Pregado no tronco de uma árvore, o Xerife mandava afixar o cartaz. Inserido nele, a cara do bandido mais procurado da região. Por baixo o prémio que se dava a quem o encontrasse e trouxesse à justiça. Julgado e condenado sem grandes pruridos era, normalmente, enforcado na praça do povoado. Quando o crime era menos grave, esperavam-no uns meses ou anos de cadeia, onde pouco mais do que uma sopa mal amanhada servia de alimento a quem se tinha portado tão mal. Era assim na América do século XVIII, quando se desbravava o interior do território e o Oeste ficou mais conhecido pelas atrocidades cometidas. Era o tempo dos cowboys, dos índios e da implantação do cavalo de ferro. Na Europa tudo era diferente. Não havia cowboys, nem índios, mas havia enforcamentos. Crimes sempre os houve em todos os tempos e bandidos ainda mais. O que o tempo não conseguiu expurgar foram os criminosos. Por mais que se percorra a linha incomensurável do tempo, os criminosos não conseguem aprender nem seguir o caminho do bem, embora reconheçam que ele existe. Contudo, ele é para eles como um mal menor, um antídoto ao veneno que destilam constantemente. O século XX foi pródigo em criminosos e alguns ficaram famosos tanto pelos seus feitos como pelas suas fugas. Marcaram épocas e outros pretenderam imitá-los e saíram-se mal. O século XXI continua a ser, infelizmente, marcado por atos criminosos, tanto ou mais marcantes que os anteriores. A sociedade não conseguiu ensinar e incentivar a prática do bem em detrimento do mal aos que, nada mais sabendo fazer, continuam a percorrer a senda do crime, talvez por julgarem que serão reconhecidos como heróis ou que chegarão a pisar o palco da fama e da riqueza. Tontice. Desse palco, nunca ninguém saiu vivo! Os que se julgam intocáveis, resguardam-se o melhor que podem e sabem e não saem do seu covil com medo de serem apanhados, mesmo que não haja nenhum cartaz a dizer PROCURA-SE. Aliás, não é preciso nenhum cartaz pois todos sabem quem são e onde se abrigam. O problema é chegar até eles. Mas sempre se consegue! Lembremo-nos de Sadam Hussein ou de Kadafi ou mesmo de Ossama Bin Laden. Hoje, num tempo em que pensamos saber tudo ou quase, voltamos aos tempos antigos onde a expressão Procura-se entra no dia-a-dia de todos nós. A fotografia está por todo o lado e todos o conhecem, no entanto, a expressão só vem reforçar a necessidade de cercar o criminoso por todos os lados. O Tribunal Internacional acusou Putin e conseguiu pôr dezenas de países de sobreaviso e prontos para o prender se ele pisar solo adverso às suas ideias e atos. O curioso de tudo isto é que um ministro russo conseguiu ser mais rápido ao colocar um cartaz com prémio e tudo para quem encontrar o tal ministro italiano que ousou enfrentar o sistema russo. Não, não é vingança do Tribunal Internacional com toda a certeza, mas até parece. Portanto, agora é moda colocar a expressão Procura-se quando queremos encontrar alguém que não consegue dar a cara abertamente. Primeiro paga-se e depois castiga-se. Curioso! Polémicas à parte, é certo que os criminosos abundam por este mundo fora e muitos deles mereciam ser soberanamente castigados. E se eles pensam que têm o rei na barriga pois que se desenganem, que os exemplos que já conhecemos demonstrou que acabam de barriga vazia e mal vestidos. E se o Kremelin veio a terreiro desvalorizar o mandado de prisão para Putin, é bom que não se ria pois a História tem imensos exemplos dos que não ficaram a rir. A Rússia é enorme, como sabemos e é verdade que Putin pode andar de um lado para o outro e passar do continente europeu para o asiático, mas muitos países já não o vão receber nas possíveis visitas oficiais que pretendia fazer. Resta saber se ele quer arriscar. Possivelmente não o fará já que mesmo na Rússia ele anda com um exército de guarda-costas atrás. Então o que esperar disto tudo? Como nada é eterno, Putin também o não será e mais dia menos dia acabará por ser apanhado mesmo dentro da Rússia e talvez até por um dos seus apaniguados mais próximos. Para demonstrar que não tem medo das ameaças do ocidente, fez uma visita relâmpago ao Donbass Ucraniano e visitou Mariupol. Foi visitar a grande obra de destruição que levou a cabo. Como rei e senhor, passeou-se pelas ruas destruídas e desertas onde perdura a sensação de um cemitério a céu aberto. Com um sorriso rasgado como se admirasse uma obra de Picasso ou Rembrant, olhou os prédios derrubados, vitorioso na destruição, mas não encontrou, ainda, o cartaz onde esse sorriso estará encimado pela expressão Procura-se. Mas vai acabar por encontrar e ele sabe disso.