Luís Ferreira

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50 anos de memórias

Todos os povos têm memória e é esse atributo que lhes dá a consistência da sua própria existência como povo, como Nação e como Estado. No dia 25 o povo recordou e festejou abril. Festejou a revolução dos cravos. Tinham desembarcado na Praça do Comércio, a liberdade, a democracia e a igualdade. Três passageiros de um barco enviado pelos quatro cantos do mundo e que se associaram a batalhões cujos interesses eram idênticos. A ânsia de liberdade era enorme e a necessidade de viver em democracia era demasiado apelativa para quem nunca a tinha conhecido. Na realidade foi em África que se iniciou a revolução. Foi em África que se lutou pela liberdade e pela democracia e foi de lá que partiu o barco que trouxe esses passageiros especiais e os espalharam por cá com a ajuda dos capitães de abril. No dia 25 eles efetivaram todas as ânsias contidas, tanto de lá como de cá. E com a serenidade e o perfume de cravos vermelhos de Tavira, impediram as armas de disparar e espalharam sorrisos e esperança no meio do povo. Este agradeceu profundamente a liberdade que lhe deram. Alguns não a souberam usar, pois não estavam habituados. Desculpável. Hoje recorda-se e a memória subsiste. De todos os cantos do mundo, Portugal recebeu neste dia os parabéns pelos cinquenta anos da Revolução dos Cravos. Meritoriamente. Valores como a democracia, a liberdade e a dignidade foram exaltados por todos os países e desejaram que nunca mais se percam. Portugal recebeu o recado e agradeceu. De África à América e a uma Europa unida, os ecos chegaram e repercutiram. Certamente esses valores que tanto custaram a obter, não se vão perder, porque o povo português não vai querer perder o que tanto custou a ganhar. Ainda há memória! Foi na casa da democracia que no dia 25 se recordaram estes cinquenta anos que medeiam entre a revolução e a atualidade. Muitos viveram as memórias que subjazem ainda, outros não as têm porque nasceram depois, já em mares muito mais calmos e recordaram apenas os anos que a democracia lhes ofereceu. Todos os partidos se referiram a abril e aos valores que ele trouxe. Há cinquenta anos que assim é. Desfilam-se memórias e referências históricas porque é preciso não esquecer, mas pouco se ambiciona para o futuro e do que se promete pouco se concretiza. E como se pode concretizar se até mesmo a própria democracia não está consolidada? Como se pode concretizar a liberdade se ainda não há dignidade e igualdade para todos? Mas falou-se de liberdade tanto do lado dos mais velhos como dos mais novos. Uns que pouco a conheceram e outros que nasceram no seu seio. Mas falaram dela. Desde o líder do Livre que recordou os tempos em que a mãe era empregada de um brigadeiro do Antigo Regime que lhe perdoava as referências ao sistema, até à jovem deputada do PSD que não tendo vivido a Revolução, mas que nasceu no seio da democracia e apelou a um futuro melhor e a um Portugal mais forte, todos exaltaram abril. Não se esperava outra coisa. Entenda-se, no entanto, que só compreende a revolução quem verdadeiramente viveu no antigo regime. Os mais novos conhecem o valor da liberdade e da democracia porque sempre viveram nela, mas não aquilatam o seu valor. Não conseguiriam viver hoje sem liberdade. Não basta falar da ditadura e da necessidade de a derrubar. É preciso sentir essa necessidade. Saber que é necessária. Todos se referiram aos capitães de abril e ao que conseguiram conquistar. De uns, presentes, recordaram o que viveram, de outros, hoje resta simplesmente a memória do que fizeram e a importância que tiveram. Mas também se referiram aos ganhos que abril trouxe nestes cinquenta anos. Mal seria se nada houvesse para comemorar nos tempos que correm. Mudou muito. Ações concretas e palpáveis, umas mais aceitáveis que outras. Mas avanços, sim. Já Marcelo deu uma aula sobre a História do antes e do depois da Revolução. Dividiu o tempo em ciclos e neles referiu os avanços e os atrasos que Portugal atravessou. Nada se conquista facilmente, nem a democracia, nem a liberdade. Portugal abriu tanto as portas que teve de as fechar rapidamente, antes que fosse demasiado tarde. No final, o Parlamento dividiu-se quando ecoou Grândola, vila morena. A es- querda levantou-se e cantou, enquanto o centro direita e a direita radical saíram. Afinal abril ainda consegue dividir! É pena. Na rua, a comemoração do 25 de abril tinha lugar marcado em todo o lado. A Avenida da Liberdade viveu talvez o maior desfile destes cinquenta anos de liberdade. Mas quem se mobilizou mais para sair à rua e aparecer no desfile, foi a esquerda, talvez porque se sente ameaçada pelos resultados que obteve nas últimas eleições. Mas é o povo quem mais ordena. Do Quartel de Santarém até ao Rossio e daí até à Pontinha, passando pelo Quartel do Carmo, sobressai o nome de Salgueiro Maia. Dele resta a memória. Não caiu em combate, mas a morte levou-o talvez antes da hora. Ele fará sempre parte integrante desta História que nos pertence e da qual nunca sairá. Da- qui a cem anos, talvez ainda permaneça a memória deste herói de abril a par da data de uma Revolução que trans- formou Portugal com cravos vermelhos.

