dos CTT) e, de bom grado engancharei o meu braço no do Jerónimo para marchar ao seu lado a reclamar a reversão da privatização, se o serviço público não for devidamente assegurado.

Passe bem

Quando escrevo esta crónica, ainda não é totalmente conhecida a proposta do Go-

verno do Orçamento de Estado para 2019, contudo, tudo indica que vai contemplar uma medida de singular relevo, não tanto pelo valor em jogo mas pela mais valia intrínseca. Refiro-me aos passes sociais que, anunciados inicialmente por Fernando Medina, com aplicação, obviamente, na área Metropolitana de Lisboa e que acabaram por ser “adotados” pelo Governo e estendidos a todo o país. Entretanto várias peripécias acompanharam este processo que será interessante analisar.

Após a comunicação inicial do autarca alfacinha, esta intenção foi devidamente analisada e assinalada por Luis Marques Mendes no seu espaço de comentário semanal na SIC. Elogiando a medida e os seus previsíveis benefícios quer para a capital quer, sobretudo, para os residentes nas suas imediações e que regularmente se deslocam diariamente, não deixou de apontar uma “falha” pois sendo uma medida de aplicação regional tinha uma componente nacional, no seu financiamento. A reação política foi imediata revelando a atenção crescente que os políticos dispensam aos comentadores (efeito Marcelo?) tanto assim que a expressão “não comento comentadores” perdeu atualidade sendo usada apenas por atores secundaríssimos, incapazes e incompetentes para responderem de forma clara a críticas de que são alvo. Não sendo este o caso, a disposição foi, de imediato, alargada à zona urbana do Porto.

O antigo líder do PSD retomou novamente o tema reclamando que era um caso de flagrante injustiça, que ao fazer uso do Orçamento de Estado para implementar melhorias em zonas urbanas limitadas e com níveis médios de vida acima da média nacional estava-se a subverter o papel redistributivo do Estado colocando os pobres a pagar para os ricos. Como reação, a regra foi estendida a todo o país. Caíram então as críticas “óbvias”, a que o nordeste não escapou: a dimensão dos transportes públicos no interior é residual – lá estão, mais uma vez, a subtrair ao interior para levar para o litoral.

Sendo certo que a maioria dos queixumes e reclamações contra o Estado centralista são mais que razoáveis e justas, não o são, desta vez. Por várias razões:

1 – Se é verdade que o nível de transporte público é muitíssimo superior nas grandes zonas urbanas, também assim é, no que toca à contribuição para o Orçamento comum. Há pois uma grande proporcionalidade entre o contributo e o benefício.

2 – O princípio de solidariedade, tão caro à nossa gente, baseia-se na norma de que perante um problema com dificuldade de resolução de per si e dos recursos locais existentes, deve recorrer-se aos recursos globais disponíveis. Ora a questão das deslocações urbanas é um problema das áreas metropolitanas e necessitam de ser resolvidas com os meios comuns. Não podemos apelar a este princípio, quando nos dá jeito e abominá-lo quando não nos beneficia.

3 – Não é válido nem automático que um benefício no litoral tenha como contrapartida um prejuízo no interior. Há casos, como este, em que o benefício é do país, como um todo e logo, direta ou indiretamente, todos dele beneficiamos. A diminuição dos veículos nas grandes cidades é um imperativo para minimizar o aquecimento global que a todos afeta.

4 – Finalmente, a afirmação de que estamos perante uma situação de serem os pobres a pagar para os ricos é falsa e ridícula. A proporcionalidade fiscal garante que quanto mais rico se é, mais se contribui. Por outro lado a referida medida vai beneficiar as populações mais pobres dos dormitórios urbanos que são os principais utentes dos serviços públicos. Mesmo aceitando que pudesse haver alguma transferência de impostos do interior para o litoral seriam, quando muito, os ricos da província (que, infelizmente são poucos e sem grandes fortunas) a pagar alguma coisa para os pobres das cidades (que são muitos e, alguns, muito necessitados).

