O calendário eleitoral de 2019 contempla eleições para o Parlamento Europeu, a 26 de Maio e para a Assembleia da República a 6 de Outubro. Entrementes acontecerão as regionais da Madeira, a 22 de Setembro.
De acordo com a lei em vigor os actos eleitorais são precedidos por vistosas campanhas preambulares com datas e durações estabelecidas para que os partidos concorrentes possam mostrar a bondade dos seus programas e dissimular as suas maldades. Tal não obsta, porém, a que os portugueses sejam permanentemente massacrados por campanhas extemporâneas, conduzidas, sobretudo, pelas forças no poder.
E não é por acaso que o conhecido adágio “em tempo de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra”, foi entretanto adaptado pelo povo para “em tempo de eleições as mentiras são aos montões”. Isto muito diz dos governantes e afins, vulgo “políticos”, que sobranceiramente servem a Nação com mentiras e mais mentiras.
Os políticos, porém, não se ficam pelos discursos. Não se limitam a mentir, portanto. Vão mais além. Também competem, destemidos, nos campeonatos nacionais do compadrio, do nepotismo, do peculato, da promiscuidade com banqueiros e capitalistas e da corrupção genericamente entendida, que parece não mais ter fim (*).
Na ordem do dia estão as excessivas e injustificadas nomeações de familiares e amigos para bem remunerados cargos públicos, com Portugal a ser objecto da chacota internacional, embora o fenómeno só agora tenha sido tornado público. É quando se zangam as comadres que se descobrem as verdades. Dessas coisas percebe o povo.
O que também explica que os escândalos maiores apenas sejam conhecidos, por norma, em tempo de campanha eleitoral quando os políticos lutam pela sua sobrevivência. Fora dela optam por ser politicamente correctos e encobrirem-se uns aos outros. Aqui o adágio deve ser lido ao contrário: quem mama não chora.
Entretanto, o Presidente da República declarou, sem pompa nem circunstância, que a ética poderá não bastar (haverá vergonha maior?!) para evitar tais delitos, mas que a lei pode ser facilmente atamancada. Já o Primeiro-ministro tentou tapar o sol com uma peneira defendendo uma urgente e peripatética revisão da mesma lei (o golpe está a doer-lhe fundo, como se vê).
Mais fácil seria pôr um polícia atrás de cada político para lhe cobrir as costas e lhe encobrir a face já que a alma, essa, ninguém sabe em que águas de ética se banha. Presidente da República e Primeiro-ministro, desde sempre em tolerante cumplicidade, procuram apenas salvar a face e bendizer o Regime com discursos de oportunidade, inconsequentes.
Lamentável é que os portugueses apenas reclamem melhores salários e mais dias de férias quando deveriam, isso sim, aproveitar os actos eleitorais para dar um murro na mesa de voto e exigir que os políticos, de uma vez por todas, ganhem vergonha na cara e parem de desgraçar o Estado e de defraudar a Nação. Quem não se indigna nem se sente não é filho de boa gente.
Portuguesas e portugueses, indignai-vos, porra!
(*) O meu respeito para aqueles a quem não serve o barrete.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.