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Vereadores do PS de Bragança continuam a alegar “conflito de interesses” do presidente da Assembleia Municipal

Ter, 11/08/2020 - 10:26


Luís Afonso terá dito que a paragem das obras do Hospital Privado de Bragança está relacionada com as polémicas levantadas pelo PS. Em conferência de imprensa, esta segunda-feira, Nuno Moreno referiu que a paragem das obras se deve à falta de alvará de construção.

Vendavais- Preocupação sem férias

Agosto é usualmente tempo de férias e descanso merecido para quem trabalhou durante o ano inteiro. Sempre se referenciou este mês como o mês em que todos vão de férias. Algarve ou estrangeiro, era o que se pensava escolher conforme a carteira de cada um. Destinos sonhados, ambições atingíveis, programas e projetos bem organizados, tudo numa amálgama de desejos a concluir num Agosto de um Verão próximo, pautado pelo calor e pelas ondas refrescantes de um mar aberto à concretização de todas as aspirações sem preocupações maiores. Mas o destino ou seja lá o que for, troca-nos as voltas quando menos se espera e prega-nos partidas tremendas que deitam por terra os projetos que esperavam conclusão. O destino, desta vez, mais uma, tem nome: Covid 19. As férias tão ambicionadas mudam de rumo, de tempo e de lugar. Os desejos são limitados a um confinamento espacial, bem diferente do pensado e rodeados de uma preocupação renovada. Os destinos paradisíacos, ficam demasiado longínquos da sua concretização e os desejos são muito diferentes dos inicialmente previstos. O vírus mudou a tradição e Agosto deixou de ser o mês das ansiadas féria de verão, numa praia do pacífico, do Mediterrâneo ou mesmo da costa algarvia. Para muitos, as férias passaram a ser uma preocupação constante e um receio atroz, uma fuga a um inimigo invisível, que pode estar ao virar da esquina. Mas não são só preocupações pessoais e sazonais as que pesam no dia-a-dia nacional. A falta de movimentação da população, leva a consequências económicas terríveis para o Turismo nacional. De fora, os turistas que habitualmente nos visitavam, deixaram de vir. Confinados a regras duras, para evitar o alastramento da epidemia, ficam nos seus países, mesmo contra a sua vontade e deixam os nossos hotéis e os cofres vazios e cheios de preocupações futuras. Os donos da hotelaria passam a ter férias forçadas por falta de clientes e os empregados passam a viver com a preocupação de um despedimento inesperado. Já me tinha referido anteriormente a uma possibilidade deste género vir a concretizar-se. Aí a temos. Quando nos outros países já se fala de uma possível segunda vaga perante um novo crescimento do número infetados e de óbitos, nós ainda estamos a conter a primeira vaga, muito embora haja locais assinalados com vários surtos epidemiológicos. Mas não descartemos a segunda vaga depois de Agosto. Setembro e Outubro podem trazer tempos difíceis a todos os níveis. De facto, as aulas iniciam- -se em setembro. Os alunos voltam às escolas para fazer exames e depois iniciar o ano letivo, de contornos ainda por definir. São imensas as preocupações, quer dos professores, quer dos alunos, quer das comunidades escolares. São milhares de alunos e professores a cruzarem-se em todos o lado, pelos corredores das escolas, nas salas de aula e nos recreios. Olham todos de soslaio, com receio, com desconfiança, mas com vontade de estarem perto quando se devem manter afastados. Depois de Agosto, tudo vai ser diferente. Nada disto nos surpreende. As férias serão sempre férias, mesmo que seja somente um tempo de descanso à beira do rio que passa ao lado da OPINIÃO aldeia, onde as águas frescas sempre refrescam os ânimos ressequidos de uma frustração imposta por um vírus que não veio de férias, mas que parece querer ficar mais tempo do que o mês de Agosto. Mas as férias não terão o mesmo significado para a grande maioria das pessoas. Outras vieram mesmo assim, de França ou da Alemanha, matar as saudades imensas de meses de separação. Arriscaram para usufruir do mês de férias junto dos seus. Atravessaram a Europa e nós cá, esperamos que não tragam na bagagem o que não se consegue ver a olho nu. As preocupações, mesmo em férias, não acabam. Elas não têm direito ao descanso que nós gostaríamos de ter. Como não chagava o vírus para nos preocupar, vieram as preocupações para acabar com as parcas férias que esperávamos ter. Já nada é como era! Nem será.