Críticas infundadas e sem adesão à realidade não só não ajudam à justa luta pela dignificação e desenvolvimento do interior, como, pelo contrário, a prejudicam, subtraindo  justeza e fundamentação ao conjunto reivindicativo, no seu todo.

Notícias e comentários

E com frequência evocada uma verdade que, sendo verdadeira e verificada, não deixa de ser recorrente com as consequências conhecidas e confirmadas:

A forma como alguns temas são tratados na comunicação social potencia o seu efeito, agravando-o.

É, nomeadamente, o caso dos estivais incêndios florestais, cujo espetáculo ígneo repetidamente transmitido, em direto (e diferido), aumenta a apetência dos pirómanos para dar seguimento à sua impetuosa vontade de forçar a atuação dos bombeiros e correspondente cobertura dos media. Estou seguro que a divulgação de reportagens recentes com residentes a resistirem à intimação de abandono das suas casa em risco, nos dramáticos episódios da serra de Monchique, deste verão, veio fomentar comportamentos idênticos noutros que, de outra forma, poderiam obedecer, sem qualquer resistência às indicações das autoridades. Disso dei conta em crónica publicada há pouco tempo.

Mais recentemente, voltei a erguer o dedo em riste, a propósito da forma como o assunto dos Ensaios Clínicos é distorcido, na opinião pública e dificultado à sua adesão, com prejuízo para todos porque as notícias apenas dão relevo aos casos mal sucedidos e dramáticos. Muitos outros casos se poderiam aduzir, todos referidos e assinalados e nunca desmentidos. E, contudo, nada indicia qualquer mudança, qualquer alteração de relevo, qualquer alternativa consistente. Dei comigo interrogar-me porquê e, curiosamente, reconhecendo a justeza da crítica, não encontro, em boa verdade, sustentação, suficientemente robusta, para uma opção diferente.

Chamar a atenção para o que é evidente, é fácil. Mesmo que o alerta não seja demais, mesmo que a intenção seja (e é) servir o público e o bem-estar comum, os alertas sobre os “pretensos” exageros mediáticos, mesmo que funestos, não podem, de forma nenhuma sugerir que não é igualmente o serviço público que move os muitos e bons jornalistas nas reportagens que, com o maior profissionalismo, trazem ao conhecimento de todos.

Se um incêndio de grandes proporções deflagrou e consome, descontroladamente, dezenas de hecatres florestais... como não o noticiar, na hora e com relevo? Se um ensaio clínico correu mal, seja de que fase for (porque se há-de querer que um repórter seja especialista em tudo o que noticia?) obviamente que tem relevância muito superior às centenas que correm bem e em segurança nas restantes fases. Como pretender que não seja exercida, na plenitude, a missão a que tantos e tão bem se dedicam?

Apontar os possíveis efeitos perversos, repito, é fácil, para mim (mea culpa) e para todos os que como eu, nos jornais e noutros meios de comunicação, se dedicam ao comentário. Nós não temos carteira profissional, não nos regemos por nenhum código deontológico público e escrutinável. Emitimos a nossa opinão e regemo-nos pela nossa própria deontologia. Não relatamos, comentamos. Não expomos factos, exprimimos pensamentos. Não nos distanciamos, pelo contrário, encarnamos os nossos relatos na primeira pessoa.

Contudo, também repito que a forma como os media anunciam e relatam determinados factos, contribuem significativamente para uma imagem negativa, que não corresponde à verdadeira e fomentam comportamentos que agravam situações já de si, suficientemente dramáticas.

Claro que gostava que fosse de outra forma. O meu problema é encontrar o princípio que seja suficientemente válido, definido e caracterizado que dê suporte a uma guinada consistente, noutra direção.

Um jornalista, tal como eu, também tem a sua opinião pessoal, mas é-lhe recomendado (muitas vezes imposto) que se abstenha de a manifestar no exercício da sua profissão. Eu também tomo conhecimento de factos mas não me interessa nem me motivo a relatá-los de forma distante e disciplinada como fazem os melhores repórteres. Talvez haja, entre estes dois mundo, uma zona de contacto e talvez exista nesse espaço a melhor resposta para este problema. Quem sabe se a solução não pode ser encontrada após uma discussão aberta, uma conversa franca e uma reflexão conjunta, entre comentadores e jornalistas?

