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Museus Abade Baçal e Terra de Miranda geridos pelos municípios “vão cair no esquecimento”

Ter, 04/07/2023 - 12:15


O ministério anunciou, no passado dia 22, que a partir de 1 de Janeiro do próximo ano a Direcção-geral da Cultura vai dividir-se em duas entidades, a Museus e Monumentos de Portugal, que visa acrescentar valor e promover os equipamentos, com sede em Lisboa, e o Instituto Público Património Cultur

OS JUROS DO BCE

O Professor Diogo de Lucena, quando era Administrador da Gulbenkian, com o pelouro da Ciência, numa conferência, no IGC, sob o tema Ciência e Economia, disse que os movimentos económicos na sociedade são intrincados, têm origens muito diversas, algumas rígidas, outras voláteis, muitas racionais e outras tantas emocionais, criando um caldo complexo de difícil expressão matemática, com resultados muitas vezes inesperados e não raramente surpreendentes. Mas são todos compreensíveis, explicáveis e até teorizáveis, com grande racionalidade e exposição clara das relações causa efeito, qual a origem dos mais inimagináveis cenários e como tudo se encaixa na perfeição nas várias teorias económicas... quando analisados à posteriori. Sabemos hoje, perfeitamente e com detalhe, todos os motivos, todos os porquês que desembocaram nas maiores crises económicas e nos períodos de maior progresso, desde a grande depressão até à euforia bolsista e as interligações entre elas. Mas é difícil prever, com exatidão, o comportamento da bolsa na próxima semana e quase impossível fazer um cenário económico de lar- go prazo, para futuro. Cristine Lagarde veio a Sintra GARANTIR que só há um caminho para combater a inflação, garantindo que não há alternativa à crescente e teimosa subida das taxas de juro, da contenção salarial e da mitigação dos apoios sociais pois, de outra forma, ver-nos-emos submergir na avassaladora espiral inflacionista e seremos devorados por violenta e arrasadora crise económica. Di-lo, do alto do seu elevado trono de Presidente do todo poderoso Banco Central Europeu, sustentando o seu discurso em relatórios credíveis, em estudos elaborados, em teorias dos mais reputados professores de economia e me dados recolhidos e analisados por competentes especialistas. Doa a quem doer (e vai doer muito a muitos, aos mesmos de sempre, dolorosamente aos mais desfavorecidos, penosamente para eterna- mente sacrificada classe média, para proveito dos bancos e quejandos e glórias dos dirigentes e gurus) o caminho está traçado e vai seguir, sem hesitações nem recuos. Até porque, vê-se, a inflação está a baixar e, portanto, é preciso malhar no ferro antes que arrefeça. Alguém lhe poderá contar a velha história lusitana do cavalo do espanhol que morreu, precisamente quando o dono conseguiu desabituá-lo de comer? É que a possibilidade (muito plausível) de haver coincidência entre a desci- da da inflação com o pico dos juros impostos pelo BCE pode dar-lhe o argumento que lhe faltava para reclamar a justeza das sua absurda obstinação. Não podemos esquecer que esta senhora liderava o FMI quando este advoga- va políticas draconianas de austeridade para superar a crise inciada em 2008 com a derrocada do sub-prime. Na altura criou-se o acrónimo TINA (Thers Is No Alternative), por se garantir ser aquele o Único caminho possível. A superação desse período dramático parecia dar-lhe razão. Porém, políticas posteriores e estudos sérios e aprofundados vieram demonstrar que não, dando corpo e substância à tese do Prof. Diogo de Lucena. Não quer dizer que o combate não passe, igualmente, por um ajuste nas taxas de juro. Mas não nesta corrida desalmada, ilógica e desumana. Facilmente se percebe que se houver forma de reduzir o poder de compra para níveis inaceitáveis... a inflação será, necessariamente contida, reduzida, anulada ou até com valores negativos em função da severidade do corte. Mas ninguém acreditará que é nesse ambiente que a elite dirigente pretende viver no próximo futuro, muito menos a reconhecida consumista Cristine Lagarde.

