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“O grande Gatsby” (algumas afinidades avulsas)

Scott Fritzgerald foi um dos maiores escritores americanos do sec. XX. Começa a carreira literária nos anos vinte do século passado. São os anos de ouro do desenvolvimento tecnológico, do primado da técnica, da ciência e da máquina. (Até F. Pessoa disse que o Binómio de Newton era mais bonito que a Vénus de Milo). Assistiu-se, então, a desenvolvimentos económicos, sociais e culturais até aí nunca experimentados. Assim, Fritzgerald escreve ao ritmo do Jazz de New Orleans, dos filmes de Hollywood e dos carros de Detroit. Eram “os loucos anos 20”. Ainda para cúmulo, o pós guerra trás sempre consigo muita, muita vontade de viver e de viver depressa. Mas Fritzgerald é um homem controverso. Oscila entre uma postura humanista (de esquerda) e um deslumbramento com a vida daqueles novos ricos, com a sumptuosidade das suas festas, com aquele correr de dinheiro vindo de todo lado até das ilegais destilarias de whiskey. (Também Visconti consegue conciliar uma maneira de ser de esquerda com uma maneira de estar aristocrática. Talvez os seus amigos de Paris, Jean Renoir e Coco Chanel, tivessem contribuído para isso. Se ele dizia que “a aristocracia não são os latifúndios, não são as rendas mas sim uma forma de estar”, Coco Chanel dizia coisa parecida: “luxo não é dinheiro mas sim a ausência de vulgaridade”. É neste caldo de cultura que Visconti faz o filme “La Terra Trema” todo neo-realista, todo comunista mas também faz o “Leopardo” que, com os seus palácios, os seus salões, o seu roupeiro, é um hino à aristocracia no entanto já decadente. Visconti via com nostalgia e mágoa o desaparecimento da Aristocracia ao mesmo tempo que subescrevia as teses do Partido Comunista Italiano.) Este envolvimento leva-o a escrever muito sobre moda. E fá-lo tão bem que os críticos dizem que ele fez da moda um personagem dos seus contos e romances. (Também Fellini, outro “La Fontaine modernista”, no seu filme “La Dolce Vita” fez da Fonte de Trevi o 3.º personagem, o personagem tutelar daquela cena em que Marcello Mastroianni e Anita Ekberg se banham ao luar. Foi uma cena fascinante e tão marcante que ficou indelevelmente gravada no imaginário dos cinéfilos a ponto de, quando Mastroianni morreu quase 40 anos depois, dezenas de anónimos se dirigiram à Fonte de Trevi para lhe fazer a vigília. No entanto, sociólogos mais rebuscados dizem que não, que eles não foram fazer nenhuma vigília, foram sim ver a vigília que a Fonte de Trevi faria ao seu “compagnon de route”.) De qualquer forma Fritzgerald escreve “O Grande Gatsby” um romance que, como todos, é autobiográfico. (Madame Bovary!? c`est moi-disse Flaubert .) E assim Nick, o vizinho, amigo e confidente de Gatsby, é nem mais nem menos que Fritzgerald. A história conta-se em duas penadas: Gatsby, embora de origens humildes, é um homem riquíssimo com uma mansão quase permanentemente em festa. Festas onde há tudo em doses exageradas: carros, álcool, mulheres, droga, luz, moda etc. Nick, talvez o único amigo de Gatsby, acompanha este para todo o lado em permanente crítica mas sempre encantado com todo aquele aparato (”…vinho, riso, poesia e uma mão ladina sobre a carne morna.”) Subitamente Gatsby vê-se envolvido num triângulo amoroso (daqueles triângulos que na maior parte das vezes tem mais que três vértices) e um marido inconsolável desfechou-lhe dois tiros de pistola. Nick contacta os frequentadores da casa de Gatsby para lhes comunicar a morte e convidar para a vigília. Para seu grande espanto todos manifestam a sua indisponibilidade e muitos deles começaram a questionar as origens de Gatsby, o seu tipo de vida, o seu dinheiro, a origem deste, etc. E, assim, ao enterro só foram Nick, o pai de Gatsby e um terceiro que não se sabe bem o que está lá a fazer.

