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Nós trasmontanos, sefarditas e marranos Sebastião Lopes (Nunes) Sobreda (157_-1633)

Sebastião Lopes Sobreda era um dos 6 filhos de António Lopes de Castro e Leonor de Almeida, neto paterno de Francisco Lopes, natural de Vinhais e de Mécia Lopes, de Bragança. Nasceu na aldeia de Castro Roupal, do medievo concelho de Izeda, ao início do último quartel do século XVI. Casou com Filipa de Almeida, da família de sua avó materna e que, em Lisboa “tratava de encomendas para o Brasil”. Possivelmente, o casal estabeleceu morada na Quinta de Sobreda, termo da aldeia de Castro Roupal e certamente o sobrenome foi daí tomado. A quinta (ou pequena aldeia) era dotada de uma capela, da invocação de Santo Antão, ignorando-se quem a construiu. Em ligação com outra sita na margem do rio Sabor, conhecida por Santo Antão da Barca, estaria ligada aos caminhos medievais para Santiago de Compostela.(1)
Na sequência das denúncias feitas por Pedro de Matos, em 1618,(2) na inquisição de Coimbra, Sebastião abandonou a terra e dirigiu-se a Madrid. Com ele seguiriam suas 3 irmãs: Luísa de Almeida (depois casada com António Lopes Cortiços); Mécia de Almeida que casou com António Lopes Ferro e Mariana de Almeida, esta já viúva do Dr. João Soares de Chaves. Em Castela, Sebastião prosperou e rapidamente se integrou na prestigiada classe dos rendeiros. Faleceu em 1633, segundo a informação de Markus Schreiber.(3)
Sobre os descendentes de Sebastião Lopes Sobreda, temos algumas informações recolhida se diversas fontes. Alguns deles ganharam alguma importância, até mesmo a nível internacional. Vejamos um pouco:

* Fradique Lopes, que seria o filho mais velho, casou em Olivença, com Beatriz Queirós. O casal terá regressado a Portugal, fixando residência na aldeia de Limões, na vizinhança da Quinta da Sobreda. Certamente a família se destacava pela sua riqueza e modo de vida e isso despertava invejas entre a gente fidalga cristã-velha e alguma animosidade do povo que neles via cobradores de rendas e prestamistas usurários. E sobre eles, como, aliás, sobre todas as famílias da nação hebreia, havia uma vigilância constante dos esbirros da inquisição que punham a correr notícias e boatos de mau viver, em termos de religião. A propósito, veja-se a informação que o arcediago Francisco Luís,(4) comissário da inquisição enviava para Coimbra em Julho de 1637:

— Estando os dias passados em uma conversação onde estavam, se não me engano, três clérigos, disse o Abade Alfaião que lhe disse um clérigo de Limões que um filho de Fradique Lopes era circuncidado, e que o próprio se dizia do pai. Quanto ao filho, disse que quando o fora baptizar o revendo abade de Vinhas, o pai lho mostrara para que se não deixasse de ver, e lhe mostrara o próprio membro do filho, para mais dissimular e que se não fizesse caso daquilo, porque disse que estava feridinho  e ensanguentado. E mais disse que um clérigo lhe dissera, cujo nome ele referirá, quando seja perguntado, dissera que estando com outro por se tirarem daquela dúvida, andando o menino brincando, o chamaram e lhe levantaram o mantéu ou calções  e lhe acharam aquele sinal e ferida.(5)

*António Lopes e Baltasar de Almeida fixaram-se na região da Biscaia, trabalhando no negócio do sal, cujo monopólio estava na mão do seu parente Fernando Montesinhos, nascido em Vila Flor em 1589, filho de Manuel Lopes Teles(6) e sua mulher Filipa Dias. Fernando Montesinhos foi casado com Serafina de Almeida, uma das filhas de Manuel de Almeida Castro, de Izeda.

*Também naquela região de Espanha e na mesma atividade começaria Manuel de Almeida e Castro a sua vida de empresário. Nascido por 1593, Manuel de Almeida deixou a Biscaia, passando a Córdova e trocando o negócio do sal pelo dos cavalos, associando a seu primo Manuel Ferro e Castro, filho da sua tia Mécia de Almeida, no fornecimento daqueles animais à Coroa de Espanha. E na Corte madrilena terá ganho alguma influência já que, em 1665, foi elevado à categoria de cavaleiro, condecorado com a Ordem de Avis, conforme consta de documento apresentado pelo Abade de Baçal, do teor seguinte:
— Manuel de Castro Almeida, capitão, natural de Bragança, filho de Sebastião Lopes de Castro e de Filipa de Almeida, neto paterno de António Lopes de Castro e de Leonor de Almeida e materno de Francisco Lopes de castro e de Maria de Almeida, todos naturais de Bragança. Habilitação de genere a 5 de Fevereiro de 1665 em Madrid para o hábito de S. Bento de Avis. Como testemunhas no processo depuseram: Manuel Pimentel “platero” (ourives da prata, artista), viúvo, residente em Astorga, natural de “Bergança”; Jerónimo Dias, viúvo, residente na vila de Baneza, tesoureiro de alcabalas, tenente de corregedor na mesma vila; António Garcês Brandão, licenciado, de cinquenta anos, natural de Moncorvo, residente em Madrid; Luís de Almeida de Figueiredo, cavaleiro do hábito de Cristo, de sessenta e cinco anos, natural de Freixo de Espada à Cinta, residente em Madrid.(7)
*A filha Serafina de Almeida, faleceu solteira, enquanto Leonor de Almeida e Oliveros Nunes se mantinham solteiros em 1639, vivendo com a mãe, em Castro Roupal. Posteriormente Oliveros Nunes terá casado com Guiomar Pimentel, de Chacim. O casal fugiu para Espanha em 23 de Dezembro de 1651, com a ajuda de um grupo de passadores de Vimioso.(8) Do grupo de fugitivos fazia parte a irmã de Oliveros, Mariana de Almeida, cujo marido se encontrava já em Madrid, uma moça de 15 anos, filha bastarda de Oliveros e 4 crianças filhas dos casais Oliveros-Guiomar e Mariana-António Lopes.
*Mariana de Almeida, outra filha de Sebastião Sobreda e Filipa de Almeida, nasceu em 1612, em Castro Roupal. Casou com António Lopes Pimentel, ou Alvim, da vila de Chacim, onde nasceu por 1615, o qual cedo seguiu para Castela, empregando-se no negócio da exploração do sal. A mulher foi juntar-se-lhe em 1651, fazendo parte do grupo de fugitivos atrás referido. O casal acabou por se fixar em Madrid. Pouco depois, Mariana e o marido foram presos pela inquisição de Cuenca, como, aliás, vários outros parentes e amigos, onde abjuraram “de vehementi”.(9)

