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Ginásio Clube de Bragança com forte representação nos Campeonatos Nacionais de Corta-Mato Curto

Ter, 21/03/2023 - 12:14


Avis, no distrito de Portalegre, recebeu no sábado, dia 18 de Março, pela primeira vez os Campeonatos Nacionais de Corta-Mato Curto.

A 22ª edição da prova, organizada pela Federação Portuguesa de Atletismo, encerrou a época de inverno e integrou os Campeonatos Nacionais Universitários.

“Mais Habitação” esclarecido em Macedo de Cavaleiros mas sem a ministra a responder aos jornalistas

Ter, 21/03/2023 - 11:09


De passagem pela região, para participar no “Mais Habitação – Novas Respostas”, promovido pela Federação de Bragança do Partido Socialista, Marina Gonçalves apresentou o programa do Governo mas recusou-se a falar com os jornalistas, ficando assim por se saber o que se prevê para territórios como

Cabelo negro

Tinha os olhos sombrios, envoltos por longas pestanas, remontados por sobrancelhas abundantes e desenhados como um ícone, profundos e tristes, melancólicos e tenebrosos, impregnados dum charme algo distante, com uma expressão graciosa, talvez submetida, talvez não; baixava os olhos por pudor, não estava habituada a enfrentar o olhar dos outros, nem a procurá-los, ela queria trabalhar, ir às compras, sair e dançar, conversar com as amigas, tomar um chá ou um lanche em paz. Tinha uma boca carnuda realçada por um baton vermelho, cor de sangue, uma pele cor de pergaminho, cor de areia, de mel e de ouro. Tinha um nariz fino, discreto, suave, buchechas altas realçadas pelo brilho do blush, tinha um sorriso sibilino como uma Gioconda, um pouco nostálgica, não do passado, mas do que ainda não viveu, um brilho algo malandro, sem ser desconfiado e sem desafiar, somente um ar de dizer sem ousar fazê-lo, e fazer o necessário para inspirar a mudança- pensa-o e um dia, sim, um dia dirá tudo o que tem no coração, e nesse dia, o mundo inteiro sabê-lo-á. Vestia uma túnica preta sobre o seu corpo de jovem mulher, corpo que escondia desde os seus 10 anos, apesar de ser tão jovem, mas por afastamento, por pudor, por vergonha, por medo, por terror, porque não era preciso mostrá-lo, dissimulava as suas formas em baixo duma massa disforme, um tecido que lhe cobria os dois ombros, o busto, as pernas, tudo o que não pode ser mostrado, sugerido, que não deve atrair o olhar dos homens, porque um corpo é uma ameaça, uma afirmação de si mesmo, porque um corpo deseja e é desejado, porque um corpo vestido é um corpo político. Ela não tinha nada de política, ela não era tampouco angélica, ela não se encontrava em nenhum tipo de ação militante, talvez na sua reflexão, aquela que coloca as questões sem encontrar resposta, ela era um ponto de interrogação colocado sobre o mundo. Ela era amotinada, órfã do seu próprio país, estava naquele lugar, não se sabe muito bem porquê, nem porquê ali, ela não sabia de nada, era certamente demasiado jovem, inexperiente, contudo corajosa. Era feliz apesar de tudo, e isso ressalta no seu sorriso que é suficientemente claro sobre o resultado da sua reflexão, e talvez uma decisão: a de não se deixar vencer pelo medo. Um dia teria talvez a ousadia de dizer e fazer o que pretendia segundo a sua vontade, reivindicar as suas decisões e opções, nem que fosse preciso enfrentar os olhares desprezíveis, repletos de ódio e mal-intencionados, nem que fosse preciso enfrentar os gritos e os uivos. Nem que tivesse que receber todos os açoites do mundo. Mas seria preciso que ela os recebesse? Porquê ela e não outra? Porque as outras são somente anónimas, e ela fez-se conhecer num mundo onde tudo está fechado, amordaçado, num mundo cortado do mundo, onde só são filtradas algumas imagens, uma mulher que aperta o seu carrapito, uma jovem que canta, e que de repente dá a volta ao mundo graças às redes sociais. Tinha um lindo e longo cabelo negro, espresso como uma lã escura, negro como os seus olhos, negro como o seu véu, cabelo tão negro que podia reluzir, e refletir o brilho do sol, cabelo como um espelho onde era possível perder-se, e certamente pendorar-se de amores, nessa cabeleira tão abondante, tão espessa, tão sombria e tão sedosa, tão livre que ela mesma pode inspirar o medo, tão longa que pode seduzir qualquer um, que podia enfeitiçar e fazer desmaiar os corações mais recalcitrantes e apoderar-se deles, encadeá- -los, talvez, engoli-los, fazer um nó à volta dos pescoços de alguns e sufocá-los para sempre. Ou simplesmente, muito simplesmente, como qualquer outra jovem, simplesmente seduzi-los tão belo era aquele cabelo, e vivo e escuro, e negro como a morte.