Também Armando Vara tem uma trajectória de vida com alguma afinidade à de Gatsby. Ambos de origens humildes, chegaram ao topo. Armando Vara foi Secretário de Estado, Ministro e Banqueiro. Mais não havia para ser e no entanto, hoje, Vara está a braços com uma pena de prisão pesadíssima por tráfico de influências. Imagine-se!!! Tráfico de influências no País da cunha! Aliás, para nossa informação e porventura defesa, deveriam os Doutos Juízes e Magistrados fazer uma aclaração sobre a dimensão paramétrica da “cunha” e do “tráfico de influências” para sabermos onde estão as “linhas vermelhas”. Sem essa definição ficamos sempre sujeitos às leituras maximalistas ou tolerantes dos Juízes. É que o “tráfico de influências” não sendo fenómeno novo e sendo condenado eticamente pela nossa Sociedade não me parece que esta esteja preparada para o considerar um ilícito criminal, embora os Juízes estejam. Não é por acaso que Vara é o único preso por tráfico de influências. Dá que pensar, não? A criminalização deste ilícito é relativamente recente e aconteceu em Portugal um pouco por pressão Europeia depois dos escândalos “Giscarat” em França e da “Gente Guapa” de Gonzalez em Espanha. Tanto assim é que o Código Penal de 1982 não lhe fazia qualquer referência. A criminalização surgiu no Código Penal de 1995 sem no entanto contemplar a Influência Suposta ou a Influência para obtenção de decisões legais bem como não compreendia os bens não patrimoniais. Depois no Código Penal de 1998 passa a ser criminalizada também a Influência Suposta, a possibilidade de obtenção de vantagens não patrimoniais e o Tráfico de Influência para obtenção de decisão lícita. Esta Lei é controversa e há quem a ache inconstitucional porque não se sabe bem o que é Influência Suposta nem qual é o ”Bem Jurídico” que defende. Como pode uma Influência que não é real desencadear actos da Administração? De qualquer forma, a Lei em vigor aplicada de forma maximalista não deixa muitos de fora. Uma “cunha” a um professor, um pedido a membro de um júri que selecciona trabalhadores podem ser alvo da atenção de um Juiz mais “draconiano” como foi o caso, vergonhoso, da investigação, com buscas, a um Ministro por causa de um bilhete de futebol. E no entanto nessa matéria todos temos qualquer coisa a dizer. Não pretendendo armar-me em S. João Evangelista mas apetece-me, no entanto, perguntar: “quem atira a primeira pedra”?

Ao Vara, disponibilizando o apoio possível, desejo que estes dias lhe sejam muito, muito breves.

 

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Martim Rodrigues (n. Mogadouro, 1605)

Nasceu em Mogadouro pelo ano de 1605, filho de Belchior Garcia e Ana Rodrigues, cristãos-novos. Grande parte dos seus muitos tios, paternos e maternos, viveram e morreram em Madrid, facto muito natural, ainda mais por ser tempo de união dos reinos ibéricos, sob a coroa dos Filipes. O mesmo se diga de 3 de seus irmãos.

Martim Rodrigues era curtidor e negociante de solas, profissão bem rendosa, tratando-se de uma região particularmente adaptada à criação de gado bovino, verdadeiro solar da conhecida raça mirandesa.

Ao início da década de 1630, Martim foi casar a Quintela de Lampaças com Clara Fernandes, de uma família com largo historial na inquisição, nomeadamente o pai e o avô paterno.(1) Em Quintela estabeleceu morada em dezembro de 1637 quando a inquisição promoveu uma autêntica operação de limpeza da gente da “nação infecta” da aldeia, ordenando a prisão de 19 moradores, acusados de participar na celebração de uma “missa judaica”(2) Muitos dos mandatos de prisão não foram cumpridos porque, entretanto, os réus tinham fugido. Logo surgiram informações de que Jorge Fernandes, de Carção, intercetara o correio e viera na frente avisar que fugissem. Foi também preso e processado.(3) E destes acontecimentos nasceram as primeiras culpas contra Martim Rodrigues. Uma delas, assim descrita por Amaro Luís Igreja, cristão-velho, perante o comissário Francisco Luís, arcediago de Mirandela, em 25.10.1637: 

— Viu ele testemunha, às 10, 11 horas da noite a Luís da Serra, morador em Quintela, cristão-novo, andar batendo com um pauzinho pelas portas dos cristãos-novos e outro chamado Martim Rodrigues, mas o que batia era Luís da Serra e dizia: - Olá, vinde!...(4)

