WEB SUMMIT (E uma cerveja ao fim de tarde)
De 5 a 8 deste mês, o Parque das Nações foi invadido por várias dezenas de milhar de visitantes, na sua maioria jovens, profissionalmente ligados às Novas Tecnologias, aficionados e utilizadores habituais de Apps, redes sociais, videojogos e muitos outros produtos digitais. O próximo futuro esteve visível na janela que se abriu e continuará a abrir, na próxima década, na zona ribeirinha que em Lisboa ladeia a Ponte Vasco da Gama. Quem percorreu os vários pavilhões e se embrenhou pelos inúmeros corredores, assistindo ou não às várias sessões paralelas do evento ficou com a impressão que a tecnologia informática, condicionando já a nossa vida, acabará por dominá-la ao ponto de substituir o género humano em todas as atividades produtivas atuais. O aparecimento de alguns robots no próprio certame, sendo a Sophia talvez o mais mediático, vem reforçar essa convicção.
Há quem comece já a anunciar cenários apocalípticos em que o mundo será dominado pelas máquinas cuja inteligência superará a humana levando a uma submissão incondicional ao silício e ao comando algorítmico residente nas memórias dos computadores e devidamente executados por processadores, cada vez mais rápidos e potentes. Não há que ter receio.
É certo que, qualquer tarefa, que seja possível mecanizar, com maior ou menor complexidade, há-de ser executada por uma máquina. Não haja qualquer dúvida que a fará melhor, mais rápido, com maior qualidade e com um custo inferior. Mas isso faz parte da natural evolução da humanidade. Esse é um passo evolutivo e nada de mal acontecerá por entregarmos a equipamentos sofisticados, alguns dotados de “Inteligência Artificial”, porque sendo produtos humanos apenas replicam os conhecimentos destes, mesmo que lhes seja afetada uma capacidade maior de processamento. O que é necessário é levar em boa conta o “ambiente” em que tudo isto acontece e, sabendo da superioridade virtual, deve ser-lhes entregue tudo quanto um algoritmo possa, de alguma forma, resolver ou solucionar. Por isso mesmo é importante que os curricula escolares comecem já a levar, em devida conta, esta realidade e orientar o ensino para as características vincadamente humanas, como a prática desportiva, a música, a pintura, a arte e a literatura. No futuro que vertiginosamente se aproxima, serão essas aptidões e capacidades a distinguir os homens dos andróides.
Se o objetivo dos engenheiros é procurar que as máquinas se assemelhem, cada vez mais, com os homens, o dos professores deverá seguir na direção oposta, procurando, incessantemente, que
os seres humanos sejam, o mais possível, diferentes dos robots.
Para finalizar, não posso deixar de referir um acontecimento ocorrido há alguns anos no Instituto Gulbenkian de Ciência onde uma investigação científica de relevo que foi, inclusivamente capa de uma prestigiada publicação internacional, nasceu numa conversa descontraída de dois cientistas enquanto bebiam uma cerveja, ao fim da tarde.
Os computadores comunicam entre si, de forma contínua, a velocidades estonteantes e com uma exatidão sem paralelo. Contudo ainda não bebem cerveja ao pôr do sol!