Uma esmolinha, por favor

Nos tempos que correm e nas voltas que a vida dá, muitos, infelizmente, recorrem à beneficência de quem os pode ajudar e não se intimidam em estender a mão, na esperança que alguma moeda aí caia ajudando a minimizar as agruras do dia a dia. São tantas as infelicidades da vida que alguns são atirados sem dó nem piedade para as esquinas ou parques, ruas e ruelas de algumas cidades, na esperança de assim sobreviverem. No fundo trata-se simplesmente de sobrevivência. Mas há várias formas de sobreviver. O dia 10 de março trouxe à luz a necessidade de uma mudança pedida pelos portugueses, muito embora essa mudança não fosse suficientemente explicita, já que os votos, apesar de significarem mudança, o que trouxeram foi, à partida, uma complicação enorme, lançando o país para uma situação nunca antes vivida. Sabemos o que aconteceu. A AD venceu com maioria relativa, mas uma terceira força política também se afirmou, desequilibrando o embate político a que já estávamos habituados. Perante isto, uns deitaram foguetes, outros andaram a apanhar as canas. O partido de extrema direita içou bandeiras e fez a festa como se fosse o ganhador das eleições. Por acaso não foi e não ganhou nada, a não ser 50 deputados o que não é coi- sa pouca. Foi o suficiente para começar a exigir negociações, a ameaçar a formação do governo e a aprovação do Orçamento de Estado, ou seja, impor-se a tudo e todos como se fosse a peça chave para que tudo pudesse funcionar. Funcionar como ele queria e com queria. Mas não. Contudo, todos os portugueses temeram o pior e começaram a lançar hipóteses sobre como poderia funcionar o futuro governo. Enquanto isso, Ventura continuou a pavonear-se e a impor-se a tudo e todos, até na comunicação social, esperando o contacto do PSD pedindo ajuda e apoio. Nunca aconteceu. As intervenções continuaram e o trunfo de ter tido um milhão e duzentos mil votos, servia de argumento para tentar Montenegro e levá-lo a uma conversa onde desdissesse o Não é Não. Como se os outros partidos não tivessem muitos mais milhões de votantes! O dia 25 de março chegou e com ele a eleição do Presidente da Assembleia da República. Depois dos argumentos do diz que disse, Montenegro sempre calado, apresentou o candidato que falhou a eleição. Aguiar Branco não foi eleito. O PS votou em branco e o CHEGA também. Uma confusão total que requereu uma segunda votação e a mudança de candidatos. Acusações de lado a lado e a afirmação de supostos acordos com Ventura, levaram a novo desenten- dimento e novo chumbo dos candidatos propostos. Uma vergonha na casa da democracia! Três eleições sem maioria e sem Presidente. Nenhum governo pode funcionar sem haver um Presidente da Assembleia da República e sem que esta funcione devidamente. Era necessário arranjar uma solução. Adiado o processo para o dia seguinte, era neces- sário ter uma solução credível para um problema tão grave e ridículo como este. A democracia portuguesa estava a ser seguida e criticada pelo mundo inteiro. Uma imagem inimaginável e desnecessária. Durante o resto do dia 25, a noite e a manhã de 26, houve um esforço tremendo para ultrapassar o imbróglio causado pela insensatez de um partido que queria a todo o custo fazer parte da solução, mas que só piorou o problema. Se lhe dessem atenção e falassem com ele, ele resolveria tudo, mas tinha de ter a última palavra para poder vangloriar-se do seu feito. Andava nos corredores da Assembleia insinuando-se, de mão estendida, pedindo que lhe dessem atenção. Falou com a comunicação social e reiterou o seu pedido. Ele só queria um pouco de atenção por parte do PSD. Depois tudo ficava resolvido, incluindo acabar com a influência do PS. Resolvia tudo. Só queria uma palavra com Montenegro. Nada. Ventura só queria uma esmolinha! O dia 26 de março trouxe uma solução repartida entre o PS e o PSD. A presidência da Assembleia da República seria repartida pelos dois partidos. Dois anos cada um. Os primeiros dois anos serão do PSD, com Aguiar Branco. Esta solução foi o entornar do copo. Ventura perdeu a compostura, pouca, que tinha e atirou-se a Montenegro e ao PS e ao acordo que tinham acabado de fazer. Acusou-os de tudo e mais alguma coisa, não se conformando ter sido posto de lado e ninguém lhe ter estendido a mão. A extrema direita continuaria solteira, tal como a culpa. O que é certo é que se Ventura fosse mais comedido e mais político em vez de ser tão impulsivo e quase arruaceiro politicamente, claro, ganhava muito mais e até teria sido ouvido como queria, mas não. Não conseguiu ser sábio e quis-se impor pela arrogância. Não conseguiu. Não se pode queixar. No final até teve sorte, pois foi do PSD que recebeu os votos para eleger o vice-presidente da Assembleia da República. Acabou por receber a tal esmolinha que andou a mendigar durante tanto tempo. Mas não nos iludamos. Montenegro e este governo que já conhecemos, vão ter um osso muito duro de roer pela frente. Durante seis me- ses, as coisas serão mais pacíficas, pois governarão com um Orçamento que o PS fez e aprovou. Depois, vem o novo Orçamento e aqui, Ventura quer vingar-se. Ou Montenegro e Nuno se entendem e os ministros são muito hábeis a negociar ou Ventura continuará a ser o trunfo que sempre foi. E aqui, talvez queira mais do que uma esmolinha.

Será que vale tudo?