Um evento desses seria, sem dúvida, motivo para uma boa notícia e um excelente tema para uma crónica: a opinião dos repórteres de notícias e os factos que motivam os cronistas!

PÂNCREAS (O palco e os bastidores)

Há, em teatro, cenas que têm de se deslocar para o fundo do palco, não por terem menor valor mas porque outras mais importantes lhe roubam a boca de cena.

Sem dúvida que a decisão de construir em Portugal o primeiro Centro de Investigação e Tratamento do Cancro do Pâncreas é de um relevo assinalável. Em conversa recente, na Gubenkian, um amigo, especialista em patologia do cancro, evidenciava a dimensão deste anúncio e não poupava elogios a esta relevante inciativa. O cancro do pâncreas é uma doença transversal que, não resultando de qualquer abuso de alimentação ou vício (como o tabaco) atinge todos os estratos sociais, em todo o mundo. Um centro dedicado exclusivamente a esta temática vai, obviamente, ficar no radar internacional, com todos os benefícios que daí advêm.

O primeiro deles consiste no facto de que, a partir de agora, há uma referência  obrigatória para todos os que pretendam um tratamento especializado e atualizado desta doença. De entre eles, muitos haverá com grande capacidade financeira que, ao deslocarem-se a Portugal, trazem consigo assinaláveis recursos financeiros seja para investir diretamente no tratamento, seja para viagens e estadias suas, das respetivas famílias e demais acompanhantes.

Igualmente, uma unidade especializada nesta área, única no mundo, vai atrair a atenção dos melhores especialistas na doença. O recrutamento, seguramente, far-se-á (como, felizmente já acontece noutras áreas da investigação) por simples escolha dos melhores de entre os melhores dos muitos que se candidatarão. É bom lembrar que o cancro do pâncreas é um dos mais mortíferos atualmente e que, qualquer desenvolvimento e resultado das pesquisas associadas, constituirá uma assinável mais-valia a que qualquer um dos maiores especialistas gostará de estar associado.

Acresce ainda que as farmacêuticas vão priviligiar os contactos com este centro, começando pelos ensaios clínicos de fase 2 e, sobretudo, de fase três que não só constituem uma assinalável fonte de receita, como ainda permitem aos doentes voluntários o acesso a medicamentos inovadores, quando já foram certificados como seguros mas ainda não disponíveis no mercado. É normal que, destes ensaios resultem publicações científicas que prestigiam a instituição bem como os clínicos e técnicos envolvidos.

A notoriedade não se esgota no pioneirismo da instalação. Passa igualmente pelo crédito que é conferido à Fundação Champalimaud por ter sido escolhida por um benemérito internacional, Maurício Botton Carasso, neto de Isaac Carasso, fundador da Danone, para receber cinquenta milhões de euros sem qualquer outra contrapartida que não seja a construção e colocação em funcionamento, do referido centro.

O que terá, pois levado, Maurício e a esposa Charlotte a dirigirem-se à instituição vizinha da Torre de Belém, com esta generosa oferta? Sem dúvida uma realidade suficientemente importante para ter determinado a decisão, mas que, só por si, não alcançou a notoriedade do anúncio do empreendimento. Nesta realidade cabe, antes de mais, o feito da Administração que, há dez anos ainda não tinha sequer instalações próprias e que hoje ostenta um assinalável património e, sobretudo, uma vasta atividade de grande projeção nacional e internacional na investigação científica, no tratamento do cancro e no apoio às melhores práticas e pesquisa para tratamento das doenças da visão.

Mas igualmente, algo que me impressionou quando tomei conhecimento, que a prática clínica tem, nesta unidade, uma metodologia de atuação excelente começando logo na tomada de decisão pois todos os casos clínicos, sem excessão, são objeto de discussão entre os vários especialistas sendo certo que várias vezes a opinião do chefe de equipa revê a sua decisão inicial proporcionando assim, sistematicamente, um melhor tratamento aos muitos doentes que ali acorrem, em número crescente.