NOTAS E BIBLIOGRAFIA:
1 - ANTT, Memórias Paroquiais de 1758, de Castro Roupal. A fama da Sobreda ficou plasmada em antigas quadras populares, como esta, retirada de ALVES, Francisco Manuel – Memórias Arqueológico Históricas do Distrito de Bragança, tomo IX, p. 282:
Ó Sobreda, ó Sobreda
Arrasada sejas tu
De beijos e abraços,
Não te quero mal nenhum.

2 - ANTT, inq. Coimbra, pº 3099, de Pedro de Matos, lavrador, ex-rendeiro, natural de Freixo de Numão, morador na aldeia de Lagoa.
3 - Agostinho da Fonseca, filho de Mariana de Almeida, vivia já então em Veneza e casaria mais tarde com sua prima Mariana Ferro, filha de Mécia de Almeida.
3 - SCHREIBER, Markus – Marranen in Madrid 1600-1670, Franz Steiner Verlag Stuttgart., 67 e seguintes .
4 - A informação do comissário Francisco Luís fazia parte de um sumário na sequência do qual foi lançada uma verdadeira operação de limpeza da heresia judaica em Quintela de Lampaças, com o mandado de prisão de 19 moradores de uma só vez, em Novembro de 1637, pela inquisição de Coimbra. Ver: ANDRADE e GUIMARÃES – Nas Rotas dos Marranos de Trás-os-Montes, 1ª Parte Uma Missa Judaica em Quintela de Lampaças. Ed. Âncora, Lisboa, 2014, pp 13-40;
5 - ANTT, inq. Coimbra, pº 3305, de Guiomar de Leão. Ver: ANDRADE e GUIMARÃES – Nas Rotas dos Marranos de Trás-os-Montes, 2ª Parte: Os Almeida Castro, uma Família de Cristãos-Novos de Izeda, p. 53.
6 - A.N.T.T. inquisição de Coimbra processo 458 de Manuel Lopes Teles.
7 - ALVES, Francisco Manuel – Memórias Arqueológico Históricas do Distrito de Bragança, tomo VIII, p. 55.
8 - ANTT, inq. Coimbra, pº862, de André Álvares. O padre Belchior de Macedo era o líder do grupo e recebeu de Oliveros Nunes 22 000 réis em paga; André Álvares, outro dos 6 passadores envolvidos recebeu 15 mil réis; Amaro Ferreira 16 mil… Contratado também para ajudar no “salto” foi “um homem pobre da Torre de Moncorvo que vive em Vimioso, o qual lhes levou o fato que ia num burro, até à dita raia de Castela”.
9 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nas Rotas dos Marranos de Trás-os-Montes, 3.ª Parte: Vimioso Anos de 1650, uma Rede de “Passadores de Judeus” desmantelada pela Inquisição de Coimbra, pp. 111-113. 
9 - SCHREIBER… Marranen… pp. 80-85. António Lopes Pimentel era filho de Mateus Lopes Pimentel, natural de Mogadouro, onde faleceu em 1637, e de Isabel Nunes, de Chacim, falecida em 1639.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães
 

A Feira de Bragança ao longo dos tempos (4) - A tradição de vir à feira para vir à cidade