Muitos pensam que vale tudo para atingir os objetivos a que propõem, mas não. Não vale tudo. Penso mesmo que nunca valeu fazer de tudo para os atingir, ou pelo menos, não conseguiram atingir os objetivos quando tentaram fazer tudo e mais alguma coisa. E porquê? Pela simples razão de que o que está mal não se pode sobrepor ao bem. O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Os exemplos a que assistimos diariamente vindos das diferentes campanhas que percorrem as estradas na tentativa de convencer os indecisos, são muitos e alguns deles nada recomendáveis. Dizia-me uma amiga que já estava farta de assistir a tantas promessas e maldizeres que já não conseguia olhar muito tempo para a televisão e ver o que os líderes dos partidos diziam e prometiam. Tem razão. Já cansa ouvir sempre a mesma coisa e as mesmas promessas. Pior que isso é dizerem mal uns dos outros e criticarem sempre o que os outros fizeram ou deixaram de fazer. Quase todos têm telhados de vidro. A verdade é que uma análise cuidada e um recordar do que ficou para trás na governação deste país, leva-nos a concluir isso mesmo. Todos fizeram promessas e todos nunca cumpriram o que prometeram. Ficou muito por fazer e muito foi feito erradamente. No ano em que fazemos cinquenta anos de democracia e liberdade, é triste constatarmos que a democracia e a liberdade são conceitos que não são respeitados por todos, especialmente pelos que têm ambições governativas, sejam elas quais forem. De facto, a democracia não pode ser só uma palavra que atira pela boca foram quando dá jeito. E o mesmo se passa com a liberdade. Esta tem limites tal como a democracia na sua verdadeira acessão. Infelizmente, muitos esquecem-se disso. Nestas horas de campanha acérrima não pode valer tudo. Que haja uma luta salutar pela conquista das ideias democráticas que cada partido possa apresen- tar, é de louvar, mas quando a luta passa para ofensas pessoais e até físicas, já é de condenar, e muito. Estou a lembrar-me, por exemplo, da lata de tinta que foi despejada em cima de Montenegro. É uma vergonha e um crime intolerável. Pessoas de bem não têm atitudes destas e se o assunto era pôr em causa a Natureza e a defesa dela, então não é assim que se defende a causa, mas discutindo e chegando a conclusões. A violência nunca levou nada a bom termo. A agressão pura e simples, não é digna de quem quer resolver problemas. As soluções não nascem da violência, ela só cria mais problemas. As críticas verbais a que também assistimos nas várias campanhas, são igualmente deselegantes, na sua maior parte. Embora tentando ser minimamente educados, os líderes dos vários partidos, em alguns momentos, conseguem perder um pouco a sua postura e deixar vir ao de cima o seu nervosismo e até radicalismo. Os partidos mais nacionalistas, como o PS, o BE, o PCP e o Chega, especialmente, mostram bem em algumas afirmações este tom mais agressivo no discurso. Mas não vale tudo. Há modos de dizer as coisas e também de fazer promessas e até de criticar o que os outros disseram ou fizeram. A este respeito lembramo-nos bem o que aconteceu em Portugal quando o PS chamou a Troica para endireitar as contas e a dívida nacional. Estávamos falidos e na Bancarrota. Perderam as eleições e foi o governo que se seguiu que teve de pegar o touro pelos cornos e levar o barco por diante. Não foi fácil e muitas coisas foram feitas que não agradaram nada aos portugueses. Nem podiam agradar. Mas de quem foi a culpa? E já não é preciso recuar ao tempo de Mário Soares em que Portugal entrou igualmente em Bancarrota. Culpa de quem? Agora o PS não quer falar desse tempo e remete as culpas do tempo da troica para o governo de Passos Coelho. Um erro em que só eles acreditam e querem fazer crer. Mas há memória. Este arremessar de farpas sujas, não mancha ninguém a não ser quem as arremessa. Será que isto é democrático? Não, não é. É jogar sujo. Pois seria muito mais democrático que todos jogassem limpo, sem mentiras, sem agressões e em liberdade. Claro, sem colidir com a liberdade de cada um. Não sabemos quem vai ganhar, mas isso agora não interessa. O que deveras interessa é que ganhe quem ganhar, será sempre uma escolha dos portugueses e como tal, quem governar deve governar para bem dos portugueses e cumprir as promessas que fizeram para não descredibilizarem a democracia e os partidos. Se não pensam cumprir e é só falácias, que não prometam. Sejam íntegros. Sabemos que a luta é essencialmente entre o PS e a AD e também sabemos já que dificilmente haverá maioria absoluta para nenhum deles. Contudo, o que ganhar que não se arme em gabarolas e em querer ser o melhor de todos, porque o povo está cá para julgar. E como o CHEGA está à espreita e espera apanhar uma fatia do bolo, será melhor que não se engasgue se o comer. É que não vale mesmo tudo. Há limites.

Só promessas

Quando a luta se trava em terrenos pouco fiáveis ou mesmo em areias movediças, parece que todas as armas são adequadas ou válidas para poder ganhar. Mas não, não são. O que não sabe nadar deita a mão até a uma folha que lhe permita manter-se à tona. A folha não é suficientemente forte e segura para o efeito. O mais pequeno ramo solto passa a ser a salvação, mas também não chega. A luta torna-se infernal e vale tudo para se ganhar terreno seguro. Invocam-se todo os deuses e promete-se-lhes tudo desde que a salvação seja atingida. E se não for? Mas o caso pode ser diferente. Imaginemos um tonto na margem esquerda do rio com urgência para atravessar para a margem direita, mas não tem como. Olha à sua volta e não há nada a que possa deitar a mão e que lhe permita atravessar o rio. Procura e não acha nada. Vê um tronco enorme que certamente serviria os seus propósitos, mas não pode com ele. Precisa de ajuda. Na margem direita do rio vê outros tontos que se riem da sua incapacidade. Acena-lhes. Grita e pede ajuda. Não recebe resposta. Promete-lhes o tronco se o ajudarem. É a única coisa que tem. Mas para que serve o tronco, perguntam-se os outros. Eles não querem passar para a outra margem! Bem, mas o tronco pode servir para fazer uma fogueira no inverno e aquecer a família, acabam por concluir os outros tontos. Mas há sempre um problema. Como passar para a margem esquerda? Se passarem para lá, também não precisam muito do tronco. Bem, mas pode servir para juntar a outros troncos e ficar com mais lenha para aquecer nas noites frias de inverno. Na outra margem, o tonto continua a fazer sinais e a pedir ajuda. Volta a fazer promessas sobre o tronco. Mas o tronco não é dele. O tronco tem dono. Quando tudo estava mais ou menos arranjado e os dois tontos se preparavam para ajudar o que estava na margem esquerda do rio, eis que aparece o dono do tronco. As promessas acabam por cair por terra. Tudo fica sem efeito. O tonto fica na margem esquerda e não consegue passar para a margem direita e o que os da margem direita esperavam ganhar com o tronco, não ganham nada. E o rio continua a correr mansamente, impávido e sereno sem se preocupar com o que se passa nas margens. Vamos descer à realidade. Sempre que alguém pretende tirar benefícios de um confronto qualquer, promete o que não tem ou que não pode cumprir para o conseguir. Em todo o lado encontramos exemplos destes. E se em alguns casos se consegue ter sucesso, as consequências podem ser desastrosas. E porquê? Porque as promessas não são cumpridas, porque não podem ser cumpridas. É isto que se passa nas eleições que se avizinham a dez de março. A luta que já se iniciou entre os partidos e os seus líderes evidencia precisamente este panorama. Já quase todos disseram os seus programas e suas intenções e as promessas não faltaram. Promessas para quê? Embora todos critiquem os que fazem promessas, o certo é que elas são a base do convencimento. Todos desconfiam, mas todos gostam de as ouvir. É necessário prometer alguma coisa, pois se o não se fizer, logo criticam dizendo que “não prometem nada é porque não têm intenções de fazer nada”. Em que ficamos? A realidade é madrasta, pois castiga sempre os que prometem e não cumprem. Contudo, quando não se cumpre, remete-se para mais tarde o cumprimento alegando falta de tempo e oportunidade. Fácil desculpa. Mas há promessas irrisórias, especialmente quando para o seu cumprimento é necessário muito dinheiro e que o orçamento não comporta. Fica bem prometer, mas todos sabem que não vai ser cumprido. Ninguém acredita, mas todos vão votar nas falsas promessas, porque o povo tem esperança de que algumas sejam verdadeiras e além disso, confiam no seu partido, seja lá ele qual for. E quando isto não acontece, na dúvida, abstêm- -se. Nesta luta de galos, ouvimos críticas e promessas e críticas às promessas. E se algumas críticas são reais, outras são mera formalidade assentes no contrassenso de quem as profere. Mais valia que estivessem calados. Mas para convencer os eleitores é preciso prometer-lhes alguma coisa, mesmo que não passe de algumas promessas vãs. Alguns acreditam, outros nem por isso. Depois de todos despejarem as suas intenções para um futuro governo, embrulhadas em papel vistoso, vêm as críticas dos líderes. Criticam- -se uns aos outros a par dos programas de cada um e das promessas feitas. Baralham o povo, mas isso não interessa. O que interessa é ganhar. Depois o que se prometeu fica em segundo lugar. Não interessa muito. Sentados na cadeira do poder, é mais fácil gerir os interesses. No entanto, para isso é preciso ganhar solidamente e isso não é fácil para já. A luta vai continuar e será renhida. As promessas só valem antes das eleições. Se quem faz promessas fosse obrigado a cumpri-las, tudo seria diferente. Se houvesse sanções pesadas para quem faz promessas e não cumpre, tudo seria mais real e credível. Assim, são só promessas.