Procura-se

Pregado no tronco de uma árvore, o Xerife mandava afixar o cartaz. Inserido nele, a cara do bandido mais procurado da região. Por baixo o prémio que se dava a quem o encontrasse e trouxesse à justiça. Julgado e condenado sem grandes pruridos era, normalmente, enforcado na praça do povoado. Quando o crime era menos grave, esperavam-no uns meses ou anos de cadeia, onde pouco mais do que uma sopa mal amanhada servia de alimento a quem se tinha portado tão mal. Era assim na América do século XVIII, quando se desbravava o interior do território e o Oeste ficou mais conhecido pelas atrocidades cometidas. Era o tempo dos cowboys, dos índios e da implantação do cavalo de ferro. Na Europa tudo era diferente. Não havia cowboys, nem índios, mas havia enforcamentos. Crimes sempre os houve em todos os tempos e bandidos ainda mais. O que o tempo não conseguiu expurgar foram os criminosos. Por mais que se percorra a linha incomensurável do tempo, os criminosos não conseguem aprender nem seguir o caminho do bem, embora reconheçam que ele existe. Contudo, ele é para eles como um mal menor, um antídoto ao veneno que destilam constantemente. O século XX foi pródigo em criminosos e alguns ficaram famosos tanto pelos seus feitos como pelas suas fugas. Marcaram épocas e outros pretenderam imitá-los e saíram-se mal. O século XXI continua a ser, infelizmente, marcado por atos criminosos, tanto ou mais marcantes que os anteriores. A sociedade não conseguiu ensinar e incentivar a prática do bem em detrimento do mal aos que, nada mais sabendo fazer, continuam a percorrer a senda do crime, talvez por julgarem que serão reconhecidos como heróis ou que chegarão a pisar o palco da fama e da riqueza. Tontice. Desse palco, nunca ninguém saiu vivo! Os que se julgam intocáveis, resguardam-se o melhor que podem e sabem e não saem do seu covil com medo de serem apanhados, mesmo que não haja nenhum cartaz a dizer PROCURA-SE. Aliás, não é preciso nenhum cartaz pois todos sabem quem são e onde se abrigam. O problema é chegar até eles. Mas sempre se consegue! Lembremo-nos de Sadam Hussein ou de Kadafi ou mesmo de Ossama Bin Laden. Hoje, num tempo em que pensamos saber tudo ou quase, voltamos aos tempos antigos onde a expressão Procura-se entra no dia-a-dia de todos nós. A fotografia está por todo o lado e todos o conhecem, no entanto, a expressão só vem reforçar a necessidade de cercar o criminoso por todos os lados. O Tribunal Internacional acusou Putin e conseguiu pôr dezenas de países de sobreaviso e prontos para o prender se ele pisar solo adverso às suas ideias e atos. O curioso de tudo isto é que um ministro russo conseguiu ser mais rápido ao colocar um cartaz com prémio e tudo para quem encontrar o tal ministro italiano que ousou enfrentar o sistema russo. Não, não é vingança do Tribunal Internacional com toda a certeza, mas até parece. Portanto, agora é moda colocar a expressão Procura-se quando queremos encontrar alguém que não consegue dar a cara abertamente. Primeiro paga-se e depois castiga-se. Curioso! Polémicas à parte, é certo que os criminosos abundam por este mundo fora e muitos deles mereciam ser soberanamente castigados. E se eles pensam que têm o rei na barriga pois que se desenganem, que os exemplos que já conhecemos demonstrou que acabam de barriga vazia e mal vestidos. E se o Kremelin veio a terreiro desvalorizar o mandado de prisão para Putin, é bom que não se ria pois a História tem imensos exemplos dos que não ficaram a rir. A Rússia é enorme, como sabemos e é verdade que Putin pode andar de um lado para o outro e passar do continente europeu para o asiático, mas muitos países já não o vão receber nas possíveis visitas oficiais que pretendia fazer. Resta saber se ele quer arriscar. Possivelmente não o fará já que mesmo na Rússia ele anda com um exército de guarda-costas atrás. Então o que esperar disto tudo? Como nada é eterno, Putin também o não será e mais dia menos dia acabará por ser apanhado mesmo dentro da Rússia e talvez até por um dos seus apaniguados mais próximos. Para demonstrar que não tem medo das ameaças do ocidente, fez uma visita relâmpago ao Donbass Ucraniano e visitou Mariupol. Foi visitar a grande obra de destruição que levou a cabo. Como rei e senhor, passeou-se pelas ruas destruídas e desertas onde perdura a sensação de um cemitério a céu aberto. Com um sorriso rasgado como se admirasse uma obra de Picasso ou Rembrant, olhou os prédios derrubados, vitorioso na destruição, mas não encontrou, ainda, o cartaz onde esse sorriso estará encimado pela expressão Procura-se. Mas vai acabar por encontrar e ele sabe disso.