O mundo das Catarinas

Muito boas tardes. Espero que estas palavras vos encontrem de boa sáude e a desfrutar o Verão das terras transmontanas do nordeste. O céu vivamente azul, tardes ardentes que dão demoradamente lugar a noites geladas, as andorinhas no ir e vir dos beirais, as ribeiras correndo com maior ou menor timidez, as melancias e o que ainda se vai colhendo das faceiras, gentes a avivar as aldeias, crianças em correria ao fim das tardes, pessoas que durante a noite se reunem ao café ou para os já habituais passeios sem relógio envoltos pelo abraço faiscante das estrelas luzentes. Tudo muito característico e muito bom de se viver por estes meses. Não são, contudo, vivências que para nós farão parte deste ano peculiar que distanciou efectivamente e afectivamente as pessoas. Tudo passa, haja saúde, nem é mau ano de todo. Hoje queria falar-vos de Catarina, uma das melhores amigas que a minha filha tem em Portugal, para além do primo André em Almada a um passinho do mar e das gloriosas tardes de praia, dos primos Henrique e Rodrigo entre a cidade e o campo, das bonitas Mariana e prima Leonor, e por vezes a Sara, com quem vive os verões de Avelanoso, de bonecas a tiracolo para trás e para diante, trocando roupas e refugiando-se do sol nas casa das amigas, circulando livre como em cada vez menos cantos deste mundo apartado se pode fazer. Esquecia-me das filhas dos padrinhos com quem também tem épicos e longos dias de brincadeira enquanto os pais confraternizam acompanhados de petiscos e néctares diversos. Tudo muito boa gente. A Catarina é uma menina de uma família chinesa que vive numa terra algarvia tocada pelo mar. Os pais têm uma loja e ela passa também os verões por ali, com os imãos mais novos e os avós, entre a casa e a loja e a pequena biblioteca da Sociedade Recreativa Luzense onde pode ler, coisa de que gosta particularmente, ou jogar alguns jogos de computador. A Catarina é uma menina de imensa doçura e educação, sempre com o “por favor” e o “obrigada” nos tempos certos e com uns modos tão delicados e apropriados que quase parecem em desuso no nosso país. A Catarina e a Beatriz brincam muito bem juntas e entendem-se de uma forma muito profunda. Para a sociedade onde vivem a Catarina é uma chinesa, embora tenha nascido em Portugal, enquanto a Beatriz é uma estrangeira (uma pessoa de fora), embora esteja na China desde o primeiro ano de idade. Ao brincar falam em mandarim umas vezes e noutras em português, mudando o registo de acordo com as brincadeiras ou consoante o que lá no mundo delas entendem que se ajusta melhor... Neste momento estou a ouvir rádio e começou a tocar a “English American in New York”, do Sting. É exactamente sobre isto. Até prefiro a versão da mesma música do Tiken Jah Fakoly “Africain à Paris” em que ele escreve a carta para a mãe desde uma pensão de três “etóiles” dos subúrbios. Não é o estar perto ou estar longe, não é sobre gostar-se mais ou menos de onde se está. É o sentimento de se ser estrangeiro, a identidade, a impressão de que se é doutro lugar, algo de que muitas vezes nem nos lembramos mas que os outros, os que jogam em casa, nos recordam ou fazem ver. São factos da vida de quem anda pelo mundo ditos sem querer despertar qualquer lamechice. Mais do que nunca andamos ligadíssimos ao mundo por todos os lados, consumimos, dizemo- -nos globais, viajados, conhecedores, então porque paradoxal raio temos de ver o quintal onde nascemos como único lugar onde desenrolar as nossas vidas? Se assim tiver de ser que seja como dizia o Padre António Vieira há quatro séculos: “para nascer Portugal, para morrer o mundo”. Note-se que apesar de bipolar o humano consegue ser um ser admirável e isso pode-se constatar na amizade de duas crianças, duas coisas incompletas com escassos anos de vida. Uma empatia que não se constrói de conversas ou palavreado como nos adultos, uma solidariedade que se estabelece natural e compassiva porque despida de acessórios. A Beatriz é uma menina que vive longe e que nas suas turmas de escola tem avançado sempre perante os desafios de ser estrangeira no meio de dezenas de colegas. O mesmo para Catarina, talvez com menos colegas de turma mas não devendo nada em qualidades a nenhum deles. Mesmo assim, por vezes a Catarina deixa escapar, na sua voz sempre calma, que algumas mães não deixam que os filhos brinquem com ela. Nós adultos esforçamo-nos bastante em fazer deste mundo um lugar mais repulsivo, desencaminhando as crianças dos seus mais livres e recomendáveis propósitos. Por este planeta já passou tanta gente com ideias interessantes para a humanidade, já avançámos tanto em tantas coisas, mas o que é verdadeiramente importante para o nosso futuro pouco ou nada muda. A ignorância nunca nos irá abandonar e com ela a segregação, a indiferença, a desconfiança e todas as coisas que nos desequilibram e diminuem. E o problema é que já não se trata tanto da ignorância dos livros, da iliteracia, que antes se julgava ser a origem de todos os males, mas uma ignorância intrínseca, numa era de informação, que se vai fossilizando meio dissimulada e por isso mais difícil de desincrustar. Que profeta poderá vir livrar os nossos espíritos destes males? Que vacina nos fará imunes a estas enfermidades? Que progresso nos trará respostas para estas perenes angústias? O mundo decidiu que Catarina e Beatriz teriam um dia de se juntar e para isso escolheu uma pequena aldeia do litoral algarvio. Talvez tenha sido o mundo, talvez tinha sido o mar. Diz o ditado que “Deus os cria e eles se juntam” e assim é nem que seja só para brincar durante um par de dias por ano. No mundo das Catarinas todos os outros mundos ficam de fora. Nenhum outro interessa, nenhum outro é necessário. Porque a amizade não se mede aos palmos nem à altura dos muros. A todos, um abraço!

