Armando Fernandes

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Anestesiados

Vezes se conta, na feliz infância impressionista de ouvir homens e mulheres em Lagarelhos, falarem de actos a extravasarem furor anti-opressão da ditadura salazarista a perdurar no meu imaginário é o do empertigamento toado em uníssono pelas mulheres concentradas no lavadouro situado na entrada, logo saída da aldeia. E, que cantaram devotadamente ao modo de hino em honra do orago protector da localidade? Cantaram já não há homens em Edral, já não há homens em Edral, já… A triste e indignada toada protestava contra a anomia varonil por ausência de audácia enérgica contra uma patrulha da GNR ocupada na prisão e retirada de um conterrâneo para Vinhais. Os gritos femininos das mães, esposas e irmãs, quais émulas de Antígona obrigaram os timoratos jecos de Edral depois do toque dos sinos a rebate a desarmarem a patrulha da canhota repressora jungindo-a e obrigando-a a lavrar durante algum tempo. A reacção salazarista foi impiedosa, porém ficou para a História o inusitado feito. Ora, nos dias correntes prevalece o tédio anestesiante a manietar a generalidade dos portugueses ante as extravagâncias e dislates governamentais onde se mistura o amiguismo, o forrobodó partidário, a prevalência da mulher de César em detrimento do ser em vez do ter, do sentido da decência nas nomeações a estilo da Porca de Rafael Bordalo Pinheiro, do respeito de forma a manter-se o, orgulho por nós próprios. Não defendo, nem aprecio o desforço estúpido da violência, defendo e aprecio o protesto cívico dos cidadãos a clamarem através da palavra, da escrita, do castigo nas urnas de um governo eivado de protecção aos detentores do cartão partidário. Ora, o conformismo reina no reino do outrora incisivo senão, não, porque o não exige esforço indignado de quem fica agoniado com o triunfo dos beneficiados com as grossas migalhas da mesa do Orçamento já a ser negociado ao ritmo da pataca «a mim, pataca a ti». As sondagens são sondagens dirão os membros da Confraria do badalo, no entanto, demonstram quão enorme é a vantagem socialista nas intenções de voto a conceder-me argumentos justificativos da amargura contida nesta crónica. Vou continuar a criticar a sonolência do eleitorado independente, dos votantes verdadeiramente livres na real/realidade pois ao longo dos anos de democracia sempre assim procedi ao vislumbrar sinais de desleixo, deixa andar, de Maria vai com as outras, a amofinarem a Democracia com o consequente engordar do bicho-carpinteiro das Instituições. A preguiça é má conselheira e provoca maus resultados! Os músicos da filarmónica socialista tem executado primorosamente as canções de embalar o povo português, agora ambiciona mudar de estatuto, ser considerada orquestra de cruzeiros de viagens de esquecimento, só que o hino dorme, dorme meu menino, que a Mãezinha logo vem, foi lavar os cueirinhos à fontinha de Belém, transformou-se em monumental lençol de caca devido ao oferecimento da Câmara de Lisboa à embaixada russa de dados de opositores de Putin. As desculpas proferidas por Medina acentuam o grotesco da insólita oferta. Depois admira-se do aproveitamento político. Queria o quê?

