O regresso do terceiro F

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Durante muitos anos, Portugal foi conhecido como o país do Fado, Fátima e Futebol. Eram tempos glorioso onde pautavam Amália, Eusébio e Fátima como símbolos incontornáveis que identificavam um povo à beira mar plantado. Essa época já vai longe, mas mantém-se viva a memória. No entanto, há poucas semanas, Fátima foi centro de atenções durante as Jornadas Mundiais da Juventude, recebendo milhares de jovens e do próprio Papa Francisco. Todos os anos, mais do que uma vez, Fátima é local de peregrinação e esse símbolo jamais se apagará da memória do povo. Por sua vez o Fado, onde Amália brilhou e elevou o género ao mais alto nível, tanto em Portugal como no mundo inteiro, continuará o seu caminho, mesmo sem a Diva. Hoje o Fado perdeu algum do seu carisma e até foi um pouco desvirtuado do que sempre foi o seu traçado original. A verdade é que hoje vemos grandes fadistas a cantar um fado diferente e até onde a guitarra quase desaparece. Coisas dos tempos! Não deixam de ser agradáveis de ouvir, mas perderam o tradicional. Não podemos dizer que em agosto tudo e todos estão de férias, mas é verdade que o futebol quase pára depois de julho. Nota-se um vazio, principalmente aos fins de semana, onde escasseiam os temas de conversas. As discussões clubísticas não são abor- dadas porque também não há jogos para discutir os lances mais duvidosos. Os jogadores vão de férias que bem merecem. Também eu estou de férias, mas tenho de dizer duas coisas. Agosto marca o final das férias e o regresso do terceiro F. O futebol a sério começa em todo o mundo e têm lugar as transferências mais extravagantes e inimagináveis. Falam os milhões e os jogadores são negociados como simples objetos de luxo. Os clubes precisam de dinheiro e para isso rentabilizam o melhor que podem os seus jogadores onde as cláusulas de rescisão se impõem. O início dos campeonatos faz regressar as conversas e discussões sobre os jogos, os árbitros e o Var. Tudo passa a ser polémico, até o Var, cujas decisões são decisivas. A este propósito, no jogo entre o Casa Pia e o Sporting, parece que houve erro na avaliação do fora de jogo no primeiro golo apontado pelo Sporting. Erro humano. Erro na colocação da linha de fora de jogo. A informação e validação do golo foi rápida, a admissão do erro do Var veio depois. O futebol, que sempre nos caracterizou como tendo bons profissionais e com boas equipas, surge agora, também ele, desvirtuado onde até o Var é objeto de sanção. Nunca visto. Que mais irá acontecer ao terceiro F português? Certamente não é este o F que sempre caraterizou o nosso país e os nossos clubes e árbitros. Este início de campeonato é desastroso. De facto, o Benfica, campeão em título, perde com o Boavista e o treinador culpa o guarda redes dos golos sofridos. E mais, substitui-o no jogo com o Estrela da Amadora. Porquê? Acho que gosta de apanhar sustos e até apanhou, pois não conseguiu marcar até ao minuto 79 e foi no tempo de compensação que marcou o segundo. Aqui já o treinador ficou descnsado. Mas também o Futebol Clube do Porto está a viver momentos bem sofridos. Sérgio Conceição perde a Taça e é expulso logo no primeiro jogo oficial. Correram rios de tinta sobre o seu comportamento e o seu futuro. Agora vê a possibilidade de ficar sem Otávio já que os milhões da Arábia parece pesarem um pouco mais. Suspenso e com uma multa para pagar, não é o melhor começo de campeonato para Conceição e para o Porto. E por falar de milhões e de Arábia, é bom não esquecer que foi Ronaldo que abriu esse palco aos jogadores europeus. Criticado e muito, agora todos buscam os milhões dos sauditas. E o futebol? Onde fica este desporto rei? Bem, quando os milhões falam mais alto, a bola rola de outra maneira e depois logo se vê. Uma coisa é certa: quem saiu a ganhar foi a liga árabe que não era vista nem achada na Europa, agora tem transmissão televisiva assegurada para toda a Europa. Ninguém dá nada a ninguém. Há sempre alguma coisa em troca. Não se enganem. Em Portugal o terceiro F parece que se está a per- der para mal do desporto nacional e da tradição. Tomem juízo senhores responsáveis pelo futebol.

Luís Ferreira