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos- Manuel Lopes, um judeu do tempo da inquisição

No episódio anterior assistimos à mudança de Manuel Lopes, irmão e cunhada de Chacim para Lisboa. Em Lisboa, fixaram residência na freguesia de S. Nicolau. Como João Ventura aprendera em Bragança o ofício de tecelão de seda e em Chacim se metera a negociar aqueles tecidos, não lhe seria difícil conseguir trabalho e meios para se governar na capital. Os restantes membros da família empregaram-se “em fazer chocolate e vender”. E estas são as informações que temos acerca do seu modo de vida por cerca de 3 anos, até conseguirem sair de Portugal, no ano de 1700, e mudar-se para Livorno. Embora Manuel o não o diga textualmente, deixa, no entanto, entender que, na chegada a Lisboa, contaram sobretudo com o apoio de Francisco Lopes Pereira, seu primo paterno, filho de sua tia Beatriz Lopes, ou Cardosa. A propósito desta sua tia, veja-se a declaração feita por Manuel Lopes perante os inquisidores: — Agora está lembrado de novo que, em uma ocasião (…) o dito Francisco Lopes, seu primo, estando em sua casa, falando de umas prisões que se haviam feito no reino, (…) disse o dito Francisco Lopes que sua mãe estava na Holanda e os judeus lhe chamavam a Velha dos Tormentos, porque estava baldada dos braços, por causa do tormento que lhe haviam dado, estando presa na santa inquisição. E uma filha que estava com ela na Holanda, havia estado sentenciada à morte pela inquisição, e por ser tão formosa, a Rainha a tinha livrado e não se recorda dos nomes da dita mãe e irmã, nem se haviam sido presas em Cádis, se em Portugal, mas que ele estava com ânimo de ir-se para a Holanda, para viver em liberdade e estar com as ditas mãe e irmã; e quando não pudesse ganhar a vida, lá os judeus o sustentavam, como costumam fazer com outros velhos impedidos de o fazer, como faziam com a sua mãe. Mas ele, confessante não tem notícia que se tenha passado para a Holanda.(1) Francisco andaria então na casa dos 40 anos “e empregava- -se em Lisboa vendendo pelas ruas especiarias e papel”, conforme o testemunho de Manuel que, também o apresenta como dono de um estanco de tabaco em Santiago da Galiza, de onde passou para a cidade do Porto, antes de fixar morada em Lisboa, onde casou, com Branca de Chaves, natural de Santa Valha, termo de Vinhais. Manuel falou também de 3 filhos de Francisco e Branca (Leonel, Manuel e Francisca) que casaram com 3 irmãos (Clara, Leonor e Salvador), filhos de outro Francisco Lopes, o Saias, que “tinha um posto de tabaco na rua de Santo Antão da Mouraria, cirurgião, embora não saiba do ofício”.(2) A casa de Francisco situava-se na Mouraria, em uma rua “que está junto à rua de Santo Antão” e devia ser uma casa bem espaçosa, a avaliar pela gente que ali era recebida. Assim, em um quarto alugado, morava Manuel da Costa que “ensinava a tecer em Lisboa, como tem declarado e foi em Lisboa seu mestre tecedor”, e morava “em um quarto alto, de que pagava o aluguer”. Foi também na casa do primo Francisco que Manuel Lopes conheceu João Bom Dia, ou melhor, Dom João Bom Dia, negociante em Serpa, no Alentejo que ali ficava alojado quando vinha a Lisboa “a fazer sortimento para a sua tenda (…) e lhe parece que era castelhano porque falava muito bem o castelhano”.