Francisco Cepeda

Conheço o Professor Doutor Francisco Cepeda desde os bancos e carteiras da Escola Primária sita no então tamanino Bairro da Estação, da época das nevadas a paralisarem a circulação dos comboios cujos apitos imitavam os amoladores de tesouras, facas de cozinha e navalhas a anunciarem iminente zurvada ou chuva bem caída. Na Escola imperava a professora Dona Aninhas Castro, senhora que impunha respeito, bastava um olhar, e mesmo os repetentes do calibre do Herculano (Michelin) ou do Fernando (Calcada) metiam os queixos no pescoço e nem tugiam, nem mugiam. Pelos anos fora continuámos a estimá-la, a ouvir os seus conselhos, a temer os seus ralhetes. O «Xixo» Cepeda impunha-se através do seu comportamento conciliador e bem-humorado e, primacialmente, devido à sua pendularidade de bom aluno desprovido de espúria jactância. E, assim continuou, no secundário perdeu-se de amores, tendo sido correspondido por uma menina bragançana, o amor solidificou-se numa união que persiste, a qual costumo salientar a propósito de tudo, a propósito de banalidades quotidianas. Parabéns à Julieta, qual Penélope esposa amantíssima. Em 1967, sou colocado no Batalhão Caçadores Nº 10, em Chaves, ali roía o tempo «militar» o alferes Cepeda. O meu destino era bater com os ossos no então Ultramar, porém durante três meses o poiso era Chaves numa altura de angustiante desalento que uns papéis agora a repousarem na Torre do Tombo explicam a causa da provação. Pois bem, mal coloquei a mala no quartel, por um feliz acaso surgiram o Francisco Cepeda e o Mário Carneiro e logo me concederam todo o gasalho possível. A gratidão não se vende nas farmácias, exalto-a quando surge a ocasião. É o caso. Por nás e nefas tenho acompanhado o percurso académico e social do autor desta notável investigação referente ao modo como a imprensa da velha urbe acompanhou o palpitar daquela comunidade viveu e sobreviveu durante cem anos, o século XX, enfrentando o isolamento, a castração cultural, o advento e a plena fruição da democracia, as crises expressas em doenças, em sofrimento e morte das populações, os minguados tempos de alguma abastança, logo relativa prosperidade e o mais que adiante irei referir. Não se confinou ao ram-ram da docência no ensino secundário, muito menos ao adormecimento intelectual, do mesmo à letargia cívica no alvorecer da democracia. Por assim ter sido, foi tenaz, doutorou-se na prestigiada Universidade Técnica, acumulou trabalhos da sua autoria nas bibliotecas especializadas, correu Mundo, interveio na vida da cidade, do desempenho de funções profissionais das várias áreas do conhecimento, gastou energias na representação cultural e científica do terrunho brigantino com brilho e distinção. Tudo isto, no passado de há mais de meio século, estou convicto que assim irá continuar dado o seu resoluto ânimo. Este ingente e suado labor sem dificuldades, decepções e claro que não, serena e elegantemente colocou os energúmenos especialistas na inveja, nas raivosas ciumeiras, demonstrando de modo incisivo o ser um Homem bom, um Homem justo. Nos tempos correntes dos génios das bagatelas e especialistas na discussão do efémero, ter um amigo do Talante de Francisco Cepeda concede-me felicidade e fortaleza para aguentar a pandemia ética e moral a engordar no nosso País e, no tocante à pandemia cujo braço armado em punha a gadanha da morte (título de um livro de ilustre republicano anti-salazarista) tenho procurado e procuro fugir- -lhe. Está na altura de emitir opinião acerca do seu livro Bragança no Século XX. Que dizer depois do magnifico e desenvolvido artigo a ele referente do Engenheiro António Jorge Nunes? Muito pouco na justa medida de o nosso comum amigo ter dito tudo. O livro é um fino e acerado repositório das Instituições e figuras de várias matizes e mutações de ordem religiosa, científica e técnica, sem esquecer a sociedade, as comunidades das sucessivas gerações, nos dias quotidianos, nos dias de regozijo e farândula. Não andarei longe da real/ realidade ao escrever que nos vários capítulos deste livro existem lembranças de múltiplos tons e sons a recordarem o rolar dos seixos na calçada das dez décadas do burgo do Braganção, ora registados pelo Senhor Professor ousado capaz de no Inverno da produzir tão belo e brioso trabalho ao qual ouso colocar na estante dos trabalhos só possíveis a quem detém uma paciência de copista beneditino.

Lágrimas de crocodilo

Já li contos dedicados às crianças onde os crocodilos choravam, também soltei gargalhada estrídula quando ouvi a anedota referente a um crocodilo a voar baixinho autenticada pela boca de um agente do KGB, fora isso os crocodilos que vi em África e na América inspiravam receio e cautela, na Tailândia apreciei carne dos sáurios temperada com abrasiva mostarda. Crocodilos chorosos, lacrimejantes, envergando vestidos flamejantes, fatos e gravatas topo-os nas televisões ao torto e ao direito sempre que tudo quanto foi visto, sentido e ouvido durante anos e anos derruba barreiras e muros de opacidade transformando-se em opinião pública, escândalo informativo, chamativo da atenção da generalidade das populações. Neste momento as e os crocodilos derramam lágrimas que nem Marias Madalenas relativamente à triste sorte dos desprotegidos de tudo vindos da Ásia a fim de trabalharem de ver a ver nos campos agrícolas do Baixo Alentejo, fazendo reviver a nefanda saga dos portugueses vendidos ao molho através dos passadores (alguns ainda vivos) de Trás-os-Montes, Minho e Beiras retratados num livro a escorrer sangue pelo Padre Telmo Ferraz, o qual na esteira do Padre Abel Varzim dedicou a vida a defender e acarinhar os trabalhadores humilhados e ofendidos cá e lá, na Espanha, França, Luxemburgo e Alemanha, pois no «paraíso» salazarista da terra brotavam abrolhos, cardos, silvas e sarças. O governo de António Costa, a geringonça hipócrita a desprezar milhares de trabalhadores fora da coutada das periferias das cidades, os patrões quais sanguessugas sedentas nunca dedicaram uma migalha de interesse aos novos elementos (mulheres e homens) que são protagonistas de um novo e imaginário livro intitulado Sete palmos de terra e um caixão. O tristemente célebre ministro Eduardo Cabrita renomado génio da asneira permanente anunciou a intenção de resolver o problema da doença e morte lenta das desamparadas criaturas colocando-as em residências ocupadas coercivamente remetendo-nos para o passado dos kolkoses soviéticos da repressão leninista e estalinista. O país das conquistas de Abril, da União Europeia, membro dos tratados de defesa dos direitos humanos a envergar as vestes ditatoriais do regime chinês (opressor do Nepal) é o significante da hipocrisia de decisores políticos vesgos quando têm de conseguirem conceder gasalho aos mais desvalidos a Leste do Paraíso, entenda-se das ânforas dos votos e da propaganda política. Há lodo nas estrelas? Continua a haver e, muito. Cabe- -nos a tarefa de o extirpar? Cabe-nos o dever de o tornar campo de cultivo no qual a dignidade humana implique salários justos, alojamentos confortáveis e mantença a condizer.