O Mundo em chamas

Estamos à beira da terceira guerra mundial sem quase nos apercebermos. Quando todos esperávamos que a guerra da Ucrânia estivesse a dar alguns passos para o seu final, fosse ele qual fosse, ateia-se a guerra no Médio Oriente entre Israel e o Hamas, arrastando os aliados deste, para a cena de confrontos tão absurdos como irresponsáveis. Passadas semanas e semanas de bombardeamentos na faixa de Gaza com o intuito de derrotar o Hamas e acabar com o grupo terrorista, Israel vê-se acusado pela comunidade mundial das atrocidades cometidas e da quantidade de civis mortos incluindo milhares de criança. Todos já nos apercebemos que o Irão comanda e ajuda o Hamas, mas também financia e dá apoio ao Hezbollah que ataca também, a Norte, o Estado de Israel. Mas como se isto não bastasse, também os Houthis, apoiados igualmente pelo Irão, atacam os navios que se dirigem ao canal do Suez, sejam eles petroleiros ou cargueiros e com especial atenção aos que têm ligação com os EUA, tendo já atacado navios de guerra americanos, embora sem qualquer êxito. Contudo, este facto é demasiado grave, pois os EUA não se deixam apanhar facilmente e já ripostaram. No entanto, isto pode levar a um agravamento da situação e a um alargamento de todo o conflito. Tudo isto já é demasiado grave para um mundo que devia procurar a paz o mais depressa possível. Infelizmente não é isso que se passa. O Paquistão já está a atacar o Irão e vice-versa aumentando bastante o conflito entre os países do Médio Oriente. O que parecia inicialmente um ajuste rápido de contas entre Israel e o Hamas, agora é um incêndio que se alastra perigosamente para além da região problemática da Palestina. Pois é. O Irão atacou o Baluchistão que é uma província do Paquistão e este atacou um grupo separatista do Irão. Se o Paquistão não atacasse o Irão com mísseis, talvez as preocupações fossem menores, mas efetivamente não são. Mas atenção, pois a guerra entre a Rússia e a Ucrânia ainda não acabou e não se sabe quando isso acontecerá. No entanto já se fala em negociações de paz e da necessidade de isso se tornar efetivo. Podem os países fazer um esforço enorme para que a paz aconteça, mas sem a Rússia presente, nunca será possível tornar-se realidade a curto prazo. A Ucrânia está a fazer um esforço enorme e está a ficar sem capacidade de conter o avanço do exército russo. À beira do colapso, Zelensky pede mais ajuda à União Europeia e aos EUA. Com o aproximar das eleições americanas e com mais um tonto na corrida à Casa Branca, tudo se complica imenso. Neste momento não se sabe quem governará a América após as eleições. Com as propostas avançadas por Trump, se ele ganhar, até a NATO está comprometida, pois já ameaçou sair ou não contribuir com os milhões e o exército com que todo o Ocidente sempre contou. Já tinha feito essa ameaça quando governou a América. Nada de novo, mas muito preocupante. Na verdade, o Mundo está em chamas e não se vislumbram bombeiros suficientemente fortes e em quantidade para apagar este fogo terrível que tudo está a consumir. Se fizermos um pequeno exercício conseguimos contabilizar os milhares de mortos que pereceram nestes conflitos. Na guerra da Ucrânia nem se sabe ao certo se morreram 300 mil se mais, em Gaza já estamos nos 25 mil e terra destruída, cidades completamente reduzidas a pó, são mais do que muitas. Quem vai reconstruir este mundo louco? Estes conflitos estão a converter este mundo num cemitério onde se enterram os inocentes e onde os assassinos continuam vivos e em liberdade. No meio de todo este conflito, ainda à quem tente ajudar os mais desprotegidos, como a Ucrânia. Alguns países da União Europeia vêm-se na obrigação de se afirmarem perante uma América que está cada vez mais receosa. A França e a Inglaterra elevam o tom de voz e dispõem-se a dar ajuda à Ucrânia para que a Rússia e Putin não se arvorem em vencedores seja do que for. Mas isto vai conduzir a alguma plataforma de entendimento? Penso que não. Tentar é sempre bom e pode ser proveitoso. A Ucrânia agradece, mas resta saber se vai tirar proveito disso. Para já, vai ferindo a Rússia no seu próprio território, o que é uma novidade e que Putin não esperava. Logo correu a pedir uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, porque estava a ser agredida pela Ucrânia. Francamente. Então quem está a agredir e invadir a Ucrânia? E será que esta pediu alguma reunião do Conselho de Segurança porque estava a ser invadida pelo Rússia? Dois pesos e duas medidas é apanágio dos ditadores. Sinceramente, isto é surreal! Na verdade, o Mundo está à beira de uma terceira guerra mundial e parece que poucos querem saber disso. Europa, Ásia e África estão com episódios de guerra o que equivale dizer que já quase todo o mundo está a arder e à beira do colapso. A economia mundial já se está a ressentir e como consequência, toda uma sociedade que definha na sua qualidade de vida e nas suas relações sociais. Levantam-se barreiras onde se deviam construir pontes. Estamos a caminhar para o abismo.