Ao longo de séculos em Trás-os-Montes, com fracas vias de comunicação, a província com a mais extensa fronteira terrestre, as feiras desempenhavam papel fundamental na atividade económica. Os homens do campo deslocavam-se às feiras levando animais e produtos da lavoura para venda, fazer as compras necessárias às suas atividades domésticas e do campo, adquirir ou trocar produtos. A situação evoluiu muito, à medida que as vias de comunicação foram rompendo o isolamento dos territórios e evolução dos meios de transporte.
Muitos dos bens deixaram de ser transacionados nas feiras e nas aldeias, onde também se faziam trocas de produtos, surgiram pequenos comércios, logo de seguida ganha maior expressão a venda ambulante, não tardou surgiram as médias e grandes superfícies comerciais. Em Bragança, na década de noventa instalaram-se quatro médias superfícies comerciais. Em menos de meios século, o abastecimento público alterou-se quase de forma radical, assim como a relação entre produtores e consumidores. 
O transporte por tração animal que permitia aos agricultores transportar os seus produtos para os locais de venda nas feiras, foi sendo substituído pelo transporte em camionetas e autocarros que, para além de transportarem passageiros, transportavam alguma carga por cima do tejadilho e no compartimento inferior onde também eram transportados pequenos animais. Nas camionetas, veículos de transporte de carga e de passageiros, eram transportadas mercadorias diversas e também pessoas. Alguns camionistas dispunham de licença específica para o transporte de passageiros, adaptando as carroçarias, colocando nq parte da frente, coberturas amovíveis onde eram colocados bancos corridos para os passageiros, a parte de trás era destinada ao transporte de carga e de animais.
Com a evolução dos meios de transporte, os agricultores deixaram de fazer longas jornadas a pé conduzindo os animais à feira, passaram a transportá-los em tratores e camionetas. Também os carros de bois carregados com produtos da terra deixaram de fazer o lento e longo percurso das aldeias para a cidade. Das aldeias vizinhas de Espanha, em particular da zona da Sanábria, vários agricultores conduziam os seus animais à feira de Bragança.
Virgílio Taborda refere que já durante o século XIX, as feiras de Bragança se tinham especializado na comercialização de gado e cereais, embora se transacionassem outros produtos da economia local e regional, que na década de 1930, as feiras da Terra Fria, nomeadamente a de Bragança e dos Chãos se tinham praticamente transformado em mercados de gado. 
A criação de gado de todas as espécies reduziu muito, em particular o bovino, que prestava importantes serviços na lavoura, nos transportes de mercadorias, fornecia matéria primas para a indústria e carne para alimentação. Nas últimas três décadas no concelho, o número de animais reduziu de cerca de 6000 animais para pouco mais de 2000. Tudo mudou a um ritmo muito acelerado, isso não significa que a economia da região tivesse baixado. A evolução do comércio, dos serviços, da indústria, tem permitido à região progredir em termos de rendimento médio per capita, aproximando-se da média nacional, apesar de continuar a ser preciso percorrer um longo e difícil caminho para reduzir as assimetrias que persistem e combater o acelerado despovoamento do território.
O abastecimento público de bens mudou muito rapidamente, o sistema comercial disponibiliza diariamente todos os produtos, apoiado numa rede que cobre o território, o que veio a diminuir a importância das feiras, hoje reduzidas a uma pequena componente de produtos da terra e à venda de roupa e objetos variados. Mantém-se ainda a tradição, em particular dos mais idosos das aldeias, de ir à feira, como que um pretexto para vir à cidade.
A Feira está agora instalada em espaço central em termos urbanos, com boa acessibilidade, para vendedores e feirantes, aí se podendo aceder a pé a partir de qualquer ponto da cidade, ocupa uma área contígua ao Mercado Municipal, à Catedral, e aos edificíos sede do Municipio.
De destacar que os concursos de bovinos de raça mirandesa se iniciaram no ano de 1865, concurso que teve interrupções. A partir do ano de 1998, passou a realizar-se no dia 21 de agosto, dia principal das festas da cidade, dedicado aos agricultores do concelho, realizando-se no recinto do anfiteatro do IPB, junto às cantinas escolares, recinto com boas condições de segurança para centenas de pessoas assistirem ao desfile e classificação dos animais das várias secções a concurso. Após a entrega dos troféus, segue-se o almoço convívio com os agricultores, enquanto se prepara a tradicional luta de touros, à qual assitem milhares de pessoas. A luta de touros decorria em campo improvisado contíguo ao campo de futebol do Trinta, ocorrendo por vezes acidentes graves com a fuga dos touros.
As condições de segurança no espaço improvisado do Trinta eram insuficientes, os agricultores pediam melhores condições, por isso se decidiu assumir a construção de um Recinto de Promoção e Valorização das Raças Autóctones, com plenas condições sanitárias e de segurança, em recinto definitivo e licenciado para o efeito, onde se pudessem realizar os concursos de animais, a luta de touros e reiniciar as feiras de gado. O local escolhido foi na envolvente do estádio municipal, com um moderno e funcional projeto de arquitetura, bons acessos e estacionamento. O recinto foi concluído a 21 de agosto de 2013, aí se fez a festa que os agricultores aguardavam.
Atualmente, na cidade, para além da feira semanal, realiza-se a feira das cantarinhas, a feira do artesanato e a feira “Norcaça/ Norpesca/Norcastanha”.
Na área rural realizam-se algumas feiras. Em Izeda, realiza-se a feira dia 8 e 26 de cada mês e a feira do folar no domingo de Ramos, teve a sua primeira edição no ano de 2000. Na aldeia de Parada a feira mensal deixou de se realizar há cerca de 15 anos, realiza-se agora uma feira anual de artesanato e produtos regionais, tendo ocorrido a 1.ª edição em dezembro de 2007 no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de dezembro de 2005. Em S. Pedro dos Serracenos, realiza-se a feira das Cebolas, com a 1.ª edição no ano de 2000. Em Samil realizou-se a 1.ª edição da feira do Pão a 25 de abril de 2014; Em Rabal, realiza-se no dia 15 de agosto, desde o ano de 2002, a feira dos produtos da terra, em espaço construído para a realização de feiras e festividades, inaugurado a 15 de agosto de 2012. Na aldeia de Coelhoso realiza-se desde o ano de 2010, a feira do Cordeiro, no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de agosto de 2009.
Em cerca de década e meia foi assegurada a construção de um matadouro municipal, a construção do novo mercado municipal, com a valência de feira dos produtos da terra, a instalação da feira em espaço central e condigno, a construção de espaço próprio para os concuros de gado e de luta de touros, o apoio ao lançamento de algumas feiras anuais, iniciativas que contribuem para a valorização de recursos endógenos, em particular da atividade agrícola,  pecuária e florestal. Na era do comércio electrónico, do comércio e logística blobais, importa valorizar o que está próximo, é distintivo, seja os recursos endógenos, a identidade, os valores culturais as pessoas o mais valioso recuso de um território.