A atratividade internacional do Centro Champalimaud de Investigação em Neurociências é já uma realidade comprovável, o prémio visão é disputado pelos melhores investigadores e instituições de tratamento da cegueira, por todo o mundo e, dentro em breve, igualmente será um polo de referência global.

 

Qual Bandarra?

Os mitos nascem de circunstâncias relevantes associadas a determinadas coincidências a que alguém atribui uma pretensa relação causa/efeito. A adaptação popular do relato e o acréscimo de alguns pormenores ficcionais faz o resto. A conveniência para justificar e sustentar determinada tese ou teoria, completa o quadro. Ilustro esta afirmação com uma lenda do tempo da Segunda Grande Guerra.

Timur-e-Lang (Timur o Coxo) que ficou conhecido como Tamerlão assumiu-se como descendente de Gengis Kahan, segundo alguns historiadores, apenas para legitimar o poder que exerceu sobre o largo império que conquistou. Com o objetivo de provar que efetivamente o guerreiro uzbeque tinha entre os seus antepassados o famoso conquistador mongol, o investigador soviético Mikahil Gerasimov solicitou autorização para exumar o cadáver, que lhe foi concedida, dizem que, diretamente por Estaline, em 1941. O mausuléu de Tamerlão, no Uzbequistão, está coberto por uma enorme laje em jade onde está gravada, a mando deste, a inscrição: “Quando eu ascender dos mortos, o mundo vai tremer”. Constou que dentro do respetivo caixão havia uma segunda frase, em árabe, dizendo: “Quem abrir o meu túmulo soltará um invasor mais terrível que eu!”. Poucos dias depois a URSS era invadida pelas tropas hitlerianas dando início à tremenda operação Barbarossa que dizimou milhões de russos.

Um segundo facto veio consolidar a lenda da “maldição”: na véspera da batalha de Estalinegrado, que marcou a inversão no curso do conflito, o esqueleto do guerreiro medieval foi devolvido à sua tumba, observando um rigoro ritual muçulmano. Obviamente que é fácil tentar associar estes factos entre si e é isso que a superstição popular faz. Mas cumpre olhar para todos estes fenómenos com os olhos da razão. A decisão de invadir o túmulo e abrir o caixão foi tomada e executada em alguns dias. Não é razoável sustentar que a invasão, que começou a ser planeada um ano antes, possa estar de alguma forma ligada a tal acontecimento. É igualmente ridículo sustentar que foi a devolução dos restos mortais que inverteu a sorte da invasão germânica. Não é displicente, contudo, aceitar que sabendo das crenças supersticiosas de muitos dos combatentes, a chefia militar, sabendo da sua superioridade estratégica, tenha feito coincidir o re-enterro com as vésperas do contra-ataque, para elevar o moral das tropas. Obviamente que, depois, não foi possível conter a disseminação da crença, mas nada mais há do que isso, coincidência de datas, ocasional, a primeira, provavelmente, forçada, a segunda.

O mesmo se passa, no meu entendimento, com as chamadas profecias do Bandarra que, segundo o que nos foi ensinado na escola, prenunciavam o regresso de D. Sebastião. Uma análise racional aos factos, facilmente releva a incongruência de tal teoria. Gonçalo Annes Bandarra morreu em Trancoso, em 1556, tinha o jovem príncipe, dois anos de idade. Ou seja, quando as trovas foram feitas e divulgadas, ainda não tinha nascido o rei que haveria de sucumbir em Alcácer Quibir. Como poderia o sapateiro de Trancoso apelar à vinda em qualquer manhã de nevoeiro de alguém que ainda nem existia? Mesmo quem possa acreditar nos poderes proféticos do artesão não pode defender tal teoria porque se assim fosse, haveria necessidade de explicar o rotundo falhanço da “previsão” pois é da história que nenhum cavaleiro salvador chegou, nem em manhã de nevoeiro, nem em tarde de nebilina! O anúncio de Gonçalo Annes referia-se não a um chefe militar, mas à ansiada vinda do Messias que os judeus esperavam e que, por essa altura, agitou a comunidade marrana portuguesa e espanhola. Este espírito messiânico varreu a Peninsula Ibérica e foi, de alguma forma, fomentada por D. João III, que recebeu o suposto mensageiro e percursor do Messias, David Reuveni, a quem inclusivamente prometeu ajuda e fazer uma pausa na perseguição aos marranos. Uma leitura atenta das estrofes em questão, mostra claramente que “aquele” que se esperava e anunciava seria “um pastor valente” ... “com huma limgua sagaz”, mais conformado a um líder espiritual do que a um libertador comandante militar. Aliás, o Santo Ofício, que não dormia em serviço, disso se convenceu pois prendeu e sancionou o poeta e proibiu a divulgação da obra.