Cantigas do Maio

Há pouco tempo recebi a má notícia da morte do meu amigo João Barros, Madeira, natural e médico em Loulé, companheiro e membro da Tuna coimbrã ao lado de Zeca Afonso, o qual me ajudou a purgar o tempo da guerra colonial, dedicado amigo na bancada parlamentar do PRD, extinto devido ao grande e voraz apetite pelo poder revelado pelas vacas sagradas do eanismo, cruelmente exterminado dada a arguta vigilância do Dr. Mário Soares. O João cantava fados e baladas, contava os andares de andarilho do Zeca do traz um amigo também, tendo-me sido precioso conselheiro quando coordenava os trabalhos (depois alterados) do projecto Centro de Interpretação das Canções de Protesto em Grândola. O Maio de 68 encheu-nos de esperança, em Julho chegava à floresta virgem do Mayombe, o João já tenente médico aterrou meses depois, não tardou muito a cantar rugidos de protestos dos opositores do Botas de Santa Comba, naquele emaranhado de árvores, arbustos, de trepadeiras, cobras venenosas, elefantes, gorilas e multidões de mosquitos sedentos de sangue, o algarvio «baladeiro» constituiu-se numa enorme mais-valia para o Batalhão, a nível técnico sanitário porque estava sempre disponível a amparar e curar as populações nativas (fez o parto de uma mãe e uma filha ao mesmo tempo), no campo de «concentração» militar para lá dos benefícios e angústias de todos quantos ousavam murmurar dúvidas acerca da justeza da guerra colonial, deixando o exercício da caça ao preguiçoso pedante e reaccionário tenente capelão Diamantino. Não por acaso a rádio Angola Combatente apelidava-nos de As pombas da paz do Dinge. O professor Marcelo (Caetano) ao tempo ainda constituía uma esperança de democratização do regime, apesar das recomendações e receios dos anti-salazaristas, imperava o nacional-cançonetismo, além de Zeca ressaltava Adriano Correia de Oliveira, o Partido Comunista era a única oposição organizada (em Bragança pura e simplesmente era inane), a Igreja progressista agitava as águas para mágoa do alto clero, no sector estudantil, um aluno de Direito natural de Vinhais trazia de Coimbra panfletos, no distrito de Bragança os assinantes onde jornal República e da revista Seara Nova suscitavam notas pacóvias dos bufos da Legião e cartas anónimas de miseráveis seres humanos. Poucos assumiam a condição de adversários do Estado Novo, o regente agrícola Vicente, os advogados Salazar de Mirandela e Garcia de Miranda do Douro, o revilharista Alferes Fernandes, o farmacêutico Acácio Mariano, o comerciante Miranda Braga, o incomparável humorista Verbo, Cipriano Augusto Lopes, o dono da Casa do Povo, Sr. Arina, o patrão de si mesmo José Réis fechava o cortejo dos democratas. Imperava o aviso jesuíta: prudente como uma serpente. Estamos a comemorar o 46º aniversário do 25 de Abril, para lá das espúrias vanidades, para lá das distorções sofridas ao torto e ao direito consubstanciado no programa, importa levantarmos a voz e o pendão da revolta contra todas as iniquidades, tentativas de castração das liberdades, da imposição do pensamento único pensadas ao longo dos quarenta e seis anos. Felizmente votadas ao desprezo. O Zeca Afonso não sendo um modelo de compreensão do antagonista é um ícone da Revolução abrilista, o seu correligionário Padre Alípio Freitas, nascido em Moimenta, Vinhais, que participou na luta armada no Nordeste Brasileiro afirmava ser o autor de Venham mais cinco o único cantor de intervenção português de gabarito internacional. E, era!