De lés a lés

Numa altura em que o mundo anda às voltas à procura de se encontrar, nada nem ninguém parece estar interessado em resolver o que está mal e as causas desse mal-estar. Não chegava a desestabilização da guerra na Ucrânia e as pretensões da Rússia, mais propriamente de Putin, vem agora o homólogo da Bielorrússia decretar a sua imunidade vitalícia e acabar com a oposição. Só o pensamento dos ditadores tem semelhante grau de afirmação. Se não podem afirmar-se democraticamente através de eleições, o melhor mesmo é acabar com elas ou falsificá-las, forjando a entronização do líder absoluto. Para além desta guerra absurda e sem sentido, enfrentamos a guerra no Médio Oriente, onde Israel enfrenta o Hamas e pretende acabar com a sua prática terrorista. Nada fácil este objetivo, especialmente quando se matam crianças indefesas e sem culpas e civis sem identificação que ficam sem casa, sem família e sem condições de sobrevivência. Milhares de mortos numa faixa de poucos quilómetros quadrados, é demasiado e muito pouco plausível de aceitação ou justificação. Só a vingança serve para desculpa de tais atitudes bélicas. No entanto, Israel está cercado por países inimigos e que não vêm com bons olhos o agravar da situação. Prestes a alastrar, este conflito está a chamar à cena países como a Rússia, o Irão e o Líbano que pretendem tirar algum partido do conflito em vez de tentar acabar com ele. Esperemos que o fim esteja para breve, mas nem o EUA estão a conseguir impedir que tal aconteça. Jogam-se influências enormes e mesmo assim parece que Israel não quer desistir dos seus objetivos principais. Mas se Portugal assiste a todo este conflito mundial com alguma serenidade, é certo que recebeu o reconhecimento ucraniano pela sua participação e ajuda no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. É bom que assim seja e fica bem politicamente a nossa posição. Somos pequenos, mas temos um coração enorme! Cá dentro temos também os nossos problemas e não são tão pequenos assim. Há toda uma movimentação gigantesca na preparação das eleições legislativas que terão lugar a 10 de março. O PS com Nuno Santos ao leme, entronizado como novo secretário-geral substituindo Costa, tem pela frente temas muito delicados para tratar. Os rabos de palha que deixou o próprio Nuno Santos, como a TAP e a localização do novo Aeroporto, vão ser debatidos na campanha e podem servir à coligação opositora para retirar alguns votos. Com a despedida de António Costa, cabe a Pedro Nuno Santos a condução do PS de modo a levá-lo a ganhar as eleições. A verdade é que estas eleições não vão ser fáceis para nenhum dos partidos que vão a sufrágio, especialmente os que pretendem tirar proveito maior do escrutínio final. Para quem está atento, sabe que há quatro ou cinco partidos à espera de serem bem sucedidos. O PS que está certo da vitória, mas que não obterá a maioria, o CHEGA que quer fazer parte da solução governativa com o PSD, o CDS e o PPM e o BE onde Mariana Mortágua já disse estar disposta a fazer acordos pós-eleitoral para a obtenção de uma maioria de esquerda. Como vemos a incerteza paira no ar. Sabemos que o BE e o CHEGA não serão ganhadores. Querem somente juntar-se a quem ganha e serem parte da solução governativa. A AD, agora renascida, vai tentar o seu melhor e voltar ao governo, sabendo, no entanto que tem um osso duro de roer, mas com quem não se querem coligar de forma alguma. André Ventura continua a afirmar que ele é a solução para derrotar a esquerda e espera que Montenegro lhe dê a mão. Nada fácil, pois ele já disse que não quer nada com o CHEGA. Um jogo de xadrez difícil de terminar. O PSD, o CDS e o PPM, em coligação, vão tentar ganhar as legislativas e ter bom resultado nas europeias, mas Ventura não acredita nesta solução e está convencido que continua a ser imprescindível ao novo governo de centro-direita. Talvez seja essa a solução e ele não esteja errado na sua avaliação, mas Montenegro e Nuno Melo não aceitam essa possibilidade. Quem está a equacionar essa possibilidade é o Presidente Marcelo. Vendo bem a situação, ele sabe que o CHEGA pode ser a solução, mas também se não for essa a via a aceitar pela AD, Marcelo já põe em cima da mesa a necessidade de nova dissolução da AR e novas eleições, o que vem dificultar todo o processo. O país, sem governo e sem Assembleia, ficará completamente ingovernável e deixará os portugueses completamente desprotegidos e à deriva. Como diz Marcelo, está nas mãos dos portugueses a decisão final da escolha. O voto é a arma que tem ao seu dispor para solucionar, ou não, este problema. Para Marcelo, seria melhor a AD aceitar o apoio do CHEGA e governar assegurando o equilíbrio político e a fuga a mais dissoluções e novas eleições das quais os portugueses estão demasiado fartos. Mas só depois das eleições é que saberemos qual será a solução que nos leva a novo governo. Pelo menos, não estaremos nas mãos de um qualquer ditador disposto a impor a sua vontade. No máximo, um radical de esquerda!

Sondagens políticas ou política de sondagens?