Gente que não presta

Na crónica anterior citei uma sondagem de opinião publicada pelo semanário Expresso nas vésperas do Dia de Portugal, este ano comemorado na cidade da Régua. Recordo os temas principais: 91% dos portugueses condenavam a carga de impostos sobre o rendimento, 87% mostravam- -se insatisfeitos com o combate à corrupção e 90% entendiam que a riqueza está mal distribuída. Não há memória de tão expressiva opinião negativa, o que poderá explicar o mau humor que o primeiro-ministro António Costa exibiu no decurso do evento atrás referido. Uma nova sondagem do mesmo semanário, agora centrada na avaliação dos partidos e do governo, coloca o PS com 31% em pé de igualdade com o PSD, que recebe 30%, destaca o Chega em terceiro lugar com 13%, iguala o BE e a CDU com 5% e atribui ao IL uns magros 4%. Já no que ao Governo propriamente dito diz respeito mais de 70% dos portugueses classificam-no como “mau” ou “muito mau”, que é uma forma de dizerem, parafraseando Carlos César, a gente que governa não presta. Ainda assim, para o primeiro- -ministro tudo está bem, aparentemente. A verdade, nua e crua é outra, porém: Portugal, continua alapado na cauda da União, com o interesse nacional subordinado à intriga político-partidária e aos negócios de uns tantos machuchos. Entretanto, no PSD reina grande desconforto porquanto continua colado ao PS nas intenções de voto, apesar da crise do governo, ainda que a chamada direita, expressa no PSD, Chega e IL, alcance a significativa soma de 47%, enquanto que a esquerda convencional se fica pelos 41%, o que deixa muitos políticos descontentes, por razões que só eles saberão. Donde se conclui que o PSD, para formar governo, terá forçosamente que fazer acordos com o Chega e o IL considerando que estes últimos partidos são basicamente constituídos por antigos militantes e simpatizantes do PSD que dificilmente regressarão à origem. Ainda assim é no PS que o desconforto é maior. Tanto que, para citar apenas um caso público e notório, mais de duzentos destacados militantes do PS subscreveram a carta aberta denominada da “gente que não presta”, um documento em que são criticados o secretário-geral, António Costa, e o presidente do partido, Carlos César, subentendendo-se que há muitos mais governantes que merecem ser sancionados. Preocupante, portanto, é constatar que uma bomba poderá estourar quando menos se espera, sendo que o primeiro- -ministro tem o rastilho na mão. Tudo leva a crer, de facto, que António Costa, contrariamente ao que diz, se prepara afanosamente para dar o fora concertando a situação interna de forma a que não prejudique as suas ambições externas. Esta é, em última análise, a estabilidade que o próprio se propõe defender, quando do que mais precisa Portugal é de uma genuína rotura democrática. Entretanto, para manter viva a chama da governança, João Galamba, o super ministro das Infraestruturas que, como se sabe, é o intocável benjamim de António Costa, ainda que seu improvável delfim, teve mais uma das suas monumentais bacoradas quando disse que a solução Santarém para o novo aeroporto “é longe”. Num pormenor tem razão: o aeroporto é de Lisboa e não é de Santarém. Era o que faltava! Na refrega da controvérsia o inefável ministro Galamba foi mais longe ainda quando rematou para canto ao afirmar que a escolha da localização do novo aeroporto é uma decisão política, o que não deixa de ser óbvio. Só que, tratando-se de um assunto complexo são requeridos vários e aprofundados estudos elaborados por especialistas qualificados e não por políticos de pacotilha. Por isso mesmo foi nomeada uma Comissão Técnica Independente para o efeito, não podendo um qualquer governante chico esperto excluir, à partida seja que solução for. A decisão final pertence ao Governo, em qualquer caso, que não deve cair na tentação de escolher localizações como quem escolhe melões, como tentou Pedro Nuno dos Santos, o antecessor de João Galamba. É de uma decisão política que se trata, portanto, e não de uma escolha pessoal ou partidária. A menos que na cabeça do ministro Galamba a localização ideal seja o Largo do Rato, ou um qualquer aeródromo municipal, por mais distante que seja. Bem mais ajuizados e democraticamente mais responsáveis, andaram os cinco deputados do PS eleitos por Santarém que, reagindo à diatribe do ministro Galamba, se manifestaram contra a tentativa de exclusão de opções para a localização do novo aeroporto antes mesmo de serem conhecidas as conclusões da Comissão Técnica Independente. Parabéns, portanto, aos deputados do PS eleitos por Santarém, que deram uma rara lição de justa revolta democrática, que só é pena que seja tão rara e que não seja seguida, por norma, por outros deputados, eleitos por outras regiões. Como é o caso dos deputados eleitos por Vila Real e Bragança, para não ir mais longe, a quem não têm faltado importantes matérias e fortes razões para democraticamente se revoltarem.