Sem cicuta, sem pudor

No início da operação Marquês um familiar chegado resumiu o esdruxúlo e sinuoso processo a acusações de cariz fiscal. Ouvi a opinião escorada em bons conhecimentos jurídicos e amplo saber sobre os tribunais portugueses. De Conrado guardei prudente silêncio na justa medida de naquele pântano judicial nadavam peixes vorazes, recheados de espinhos ao modo dos sáveis, sabogas, savelhas e lúcios de alto coturno donos de dentes afiadíssimos dos dois lados, especialistas em águas profundas, violações do segredo de justiça, caneladas tão lesivas quanto as do na denominada o Tita jogador do Desportivo de Bragança a fazer corar de vergonha (coisa não vista, nem ouvida na denominada operação Marquês vaidade do Ministério Público) o pundonoroso e disciplinado capitão da mesma equipa, para lá das entrevistas capciosas dos acusadores e dos acusados. Durante sete anos (sete anos serviu como pastor Jacob a Labão por amor a Raquel) nesta novela narrada conforme as conveniências dos contentores não surgiram amores carnais, sim assolapadas paixões pelo vil metal que sendo vil «lustra e enobrece» mercadejadores e vendedores de simpatias nos jornais, nas televisões, na opacidade dos gabinetes, nas alcovas, bares e restaurantes de mesa fixa. Ao fim dos sete anos de pastoreio investigativo o juiz de instrução lapidarmente, sem sofismas, em linguagem colorida infestada de vírus irónico, de ironias psiqueanalíticas a apontarem fantasias a indiciarem leituras de Freud e Iung, reduziu a estilhaços a acusação provocando um sismo de grau 10 nas hostes do procurador Rosário Teixeira, azia a Carlos Alexandre a sobrepor-se às doses duplas de sais de frutos, a obrigar profunda reflexão aos altos operadores de justiça e, para remate final o golo do juiz no início do jogo relativamente ao obscuro sorteio do juiz natural. Tudo somado faz lembrar a acção punitiva do ministro bragançano e salazarista Cavaleiro de Ferreira, sobre o Conselho Superior que aferia as qualidades dos juízes no tempo do Estado Novo. Agora, os dados estão lançados, o Pavão Sócrates atroa os ares soltando cantares acídulos, o MP emudeceu, os comentadores acotovelam-se a cotovelar opiniões, os jornalistas vampiros dos segredos de justiça estão sequiosos quais sanguessugas, Marques Mendes destila baba ressabiada por cima de Ivo Rosa (andou ele anos a fio a perorar estilo barata tonta), os juízes dos tribunais superiores coçam a cabeça indecisos), a Senhora Ministra e procuradora imita o Sr. Pangloss, a Senhora PGR está atónita e perplexa, a Senhora ex (como os reis sem coroa) Joana Marques Vidal rememora irritações, Galante & Rangel apostam na redentora redução, Zeinal e Granadeiro estão chorudamente reformados, bem vinho a Herdade do Perdigão que Granadeiro volta a possuir, e…quanto ao dono disto tudo vai lavando os pratos para neles lançar a vingança que se serve fria. O banqueiro gosta de apresentá-la gelada. A barrela justicialista vai continuar. Agora ao florentino e veneziano!

Pascoelas

Flores humildes, desprovidas de fragrâncias capazes de inebriarem a lendária Coco Chanel, na sua singeleza alegravam as estradas e caminhos das redondezas de Bragança muitas vezes na companhia das trémulas violetas ao tempo responsáveis pelo derramamento de baldes de lágrimas escorridas dos rostos (primacialmente femininos) de quem viu o filme Violetas Imperiais, onde Sara Montiel e o tenor Luís Mariano arrebatavam as plateias. Vi a fita, muitos mais tarde em Salamanca, a cigana Violetera estava esplendorosa e não podemos, em plena época do esbatimento de diferenças de género, quão foi o seu impacto na sociedade espanhola franquista, reaccionária e, profundamente inquisitorial no tocante a costumes, noção de pecado numa época impregnada de machismo, a actriz italiana Lúcia Bosé casada com o célebre toureiro Dominguim é saliente exemplo do acima referido. Ao trazer à tona as florinhas pascais, procuro carrear lembranças de elementos cintilantes (alacridades na real/realidade longe do pobrete mas alegrete), sim de o Mundo não é exclusivo dos petulantes amores-perfeitos, a estimularem desejos nos canteiros do Jardim António José de Almeida e Avenida João da Cruz, levando os estudantes mais atrevidos a pisarem a relva e a cortarem os indicados pelas namoradas, estas ficavam vaidosas, se tivessem e estivessem à vontade, recebia na face casto e breve ósculo, deixando o apaixonado convicto que a partir daí iniciaria jornada até à concessão de beijos húmidos ao estilo dos galãs de capa e espada visionados no Cine-Teatro Camões. Os amores-perfeitos após secarem entravam espalmados nos livros de estudo, muito grafados com o nome do ofertante, a descambarem em perguntas inoportunas após um cabaz de anos, porque os livros foram mudados de lugar, de casa, de localidade. A rememoração podia continuar, no entanto, seria estultícia fazê-lo, saudades só para Dona Genciana, sulfurosa personagem criada pelo notável prosador José Rodrigues Miguéis, olvidado nos batocos do obscurantismo porque ler dá imenso trabalho, além de que nos telemóveis grudam maldades a leste dos estilos literários, desdentadas de subtileza e ironia. As flores faziam parte (fazem?) integrante da festa pascal, o folar recheado de interditos (mas saborosos) também, as figurações florais de plástico retiram verdade às representações, o folar longe do quilate dos elaborados com o beijinho da farinha demonstram a desqualificação de serem artesanais mecânicos, o progresso técnico, bem como as exigências da mobilidade, são a prova provada do mundo que nós perdemos, restando as pascoelas, as violetas, pouco mais. Nos meus escritos a propósito de tudo e de nada, a todo transe cito livros, não tenho ilusões: passo por pedante. Repito: ler dá imenso trabalho, por isso recomendo a leitura de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Boa Pascoela.