S empre que há eleições aparecem as sondagens a situar as vertentes a analisar ou os opositores. Não interessa muito sobre o que são as eleições. Interessa é ter sondagens e apresenta-las para que todos vejam que houve um trabalho sério, ou não, por detrás de tudo o que foi feito. Quando se trata de sondagens sobre eleições nacionais, sejam elas em Portugal ou em outro país qualquer, todos os interessados querem saber como vão os candidatos. Para uns, são sempre bons porque até podem ser manipulados e ganha sempre o mesmo, para outros, se quem vai à frente não é da sua cor política, já é mau sinal ao que se junta uma boa dose de desconfiança. Na Rússia vai haver eleições dentro de alguns meses e já Putin está a equacionar o modo de ganhar novamente, como se houvesse outro candidato livre que lhe pudesse fazer frente! Para quê tanto alarido e tanto convencimento quando todos sabem o resultado final? Deixasse ele que as eleições fossem livres e democráticas e que os candidatos saíssem da prisão e talvez não se achasse tão forte e ganhador. Mas também lá, as sondagens existem. Antes e depois. Para quê? Arranjam um candidato fantoche, porque é de bom tom dizer que houve democracia no processo, e depois eis que afinal Putin volta a ganhar com 95% dos votos. Uma vergonha! Outro caso é o de Maduro na Venezuela. Passado a papel químico, faz o mesmo que aprendeu com Putin e sem ponta de vergonha. E mais: agora quer invadir e anexar 2/3 da Guiana como se aquele território fosse da Venezuela! Como a Ucrânia! Os melhores. E depois vêm acusar Israel de invasão da Faixa de Gaza! Gaza até pode ser o cemitério da vergonha, porque o é efetivamente, mas o caso é diferente. O Hamas não é a Palestina. É um grupo terrorista e aqui sim, pode-se comparar a um país como a Rússia já que o que tem feito é praticar o terrorismo. Enfim! Tenham vergonha. Mas se as sondagens existem por lá, também existem por cá. O PS, agora sem secretário geral, assiste, não a dois, como se supunha, mas a três putativos candidatos à liderança. O terceiro, não me lembro do nome e a maioria dos socialistas também não. Os outros dois, todos conhecem. E aqui as sondagens já estão a funcionar em força. Já deram a vitória a Pedro Nuno Santos e, mais recentemente, dão a vitória a José Luís Carneiro, ainda ministro de um governo de gestão e já voltaram a virar, como se de uma dança se tratasse. Neste confronto é sempre de questionar se há uma política de sondagens ou umas sondagens políticas, porque elas interessam sempre aos dois, mas mais a um que ao outro. A qual? As moções de estratégia já foram apresentadas e no que respeita a eventuais alianças, Nuno Santos é omisso, ao passo que Carneiro quer promover consensos alargados. Mas as diferenças não se ficam por aqui. Há muitos ouros aspetos onde se notam diferenças. A justiça e os lobbys são um padrão de exigência ética do PS e pode ser a faísca que os vai dividindo. Por outro lado, sabemos que Pedro Nuno Santos quer cortar com Costa e embora não o diga abertamente, sempre vai referindo aspetos que pretende mudar adiantando promessas como a devolução do tempo congelado dos professores, coisa que Costa sempre recusou fazer. E José Luís Carneiro? Também ele promete muitas coisas e uma delas é apostar num compromisso para a justiça e a especialização dos tribunais. Para justificar a sua posição, atira-se contra o PSD que, quando foi governo, fez alterações na justiça, fechou tribunais e alterou decretos na justiça. Claro que agora vêm os rabos de palha. Muita água vai passar debaixo das pontes até às eleições do PS, mas depois vêm as legislativas e a contenda será pior e mais profunda. Sem tempo para preparar toda a campanha e as acusações sérias para arremesso em tempo certo, tudo é mais difícil. Entretanto, as sondagens vão aparecendo e ora dão vantagem ao PSD, ora dão ao PS, mas a diferença não lhes permite ter certezas de nada. Ganhe um ou outro, os números só servem como moeda de troca. Sabem bem que o troco virá do outro lado e de outro partido. Qual? Seja como for, as sondagens não têm esquerda, centro ou direita. Têm números, percentagens. Mas quem ganhar tem de contar com as três variantes e esperar que as sondagens sejam menos políticas do que outra coisa qualquer. No meio de tudo isto é curioso que as sondagens deem como favorito dos portugueses José Luís Carneiro em vez de Nuno Santos ou mesmo de Montenegro. Para secretário geral do PS preferem Nuno Santos, para Primeiro Ministro preferem Carneiro. Quem percebe isto? Será que são sondagens políticas ou uma política de sondagens? Uma coisa é certa: José Luís Carneiro é mais centrista e menos arruaceiro que Nuno Santos. E o PS sabe disso. As asneiras que Nuno Santos fez enquanto governante, marcou- -o muito e essa marca não sairá tão depressa. Para equilibrar ou talvez não, vem novamente à baila o novo aeroporto. Uma aberração e as manias de grandeza de um país que não tem onde cair morto, dão o mote para a campanha e as brasas para o novo governo apagar, se tiver força e coragem. Por enquanto Montenegro aguarda na espectativa de um alargamento eleitoral com o CDS e talvez a IL para assim ter a certeza que o governo tem assinatura social democrata. Ventura não gosta, claro! No fundo é apenas mais um duelo do qual somente as sondagens nos dão algum sinal e já não há muito para mudar. Restam-nos as sondagens de 10 de março para nos entreter. Enfim, sondagens!

O que nos querem vender?

