A descompensação da Rússia
Mesmo que queiramos deixar cair o tema da guerra, a verdade é que ele ressurge sempre devido a novos factos cada vez mais acutilantes. Embora Putin continue a fazer aparições em atos formais e com alguma importância, o certo é que não consegue ultrapassar o síndroma da guerra em que se meteu. Culpa própria. Contudo, aproveita essas ocasiões para atacar o Ocidente e culpar os EUA pela ajuda que fornece à Ucrânia. Não assume qualquer culpa nem admite as ajudas que eventualmente recebe da Chi- na, da Coreia do Norte ou de outros países como a vizinha Bielorrússia. De facto, se ninguém ajudasse a Ucrânia, seria fácil derrotá-la com todas as fragilidades que apresentava em fevereiro. Enganou-se. Passados tantos meses desta guerra sem razão, Putin desfalece aos poucos e vê-se obrigado a tomar decisões à margem de tudo o que esperava. A requisição de mais de 200 mil soldados reservistas para enviar para a frente de batalha é bem a prova disso. Autêntica carne para canhão. Esta atitude levou, como sabemos, à fuga de milhares de jovens que abandonaram a Rússia, procurando estar a salvo em países vizinhos e longe das garras de Putin. Depois da explosão da ponte que liga a Rússia à Crimeia, mostrou-lhe que as coisas não estavam controladas e que poderia enfrentar graves problemas a nível militar e até político. Uma vez mais atirou-se contra a Ucrânia e contra quem os ajuda, culpando-os de terrorismo, ele que é de facto, o verdadeiro terrorista. Além disso, inventa culpados sempre que necessita, para desmistificar as suas próprias culpas. Na Rússia só há santos! Como as coisas não lhe estão a corre bem, agarra-se a tudo o que pode para ganhar terreno e mostrar que quem controla é ainda ele. De facto ele ainda consegue controlar alguma coisa! Mas muito do que controlava já perdeu e em Kherson até mandou evacuar todos os civis antes que os ucranianos conquistassem o que resta da região e da cidade. Admitiu alguns revezes, mas também afirmou que vai voltar mais forte. Talvez. Seja como for a Rússia está descompensada, quer no terreno da guerra quer no seu próprio território onde as manifestações são muitas e a atuação das forças policiais se vingam prendendo quem se manifestar contra a situação. Se assim continuar não haverá prisões suficientes para enclausurar tanta gente! Mas Putin, no seu estertor de morte, não querendo perder a mão neste jogo complicado, resolve jogar sujo, muito sujo, ao cortar o abas- tecimento de cereais aos países que anseiam a sua chegada para minimizar a fome que os invade. Esta tomada de força baseou-a na justificação de que os drones que atacaram navios russos em Sebastopol foram lançados de um navio civil situado no corredor por onde passavam os navios carregados de cereal e tinha na sua composição material canadiano. Isto foi suficiente para Moscovo suspender o acordo de exportação de cereais ucranianos. Francamente! A fome de milhões de pessoas nos países africanos e não só, não conta para Putin, desde que continue a demostrar que tem força para controlar tudo e todos. Putin está a transformar alimentos em armas e isto é indigno. Há mais de 10 navios à espera de entrar ou sair, para transportar os cereais ucranianos e não podem graças a esta toda de decisão tão estúpida como o seu mentor. A verdade é que a Rússia bloqueia cerca de dois milhões de toneladas de cereais em 176 navios todos os dias, o que é suficiente para alimentar cerca de sete milhões de pessoas. Isto é inadmissível. A união Europeia já exigiu que se implementasse novamente o acordo e se libertasse o corredor de passagem aos navios, mas ainda nada foi dito ou feito por Moscovo a este respeito. Putin gosta que lhe peçam delicadamente as coisas para se sentir no comando e ter os outros em subserviência completa. Mas as coisas nem sempre são assim. A Turquia, mediadora no conflito e no acordo dos cereais, está a negociar o retomar do acordo com a Rússia, mas ainda não há luz verde. Na verdade, a descompensação da Rússia é enorme e chega ao ponto de se servir dos alimentos tão importantes a quem deles necessita com urgência, para negociar e impor a sua vontade. A descompensação não é só da Rússia, mas sim do seu líder Putin que aos poucos se vê cada vez mais abandonado dentro do seu próprio país. Várias fações se opõem a Putin mesmo correndo o risco de serem presos ao virar da esquina. Enfim.