Primavera

Em 1963, o eclético Luís Sttau Monteiro escreveu o livro Todos os anos pela Primavera, forte crítica ao regime salazarista, que o estimado Nuno Álvaro Vaz passado algum tempo fez o favor de o retirar do limbo dos reservados vendendo-mo embrulhado em papel anónimo que, segundo o escrito que nele coloquei foi no ano de 1964. Li o escalofriante libelo num ápice para depois circular através de mãos seguras e cautas, hoje repousa ao lado de outros do mesmo autor que anos mais tarde conheci em ambiente de melhor qualidade, até festivo num restaurante da Avenida Visconde Valmor, em Lisboa. Noutro registo, noutras paragens, tive a felicidade de assistir ao bailado A Sagração da Primavera, do genial Stravinsky. A Primavera que recordo é a vivida nos anos felizes, logo bem fruídos em Lagarelhos e Bragança, balizados pela frigidez do autoritarismo bafiento do Botas de Santa Comba e a majestade dos quadros da Mãe Rússia de Igor, a evidenciarem a dualidade Bem e Mal que nos marca a vivência na justa medida da nossa intervenção nesse mesmo devir. Por isso mesmo, os leitores que ao longo dos anos fazem o favor de lerem aquilo que escrevo sabem quão gosto de discorrer sobre o que observo, perscruto, o que vejo, ouço, provo, tacteio e cheiro. E, neste tempo de calafrios, ameaças invisíveis a redundarem em sofrimento facilitador da tarefa da Senhora da gadanha, a toda a hora, a todo o momento, só encontro apaziguamento na leitura, na audição, na escrita. Nada mais. Tempos medonhos a separarem-me de entes queridos por que assim o determina o bem comum embora esta noção de bem comum não passe de filosofia de pacotilha para lamentação jerumiada no decorrer de, ocasionais encontros, nos peripatéticos passeios em redor da casa. A primavera pautava em quatro andamentos do esfusiante bailado das andorinhas a anunciarem tempo para amarmos perdidamente a iniciar-se na festa das Laranjas junto à capela de S. Lázaro, a prosseguirem excitados até às férias pascais, o jejum dos interditos eram os dias sem aulas, prosseguiam entre zumbidos de insectos bisbilhoteiros no Mês de Maio, o mês mariano da novena na Sé onde a algazarra provocada pela colocação do cinto, dos cintos, representavam a utilidade dos normativos em uso e, quando quebradas as amarras o clamor gerado corria montes e vales pontilhados de flores até chegarem às casas paternas semeando, discórdias, lágrimas e suspiros, ao exemplo do drama filmado por Ingmar Bergam. A Primavera findava num tropel de amplexos sussurrados de amor ao estilo de Romeu e Julieta visto o ano lectivo ter findado e, outro confinamento repleto de dúvidas e raivosas ciumeiras principiava. Na altura, a maioria de nós desconhecíamos as atrocidades dos esbirros da PIDE, menos ainda a obra maestra do compositor russo amante da liberdade, os ardores dos três meses de Inferno exibiam- -se nos troncos nus dos ceifeiros e nos braços níveos motivadores dos conceitos de sangue azul das senhoras frequentadoras da missa das seis. Não enfado mais os estimados leitores afirmando quão me custa sentir e ouvir este eterno retorno da vacinação e ouvir a gaguez da ministra Temido, a charamela de Graça Freitas, ficar entorpecido pelos gráficos de Marques Guedes e o ora não advogado Júdice, a blasfemar contra os revisionistas da história (ainda bem que não sabem onde param as calças do desditado Gungunhana), sem esquecer os brados e remoques de uma senhora «científica» a entaramelar dogmaticamente o significado de racismo afirmando ser de via única do homem branco, nunca podendo ser do homem negro ou amarelo contra os brancos. Ou a senhora viajou pouco ou então é vesga, visgarolha como se dizia na vetusta cidade do Braganção. Vá ao Gana, à Costa do Marfim, ao Senegal, a Moçambique (no Maputo senti- -o bem mais pesado do que na Bronx) ou na África do Sul. A pandemia leva-me a conceder atenção aos detalhes (boa sorte Carlos Moedas), não o faço gostosamente, faço-o socavando reminiscências possivelmente serôdias, só que o vírus tem esse condão, ao invés dos esquecimentos do ministro de fala atabalhoada a prometer computadores e vacinas aos professores imitando os vendedores de atoalhados, colchas e cobertores no Toural ao preço da uva mijona origem de zurrapas vendidas ao balcão pelo Senhor Cipriano Augusto Lopes, o Verbo, opositor do Estado Novo nas quatro estações do ano, mesmo de madrugada quando gabava as virtudes de uma peça de duvidosa autoria do Mestre Rafael Bordalo Pinheiro.