Obviamente que a posterior “adaptação” serviu os interesses da Casa de Bragança e, seguramente, não seria a comunidade marrana que viria, naquela altura e naquelas circunstâncias, reclamar o sentido diferente e verdadeiro da coletânea de trovas que assim “passaram à história”.

Comportamento grupal (Factos, Notas e Paradoxos)

A propósito de um telefonema recente do meu cunhado João, para ir lá a casa ver o jogo do Glorioso no estádio do Fenerbahçe, lembrei-me de um outro convite que me fez há largos meses para ir com ele ver, ao vivo um (quase) decisivo Sporting-Benfica, no estádio de Alvalade partilhando comigo um dos dois bilhetes que lhe tinham oferecido. Não sou frequentador de estádios de futebol, mas, nem sempre nem nunca, aceitei o repto, pedi emprestado um cachecol do SLB à minha filha e lá fomos até ao Campo Grande. Estacionámos na Alameda Universitária e, desconhecedor destes ambientes que, erradamente, supus serem tal e qual como nos são apresentados nas reportagens televisivas, cometi a imprudência de, atrevidamente, me aproximar do estádio com o identificador clubista à volta do pescoço. Estava certo que o propalado e celebrado fair-play se sobreporia ao fervor aficionado, julgando que a diferença de preferência, podendo ser olhada com desconfiança ou até mesmo desagrado, não deixaria de ser tolerada. Erro meu. Em três tempos os olhares de soslaio acentuaram-se e sem ter tempo de emendar a mão fui violentamente puxado pela parte posterior da tira de pano encarnada que quase me sufocou. Em tom ameaçador fui “aconselhado” a retirar a identificação. Não me fiz rogado e tratei de a retirar e escondê-la completamente no bolso interior do casaco, perante o olhar reprovador de um casal que, com dois filhos pequenos, faziam o mesmo percurso que nós, completamente “equipados” de verde e branco. Por oposição à forma como me censuravam, trocaram um gesto de cumplicidade com o arruaceiro que me ameaçara.

A porta de entrada no recinto que nos coube usar era a mesma que milhares de sportinguistas, não se vendo por ali, pelo menos de forma identificável, nenhum adepto ou simpatizante do adversário do outro lado da Segunda Circular. Havia várias manifestações clubistas naturais mas nada que se assemelhasse à sobranceria de alguns metros atrás. Contudo não conseguia já sentir-me seguro dando comigo, várias vezes, a confirmar que tinha o distintivo têxtil, devidamente guardado. Estava ansioso por entrar mas, não sabendo logo, percebi depois, a entrada estava bloqueada porque tinham feito um cordão de segurança com várias barreiras metálicas para permitir que a claque benfiquista que chegava, fortemente guardada e em ruidosa provocação, pudesse entrar sem qualquer tipo de contacto com os adeptos verde e brancos. Foi então que verificámos que havia, entre nós, mais adeptos do clube da Luz pois que se dirigiram ao polícia de guarda, pedindo para galgarem o espaço vazio, manifestando a sua preferência. Resolvemos fazer o mesmo, já que a demora na entrada nos iria, seguramente, privar do início do jogo. E foi assim que, pela primeira vez e, certamente, pela última, me vi no meio de uma claque de futebol do clube da minha simpatia. Felizmente os lugares correspondentes afastaram-nos da horda ululante e o resto pouco interessa para a história. Diga-se que o Benfica, tendo estado a perder acabou por empatar e nesse ano foi campeão. Mas isso é, para o caso que aqui trago, irrelevante. Em nada acrescenta ou diminui ao que pretendo analisar.

