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Onde pousa o pardal?

Realmente, nem tudo o que parece é. Quando acontece alguma coisa inesperada, mas que pode satisfazer as ambições de alguns, não significa que seja mesmo o que está a acontecer na realidade. Hoje, muitas coisas que se passam nos quatro cantos do mundo, não indiciam uma realidade absoluta, pois vem-se a verificar posteriormente que afinal eram puras manobras de distração ou, no mínimo, erros de cálculo. O que aconteceu com a rebelião de Prigozhin e que todos pensaram ser de facto uma tentativa séria de derrubar o poder de Moscovo, muitos revelaram a sua satisfação ao imaginar a possibilidade de isso realmente acontecer e de pôs um ponto final às loucuras de Putin e à guerra contra a Ucrânia. E que mais se podia pensar nesse momento? A realidade que se nos apresentava era efetivamente essa. E pelas notícias, Putin tremeu e o seu avião particular até levantou voo para aterrar em Sampetersburgo, não fosse o caso de ter de fugir, facto que, aliás, foi igualmente noticiado. Uma movimentação extraordinária se verificou em todo o mundo, quer nas redes sociais, quer nos meios de comunicação mais variados, quer mesmo nos meandros políticos que, com maior ou menor contenção, se expressaram sobre o assunto. O que poderia acontecer? Muitos já adiantavam que, a ter sucesso, Perigozhin era muito pior que Putin e que as coisas até podiam ficar muito sérias em termos de política internacional. Na verdade, a China não se pronunciou no imediato sobre tal acontecimento, pois a ser verdade as suas relações com Moscovo ficariam certamente comprometidas. Os EUA, não levaram muito a sério a rebelião do grupo Wagner e pouco disseram sobre isso, fazendo crer que podia tratar-se de uma manobra de diversão. Mas os países europeus desejavam ardentemente que Putin fosse derrubado e a guerra na Ucrânia acabasse de vez. Realmente, o que Perigozhin sempre disse é que era uma guerra sem sentido e para a qual Putin só fornecia soldados sem preparação, sem condições de estar na frente da guerra e que nada mais era do que carne para canhão. Chegou mesmo a dizer que Putin não tinha condições para continuar à frente da Rússia. Isto era música para os ouvidos de muitos que queriam o mesmo. O que acontecesse depois, não interessava. Mas as coisas não seriam assim. Se até aqui tudo parecia ser verdadeiro e uma ameaça real a Putin, o que se passou a seguir fez desconfiar de tudo. O grupo Wagner foi travado com negociações onde o presidente da Bielorrússia aparece, milagrosamente, como intermediário. Fizeram-se promessas a Perigozhin e aos soldados do seu grupo. Ninguém seria castigado e os soldados poderiam ser integrados no exército russo sem qualquer sanção. A Bielorrússia poderia ser a acolhedora do grupo Wagner e do seu chefe. O mundo parou e esperou que Moscovo se pronunciasse. Putin permaneceu calado, dias e dias seguidos. Afinal o que se passava? As notícias que se seguiram davam conta de que Perigozhin já estava na Bielorrússia e que os soldados seriam abrigados num campo militar desativado, onde permaneceriam por tempo indefinido. Mas ninguém teve a certeza de que isso se estava a passar. Alguns órgãos de comunicação adiantaram que Perigozhin já estava na Bielorrússia e comandava o seu grupo no campo militar que lhe tinha sido concedido. Mas logo foi adiantado que não foi por lá visto o chefe do grupo. Onde estava Perigozhin afinal? De Moscovo não chegaram notícias sobre o seu paradeiro. Ninguém sabia onde parava o pássaro! E ainda se não sabe. O certo é que tudo isto pode ter sido uma manobra para enganar os próprios russos e dar força a Putin, ou então foi mesmo verdade e Putin sente-se ainda demasiado ameaçado. Fala-se que Perigozhin tem a cabeça a prémio, tal como todos os que ameaçaram o poder de Putin. Se a rebelião foi verdadeira, então Prigozhin pode ter os dias contados se não se acautelar. Mas também se pode dar o contrário, ou seja, Putin que se cautele para que não lhe aconteça o que já fez a muitos e acabe por ser morto pelos amigos mais próximos, como aconteceu antigamente aos últimos imperadores romanos. Há sempre um dia em que tombamos. Resta saber como e onde. A verdade é que ninguém sabe onde para o chefe do grupo Wagner. O que estará a preparar. Há muitos locais e países onde o Grupo atua presentemente. Estará por lá o senhor Perigozhin? Ou estará a preparar o grupo para fazer nova investida a Moscovo? Putin que se acautele!