Falando de… Manuel Teixeira Gomes, algarvio, escritor. Presidente da República

Em tempos de puerícia, frequentando o Liceu Municipal de Portimão, no Verão, quando o calor tornava os corpos mais sedentos, passava por aquela sorvetaria onde a troco de uns parcos dinheiros, me deliciava com um gelado que me tornava credor do Olimpo. Eu era feliz e o futuro ficava longe.
Mas aquela rua por onde me habituara a passar, tinha em si uma enorme casa onde tinha nascido um filho da terra. Importante, mas de uma importância que a minha meninice ainda não alcançava. Portimão sempre foi para mim um local de passagem, de passeios que recordo amiudadamente e que procuro reter na minha memória.
Como um deslocado que aspira regressar ao seu agro natal, rememorando espaços, lugares e vivências, dou por mim a ler o cidadão que foi Presidente da República e escritor e que, seguramente, não pensou sê-lo.
Nasceu, ao tempo, em Vila Nova de Portimão, que será elevada à categoria de cidade em 1924. Terceiro filho de José Libânio Gomes Xavier e de Maria da Glória Teixeira, o seu nascimento vem aumentar a prole de um chefe de família que enriquecera no negócio da exportação de figos, onde ganha prémios, e que vive desafogadamente. Manuel Teixeira Gomes virá a liderar a gestão dos negócios da família, interrompida quando obrigações de Estado o levarem a representar Portugal na corte de Jorge V, em Inglaterra, em 1911.
Por vontade dos pais teria seguido a carreira médica. É matriculado no Colégio particular S. Luís Gonzaga, em Portimão, onde frequenta a instrução primária à semelhança do que acontecia com as famílias mais abastadas da localidade. Os estudos no Colégio eram complementados com leituras na biblioteca da família. Lembra ter lido aos nove anos Mil e Uma Noites, numa tradução portuguesa feita por Galland, afirmando que tinham sido joeiradas das principais impurezas lúbricas, tornando-se acessíveis no seio das famílias pudibundas.
Terminada a instrução primária em Portimão, ruma a Coimbra, onde passa sete anos seguidos, i.e., dos dez aos dezassete, sendo cinco no Seminário, o que estava muito na moda e era frequentado pelos filhos da melhor gente do reino.
Passados muitos anos, ao descrever um regresso a Coimbra, recordará os imaginários ou verídicos tormentos pedagógicos, a bárbara autoridade dos mestres, a regulamentação deprimente de estudos ressequidos, despidos de interesse quando feitos de violência. Nem tudo foi mau. Escreveu em Carnaval Literário, no capítulo denominado “De tudo um pouco”:
        O melhor dos meus professores, o Alves de Sousa, tão agarotadamente achincalhado nas Farpas, tinha a inocente mania das mnemónicas cantadas em cuja invenção era fertilíssimo embora pouco original, introduzindo-o em Kant.
Terminado o curso no Seminário, graças à apertada vigilância de uns padres, a cuja leccionação o Bispo o sujeitara, acha-se na Universidade solto e livre aos quinze anos. Não abriu mais os compêndios. Para fazer fosse o que fosse, precisava de aplicação e continuidade no estudo, que não lhe acendia a imaginação. “Resultado: reprovações e anos perdidos; peregrinações estéreis pelas várias escolas do país; conflitos com a autoridade paterna; boémia descabelada, miséria, fome… e literatura”.
O facto de não ter aberto os compêndios, não impediu que não tomasse contacto com Heine, Baudelaire, Rimbaud, Sainte-Beuve, Verlaine, Victor Hugo, Flaubert e Charles Dickens. A Norberto Lopes confessa que começou a ler muito cedo com filósofos, como Leibniz, Schopenhauer, Kant, Nietzche, Hartmann e outros.
Abandonados os estudos em Coimbra, foi para Lisboa, onde conviveu com os intelectuais da época, sendo frequentador assíduo da Biblioteca Nacional, indo depois para o Porto, relacionando-se com artistas e políticos, como Soares dos Reis, Marques de Oliveira que o retratou aos vinte e dois anos e Sampaio Bruno, sendo nesta cidade que publica o seu primeiro livro em 1899, o Inventário de Junho.
Começa a colaborar em periódicos como Folha Nova, Folha, Primeiro de Janeiro, Arte & Vida, A Actualidade, A luta, ao mesmo tempo que se relaciona com João de Deus, Fialho de Almeida, Basílio Teles, Câmara Reis, Columbano,  António Nobre, Queirós Veloso e outros.
É nesta época o seu deslumbramento ante a figura de Camilo. Falará do mestre em Regressos, num excerto que não nos furtamos a citar:
Eu vira Camilo algumas vezes, no Porto, e sempre na rua de Santo António, que ele descia à mesma hora em que eu subia em busca do almoço. Que fotografia sem retoques poderia jamais substituir convenientemente a imagem que dele guardo na lembrança! O aspecto era melancólico, mau grado a sua afectação de ostensiva altivez. Bem aprumado ainda, no sobretudo de gola de astrakan cingido ao corpo; o chapéu de coco cilíndrico e aba larga; a infalível luneta defumada ocultando o olhar; e as mãos finas, dissecadas já com manchas de pano da velhice…