O que me espanta e disso quero dar conta é esta perplexidade: como posso eu ter-me sentido mais seguro e tranquilo junto de um bando de arruaceiros, provocadores e malandros (para não exagerar nos epítetos) do que junto de gente cordata e cumpridora da lei, só porque partilhava com aqueles, por oposição a estes, a mesma preferência desportiva? Igualmente, do outro lado, que razão poderei invocar para me sentir reprovado e renegado por um casal que, sem outros dados, tudo haveria neles que se identificassem mais comigo do que com o energúmeno que me provocou, para lá de um indicador clubista? Fossem outras as circunstâncias e as atitudes, em qualquer dos casos, seriam certamente diferentes; seriam inquestionavelmente opostas.

A natureza gregária e corporativa que geneticamente nos marca e define leva-nos a olhar com benevolência os nossos, e com intolerância os do grupo rival. A facilidade com que desculpamos ou, pelo menos damos o benefício da dúvida, às atitudes e atos reprováveis do político do nosso partido, contrasta, com frequência, com a intransigência com que exigimos a condenação ou, no mínimo, a retratação de atitudes, quantas vezes bem menos graves, do dirigente do partido, que não colhe a nossa simpatia.

O ARMAGEDÃO (E a Nova Arca de Noé)

“Depois vi a Besta e os reis da Terra com os seus exércitos reunidos para dar combate ao que estava sentado sobre o cavalo e ao seu exército”... “E todas as aves se fartaram com as suas carnes”
Apocalipse 19:19-21 

Há certos paradoxos que assumimos como axiomas dogmáticos, genericamente aceites e, como tal, respeitados sem que haja o cuidado de os fazer passar pela peneira da racionalidade, para não falar no crivo da ciência. Um deles passa pela credibilidade que se atribuiu às antigas previsões, provérbios e saberes. É verdade que muitos desses aforismos resistiram à erosão do tempo e passaram pelo aprimoramento da “seleção natural”, mas é igualmente verdade que o conhecimento atual é incomparavelmente superior e a sua base científica é muito mais sólida e segura. Contudo, sempre que tal se propicia, lá vem uma citação do Nostradamus, uma referência a rifão popular ou apenas a dito antigo, perpetuado de boca em boca. Estou certo que tal se deve a uma tendência natural que temos (e não só nestes casos) em sobrevalorizar as opiniões e factos que confirmam as nossas convicções e em desvalorizar todas as restantes por maiores e mais frequentes que sejam. Sempre que um acontecimento alinha com um desses prognóstico apressamos a anotar a coincidência, como reforço para a validade deste e esquecemos totalmente todos os casos em que tal não se verifica. Quando João Baptista anunciou que o Reino dos Céus estava próximo, os que o ouviram na altura supunham tratar-se de uma questão de anos; os primeiros cristãos julgaram que seria logo nos séculos seguintes; no virar do milénio, houve quem jurasse que seria esse o tempo do Fim do Mundo a que se referia o profeta e que o Apocalipse do seu homónimo prenunciava. Há quem garanta que o Julgamento que há-de finalizar a aventura humana no Universo acontecerá brevemente. A  estes junta-se a vox populi que desde pequeno me lembro de ouvir aos mais velhos que a ouviram de outros velhos a quem os mais velhos dos velhos tinham confiado: “O próximo dilúvio será de fogo”. É tempo de partilhar o temor que os olhos caldeados pelas agruras da vida me transmitiam. 
Se é de fogo o dilúvio, de que material será a Arca e quem poderá ter lugar nela?

