O machucho e o salamurdo

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A diferença de opiniões vem de longe, ainda o machucho usava mefistofélica barba, o salamurdo andava a escolher o carro destinado a ir fazer a rodagem à Figueira da Foz já gastavam tempo a esgrimir palavras sonantes o primeiro e o segundo esgares sibilinos num confronto que ciclicamente irá continuar fazendo sorrir a Ritinha e remoer irritações a Senhora Dona Maria Cavaco Silva.

Ou seja: o machucho inteligente, finório, de pensamento fulgurante e ágil e resposta pronta, cortante ou macia como manteiga quente chama-se Marcelo Rebelo de Sousa, o salamurdo, de poucas falas, de voz de timbre roufenho, arrastada, sonso quando lhe convém, especialista em «morder» pela calada é o Senhor Professor Cavaco Silva. Se consultarmos os anais políticos dos últimos quarenta anos, os livros de cada qual, sem esquecer sarcasmos, ironias e educados cortes de mangas escondidos nos punhos das camisas, percebermos a antinomia entre o passado e o presente destes dois Presidentes da República.

A última rixa é puramente de despeito rançoso do professor Cavaco contra o professor Marcelo porque este último pulverizou os recordes de popularidade a concederem-lhe folga política e popular para levar a água ao moinho dele sem atravessamentos de maior e críticas a suscitarem amplo aplauso. O móbil – La Dona é móbil – Joana de seu nome – prende-se com a bem sucedida substituição da Senhora contrariando todos os comentadores e políticos evidenciando-se na asneira a Senhora Cristas, a qual nunca deve ter ouvido a ária do terceiro acto da ópera Rigoletto, pois dessa ária retiramos o ensinamento de não serem só as mulheres volúveis. Entendido!

O machucho dá a impressão de ser volúvel, não é nos princípios, menos ainda nos objectivos, ao contrário do salamurdo leu O Príncipe de Maquiavel, sabe qual a causa do filósofo, diplomata e grande homem de leis Tomás Morus ter sido canonizado, daí ter contrariado os desejos, isso sim, dos volúveis pouco atreitos a descortinarem onde está o sol nos dias de cerrado cenceno. O salamurdo seguiu os passos do discípulo Passos que pretende regressar ao passado num alarde de analfabetismo político ou partindo do pressuposto de a maioria dos portugueses terem esquecido o ter ido para além da troika. As pessoas têm memória por muito que custe aos seus apaniguados.

O salamurdo insinuou cousas estranhas na passagem à disponibilidade JMV no exercício do cargo de PGR, o machucho respondeu sem carregar nas intonações, num registo de professor que não se limita a ensinar a perceber, também a imaginar, ora os contabilistas sabem contar notas, não sabem explicar a composição das cédulas que contam. Eis a lapidar diferença de um e o outro na transposição das armadilhas existentes nos caminhos pedregosos da política ora recheada de réplicas de imagens colhidas nos telemóveis, ora de escolhos de escutas a solto e a salto, leia-se o acontecido ao rei emérito espanhol, pense-se no rufado e ainda não esclarecido episódio de Tancos. De 1985 a 2018 tombaram na obscuridade ou vivem dias amargos centenas de rapazes videirinhos muito badalados em breves momentos de glória. A tal glória efémera!

Em 2018, as redes sociais intimidam, foram-se as alcoviteiras da Caleja das Pedras, do Bairro de Além do rio, da Estacada, da Vila, da Rua da Boavista, do Loreto, dos Batoques (devo ter esquecido algum poiso), vieram e estão nas nossas casas, a toda a hora e momento, o ensaísta António Guerreiro alude ao telemóvel grudado na nossa pele, sem surpresa o machucho nada nessas redes como barbos nas águas límpidas do Sabor selvagem (?), sem as frequentar vis a vis, não por acaso despediu o Facebook, os seus canais de comunicação escoram-se no momento do abraço afectuoso, no taco a taco com os jornalistas, sem esquecer os competentes assessores que tudo esquadrinham, tudo sabem e tudo lhe transmitem.

O salamurdo tinha outra forma de actuar, todos sabemos o resultado de várias «operações» onde pontificava um destro jornalista caído em desgraça junto dele e dos outros.

Permito-me recomendar aos leitores o trabalho de fazerem listas de machuchos e salamuros que conhecem, será uma tarefa risonha, também tristonha. Seguramente!

Armando Fernandes