Primavera

Em 1963, o eclético Luís Sttau Monteiro escreveu o livro Todos os anos pela Primavera, forte crítica ao regime salazarista, que o estimado Nuno Álvaro Vaz passado algum tempo fez o favor de o retirar do limbo dos reservados vendendo-mo embrulhado em papel anónimo que, segundo o escrito que nele coloquei foi no ano de 1964. Li o escalofriante libelo num ápice para depois circular através de mãos seguras e cautas, hoje repousa ao lado de outros do mesmo autor que anos mais tarde conheci em ambiente de melhor qualidade, até festivo num restaurante da Avenida Visconde Valmor, em Lisboa. Noutro registo, noutras paragens, tive a felicidade de assistir ao bailado A Sagração da Primavera, do genial Stravinsky. A Primavera que recordo é a vivida nos anos felizes, logo bem fruídos em Lagarelhos e Bragança, balizados pela frigidez do autoritarismo bafiento do Botas de Santa Comba e a majestade dos quadros da Mãe Rússia de Igor, a evidenciarem a dualidade Bem e Mal que nos marca a vivência na justa medida da nossa intervenção nesse mesmo devir. Por isso mesmo, os leitores que ao longo dos anos fazem o favor de lerem aquilo que escrevo sabem quão gosto de discorrer sobre o que observo, perscruto, o que vejo, ouço, provo, tacteio e cheiro. E, neste tempo de calafrios, ameaças invisíveis a redundarem em sofrimento facilitador da tarefa da Senhora da gadanha, a toda a hora, a todo o momento, só encontro apaziguamento na leitura, na audição, na escrita. Nada mais. Tempos medonhos a separarem-me de entes queridos por que assim o determina o bem comum embora esta noção de bem comum não passe de filosofia de pacotilha para lamentação jerumiada no decorrer de, ocasionais encontros, nos peripatéticos passeios em redor da casa. A primavera pautava em quatro andamentos do esfusiante bailado das andorinhas a anunciarem tempo para amarmos perdidamente a iniciar-se na festa das Laranjas junto à capela de S. Lázaro, a prosseguirem excitados até às férias pascais, o jejum dos interditos eram os dias sem aulas, prosseguiam entre zumbidos de insectos bisbilhoteiros no Mês de Maio, o mês mariano da novena na Sé onde a algazarra provocada pela colocação do cinto, dos cintos, representavam a utilidade dos normativos em uso e, quando quebradas as amarras o clamor gerado corria montes e vales pontilhados de flores até chegarem às casas paternas semeando, discórdias, lágrimas e suspiros, ao exemplo do drama filmado por Ingmar Bergam. A Primavera findava num tropel de amplexos sussurrados de amor ao estilo de Romeu e Julieta visto o ano lectivo ter findado e, outro confinamento repleto de dúvidas e raivosas ciumeiras principiava. Na altura, a maioria de nós desconhecíamos as atrocidades dos esbirros da PIDE, menos ainda a obra maestra do compositor russo amante da liberdade, os ardores dos três meses de Inferno exibiam- -se nos troncos nus dos ceifeiros e nos braços níveos motivadores dos conceitos de sangue azul das senhoras frequentadoras da missa das seis. Não enfado mais os estimados leitores afirmando quão me custa sentir e ouvir este eterno retorno da vacinação e ouvir a gaguez da ministra Temido, a charamela de Graça Freitas, ficar entorpecido pelos gráficos de Marques Guedes e o ora não advogado Júdice, a blasfemar contra os revisionistas da história (ainda bem que não sabem onde param as calças do desditado Gungunhana), sem esquecer os brados e remoques de uma senhora «científica» a entaramelar dogmaticamente o significado de racismo afirmando ser de via única do homem branco, nunca podendo ser do homem negro ou amarelo contra os brancos. Ou a senhora viajou pouco ou então é vesga, visgarolha como se dizia na vetusta cidade do Braganção. Vá ao Gana, à Costa do Marfim, ao Senegal, a Moçambique (no Maputo senti-o bem mais pesado do que na Bronx) ou na África do Sul. A pandemia leva-me a conceder atenção aos detalhes (boa sorte Carlos Moedas), não o faço gostosamente, faço- -o socavando reminiscências possivelmente serôdias, só que o vírus tem esse condão, ao invés dos esquecimentos do ministro de fala atabalhoada a prometer computadores e vacinas aos professores imitando os vendedores de atoalhados, colchas e cobertores no Toural ao preço da uva mijona origem de zurrapas vendidas ao balcão pelo Senhor Cipriano Augusto Lopes, o Verbo, opositor do Estado Novo nas quatro estações do ano, mesmo de madrugada quando gabava as virtudes de uma peça de duvidosa autoria do Mestre Rafael Bordalo Pinheiro.

