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Tendências políticas

Na sempre tendenciosa luta política, perfilam- -se os diferentes partidos com os argumentos que consideram mais válidos e que lhes podem trazer mais dividendos, ainda que esses argumentos sejam, a maioria deles, simples promessas eleitorais. A cada ato eleitoral, seja em Portugal ou em qualquer país mais ou menos democrático, verifica-se sempre o mesmo burburinho político. Nada é substancialmente diferente a não ser as caras de alguns dos políticos que, sendo novos no palco, enfrentam espectadores mais seletivos ou tendenciosos. Mas as promessas, essas todos as fazem, como se fossem a garantia de um casamento abençoado, mesmo em dia de tempestade. Na vizinha Espanha assistimos novamente a eleições, desta feita, antecipadas. Não sei se terá valido a pena. Pedro Sanchez não tendo as sondagens a seu favor, acreditava na vitória e apelou a uma grande participação para que isso pudesse acontecer. Era difícil, mas os votos só são contados no final e parece que uma nova coligação terá de resolver o impasse. Feijóo agarrou-se igualmente às sondagens e como lhe davam alguma vantagem, estava a contar que isso lhe permitiria formar governo. Como a maioria nenhum deles a tem, ambos contavam com uma coligação que viabilizasse um governo. De esquerda ou de direita? A extrema direita parece estar arredada do novo governo e ainda bem. Santiago Abascal contava com um resultado heroico, mas só isso não chega. Ele sabia disso. A “coligação” é o terceiro partido e o mais importante para resolver contendas deste género. Mas resta saber que tipo de coligação a Espanha vai ter. Assim, contam-se os votos, um a um, pois por um se ganha e por um se perde. Apesar dos desentendimentos existentes entre o PP e o Vox, certo é que não se têm de entender pois o Vox está afastado dessa possibilidade. Enquanto se contam os votos finais e os últimos resultados serem totalmente conhecidos, a viragem à direita que estava ao virar da esquina em Espanha, parece agora ser uma possibilidade remota. Sanchez voltará a governar se conseguir fazer uma coligação credível. A Espanha apanhou um susto. Em Portugal e apesar das eleições estarem longe, as sondagens saem como patos bravos de um pantanal. Há uns dias o PSD estava à frente do PS, depois outras sondagens davam empate técnico e agora as últimas conhecidas davam um ponto de vantagem ao PS. Nada que seja muito diferente do que a manutenção de um empate técnico. E assim sendo, as tendências políticas, tanto em Espanha como em Portugal vão manter-se. Em Espanha tudo está resolvido e as tendências já estamos a par delas e os espanhóis também. Em Portugal vamos ter de esperar mais uns tempos até às eleições. As sondagens que forem divulgadas só marcam mais as tendências que também nós já conhecemos e como um país não se governa com tendências e sondagens, só no dia das eleições saberemos que formará governo. Seja como for, as sondagens não são para desprezar já que embora errem por pontos, não costumam errar nos partidos ganhadores e as surpresas são mínimas. Mas existem! Mas voltando às sondagens em Portugal, quem está a subir é Mariana Mortágua e o BE. É a novidade dentro da antiguidade! O discurso é diferente do da sua antecessora. Pessoalmente preferia o discurso da Catarina, mas Mortágua vai ter de mostrar outra tendência, quer discursiva, quer assertiva. Sem ter precisado puxar dos galões, que ainda não lhe assentam bem, já fez subir o BE nas sondagens e, só por isso pode ficar satisfeita. É uma pequena vitória, mas que pode marcar uma tendência. Outra subida verificou-se no Chega. Já Rui Rio tinha alertado para essa possibilidade na semana passada quando o MP mandou fazer investigações mais ou menos despropositadas. Isto é igualmente uma tendência e não das melhores. Tal como se verificou em Itália e quase em Espanha, uma viragem à direita pode acontecer em Portugal dentro de algum tempo. Culpa dos políticos e dos partidos que esgrimem soluções para os problemas que criam sem resolver seja o que for. Conseguem é que os portugueses fiquem fartos de políticos e das suas promessas e da falta de assertividade governativa. E quando isto acontece, as viragens políticas estão de acordo com as tendências. A História repete-se ciclicamente. Já vimos o que aconteceu quando na Europa, os governos das democracias liberais não conseguiram resolver a crise económica e política que desestabilizava tudo e todos. O desemprego, a fome, a discórdia e a inépcia política levaram a que os partidos extremistas de direita assumissem os governos na Itália e na Alemanha. Pois se já temos exemplos por esta Europa fora, o melhor é guardar o nosso quintal de modo a que o furão e as raposas não nos comam as galinhas que ainda por cá andam. Deixemo-nos de tendências e toca a governar em consenso o pouco que ainda nos resta.