S abemos bem que ninguém dá nada a ninguém, mas acreditamos sempre que um dia alguma coisa nos calha, mesmo sem contarmos. Dar sem receber, é difícil. De qualquer modo, continuam a prometer-nos o que nos pode agradar, para assim nos cativar o interesse e nos levar atrás do engodo. Tal como o peixe, caímos sem dar conta. Agora que há eleições nos dois maiores partidos nacionais, é ver um desfilar de promessas que agradam a todos e que todos gostaríamos de usufruir. Mas como são promessas, não vale a pena acreditar muito nelas. O PS, dividido na corrida à liderança, ambos prometem muito, mas sabem que não irão ganhar e, portanto, podem prometer este mundo e o outro. Ninguém compra e eles nada vendem. Nuno Santos pouco promete pois do que já prometeu quando pertencia ao governo, nada conseguiu vender. Só deixou buracos financeiros especialmente na TAP. No entanto, continua a dizer que a TAP é para vender. Agora que está a dar lucro? Seja como for, parece que está a capitalizar votos no seio do PS, muito embora o outro candidato, José Luís Carneiro, não mostre receio da confrontação que Pedro Nuno Santos recusa. São as lutas internas, sempre salutares e esclarecedoras. Sempre ficamos a saber o que cada um oferece ou propõe ao povo português. Mas fiquemos alerta, pois nada nos vão dar com toda a certeza. Estas quezílias são entre eles e parecem bem e quanto mais oferecerem melhor soa a oferta. Depois, bem depois é preciso ganhar as eleições legislativas, formar um governo e pôr em prática as promessas que meses antes andaram a espalhar. Mas os portugueses, entretanto já se esqueceram dessas promessas e não as vão reclamar e tudo fica em águas de bacalhau. Como sempre. Atirando-se ao PSD, José Luís Carneiro diz que eles prometem tudo a todos, fizeram cortes e depois o PS é que teve de repor. Pode ser verdade, mas também é certo que o PS tem deixado o país na miséria cada vez que sai do governo. E agora, se o PSD ganhar, vai ser o mesmo. Isto significa que o PSD vai ficar em maus lençóis para endireitar as contas públicas. É sempre assim. Prometem tudo, realmente, mas não dão nada, só dívidas. Deste modo, os candidatos do PS empurram-se para a direita e para a esquerda, procurando cada um situar o outro politicamente. Na verdade, José Luís Carneiro é muito mais centrista que Nuno Santos, sem dúvida alguma. Mas será que os portugueses sabem disso? Por seu lado Montenegro, no fim de semana tentou afirmar-se como líder e candidato, mudando o seu discurso político e fazendo um discurso como se fosse o pri- meiro ministro que se segue. Por um lado, era necessário que se afirmasse, por outro era indispensável essa assun- ção política, pois pode-lhe sair cara. Foi um Congres- so de aclamação e de plena campanha. Mas ele não foi lá só para discutir os artigos estatutários e a sua alteração e aprovação. Ele foi para fazer campanha e mostrar a todo o país ao que vinha. E disse que queria ser o próximo Pri- meiro Ministro. Pois, talvez, mas para isso é preciso muito mais do que querer, é preciso ter votos. E até agora, pelas sondagens, não tem. O caminho a percorrer é longo e o tempo urge. Claro que ele se rodeou de nomes sonantes do passado para que a entourage fosse mais credível. Ferreira Leite, Cavaco Silva e tantos outros deram o apoio que necessitava, mas em termos de votos, pouco vale. De notar que faltaram outros importantes como Durão Barroso, Passos Coelho que seriam igualmente uma mais valia. Mas é natural que este último não quisesse aparecer, já que teve de fazer cortes imensos para endireitar as finanças e tapar os buracos que o PS deixou depois de quase onze anos de governo. Ninguém fica bem visto ao ter de cortar pensões e salários. Francamente! Deixem-se disso. Deste modo Luís Montene- gro tem uma tarefa enorme para vencer se ganhar as eleições legislativas, já que as do partido estão ganhas. Primeiro formar governo com maioria parlamentar sustentável. E como é difícil ter maioria absoluta, terá de fazer coligação com um ou mais partidos de centro direita. Resta saber que percentagens vão ter eles para se poderem coligar com maioria. Tem, portanto, o IL, o CDS, o PAN na esperança de que os lugares no Parlamento sejam os necessários para a maioria. De fora fica o CHEGA, pois de radicalismos estamos fartos. Para já temos o 10 de Março. Temos eleições e a corrida já começou. Vai ser um atropelo enorme. Críticas não vão faltar. Acusações, um lavar de roupa suja sem fim. E pelo meio, vão aparecer algumas promessas. Vão querer vender-nos alguma coisa. Em jeito de quem quer dar o melhor que tem, tomem lá promessas. Não pagam agora. Depois logo se vê. E se for para pagar, é a dividir por todos os portugueses, portanto, pouco calha a cada um. Não há que ter medo. Pois é. Pagamos todos sem comprar nada, porque nada nos venderam. É sempre assim. E no final, perguntamos sempre, o que nos querem vender? Promessas? De promessas estamos fartos.

Pantanal político

A política portuguesa foi sempre demasiado opaca e debaixo desse obscurantismo atroz, desenvolveram-se os mais escabrosos projetos, completamente à margem dos portugueses e cujos interesses revertiam sempre para quem se movimentava na esfera política, fosse no governo, na Assembleia ou nos ministérios. Se fizermos um pequeno esforço de memória lembrar-nos-emos certamente de que os governos do PS nuca terminaram as legislaturas e deixaram o país à beira da bancarrota. Exemplo disso foi a intervenção do FMI no governo de Mário Soares e depois mais recentemente no de Sócrates. O país sofreu convulsões terríveis, submergindo em crises consecutivas que arrastaram o povo português para um lamaçal de onde sair parecia quase impossível. Foi assim, deixado o país aos governos que se seguiram e que tiveram de enfrentar problemas económicos impensáveis, socorrendo-se dos impostos para equilibrar uma economia em falência. A culpa, foi sempre atribuída aos governos que se seguiram aos do PS e tentaram remendar as asneiras que os anteriores tinham feito. E se o remendar não foi totalmente eficaz, foi pelo menos, o mínimo possível, para não hipotecar completamente o país. Viveram-se tempos muito difíceis. Mas se pensamos que esses tempos já passaram, o melhor é desenganarmo-nos. Não passaram. A crise que atualmente se vive no mundo, devida em parte às guerras da Ucrânia e do Médio Oriente, mas não só, não está para acabar, tal como as guerras que seguem o ritmo que os governos cobardes lhes impõem. Tudo isto em conjunto, acelera a crise económica que grassa pelos países europeus e não só, dificultando qualquer recuperação bem intencionada. Portugal, que vivia de perto essa crise, vê-a agora agrava- da pelas asneiras que alguns governantes fizeram, envolvendo interesses indevidos e nomes que deveriam estar bem longe desta amálgama de despautérios. Referenciada que tem sido a corrupção em Portugal e igualmente nomes a ela ligada, não admiraria que mais tarde ou mais cedo viesse a rebentar uma bomba mais forte que arrasasse a governação por inteiro. Foi o que aconteceu. Como se não bastasse a crise em que vivíamos, eia que agora o primeiro ministro se demite e o governo cai, deixando o país num vazio perigoso e cujo rumo é demasiado incerto. Costa não quis demitir em tempo próprio o Ministro Galamba. A amizade, a confiança que nele depositava, veio a arrastá-lo para o pântano em que outros já estavam. Os interesses económicos, os favores, as falcatruas e a corrupção, juntaram-se à volta do Lítio e do Hidrogénio e de uma Central de Dados, que só eles conhecem e mais oito milhões à mistura, mas que terão agora de justificar. É uma vergonha! Um governo perseguido pelo Ministério Público, suspeito de corrupção e de ilegalidades que expõe o Primeiro Ministro perante uma Europa incrédula, é simplesmente vergonhoso. Uma ação desta natureza é deveras inqualificável. Não está aqui em causa que tipo de governo é. O que se deve referenciar é que coisas deste género não se devem permitir, seja em que governo for. Afinal, em quem vamos confiar? Se todos forem deste calibre, não haverá governo credível que valha a pena. Longe vai o tempo em que a honestidade era cartão de visita. Como dizia a minha avó, mais vale ser pobre e honesto, do que rico e ladrão. Chego a ter pena de Marcelo! Mas ele tinha avisado. Agora segue-se a segunda etapa. Quem vai governar? Um governo de gestão, sem poder de decisão, sem primeiro ministro já que o atual é exonerado a um de dezembro e um orçamento que terá de ser aprovado para que se possa seguir até março, altura em que, uma vez mais, vamos a eleições. Uma etapa do pantanal político em que nos meteram. E depois? Bem, depois vamos ver quem ganha as elei- ções e que governo vai sair daí. Se ganhar o PSD, o mais provável, não será com maioria, o que acarreta outro tipo de problemas. Com quem se coligar? O CHEGA está à espe- ra de ter razão e chegar ao governo. Montenegro já negou esse tipo de coligação. Resta saber se outros partidos em coligação, farão a maioria necessária, mas para isso terá de crescer muito o IL, o PAN e talvez o CDS que tem estado arredado destas lides. E se nada disto se verificar? Um acordo de incidência parlamentar não será fácil com o CHEGA, mas pode surgir outra geringonça, mesmo com o PS. Não seria a primeira vez. Nada fácil o tempo que se aproxima. A vontade enorme de apre- sentar trabalho, ainda que com falcatruas e ilegalidades, levou o governo a uma situação vergonhosa e o povo português a ter de decidir quem quer que governe o que está completamente desgovernado. Será que alguém quer conduzir este barco sem rumo? Melhor: será que alguém consegue conduzir o barco? Chega de corruptos e aldrabões. Haja dignidade.