(3) E também na mesma casa, durante um mês esteve alojado Simão de Vivar, seu parente. O seu verdadeiro nome era Simão Brandão, nascido em Mogadouro, por 1637, filho de Francisco Rodrigues da Paz e Clara Rodrigues. Tinha uns 15 anos quando fugiu para Castela, depois que a inquisição prendeu seu pai, sua mãe, sua irmã, Maria Brandoa, em Mogadouro e seus tios João e Francisco Rodrigues Brandão, em Torre de Moncorvo, para além de outros mais parentes. Em Castela mudou o nome e inventou uma nova identidade, dizendo ser filho de um fidalgo de Sevilha, cristão-velho, chamado Don Alfonso de Vivar. Isso, porém, não o livrou de ser preso pela inquisição de Toledo, que o desterrou de Madrid. Regressou a Portugal e fixou-se em Lisboa, com uma empresa de fabrico de chocolate e de compra e venda de tecidos de seda, que exportava para Espanha. Por vezes é referido como contratador, o que significa homem de grandes recursos financeiros. Em 1703, foi preso pela inquisição de Lisboa.(4) Já atrás se falou de David Brandão,(5) nascido em Moreira, filho de Gaspar Rodrigues e de Inês Rodrigues, neto materno de Francisco Brandão e Maria Rodrigues, de Torre de Moncorvo. Manuel Lopes conheceu David em Lisboa quando cumpria a penitência, vestindo o sambenito para ir à missa aos domingos. Atentemos, novamente, na declaração, feita a propósito, por Manuel Lopes: — Ele confessante o viu cumprir a penitência na igreja de S. Lourenço, de Lisboa, tendo no tempo que se dizia missa, vestido o sambenito e acabada, punha-o debaixo da capa, e o levava a casa de Manuel Lopes Galego, onde estava hospedado, por ser parente de Ana Cardosa, sua mulher, e de Luís Cardoso Pereira, seu cunhado, e algumas vezes que ele confessante o viu com o sambenito ouvir missa na dita igreja ao dito David Brandão também assistia com as mesmas insígnias e com o mesmo fim o dito Gabriel Rodrigues Pinto,(6) natural de Moreira, filho de Manuel Pinto e Leonor Rodrigues. E este último o levava, debaixo da capa, de volta para sua casa, que tinha no Bairro de Alcântara onde vendia tabaco.(7) Pois, também este Gabriel Pinto estava ligado à família de Francisco Brandão e a Torre de Moncorvo, já que era neto paterno de Violante Rodrigues, irmã de Francisco Brandão. Como atrás se disse, a nação hebreia de Torre de Moncorvo foi completamente desmantelada no terceiro quartel do século XVII. E terminamos estas notas sobre a vivência de Manuel Lopes com o irmão em Lisboa, voltando a casa de seu primo Francisco, com a descrição de uma cena feita por aquele, acontecida em casa de seu primo, com o intérprete, citado ao início, como protagonista: — Entrando ele confessante uma ocasião em uma sala ou aposento da casa onde vivia o dito Francisco Lopes, seu primo, estava com este o dito José, que, logo que entrou, não sabe se por casualidade ou de propósito, o dito José fechou um livro e o pousou sobre uma mesa; e tendo chegado ele confitente à dita mesa, o abriu e reconheceu que era letra hebraica; e depois que o dito José, intérprete, se foi, levando o livro, perguntou ao dito seu primo o que era que estava fazendo o dito intérprete; ao que lhe respondeu que explicava em língua espanhola algumas cerimónias da lei de Moisés que constavam no dito livro em língua hebraica.