Outro dos mitos que vai fazendo o seu caminho, nunca provada, mas também nunca desmentida, a que o passar do tempo tem conferido credibilidade, é crença numa confiança desmesurada de que, por mais desastrosa que seja a nossa atuação ecológica ou outra, o génio humano há-de, antes do cair do pano, descobrir e implementar uma solução que previna males maiores ou irremediáveis. O problema desta convicção é que por mais confirmações que tenha, nenhuma lhe confere valor perpétuo. Pelo  contrário, uma única exceção chegará para, de forma dramática, a destruir completamente!
É bom que nos disponhamos a encarar seriamente estas duas hipóteses que, infelizmente, cada vez mais se assomam no horizonte dos dias que passam: o dilúvio de fogo como peça principal do Armagedão e a incapacidade para, desta vez, haver qualquer solução milagrosa ou de última hora que o evite.
Haverá uma Arca, seguramente. Não será necessário emparelhar todos os casais de animais nem exemplares de plantas conhecidos já que um banco de genes, devidamente acondicionado será sufciente para preservar a biodiversidade! Quanto à humanidade, que não haja dúvidas: apenas os ricos e poderosos terão lugar na nave salvadora. Tal como há milhares de anos, a salvação não é universal e apenas os “escolhidos” terão o privilégio de se furtarem à destruição global. Contrariamente aquele tempo, contudo, a escolha não é divina, mas muito terrena e muito baseada na riqueza e no poder. Mas, quer uma quer outra, apenas existem e são detidas por uma elite porque lhes foram conferidas pela imensa mole humana que para ela trabalha, lhe confia o voto ou lhe garante a segurança e a poderosa perpetuação aos comandos dos instrumentos de poder.

“Aprendei, pois, a parábola da figueira. Quando já os seus ramos estão tenros e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo” Marcos 13:28

Artigo dezanove

No dia em que se completaram sessenta e três anos sobre a morte de Calouste Sarkis Gulbenkian, a Fundação que nos legou e que adotou o seu nome encheu o Grande Auditório para fazer a entrega dos Prémios Gulbenkian, em cerimónia presidida pelo Presidente da República. Os prémios nacionais concretizam as linhas orientadoras da Instituição da Avenida de Berna, desde a mais antiga (o apoio aos mais desfavorecidos levado a cabo pelo projeto “É uma casa” que se propõe dar um lar aos sem-abrigo), passando pela mais conhecida e destacada (o apoio às artes, com relevo para o território do interior, presente no “Espaço do Tempo” de Montemor-o-Novo) até à mais recente (a assumida vocação ecológica expressa nos objetivos da Coopérnico, uma cooperativa, sem fins lucrativos e baseada no associativismo e voluntariado que promove as energias renováveis e o desenvolvimento sustentável). A Presidente da Gulbenkian, Isabel Mota, frisou esta realidade a que acrescentou a aposta na Ciência, com o anuncaido reforço de empenho e compromisso no Instituto Gulbenkian de Ciência. Mesmo as apostas mais recentes resultam do percurso já iniciado anteriormente. A verdadeira novidade chegou com o anúncio do prémio internacional que o júri, presidido pelo antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, atribuiu à Organização não Governamental Article 19.

Esta ONG que se fez representar pela jovem e elegante advogada Jennifer Robinson, dedica-se à defesa da liberdade de expressão e informação, baseando a sua missão no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e daí retirou o nome. Criada em 1987 tem assumido, incompreensivelmente, maior importância no atual mundo das “fake news”, pós-verdades, de títulos fabricados, descontextualizados, de abuso das fontes, de julgamentos na praça pública e notícias ebocmendadas. Tudo isso foi devidamente relevado pelo júri, como deu conta Jorge Sampaio. Sem dúvida que a decisão foi, como é habitual, livre e independente. Não se pode, contudo, ignorar o alinhamento deste galardão, com a nova linha orientadora emergente, na Praça de Espanha e que tem por trás, reconhecidamente, a mão do mais novo administrador, Pedro Norton. Não é possível dissociar este agraciamento da mais recente inciativa do Conselho de Administração de reservar a verba de 150.000 euros para atribuição de Bolsas de Investigação Jornalística, até dez por ano, das candidaturas escolhidas por um juri de excelência onde pontuam, entre outros, Flor Pedroso, Cândida Pinto e João Garcia.

