Mais um barco naufragou ao largo da Tunísia. Pelo menos 50 migrantes morreram. Dezasseis foram salvos. Tal tragédia já não chega para capturar as capas dos jornais, envolvidos nas manobras políticas do governo, oposição e campanha para as europeias. Desgraçadamente, estas ocorrências e as notícias das mesmas tornaram-se de tal forma “habituais” que a imprensa e demais meios de comunicação social remetem-nas para secção de pé de página das outras ocorrências. E afinal são cinquenta vidas perdidas num acidente de gravidade idêntica, em termos de perdas humanas, ao do despiste de um autocarro, descarrilamento de um comboio ou à queda de uma aeronave de tamanho médio. A única ou, porventura, maior diferença está no local onde aconteceu: no lado de lá do Mar Mediterrâneo. Não consigo evitar uma interrogação que me ocorre, naturalmente: E se não houvesse mar?
Se não houvesse mar, em primeiro lugar, não haveria naufrágio e a morte, por acidente, de cinquenta pessoas, a norte da Tunísia seria notícia, devidamente relevada por se tratar do desaparecimento dramático de meia centena de europeus. Ou, melhor dizendo, de atlantropeus!
Este cenário de alteração radical da alteração da meridional fronteira marítima do continente europeu, podendo parecer estranho foi estudado e proposto. O projeto do engenheiro alemão Hermann Soergel, se levado a cabo, transformaria o Mediterrâneo num lago de reduzidas dimensões aumentando a superfície europeia que, por tal razão passaria a ser chamada “Atlantropa”! A Tunísia e a Itália ficariam tão próximas que poderiam unir-se através de uma ponte. A ideia, absolutamente revolucionária, nunca foi levada a cabo mas era consistente e apresentava várias valias importantes em que a extensão continental não era, necessariamente, a mais importante de todas as outras.
O plano consistia em fazer baixar o nível atual das águas em várias centenas de metros, com a construção de várias barragens gigantes que fechariam os estreitos de Dardanelos e Gibraltar. Esta última faria o isolamento do Atlântico e a circulação de água permitira o aproveitamento hidroelétrico de cinquenta mil megawatts (oito vezes e meia superior à capacidade atual de todas as barragens portuguesas).
A estrutura mais importante seria o paredão de Gibraltar para conter as águas do Atlântico onde ficaria a principal estrutura de produção de energia, bem como uma rede de canais e eclusas, situadas do lado do oceano, com mais de 400 metros de altura. Para fugir às zonas de maior profundidade, a barragem, desenhada por Bruno Siegwart, teria a forma de cotovelo.
A outra grande barreira, em Dardanelos, iria isolar o mar negro e, igualmente, produzir energia elétrica, em larga escala. A Europa teria aqui uma fonte energética, renovável, de enorme dimensão.
O reverso da medalha seria o desaparecimento dos atuais portos costeiros do sul. Contudo, os mais históricos, como Génova e Veneza poderiam ser mantidos com o recurso à construção de diques projetados pelo arquiteto Peter Behrens. Os restantes seriam substituídos por novas estruturas a levantar de raiz.
O total da superfície conquistada ao mar seria superior a 200.000 quilómetros quadrados, equivalente à soma das áreas da França e da Bélgica, sendo a maioria, contígua à África.
Seria possível ligar, por ferrovia, as principais capitais europeias e africanas.
Os fluxos migratórios seriam muito mais facilitados e, principalmente, diminuiriam, drasticamente as mortes de tanta gente desesperada fugindo à fome, à seca, à guerra, procurando uma vida melhor e um melhor futuro para os seus filhos.