Virando as costas à vida fácil da boémia lisboeta, regressa ao Algarve e a Portimão, tentando o caminho da independência económica. Fez-se negociante, ganhou bastante dinheiro e viajou pela Europa e costas do Mediterrâneo que visitou, segundo afirma, passo a passo. Lisboa e a sua vida social não deixam de fazer parte da existência de Manuel Teixeira Gomes, aí convivendo com o mundo da intelectualidade e da política, como Manuel de Arriaga e Teófilo Braga.
Instalado em Portimão, liga-se a Belmira das Neves, uma jovem substancialmente mais nova, de quem terá duas filhas, Ana Rosa nascida em 1906, e Maria Manuela em 1910. Com a morte dos pais, herda propriedades de certa monta, que principia a governar com entusiasmo, tornando-se um lavrador abastado, o que o leva a perder o fulgor pelas viagens. Produto desta pausa existencial e deste viver mais remansoso, arquitecta e constrói textos que vai dando à estampa. Assim, nascem Cartas sem moral nenhuma, em 1903, Agosto Azul, em 1904, Sabina Freire, em 1905 e Gente Singular, em 1909.
Radicado no Algarve, gere os seus negócios, não deixando de escrever e amando a mulher que lhe vai tolerando e aceitando com estoicismo os seus devaneios amorosos. De origem humilde, operária no fumeiro da família de Manuel Teixeira Gomes, fábrica onde se preparavam os figos e amêndoas para exportação, Belmira das Neves não chega a consumar o casamento com Manuel Teixeira Gomes, dada a sua origem humilde e, consequentemente, as grandes diferenças sociais.
A revolução de 5 de Outubro de 1910, encontra-o em Portimão. Tinha cinquenta anos e nascera-lhe a filha mais nova poucos dias antes; escreverá a João de Barros em 20 de Abril de 1927:
Tudo larguei e fui servir a República no meu posto de ministro em Londres, para onde jamais me passou pela ideia que iria, e terminantemente recusei quando me propuseram.
Fora escolhido para ministro de Portugal em Londres, embora tivesse havido, de início, a oposição de Bernardino Machado, Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Nomeado em 23 de Março de 1911, é o primeiro representante da República depois da longa missão do Marquês de Soveral, amigo íntimo da Família Real Inglesa e último representante da monarquia em Londres.
A situação de Manuel Teixeira Gomes, como embaixador em Londres, não se afigurava fácil. As possíveis maquinações do embaixador cessante e de grande influência, a presença de D. Manuel e de D. Amélia, ligados à corte inglesa, por laços familiares, as intrigas dos numerosos emigrados monárquicos de grande poder económico e financeiro, e ainda a campanha que corria em Inglaterra contra o “tratamento infligido aos presos políticos” em Portugal, alimentado pela imprensa inglesa, dificultavam a actuação de Manuel Teixeira Gomes que trabalhava para além do possível. Debeladas algumas dificuldades, suportadas pela educação que recebera, à sua cultura, ao seu conhecimento cosmopolita e o perfeito conhecimento da língua inglesa, simpatia e amizades conquistadas, abriram caminho para uma permanência que durou cerca de treze anos, quando fora para Londres esperançado em não ficar muito para além do reconhecimento da República.
Em Inglaterra, só passado um ano da proclamação da República, foi possível apresentar credenciais ao rei Jorge V em 11 de Outubro de 1911, sendo a sua carreira interrompida de 25 de Janeiro a 11 de Fevereiro de 1918, por força da instauração da ditadura de Sidónio Pais, que o tendo mandar apresentar em Lisboa, o mandou prender quando se encontrava instalado no quarto nº 153 do Hotel Avenida Palace, em Lisboa. Foi libertado em 4 de Fevereiro, sem que lhe fosse dada a oportunidade de ir a Londres resgatar os bens que lá tinha deixado.
Em 11 de Fevereiro de 1919 é nomeado Ministro Plenipotenciário e Enviado Extraordinário em Madrid. Em 7 de Abril é considerado diplomata de carreira, numa altura em que Sidónio Pais já não governava porque havia sido assassinado em 14 de Dezembro de 1918, na Estação dos Caminhos de Ferro do Rossio.
Em 24 de Abril de 1919 cessa funções em Madrid e regressa a Londres onde permanecerá até à sua nomeação para a Presidência da República em 6 de Agosto de 1923.
Foi em grande parte, através dos esforços diplomáticos de Teixeira Gomes junto da Grã-Bretanha que foi projectada pela Europa a imagem de uma República ordeira e estável, sintonizada com os principais rumos da Europa de então, daí a entrada de Portugal na guerra de 1914-18, tendo em atenção os trunfos que passaria a dispor na partilha de África pelos vencedores. Não contabilizando as desastrosas consequências sociais e financeiras, que vieram pôr a descoberto fragilidades que dificilmente se sararam.