Séria ameaça ao mundo rural e aos nossos modos de viver por aqui…

Da observação da ruralidade versus mundo urbano, resultam algumas situações algo absurdas, mas bem esclarecedoras do absoluto desconhecimento, por parte de certos setores da sociedade, relativamente à vida real neste “cantinho do Céu”. Então, ... a imagem duma co- bra de água supostamente “salvando um peixinho de morrer afogado”, quando, na verdade, o capturou para se alimentar… … alegados maus-tratos aos animais por parte do pastor que transporta, pendurado nas mãos, o cordeiro recém-nascido no campo... … a ovelha que está a lar- gar as “libras” e se encon- tra no pasto a ingeri-las, num ato perfeitamente natural para não perder os preciosos nutrientes que se encontram nesses sobrantes biológicos do parto… … a organização de De- fesa da Natureza que con- funde o nome “amendoal” com uma produção de amendoins… … o caso dos citadinos que optam por residir numa aldeia e, depois, reclamam e exigem um ambiente completamente livre de caganitas de ovelhas e de cabras e dos ectoparasitas que as acompanham, o que é normalíssimo no ambiente rural e vai sendo controlado por ações de sanidade animal… … já para não falar nas bostas de vaca que ficam nas ruas, sempre que circulam, pachorrentas, a ca- minho dos lameiros… … e dos galos que, de ma- drugada, no seu ancestral papel de “donos do gali- nheiro” cantam ao desafio e acordam tudo e todos… … confundir “Gestão de Combustíveis” com gestão de bombas de abasteci- mento de combustível... Fantástico! E acrescento mais alguns episódios ca- ricatos: … populares a darem bo- lachas aos javalis e a uma raposa na serra da Arrábi- da… …e, mesmo agora mais recentemente, caminhantes, em Espanha, com muita pena de um cordeiro que ficou para trás do rebanho, lhe deixam salsichas, como se de um cachorro se tratasse... Mas, a mais incrível e que me tem feito rir a bom rir foi a reportagem televisiva de senhoras vegan e animalistas a exigirem que o galo fosse separado das galinhas porque estas lhe fugiam e, portanto, ha- via ali sexo não consenti- do…! Esta é demais…!!! Enfim… é um nunca mais acabar de desmandos as- sim, com que alguns nos- sos concidadãos nos brin- dam nas redes sociais. Mas, na verdade, o caso não é para rir…!!! E, como todos sabemos muito bem, são algumas pessoas assim que circu- lam pelos corredores e pelas bancadas da Assem- bleia da República. E são esses cidadãos quem manda no país! Porque são muitos mais e, por isso, o seu poder opinativo é muito mais forte… Isso mesmo! São eles que fazem maiorias nos centros de decisão e inclusive na Casa da Democracia. Pois… é deveras preocupante – até ameaçador – que o pequeno mundo dos seus saberes, que tomam por singulares e universais, se sobreponha, quase sempre, à pluralidade doutros saberes. Porque, na verdade, há outros sa- beres! Assusta quando perce- bemos que nos querem obrigar a cumprir regras e normas de conduta apenas adequadas a essas suas vidas e completamente des- fasadas da realidade doutros mundos; e que nos querem impor a abolição de práticas e outros modos de viver que não são do seu agrado. Lamentamos profunda- mente, a imensa dificul- dade desses setores da sociedade em entender como funcionam os nossos ecossistemas sãos e biodiversos, a sua estrutura, as dinâmicas e a função de cada um dos seus elementos…!!! Ora digam lá se isto tudo não é uma ameaça…?

Agostinho Beça