Caça e Desenvolvimento Rural

O importante contributo que as medidas de fomento cinegético trazem à biodiversidade nos nossos campos é já bastante conhecido, pelo que interessa, agora, analisar o valor que essas ações e a prática da caça induzem nos processos de desenvolvimento rural. Assim, o desenvolvimento em geral tem como objetivo último a melhoria dos rendimentos e aumento da riqueza, mas inclui outros bens e valores, alguns imateriais, que igualmente constituem elementos da qualidade de vida das pessoas e fazem parte das suas expectativas e aspirações. Cabem aqui aspetos como a preservação da paisagem do ponto de vista estético, a conservação de ecossistemas, a regularização dos recursos hídricos, o armazenamento de carbono e muitas outras amenidades que os sistemas agroflorestais proporcionam aos utilizadores do território. Podemos falar de desenvolvimento económico, social, cultural e político, mas, segundo alguns estudiosos da matéria, não pode haver “desenvolvimento rural”, absolutamente separado de “desenvolvimento urbano”. A extraordinária complexidade destes processos até levou a que a comunidade académica proponha, para esta área de estudo, a designação de “lado rural do desenvolvimento”. Podemos ainda caracterizar o conceito de rural com os seguintes elementos: não ter conotação exclusiva com a atividade agrícola; ser multissectorial, já que implica a pluriatividade das famílias rurais; ser multifuncional, integrando as funções produtiva, ambiental, ecológica e social; ter baixa densidade populacional nas áreas consideradas rurais; não haver separação absoluta entre espaços rurais e urbanos. Pois… bem sabemos que não será possível separar, em muitos lugares, o periurbano do urbano, nem do rural… Contudo, não é disto que aqui se fala, mas sim de povoações afastadas dos grandes centros urbanos, onde, apesar da baixa densidade, ainda se vivem e celebram intensamente os solstícios e os equinócios, os Natais e as Páscoas, os Carnavais e afins, as “festas dos rapazes”, as ceias comunitárias, os ciclos das sementeiras e colheitas, também os atos de caça… e onde persistem muitas outras manifestações de profunda ligação cósmica e de ruralidade pura e dura… Além de uma certa modernização da agricultura, o desenvolvimento rural está associado à diversificação das competências, à criação de novos produtos e novos serviços, tais como a gestão e conservação dos ecossistemas, o turismo de natureza, o agroturismo, a agricultura orgânica, a produção de especialidades regionais tradicionais e… a caça! Segundo estudos recentes, a prática da caça gera em Portugal cerca de 500 milhões de euros. O mesmo autor refere ainda que, no concelho de Mértola, no interior alentejano, lugar de excelência para caça menor e repleto de afinidades com o interior transmontano, o setor da caça é o segundo maior empregador, a seguir à Câmara Municipal, e onde o volume de negócios da caça supera já o valor da agricultura, florestas e pecuária juntos constituindo uma riqueza local e nacional de grande importância. Do meu conhecimento pessoal, no Nordeste Transmontano, também potencialmente vocacionado para a ocorrência de espécies cinegéticas, o orçamento anual de uma organização de caçadores é, muitas vezes, superior ao da respetiva Junta de Freguesia…! E termino com um exercício sobre as receitas potenciais no espaço físico correspondente à região administrativa do distrito de Bragança, embora longe do retrato da situação atual, como se sabe… Considerando o número de dias de caça possíveis em cada época e o valor médio a pagar por dia, o potencial das receitas – em cerca de 600.000 ha – poderá oscilar entre 9 e 18 milhões de euros. É caso para refletir e colocar a questão: que esperamos para gerir adequadamente este valiosíssimo recurso natural renovável?

Agostinho Beça