Era o chamamento para mais um “ajuntamento judaico”. Outra culpa respeitava ao facto de ter sido ele a receber em casa Jorge Henriques e ter-lhe dado ajuda no aviso aos outros para que fugissem. O comissário da inquisição, Paulo Peixoto de Sá, esperava então que Martim fosse preso e escrevia para Coimbra, em 14.3.1638:

— Martim Rodrigues é da nação e ainda está neste lugar e cuido estar ainda por ser curtidor e ter couros em pelames (…) se não fosse isso, já teria ido, visto ter sua fazenda vendida…(5)

Na verdade as acusações feitas contra o nosso homem não seriam suficientes para os inquisidores de Coimbra decretarem a sua prisão. E se ele tinha vendido a sua fazenda em Quintela, não seria para fugir, mas com o objetivo de mudar a residência para Mogadouro, na sequência da morte de sua mulher, Clara Fernandes, que lhe deixou dois filhos: Leonor e Francisco, nascidos, respetivamente, por 1631 e 1633.

Em Mogadouro casou de novo, com Maria de Robles, cristã-nova, que lhe deu mais dois filhos: Manuel e António, a qual viria a falecer por 1645, posto o que, Martim casou pela terceira vez, então com Ana Lopes, natural da Torre de Moncorvo. 

O casal vivia desafogadamente e, à boa maneira da gente da nação, todos trabalhavam, exercendo atividades múltiplas. Martim comprava e tratava couros e vendia solas, “selaria” e outra “obra-prima” pelas feiras. Mas também cobrava rendas e foros como as “sanjoaneiras” do Conde de Távora ou “os quintos” do arcebispo de Braga.

E se Ana Lopes declarou para os inquisidores que “vivia da fazenda que ganhava seu marido”, não é crível que ficasse parada, a olhar para a enteada Leonor que em sua casa morava e “vivia de fiar seda” ou para o enteado Francisco que pelos 14 anos era já “tendeiro de especiarias”.

Entretanto “vacinada” que foi a povoação de Quintela e analisadas pelo santo ofício as denúncias ali feitas contra Martim Rodrigues, o procurador do tribunal de Coimbra requereu a sua prisão, nos seguintes termos:

— Contra Martim Rodrigues, natural e morador em Mogadouro, que já residiu em Quintela de Lampaças, ofereço os testemunhos (…) dos ajuntamentos que a gente da nação fazia de noite em Quintela em que o delato andava chamando pelas portas. Os presos de Quintela todos confessaram culpas de judaísmo e o delato é morador em Mogadouro, onde não entrou o santo ofício e há muita gente da nação indiciada”.(6)

Ou seja: com a prisão de Martim, em janeiro de 1648, planeava o procurador do santo ofício uma nova operação de limpeza da heresia judaica. Aliás, os próprios inquisidores, poucos anos depois, mandariam escrever no processo de um “passador de judeus” do Vimioso, a seguinte nota:

— (…) Mogadouro, que há muito tempo arde em judaísmo e aonde o santo ofício tem presas mais de 60 pessoas e tem fugidas outras tantas ou mais, para não serem presas.(7)

Na verdade, à prisão de Martim Lopes seguiu-se a da mulher e dos filhos,(8) denunciados por ele, naturalmente. E, de seguida, mais uma dezena e meia de cristãos-novos Mogadourenses deram entrada na cadeia de Coimbra, igualmente denunciados por Martim. Tal como aqueles denunciaram outros, num crescendo exponencial de denúncias, seguidas de prisões e fugas. Era o início da maior operação realizada em Trás-os-Montes. Só de uma vez foi decretada a prisão de uma centena de cristãos-novos Mogadourenses!

Não vamos falar das pessoas que Martim Rodrigues denunciou como seus correligionários, as quais, por sua vez, o denunciaram a ele. Diremos tão só que boa parte dessas denúncias aconteceu na feira dos Chãos, freguesia de Salsas, termo de Bragança, então a maior feira de gado do Nordeste Trasmontano. Entre os seus confitentes, destacamos Diogo Nunes Cardoso, de Freixo de Espada à Cinta, pelo simples facto de ser “tratante de bacalhau”, o primeiro que encontramos em semelhante atividade profissional.

Em termos de matéria de delito, para além das muitas declarações de judaísmo e companheiros nos jejuns do kipur, da rainha Ester e da Judith, veja-se a confissão seguinte:

— Disse que haverá dois anos, no Mogadouro, em casa de Francisca Dias, já defunta, estando ambos, deu ele confitente um tostão ou 4 vinténs para a dita Francisca fazer um jejum pela alma de Maria Robles.(9)

Do processo de M. Rodrigues, destacamos o facto de, na própria prisão, ele ter feito o jejum do Kipur de 1648. E, certamente porque não tinha a certeza do dia em que calhava, jejuou três dias seguidos.