Marcelino da Mata e o execrável Mamadou Ba

Há semanas o Sr. Henrique Pedro publicou neste jornal um artigo no qual comentava acidamente e bem as torpezas deste senegalês a residir em Portugal e aboletado à mesa do Orçamento do Estado através de euros concedidos a uma organização que se afirma defensora dos direitos do homem e contra o ódio racial. O Sr. Mamadou foi assessor do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda tendo-se notabilizado ao classificar a PSP de bosta. A bosta da bófia! Eu não sei quais as razões para Madou ter procurado gasalho no nosso País, mas sei que obtido conforto e bom salário não tardou a babar ódio uivante contra a Pátria Portuguesa (o conceito de Pátria nada lhe diz) atacando figuras ímpares da nossa História cujo exemplo mais saliente é o grande defensor dos índios do Brasil a valer-lhe tortuosos e humilhante processo na sinistra Inquisição de Torquemada e sequazes portugueses cujos maiores mentores provinham da Nobreza eclesiástica e de sangue azul. O Sr. Ba abotelado à mesa do Orçamento via SOS Racismo, utiliza essa organização de forma a vomitar opiniões aviltantes dos portugueses e, na esteira de Frantz Fanon veicula a ideia de o Homem branco é bom morto. No entanto, esse seu «cuspir no prato de quem lhe deu e dá a sopa» é a prova provada de preferir alimentar- -se no meu País a contentar- -se com a dieta senegalesa. Pudera! A última felonia do antigo assessor do Bloco de Esquerda (será interessante saber os motivos da sua saída do grupo Parlamentar), prende-se com a figura de Marcelino da Mata um guineense da etnia papel que nunca deixou de ser português, tendo-se notabilizado na Guiné-Bissau. O sempre lembrado e saudoso «capitão de Abril», Fernando Salgueiro Maia, várias vezes me contou pormenores dessa guerra desprovida de códigos, sublinhando quão difícil era a situação, (ele esteve em Guidache) e, por isso mesmo, ao exemplo de outros países, as autoridades portuguesas recorriam a tropas locais a fim de susterem as mortíferas incursões do PAIGC, sendo enquadradas por oficiais idos da Metrópole. Percebe-se: os militares portugueses desconheciam o território, não falavam dialectos locais e, acima de tudo ofereciam os trabalhos sujos (deploráveis) às forças locais. Eu permaneci 27 meses na floresta do Maiombe, Cabinda, ali imperavam os T.E.s, tropas especiais comandadas pelos majores Ruas e Stélio cujas forças eram antigos guerrilheiros da FNLA, do sanguinário Holden Roberto cujos miseráveis feitos foram o de cumprir a doutrina de Fanon massacrando centenas de crianças, mulheres e homens cujo maior defeito era a de serem de raça branca. Pois na década de 70 do século passado o chefe Alexandre Taty passou a integrar as aludidas tropas especiais levando consigo os guerrilheiros esventradores da população branca. Num livro da minha autoria a sair em breve registo o nojo que revolveu o meu estômago ao ouvir na Beira Nova (residência de Taty) um seu sequaz dizer de cigarro na boca e cerveja Primus na mão, ter conservado durante três meses o braço de um branco com o relógio no pulso. O tenente-coronel Marcelino da Mata optou por ser português para lá da ideia de raça, mostrou-se digno das medalhas que lhe concederam mesmo quando torturado por camaradas de Ana Gomes e Maria José Morgado entre outras e outros fanáticos do maoismo. Ele merece o meu respeito. Esse mesmo nojo sinto ao ler as frechadas ou frexadas do dito Sr. Mamadou, o execrável cavalheiro leu a História de Portugal através de lentes impregnada de profundo ressabiamento cuja representação mais íntima pode ser a inveja pela impossibilidade de ser branco, porém enquanto destila rancores usufrui as benesses da civilização ocidental, que apesar das suas distorções, desigualdades e desmandos procura respeitar os direitos do Homem ao contrário do que acontece noutras civilizações. Temos de agradecer à filosofia grega, do direito romano e à essência da Igreja católica tão pujante benesse. As aleivosias do Sr. Bá revelam à saciedade a robusta ignorância do significante da acrisolada benesse. Paciência, que é boa para a vista!