O país navegava num marasmo de ingovernabilidade. Vários foram os governos desde a implantação da República. Cerca de quarenta. Em 1923 era Presidente da República António José de Almeida. Perante as querelas partidárias, as tentativas de golpes militares, era necessária escolher alguém de inquestionável prestígio adquirido fora das lutas partidárias com provas dadas ao serviço do país.
Em 6 de Agosto de 1923 é eleito com 7º Presidente da República, tomando posse em 5 de Outubro. Com grandes dificuldades, face à recusa de alguns políticos de formarem governo, enfrentando sublevações, insubordinações e demissões, tendo dado posse a sete executivos, em pouco mais de dois anos, resolve renunciar ao cargo em 24 de Abril de 1925, retirando o pedido depois do Congresso lhe ter tributado uma calorosa manifestação de apoio.
Em 11 de Dezembro do mesmo ano resignaria ao poder, definitivamente. Estava farto do país. Retirar-se-ia para não mais regressar. As últimas cinco noites passá-las-ia numa sua casa na Gibalta. Partia na manhã de 17 de Dezembro, a bordo do navio holandês Zeus. Instalar-se-ia na cidade argelina de Bougie, depois de ter visitado outras cidades. No quarto nº 13, do Hotel de l´ Étoile, estacionará a partir de Setembro de 1931. Via o mar semelhante ao do seu Algarve. Saíra de Portugal com 65 anos, terminando mais uma fase da sua vida. Partira para o exílio, cortando todos os laços com o passado: amigos, políticos, família e a Pátria, conquanto transportasse dentro de si as memórias de ricas vivências e de um país que iria recordar através da escrita.
Confessará a Norberto Lopes:
Faço uma vida muito especial e muito simples. E tenho uma alimentação muito sóbria. Se não fosse isso já não vivia.
Levanto-me às quatro horas da manhã. Preparo eu mesmo, no quarto, o meu almoço. São as melhores horas do dia, aquelas em que ainda posso fazer alguma coisa: ler, escrever. Ao meio-dia janto. Às duas e meio saio para ir ao correio. Às 4 tomo um chá de tília – e em seguida recolho-me. Creio que é, em parte, devido a este regime alimentar que me vou aguentando. Além disso tenho as cartas, os artigos, os livros… é isto que me prende à vida.
Desistindo de governar Portugal e renunciando à permanência no país, Manuel Teixeira Gomes criou uma situação inédita na primeira república. Não desistiu de viver. Sublimou hábitos.
Afastado da política, com o mar de perto, Bougie, hoje Bejaia, é o seu lugar de exílio a seis horas de distância de autocarro de Argel. Vive num quarto de hotel, no dizer de Mário Soares que o visitou, modestíssimo, sem sequer ter uma casa de banho própria. Só alguns raros amigos o sabiam, embora continuasse a saber toda a correspondência na Posta Restante, hábito que contraíra durante as suas viagens, e que manteve até morrer.
A escrita foi um hábito que não perdeu. Gostava muito de receber cartas de amigos. Quando saíra de Portugal mantinha correspondência seguida com sessenta pessoas, diminuindo-a ao longo da sua permanência do Bougie. Apesar de arquivar uma cópia do que escrevia, dera instruções a sua filha Ana Rosa para fazer desaparecer para sempre numa fogueira todos os seus papéis anteriores à ida para Londres, que se encontravam no seu escritório, à excepção de Sabina Freire.
Vivendo de memórias no isolamento da sua mundivivência em Bougie, saem da sua pena as seguintes publicações, depois de um considerável interregno, porque não desaprendera a arte da escrita: Cartas a Columbano, Novelas Eróticas, Regressos, Miscelânia, Maria Adelaide, e Londres Maravilhosa, postumamente.
Em 18 de Outubro de 1941 no quarto nº. 13, do hotel de l´ Étoile, em Bougie, Teixeira Gomes, quase cego, forçado à imobilidade no leito, despedia-se da vida, exalando o último alento. Pouco passava das 5 da manhã.
O enterro foi modesto e simples, conforme escreve Norberto Lopes. Vestiram-no de casaca. O comissário da Polícia selou o caixão de chumbo. O préstito não teve acompanhamento religioso, sendo constituído por sete pessoas.
Mais tarde, o governo de Salazar, com autorização de familiares, transferiu os restos mortais de Teixeira Gomes para Portimão, em 18 de Outubro de 1950. Jaz em campa rasa no cemitério da cidade que o viu nascer, depois de um atribulado funeral com a polícia a espreitar. Viera no navio da Marinha de Guerra Portuguesa, Dão, tendo a tripulação e outras forças militares prestado as honras da praxe.
Era algarvio, escritor e Presidente da República.
Não for seguido o acordo ortográfico.