A prisão de Martim, como, aliás, o da mulher e dos filhos, terminou com a condenação em confisco de bens, cárcere e hábito perpétuo e penitências espirituais, saindo penitenciados no auto-da-fé de 10.7.1650.

Regressado a Mogadouro, logo Martim Rodrigues começou a planear a fuga para Castela. Tratava-se de uma jornada bastante perigosa, pois se estava no mais aceso da guerra da Restauração, com a fronteira cheia de soldados, de um e outro lado. Além do outro “exército” constituído por frades e beatos e familiares da inquisição, sempre empenhados em espiar os movimentos dos “judeus”. E porque se tratava de uma jornada perigosa, Martim contratou o mais seguro dos “passadores de judeus” que então operavam na região, o padre Belchior de Macedo,(10) membro de uma nobre família do Vimioso, pároco da freguesia de S. Martinho de Angueira, uma aldeia sita mesmo da fronteira de Castela.

Pela passagem dele, da mulher e dos filhos penitenciados pagou 12 patacas ao padre Belchior. Este, por sua vez, contratou, para o ajudar, dois outros “passadores” do Vimioso, pagando a cada um 3 mil réis, quantia bem avultada, correspondente a 30 jornas de trabalho. Um dos “passadores” contaria mais tarde, na inquisição de Coimbra, que o padre o contratou para ir com ele a Mogadouro a buscar uma carga de incenso e só quando chegaram à capela de Santa Cruz, perto das “tinarias dos pelames”, onde os fugitivos esperavam, escondidos, é que lhe revelou ao que iam.(11)

 

Notas:

1 - Inq. Coimbra, pº 641, de Francisco Rodrigues, o temeroso; pº 8990, de António Rodrigues, o antão.

2 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nas Rotas dos Marranos de Trás-os-Montes, pp. 15-40, Âncora Editora, Lisboa, 2014.

3 - Inq. Coimbra, pº 3271, Jorge Lopes Henriques

4 - Idem, pº 3305, de Guiomar de Leão.

5 - Idem, pº 8227, Martim Rodrigues.

6 - Idem, fl. 13.

7 - Idem, pº 3491, de Manuel Álvares.

8 - Idem, pº 8216, de Ana Lopes; pº 8224, de Leonor Nunes; pº 1163, de Francisco Nunes.

9 - Pº 8227, tif 145.

10 - ANDRADE e GUIMARÃES – Uma Rede de Passadores de Judeus desmantelada pela Inquisição de Coimbra, in: Nas Rotas dos marranos de Trás-os-Montes, pp. 137-140. Inq. Coimbra, pº 8025, de Belchior Macedo.

11 - Idem, pp. 103-105. Inq. Coimbra, pº 861, de Francisco Rodrigues.

Bem, não basta

Várias vezes ouvi autores, atores e artistas referirem-se a temas, obras e situações que se lhes impõem, que os perseguem, dos quais não conseguem fugir nem libertar-se. Tal foi o que me aconteceu com o tema que tem dominado a atualidade política destas últimas semanas. Por mais que tentasse evitá-lo, esperando que saísse de cena ou que fosse desvalorizado, mas, pelo contrário, a forma desajeitada com que foi tratado e, sobretudo, pelo jeito desastrado como se tentou justificar, acabou por se manter e afirmar. Estou, obviamente, a referir-me ao que já é conhecido como familygate!

Mais uma vez se cumpriu o postulado na popular Lei de Murphy: “Tudo o que havia para correr mal, correu mal, na pior altura”. Bem se esforçou o PS por desvalorizar o fenómeno, mas quanto mais desdenhava, mais a opinião pública (e publicada) o evidenciava e lhe valorizava a sua perniciosidade. Por várias e óbvias razões:

Tendo sido devidamente assinalado e condenado na sua primeira edição, aquando da formação do atual Governo, não valorizou a condescendência com que as atuações governamentais são olhadas e julgadas nos primeiros dias de exercício a que, por norma, se costuma, apropriadamente, chamar, período de graça... e repetiu a graça... quando já não havia graça que lhe valesse!