Os interesses da guerra

S eja qual for a guerra e onde quer que exista e marque um ponto negro na História da humanidade, tem por trás dela inte- resses económicos incomensuráveis. Se os cobardes que fomentam a guerra participassem nela e andasse na frente da batalha, não existiriam guerras com toda a certeza. Viveríamos todos em paz. Infelizmente, os cobardes continuam a esconder-se por detrás dos que lhes servem de escudo e que nada mais podem fazer do que servir e morrer. A verdade é que é necessário alimentar toda uma indústria de guerra, em todos os países, na eventualidade da existência de uma guerra, seja de que forma for e de que proporções ela tiver. O que hoje verificamos é que em dezenas de países existe guerra e que a sua eliminação não é fácil. E porquê? Porque enquanto uns trabalham para que se consiga a paz, outros esforçam-se para que ela continue, pois favorece a sua economia de guerra. Quando Hitler subiu ao poder na Alemanha, uma das primeiras coisas que ele fez foi ativar uma economia de guerra mesmo antes da guer- ra ter começado. Ele “adivinhava” que não tardaria e foi ele que lhe deu origem. Já estava preparado. Hoje esse tipo de indústria está sempre em movimento. Penso que só Portugal se desligou quase na totalidade dessa minúscula economia que mantivemos na fábrica do Braço de Prata. Como não tínhamos guerra no ultramar, partiu-se do princípio de que não necessitaríamos de grandes armas. Mas as coisas mudam e até Portugal terá de se armar porque pertence à Nato e tem de participar em ações mi- litares conjuntas e para isso tem necessariamente de ter armas e homens especializa- dos. É um dever e uma obri- gação. Não precisamos de ter guerra, mas ela existe noutros lugares. Mesmo sem querer, somos arrastados para ela. Durante dezenas de anos, a Europa conseguiu afastar o fantasma da guerra e todos os países do continente europeu não equacionaram a possibilidade de voltar a existir outra guerra. Mas o que se espera nem sempre acontece e deparámo-nos com uma nova guerra que veio arrastar quase todos os países para esse conflito. Sem culpas, a Ucrânia vê-se invadida pela Rússia e todos os países europeus e não só, acorrem em defesa da Ucrânia e condenam Putin pela atitude guerreira. Este facto faz-nos lembrar do início da Segunda Guerra Mundial e das declarações de guerra que se seguiram à invasão da Polónia pelos alemães. Já na Primeira Guerra Mundial tinha sido idêntico. Desta vez foi um pouco diferente pois os cuidados foram outros e ninguém queria ou estava preparado para outra guerra na Europa. Era impensável! Mas ela aconteceu. E o que nós estamos a ver é que as armas velhas da Segunda Guerra ainda rodam por falta de outras novas. A Rússia só tem tanques velhos e armas antigas. O que é preciso fazer é acabar com elas antes que fiquem de vez fora de validade. É o que a Rússia está a gastar. Armamento novo, nem ela o tem, mas também não contava com a resistência da Ucrânia. Recorre agora ao armamento alheio como os drones do Irão que sempre saem mais baratos. Ganha quem os fabrica, naturalmente. A guerra que despoletou agora na Faixa de Gaza, depara-se com um cenário diferente. Israel está sempre preparado para a guerra e fabrica o seu próprio armamento. Atacado, desde sempre, pelos países vizinhos, tem de estar sempre em alerta. Isto permitiu-lhe desenvolver sistemas de defesa extraordinários, quer aéreos, quer terrestres ou até mesmo marítimos. Tem uma indústria de guerra fantástica que serve não só o país, como outros países. Um facto curioso, ou talvez não, é que Israel se limita a defender-se de quem o ataca. Não quer perder um palmo do território que lhe foi concedido em 1948 e tudo tem feito para o defender. Encurralado junto ao mar e cercado pelo Egito, pela Jordânia, pela Síria e pelo Líbano que não têm laços de amizade com os judeus, a única saída era saber defender-se e para isso tinha de desenvolver uma in- dústria de guerra bem organizada e forte, caso contrário seria aniquilado. E foi o que fez e bem. Na área, só o Irão, seu inimigo figadal, tem uma indústria de guerra assinalável. Daí o seu apoio ao Hamas e ao Hezbolah. Mas como em todas as guerras, os interesses são vastos e não limitam o fabrico de armamento. A guerra de Gaza é de momento, um compromisso internacional onde as armas contam pouco e a diplomacia tem um valor extraordinário. EUA aconselham a que Israel não invada Gaza, pois ao fazê-lo destrói quase tudo por onde passar, apesar do Hamas ser o único objetivo a aniquilar. Israel suspendeu a invasão. Aguarda pelos resultados de algumas conversações entre líde- res terroristas e ocidentais. A tensão é enorme. O mundo está suspenso destas decisões. O sucedido em Israel pode extrapolar para outras fronteiras e, nesse caso, pode- mos estar à beira de um novo conflito mundial. Se uns esperam que isso não aconteça, outros querem a guerra para ganhar milhões. Este jogo nunca acaba. A guerra nunca terá um fim no seu sentido lato. E porquê? Porque os co- bardes que a promovem, não entram nela.