Por João Cabrita    

Foste-me embora

Foste-me embora é o título do meu oitavo livro, editado no passado mês de dezembro, em tempo natalício. É um livro intimista, de memórias, de saudade, de múltiplas perdas afetivas, humanas e materiais. Em jeito de sinopse justifico, em contracapa, a razão de ser deste livro: “Quando perdemos, ficamos sem chão. Mas é preciso falar das coisas, partilhar o sofrimento, amaciar a vida. É preciso ser solidário com aqueles que silenciosamente ainda dizem: - Foste-me embora! É preciso olhar, é preciso ver para além do horizonte da saudade. É preciso. O silêncio mata.
Por isso, aqui ficam estas breves palavras, textos dispersos, tão presentes, como a presença dos que partiram, aqui ficam e partilhamos, solidários, com todos os que perderam alguém na longa noite da partida. E nunca nos esquecemos!
Temos que falar das coisas, serenamente e este é o recado que humildemente deixo a todos aqueles que dolorosamente encostaram a porta e continuam à espera”.
Por isso, este livro foi publicado sem grande divulgação, sem festivos lançamentos, pois é um livro de partidas, de perdas. Contudo, não pude deixar de o escrever como um sinal de preito aos que nos deixaram e de testemunho da precariedade da nossa condição humana.
É uma perda infinda e indescritível quando um filho parte, a meio da noite e para sempre. Também neste livro relembro grandes amigos e grandes vultos da nossa terra e que recentemente se foram embora, silenciosamente, deixando o vazio das grandes ausências, como foi o caso, entre outros, do Padre Telmo Afonso, do Amadeu Ferreira e do Luís Vaz.
Outras perdas pessoais e familiares emergem das páginas deste livro, como gratidão pelo dom da vida.
Também não podia deixar passar em claro, neste “Foste-me embora”, sinais evidentes de outros abandonos, do delapidar do nosso património, da morte anunciada das nossas aldeias, do capitular da nossa cultura regional em detrimento duma avassaladora cultura de massas, da desumanização a que assistimos impávidos e serenos.
Embora simbolicamente, não pude deixar de ir despedir-me da ponte de Remondes, como quem se despede de um amigo, das águas fugidias do Sabor, dos remansos e da viagem sem pressa para os lados de Mogadouro. A velha ponte ficou submersa na barragem que domesticou o Sabor. Um longo funeral se segue, de oliveiras, amendoeiras, vinhas, do buxo, das fragas altaneiras, perdemos as memórias e ficará, somente, um lençol azul, sem passado e não sabemos se com futuro.
E aqui faz todo o sentido recordar o carismático texto do humanista John Donne: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
E enquanto escrevia este texto soube, dolorosamente, que Mário Soares se foi embora, ao entardecer. E aqui não há adjetivos para classificar esta enorme perda do homem que corajosamente deu sentido à dignidade humana e ao valor inigualável da liberdade.
Parece que foi ontem que Mário Soares esteve entre nós, na “presidência aberta”. Parece que ainda ouvimos o bispo de Bragança e Miranda, Dom António Rafael, “malhar” em Mário Soares, nas suas infindas homilias, para mais tarde o receber, em seus braços episcopais, com o epíteto de presidente da Catedral.
Ficamos mais pobres, Portugal fica mais pobre sem Mário Soares. Fica a obra e a mensagem ímpar que é possível viver numa sociedade sem repressões, que é possível viver em igualdade, liberdade e fraternidade.

Aí vem lobo!

Há palavras que de tanto usadas nas situações mais diversas acabam por ganhar significados contraditórios.
É o caso da palavra reformar que, hoje em dia, significa pura e simplesmente mandar para o lixo. Reformam-se os cidadãos que já não prestam porque deixam de ter utilidade e só incomodam. Abatem-se à carga das empresas como máquinas obsoletas ou as cadeiras e os cortinados lá de casa, promovidos à condição de trastes.
Aos funcionários, ainda assim, atribuem-lhe uma pensão, descontos nos transportes públicos e nas consultas médicas, não importando, nem mesmo à polícia, que muitos passem o resto dos dias nos bancos dos jardins.
Os governantes do sistema dão-se mesmo ao desplante, por puro calculismo, de decretar a idade de reforma, o prazo de validade, melhor dizendo, a partir da qual o infeliz, por mais saudável e válido que seja, é constrangido a arrumar as botas.
Governantes que não olham para o próprio umbigo, porém, e se não dão conta de que são eles e o sistema político em que vegetam que estão a precisar de ser reformados. Mesmo os que se dizem de esquerda e revolucionários porque, por mais estranho que pareça, se mostram mais arreigadamente conservadores, nas actuais circunstâncias, que os seus congéneres de direita.
Toda a gente vê, menos os políticos, claro está, que o Regime, o Estado, e não só a chamada Segurança Social, estão a precisar de reformas profundas e urgentes, embora não necessariamente de uma revolução.
De reformas que se traduzam em qualidade, mais verdade, maior eficácia e melhor democracia. Reformas que não se fazem sem vontade e espírito reformador, o que não há nossa classe política.
Os maiores avanços sociais da Humanidade foram operados por reformadores e revolucionários. Os revolucionários, para lá de transformações positivas provocaram, quase sempre, injustiças e desgraças desnecessárias. Os reformadores sempre foram mais pacíficos e construtivos. É destes que Portugal precisa.
O actual Regime político, Estado incluído, tem gerado crises e misérias ininterruptas mas os nossos políticos, continuam a vender a alma ao diabo. Esvaem-se em deleites ideológicos, perdem-se e pelam-se por votos, e o eleitorado foge deles como o diabo da cruz.
Incompreensivelmente continuam a defender que Portugal está no bom caminho e que é crime falar em reformas. Pensam assim porque a vida lhes tem corrido bem. Com mérito ou sem ele, militar num qualquer partido político é meio caminho para benesses e mordomias.
Não se compreende, todavia, que agora gritem “aí vem lobo”, escondidos atrás da moita do compadrio e dos privilégios, brincando com a ameaça populista que grassa por todo o mundo livre, porque são eles os lobos que andam a dizimar o rebanho.
São eles que estão a dar a ler às criancinhas o livrinho Mein Kampf do menino Adolf Hitler.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