Depositar nas mãos (e voz) de Carlos César a defesa da “honra familiar” não foi, seguramente uma boa ideia, pelas razões conhecidas. A justificação sobre a apetência de determinadas famílias para o “serviço público”, enquadra-se no rifão popular: foi pior a emenda que o soneto! Esta questão da “legitimidade familiar” é uma tese monárquica e portanto não pode ser usada por um partido que se reclame da ética republicana! Acresce que essa justificação só indicia não existir outra melhor. Ora quem, em seu perfeito juízo, se doente, se entregaria nas mãos de alguém sem a devida qualificação, só por pertencer a uma família de médicos?

A elite socialista esqueceu que a “questão familiar” não só desperta a animosidade da oposição como, sobretudo, indicia a inveja e revolta dentro do próprio partido!

A, também desastrada e rancorosa, intervenção do ex-chefe de estado, mesmo errada e desajustada em nada ajudou o partido do governo porque não o legitimou, pelo contrário evidenciou que não soube aprender com os erros alheios... que atempadamente criticou.

A tentativa, dificilmente evitável, de tentar legislar sobre o assunto, é uma armadilha: se a nova legislação não condenar todas as situações atuais, como parece ser a opção do Largo do Rato, pode ser interpretada como um ato de hipocrisia; se por outro lado, condenar todas as ocorrências publicitadas resume-se a uma clara assunção de culpa, perigosa a poucos dias das eleições!

Por fim, a mais repetida e, quiçá, a mais valorizada razão para tentar justificar a discutível conduta, tendo, em si, alguma razão de ser, não basta. É verdade que não é justo nem correto que alguém possa ser prejudicado só pelos seus laços familiares. Mas o problema não é esse. Não é essa a questão relevante. Não é a competência de quem é nomeado que deve ser questionada, quando a sua escolha é feita por algum parente (ou com ligações partidárias ou cruzadas, na família). A verdadeira razão inquestionável passaria pela possibilidade de garantir que não há ninguém, fora desse grupo de influência, capaz de fazer melhor ou, mesmo, parecido. E isso é extremamente difícil de assegurar!

Portuguesas e portugueses, indignai-vos!

O calendário eleitoral de 2019 contempla eleições para o Parlamento Europeu, a 26 de Maio e para a Assembleia da República a 6 de Outubro. Entrementes acontecerão as regionais da Madeira, a 22 de Setembro.

De acordo com a lei em vigor os actos eleitorais são precedidos por vistosas campanhas preambulares com datas e durações estabelecidas para que os partidos concorrentes possam mostrar a bondade dos seus programas e dissimular as suas maldades. Tal não obsta, porém, a que os portugueses sejam permanentemente massacrados por campanhas extemporâneas, conduzidas, sobretudo, pelas forças no poder.

E não é por acaso que o conhecido adágio “em tempo de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra”, foi entretanto adaptado pelo povo para “em tempo de eleições as mentiras são aos montões”. Isto muito diz dos governantes e afins, vulgo “políticos”, que sobranceiramente servem a Nação com mentiras e mais mentiras.

Os políticos, porém, não se ficam pelos discursos. Não se limitam a mentir, portanto. Vão mais além. Também competem, destemidos, nos campeonatos nacionais do compadrio, do nepotismo, do peculato, da promiscuidade com banqueiros e capitalistas e da corrupção genericamente entendida, que parece não mais ter fim (*).

Na ordem do dia estão as excessivas e injustificadas nomeações de familiares e amigos para bem remunerados cargos públicos, com Portugal a ser objecto da chacota internacional, embora o fenómeno só agora tenha sido tornado público. É quando se zangam as comadres que se descobrem as verdades. Dessas coisas percebe o povo.

O que também explica que os escândalos maiores apenas sejam conhecidos, por norma, em tempo de campanha eleitoral quando os políticos lutam pela sua sobrevivência. Fora dela optam por ser politicamente correctos e encobrirem-se uns aos outros. Aqui o adágio deve ser lido ao contrário: quem mama não chora.

Entretanto, o Presidente da República declarou, sem pompa nem circunstância, que a ética poderá não bastar (haverá vergonha maior?!) para evitar tais delitos, mas que a lei pode ser facilmente atamancada. Já o Primeiro-ministro tentou tapar o sol com uma peneira defendendo uma urgente e peripatética revisão da mesma lei (o golpe está a doer-lhe fundo, como se vê).