 

Caminhando sozinho

Um célebre poeta espanhol muito citado e raramente lido em terras de Portugal, escreveu: o caminho faz-se caminhando. Eu sei que ele caminhou quase sempre acompanhado nunca curvando ideologicamente com tremuras oscilantes no fim da vida, no entanto, a sua poesia tersa, vibrante e consolada atrai-me tanto quanto gosto de poesia universalista que perdura através dos milénios. Ora, neste último ano a pandemia e a demorada convalescença avinagram-me os dias, levando-me pensar as noites tal como Camilo as explicou em Quarenta Noites de Insónia. Este exercício noctívago está nos antípodas das noites bragançanas nas quais na companhia do saudoso Fernando Faria (Tozé), do Fernando Machado, da Margarida Cepeda e o José Bouça estripávamos madrugadas ao sabor dos substanciosos pregos de vitela vendidos pelo Sr. Pereira, algumas vezes perdizes sem ração, para lá dos enchidos antecipadamente saboreados gulosamente no restaurante do generoso Alberto, o D. Roberto em Gimonde. Se agora caminho sem pressas três quilómetros diariamente em redor de mim próprio (a casa residencial), nos idos antecedentes chegava a palmilhar vinte quilómetros não para imitar o lendário Emil Zátopek, sim no desejo de manter o coração em forma e, este, como se diz no Ribatejo borregou. A pandemia confinou-me e amofina-me o quotidiano pois emparedou-me (castigo medieval) a restringir-me os feros ânimos de liberdade de movimentos de quem calcorreou países e continentes respirando liberdade. E, agora? Agora, uma máscara esconde-me a face, o medo ganhou carta de alforria afastando-me das pessoas, apenas me atrevo a conceder licença à gata para se aproximar. Na dança e contradança dos passos, solitário, desfilam a meus olhos personagens detestáveis e salafrárias em evidência na nossa sociedade actual, o indivíduo taful ganhou foros de celebridade, o homem competente sem dobrar a cerviz é colocado na prateleira porque os comissários políticos adoram manteigueiros bem-mandados, daí ocuparem lugares bem dotados financeiramente aqui e no estrangeiro cujo exemplo mais recente ocorreu na taifa da ministra da saúde. O caminho faz-se caminhando, é verdade, só que a maioria só tem possibilidades de dar passos (não passadas) num caminho de pedras, acontecendo à esmagadora maioria dos caminhantes o acontecido ao convencido António José Seguro. Tramou-se! Os olhos contemplam os quadros de mortos que vão engrossar a Procissão de defuntos (título de um livro do fecundo prosador Tomaz de Figueiredo) vazados nos crematórios devido ao vírus, as negras angústias redundam em língua de sola humedecida pela comissura impotente muito por causa da quase nula ausência de planeamento qual hidroavião castrado da canção olha a mala, olha a mala dos manietados opositores salazaristas. Na actualidade a oposição berra alguma coisa, porém prefere o ripanço das boas venturas de aguardar melhor estação do ano, deixando ao Sr. Ventura o exclusivo da berraria a originar-lhe baba e ranho de ressabiamento porque não chega querer. Para já, não vá o Diabo tece-las pois é tendeiro e traiçoeiro. E os mortos? Os mortos na maioria dos casos quão enganosos são os soluços vertidos no momento da despedida, poucos serão aqueles que não conhecem episódios de veloz ocaso dos referidos defuntos, partilhas, ânsias de renovação, do hoje tu, amanhã eu, do triunfo da vacuidade niveladora por baixo, salientam os punhos de boxeur em queixos desprotegidos sinónimo de alegre e estrídulo esquecimento. Lembrem- -se da ópera viúva-alegre. Viúvo também. O que se poderá imaginar que seja mais torpe que não ver por não querermos?