O conhecimento, a experiência, a sensibilidade e o dinamismo de Pedro Norton são o garante do sucesso e, sobretudo, da relevância desta iniciativa, na senda de outras a que a Fundação que nos foi deixada pelo Senhor Cinco por Cento, já nos habituou e irá, seguramente continuar a surpreender.

A excessiva dependência do jornalismo de investigação de poderes económicos, tem aqui um contra-peso de relevo.

A Democracia agradece.

 

Lagos do Sabor (Ilhas de Água e Bruma)

Um lago é uma ilha de água no meio de um território mais vasto. Quer uns quer outras são formações raras no Nordeste e as que existem não são espontâneas antes foram criadas por intervenção humana. Também aí reside parte da importância do conjunto de lagos (arquipélago lacustre?) recentemente apresentado em Lisboa no auditório do Padrão dos Descobrimentos. A qualidade do projeto, a importância de que se reveste para a região e, sobretudo, a sua localização, torna-me difícil uma análise isenta e desapaixonada. Refugio-me no facto de ser cronista e não jornalista para dizer claramente o que penso e, por respeito para com os meus leitores, faço primeiro, uma declaração de interesses:

Sou desde há muito um entusiasta da barragem do Baixo Sabor que proporcionou este fantástico projeto. Foi, aliás por causa dela e da sua defesa pública que comecei esta aventura de cronista há mais de uma dezena de anos. Tenho fortíssimos laços familiares e sentimentais a Mogadouro e sou natural de Moncorvo.

Precisamente, têm origem ou raízes em Moncorvo, as duas intervenções que realmente contam e são conterrâneos de Trindade Coelho os artistas que lhe deram brilho à cerimónia, com um belo apontamento musical.

Nuno Gonçalves, Presidente da Câmara de Moncorvo, fez um excelente discurso. Realista e pragmático sem deixar de ser sensível e visionário. Partindo do retrato natural e realista que o novo lençol de água desenhou nas nossas terras pintou, em Belém, um quadro atractivo e sedutor com determinação e esperança. Tudo depende agora da vontade pública para concretizar este excelente e necessário projecto de desenvolvimento e promoção. Esse foi o mote para a intervenção da Secretária de Estado, também ela com raízes em Moncorvo de onde é natural a sua mãe e que garantiu que o PNPOT já contempla investimento direto e indireto adequado, para esta região.

É-me muito difícil destacar algo mais de tudo o resto. Gente boa, afável e acolhedora, paisagens encantadoras, gastronomia preciosa e potencial de atração, há muito por todo esse Portugal e todos os dias chega a Lisboa, prometendo histórias de encantar, lugares de perder a respiração, petiscos de provar e chorar por mais e abraços fraternos de gente genuína e generosa em troca de atenção, promoção e investimento. Records do Guiness não me parece que sejam suficientemente mobilizadores e, mesmo que captem a atenção dos média, julgo ser efémera e sem grande potencialidade futura, a publicidade assim angariada. Tudo isso explica o relativo desinteresse da comunicação social lisboeta pelo evento.

Mesmo sendo verdade que há uma enorme carga simbólica no local onde feita a apresentação, se a mensagem não for percebida por aqueles a quem a queremos fazer chegar, que utilidade poderá ter? Mais valia tê-la feito no Douro. Dos que estiveram junto ao CCB, seriam pouquíssimos a faltar lá e, seguramente, muito mais se lhes juntariam. Não tenho dúvida que a reportagem da imprensa regional acabaria por ter mais eco. Nada impediria a oportuna visita do Presidente da AMBS aos estúdios da TVI e as declarações à TSF podiam ser prestadas no local.

De qualquer forma, este passo menos acertado não pode ser razão para esmorecimento! Pelo contrário!! Chegou o tempo de arregaçar as mangas, unir esforços, congregar vontades e concretizar um projeto de inquestionável valor, para a região, para o Baixo Sabor e, sobretudo, para Moncorvo onde foi idealizado e projectado pelo antigo Presidente da Câmara, Fernando Aires Ferreira.