 Mais fácil seria pôr um polícia atrás de cada político para lhe cobrir as costas e lhe encobrir a face já que a alma, essa, ninguém sabe em que águas de ética se banha. Presidente da República e Primeiro-ministro, desde sempre em tolerante cumplicidade, procuram apenas salvar a face e bendizer o Regime com discursos de oportunidade, inconsequentes.

Lamentável é que os portugueses apenas reclamem melhores salários e mais dias de férias quando deveriam, isso sim, aproveitar os actos eleitorais para dar um murro na mesa de voto e exigir que os políticos, de uma vez por todas, ganhem vergonha na cara e parem de desgraçar o Estado e de defraudar a Nação. Quem não se indigna nem se sente não é filho de boa gente.

Portuguesas e portugueses, indignai-vos, porra!

 

(*) O meu respeito para aqueles a quem não serve o barrete.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

A mais bonita metade do céu

A sabedoria chinesa ensina-nos desde há séculos: “As mulheres carregam a metade do céu.” Contudo esta homenagem é algo ambígua se se deixar perceber que os homens carregam a outra metade e que as mulheres só transportam o céu e em nada a terra. Cada dia, sábio ou não, mostra-nos que as mulheres carregam o fardo do mundo e das civilizações, na totalidade, a começar pela espécie masculina que se distingue pela sua violência, pela sua cobardia, pelo desprezo por tudo o que não é macho, e pela sua fundamental brutalidade. As mulheres ao aceitar carregar a metade do céu consentem, efectivamente, em transportar a totalidade da humanidade e a sua condição, que não é ela tão famosa por vezes.

Estas encontram-se na primeira fila de todas as infelicidades porque elas sabem chorar, algo que os homens já não fazem há centenas de anos, desde o fim das guerras antigas. Os heróis de Homero são os últimos na história universal a ter derramado lágrimas de tristeza, de pena e de luto. As mulheres, elas, nunca cessaram de o fazer. Nas filas de populações famintas de refugiados que se arrastam por caminhos de lama dirigindo-se para os inúmeros campos de refugiados, elas carregam claramente aos ombros e às costas a metade da terra. A mais rude, a mais pesada, aquela que os homens deixaram atrás deles. Eles confiaram-lhes a carga toda e ficaram nos terrenos de combate para continuar o massacre e poder alimentar os ódios.

Frente às tendas onde se reúnem com as suas crias com olhos grandes e tristes, continuam a fazer boa figura, esboçando pobres sorrisos sem alegria perante a evidência da fatalidade. Elas ficam aliviadas por serem salvas, contudo infelizes. Perderam toda a liberdade de ir e voltar, toda a autonomia, que já não tinham antes quando, reclusas e pioneiras dos maridos com quem tinham sido obrigadas a casar, não tinham qualquer margem de manobra para a sua liberdade. Só existiam para servir. Como se fossem objetos domésticos.  

E aí estão elas a chorar os maridos.

Quando se fala no nosso país da “ condição feminina” e da sujeição da mulher e da sua dependência, esquecemo-nos de que, na terra, uma imensa maioria de mulheres vive praticamente em escravatura sob o jugo masculino. É apenas exagerado afirmá-lo desta forma. As nossas preocupações nas carreiras e igualdade homens-mulheres são, duma certa forma, preocupações de ricos, de pessoas mais ou menos bem inseridas na sociedade. Pensemos no que vivem milhões de mulheres indianas, chinesas, árabes, indonésias, africanas ou da América latina relegadas para segundo plano da humanidade, negadas na sua identidade própria, na sua dignidade e nobreza de mulher, de mãe e de esposa. Manipuladas como se fossem mercadoria pelos guerreiros ébrios que, por todo o lado, fazem sangrar o género humano. Violadas e abandonadas como farrapos depois da batalha.

Distrital ao rubro … Grupo Desportivo de Bragança regressa liderança

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Ter, 16/04/2019 - 10:12


Foi uma jornada de emoções fortes e surpresas. O Grupo Desportivo de Bragança voltou ao comando do campeonato depois da goleada caseira, 7-0 ao Vilariça, e da derrota do Carção com o FC Vinhais por 1-2.

Definitivo ponto final

Ter, 16/04/2019 - 10:11


Quando respiramos o ar da área metropolitana, que vai ficar muito mais puro, pelo que se diz, depois da redução dos passes sociais e do investimento massivo na mobilidade eléctrica, ficamos a saber que estamos a chegar ao último ponto final do capítulo da história em que a nossa região não foi al