José Mário Leite

Quando José Sócrates ganhou as eleições em 2005 convidou para ministro das Finanças Luis Campos e Cunha. Com curriculum coniderável preparou, juntamente com o Primeiro Ministro, uma série de medidas, algums polémicas, tendo em vista a contenção do déficit que teimava ultrapassar os valores impostos pela União Europeia aos países integrantes da Zona Euro. Entre estas houve algumas que mexiam com a idade da reforma, com as reformas antecipadas em complemento com um aumento generalizado de impostos. Sendo Campos e Cunha beneficiário de uma generosa reforma pela sua passagem (durante seis anos) pela Administração do Banco de Portugal houve quem questionasse a moralidade da imposição de tais sacrifícios aos seus concidadãos. O Primeiro Ministro veio em sua defesa acusando os que o atacavam de visarem o seu assassinato de caráter.
Foi público e notório o esforço primo-ministerial para segurar o titular da pasta das Finanças. Inglório, pois, passado pouco tempo, a 20 de julho desse ano, Luis Campos e Cunha apresentou o seu pedido de demissão por “razões familiares, pessoais e de cansaço”. O episódio da publicitação da sua reforma de que não quiz abdicar, tempos antes, não passara de mera coincidência. José Sócrates lamentou a saída, agradeceu-lhe o contributo e elogiou-lhe o desempenho. Substituiu-o por Fernando Teixeira dos Santos, como é sabido.
Recentemente, Luis Campos e Cunha veio “revelar” que afinal a verdadeira (ou a principal) razão da sua demissão tinha sido a pressão do Chefe do Governo de então para que demitisse a Equipa Gestora da Caixa Geral de Depósitos de então. Será dificíl apurar se foi exatamente assim. Admitamos que sim. É louvável que o ex-ministro tenha deixado que se tenha instalado uma falsa opinião sobre si para proteger o Primeiro-Ministro de então. Sim, porque não pode ter sido para proteger nem a Caixa nem o Governo já que ao recusar a substituição proposta só poderia ter por motivação a convicção que a fórmula existente era melhor que a que lhe era proposta e que depois veio a ser efetivada. A ser assim, porque razão SÓ AGORA (e porquê agora) vem a público fazer revelação tão polémica? Que benefício tem hoje para o país, para a Caixa, para o sistema bancário, tal afirmação que, mesmo sem a contestar, teremos sempre de admitir poder ter uma outra versão (todas as moedas têm duas faces!) dado que ele mesmo afirma não a ter devidamente documentada? Não teria sido mais útil ter feito esclarecido este facto, na altura, não só para preservação do seu próprio bom nome (a que tem inalienável direito), mas igualmente prevenindo ou tentando evitar uma solução que lhe parecia na altura e que hoje confirma ter sido prejudicial para o erário público que os servidores do Estado devem ter como fim primordial? Não posso crer que seja apenas porque na altura José Sócrates era primeiro-ministro e estava no centro do poder situação que o colocava nos antípodas da que hoje tem.
Mais do que incompreensível e de duvidosa utilidade foi a “informação” que no final de um almoço com Armando Vara rasgou, na frente deste, a fatura respetiva que pagara em dinheiro. O que quiz significar com este gesto? Que se o não fizesse se sentiria comprometido com o ex-governante? Um ministro tem de ser uma pessoa idónea e a quem é creditada essa idoneidade. Não é possível outra situação. Se o almoço foi de trabalho, nada mais natural que fosse paga pelo ministério. Mas se, pelo contrário, considerou o repasto na esfera pessoal, bastar-lhe-ia pagar e guardar a fatura. Que significado atribuir à teatrealização de a rasgar na presença do seu convidado? E, sendo assim, o que pretende ao revelá-lo todos estes anos depois? Que utilidade tem tudo isto?
Lembrei-me de Mateus 6:3 “... que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita”

 

Os nossos Reis

Ter, 10/01/2017 - 10:16


Olá familiazinha! Decorridos que estão dez dias do ano, recebemos no dia 2 de Janeiro a triste notícia do falecimento do Tio Abelzinho Ferrador, de Valongo dos Azeites (S. João da Pesqueira), que embora ultimamente não nos ouvisse, teve a preocupação de pedir a alguém que nos informasse da sua partida, porque sabia que nós somos a rádio que festeja a vida mas também a que chora a morte. Nesse dia, as orações da manhã foram oferecidas pela sua alma, que em paz descanse e os nossos sentimentos à família enlutada.
Na universidade da vida tivemos dez novas matrículas no que vai de ano, mas diariamente incentivamos a participação de todos aqueles que sabemos que nos ouvem mas que persistem em pertencer ao grupo dos não-falantes, porque ainda há muita gente com talento que tem muito para dar à nossa família.