Ano Novo
Falar do ano velho enterrado entre exercícios de juízos do juízo do ano obrigava-me a ingente tarefa de procurar eufemismos de modo a não recorrer a linguagem baixa ou obscena para caracterizar o vulcão de lama e escórias de cada um dos 365 dias que lhe deram corpo. Poupo os leitores não lhes recordando o passado recente, poupo-me higiénica e espiritualmente na contabilização dessas enxúndias.
Escrever sobre 2019 ainda mal soltou os primeiros vagidos é, principalmente, alinhavar palavras cuja essência primacialmente assenta nos nossos desejos apesar de poderem estar imbuídos de sopesada reflexão seja de cunho futurista popular, seja de índole futurista de expressões literárias defendidas e propagadas por Marinetti, cujos caibros de sustentação eram o inconformismo, a ausência de humanismo e anti-tradicionalista. Trago à colação o inventivo Marinetti por temer os efeitos dos rebentos em crescendo do enovelado futurismo relativamente ao Futuro não só na Europa, também no resto do Mundo, não devemos esquecer os ensinamentos da história, por isso mesmo agito a água do referido movimento literário surgindo hirsuto, de cabelo lambido, usando três telemóveis ao mesmo tempo, um em cada orelha, a gritar elogios à sua poesia e a defender a destruição de Museus e Bibliotecas. Repito, Museus e Bibliotecas. O estrídulo movimento foi incerto no Fígaro, de Paris, em 1900.
Anunciam-se movimentos a entornarem copos cheios de sumo de laranja por especialistas no espremer de laranjas colhidas há muito tempo cujo objectivo é o de sobrar pouco desse líquido após as eleições legislativas, tais peritos na intriga defendem crua e duramente os seus muitos interesses, não temem a invasão do seu território, só temem a esterilidade do veio sustentador, em face desta realidade mesmo o Senhor de La Palice augurará meses sombrios a Rui Rio. Os politólogos de formação anglo-saxónica apontam-lhe o defeito de instinto de matador político.
Já António Costa é alto representante da escola italiana do stiletto (Mota Andrade é um bom exemplo), manejando-o nas ocasiões graves, as miúdas ficam ao cuidado dos muitos ajudantes, fundamentalmente, preocupa-o a forma expedita e subtil no desfazer os nós sedosos de Marcelo empregando os seus dotes no manejo das palavras na dupla ortofonia ocidental e oriental. Pode apetecer-lhe esticar a corda até cair, levantando-se rapidamente indo à procura da maioria absoluta, no entanto, a constância da cultura hinduísta leva-o a esconder a ânima portuguesa até ao dia do resplandecer a aquela que não tem princípio nem fim, podendo manifestar-se em pessoas, animais, plantas, coisas, dúctil, refreando a vontade de agir imediatamente.
Em 2019, o nosso Presidente, o dos afectos, continuará a colocar no cesto das intenções de voto a conjugação dos abraços, afagos, beijos (mesmo os lambuzados), beliscões doces nas bochechas das crianças, palmadinhas e palmadas nas costa, o intento é superar a votação anterior promovendo o esvaziamento dos putativos adversários, não lhe passa pela cabeça ser apodado de rei sol, agora Presidente Sol, acredito piamente nisso. O açoriano Carlos César tem de esperar. Há anos, nos jardins da fábrica de Chá da Gorreana alvitrei-lhe essa hipótese. Também tenho de esperar. O PSD não escolhe, está escolhido, esteja no comando da nau laranja Rui Rio, esteja mandar Relvas escondido no biombo chamado Passos Coelho. O CDS idem aspas, aspas!
Acerca do PAN não escrevo. Um partido interessado no extermínio dos animais nos provérbios não merece a minha atenção. O caso muda de figura relativamente ao Bloco da esquerda caviar e ao Partido Comunista.
Os bloquistas perseguem o sonho de um dia ocuparem alguns cadeirões do poder, nesse propósito convém-lhes ouvirem ópera em São Carlos e dançarem o chula no Minho na tentativa de aumentarem a sua presença no Parlamento Europeu e na Assembleia da República, não sendo, nem querendo armar em pitonisa imitando a bruxa de Quiraz (ela possuía o dom da duplicidade opinativa das referidas pitonisas) não prevejo a insuflação do seu eleitorado pois quando chegar a altura os rapazes socialistas vão lembrar a sua cumplicidade na governação de Costa apoiado no Senhor das cativações, férreo carcereiro das contas públicas agradando aos conservadores por convicção e a todos quantos estão obrigados a serem.
O Partido Comunista tenta contornar o custoso e evidente envelhecimento do seu eleitorado, a modernização na forma de entendimento do quotidiano, o adoçar preguiçoso da militância com a proliferação de novas formas de luta no quadro sindical, sendo assim e a meu ver é, Jerónimo de Sousa continuará a ser imprescindível a fim de o PC manter o seu grupo parlamentar até porque em caso de necessidade o filho de Orlando da Costa prefere ouvir as palavras comunistas ao palavreado de Catarina. Uma coisa é o aperto de mão dos comunistas, outra são as palavrinhas da Catrina que andaram de mão em mão e foram ter ao pombal de S. João. Lembram-se da canção de ninar?
Votos de Ano Novo. Um novo ano repleto de venturas para os leitores, para redacção do jornal e director, sem esquecer a continuação de vivacidade nos editoriais.