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Líder dos leões recebido em Bragança por cerca de duas centenas de sportinguistas

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Ter, 17/01/2017 - 16:20


Foi a primeira vez que um presidente do Sporting CP marcou presença na cidade de Bragança.
Bruno de Carvalho jantou, na sexta-feira, com cerca de 200 adeptos e sócios num evento promovido pelo Núcleo Sportinguista brigantino.

José Pereira desafia técnicos de futebol a formar um núcleo de treinadores.

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Ter, 17/01/2017 - 16:16


Criar um elo de ligação entre os treinadores e a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) de forma a organizar mais acções de formação no futuro será uma das vantagens com a formação de um núcleo de treinadores de Bragança.

A família pelo mundo...

Ter, 17/01/2017 - 10:17


Olá familiazinha! Já estamos chegados à segunda quinzena do ano, ainda com cheiro a novo. Estamos em maré de constipações e gripes e, como diz o povo, o remédio é “abafa-te, avinha-te e abifa-te!
É também a época dos ‘santos do fumeiro’ porque, no passado dia 15 de Janeiro, foi o dia de ‘Santo Amaro Buteleiro’. Neste dia é usual em algumas localidades saborear-se o butelo. Antes das grandes feiras do fumeiro que aí vêm, já é possível comprá-lo nas festas de Santo Amaro (15 de Janeiro), Santo Antão (17 de Janeiro), São Sebastião (20 de Janeiro) e São Vicente (22 de Janeiro), fumeiro este que foi oferecido pelos devotos e que vai a arrematação a quem oferecer mais.

 

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Diogo Gonçalves, o belfo (1562– ?)

Corria o ano de 1578. na época das colheitas. Em Vale Prados, então termo de Bragança, Isabel Cardoso, viúva de João Gonçalves, acompanhada pelo filho Diogo Gonçalves e pelo sobrinho Gonçalo Fernandes procediam à cobrança das rendas devidas à Sé de Miranda do Douro, que traziam arrematadas. E estando os três na mesma casa, como judeus que eram na intimidade, fizeram as suas orações e cerimónias judaicas.
Passados quase 12 anos, em Novembro de 1589, quando a cidade de Bragança era tomada por uma vaga de prisões, Gonçalo Fernandes, receoso que o prendessem também, apresentou-se perante o vigário geral a confessar seus pecados. E um dos “pecados” que confessou foi exatamente o que ficou descrito.(1)
A essa altura a tia Isabel era já falecida e o primo Diogo, então com 28 anos, “estava recebido” para casar com Catarina da Paz, vivendo com ela em casa de seus cunhados, na rua Direita, de Bragança.
E bastou esta simples e única denúncia para os inquisidores de Coimbra decretarem a prisão de Diogo Gonçalves, o belfo, de alcunha, que ali foi entregue pelo solicitador Onofre Figueiredo, em 19 de fevereiro de 1591.
No decurso do processo, enquanto esteve preso, choveram denúncias contra ele. Tal como ele denunciou quantidade de correligionários. Era esse o ambiente criado: todos “davam em todos”. A tal ponto que os “marranos” brigantinos conseguiram entupir e paralisar o tribunal da inquisição de Coimbra e fazer com que nas suas cadeias metessem alguns dos cristãos-velhos que na cidade mais festejavam e folgavam com as prisões dos “judeus”. O assunto foi estudado pela Dr.ª Elvira Mea e ficou conhecido como o caso dos falsários de Bragança.(2)
Acompanhemos agora a prisão de Diogo que foi metido na cadeia da cidade, enquanto se procedia ao sequestro dos seus bens e organizava a “leva” para Coimbra. No mesmo espaço, com ele, foram metidos outros 9 companheiros, um dos quais se chamava Luís de Carrião que acrescentou mais uma denúncia contando aos inquisidores:
— Estando todos juntos na cadeia, apartados da outra gente e vendo-se em tão grande aperto como o em que estavam, todos e cada uma das ditas pessoas juntamente com ele chamavam pelo Deus dos Céus que lhes valesse e os tirasse de tamanho aperto, assim como tirara os filhos de Israel da fúria e aperto do Faraó.(3)
Manuel Rodrigues “caminheiro” foi ali falar com um dos prisioneiros (Jerónimo Mendes) e combinaram que ele “caminheiro” fosse na frente, a Coimbra e falasse com os penitenciados no último auto da fé(4) que andavam na cidade cumprindo suas penitências, para saber quem haviam denunciado e viesse depois ter com eles ao caminho para lhe dar a resposta a fim de prepararem defesa. Pagou-lhe e… a verdade é que não mais viu a resposta nem o dinheiro nem o “caminheiro”. 
Outro dos prisioneiros era Rodrigo Lopes, porventura o homem mais endinheirado de Bragança,(5) sogro do fidalgo Pedro de Figueiredo, que em sua casa morava. E constituindo um escândalo a sua prisão, muita gente se movimentou para o ajudar e livrar. E um deles foi Miguel de Sousa, um homem da nobreza de Bragança, cavaleiro da ordem de Santiago que foi entregar-lhe um papel às escondidas, quando a comitiva se encontrava no lugar de Santo Amaro, termo de Foz Côa. Este e outros episódios levariam à prisão e morte de Miguel de Sousa.
Obviamente que tudo isto eram culpas que implicavam o nosso biografado, mesmo não sendo o autor, na medida em que tinha obrigação de as denunciar e colaborar com o santo ofício. No entanto havia outros factos bem mais comprometedores.
Voltemos a Bragança, à rua Direita, a casa de Estêvão Cardoso e Justa Fernandes, avós maternos de Diogo Gonçalves. Esta era a casa em que muitos dos marranos de Bragança costumavam reunir-se em sinagoga “por ela, Justa Fernandes, ser entendida nas coisas da lei de Moisés e a ensinava a todos”.
E quem chamava os outros para as “sinagogas” naquela casa era precisamente Diogo Gonçalves. E esta, de ser o “chamador” era uma acusação extremamente grave. Mas vejamos o testemunho de António Rodrigues, o bonilha, explicando como celebravam então o dia sagrado do Kipur:
— Disse que em casa de Justa Fernandes se declarou também com Estêvão Cardoso, seu marido, e com Isabel Cardosa e João Gonçalves, seus filhos, e com Diogo Gonçalves, filho de Isabel Cardosa, e com Pero Fernandes, o papudo, e com Mécia Fernandes sua mulher, e com Gaspar de Burgos e sua mãe Filipa Fernandes, e com Isabel de Burgos mulher de Francisco de Castro o machim, filha da dita Filipa Fernandes, e com Ana Fernandes, irmã de Isabel de Burgos, mulher de João Afonso, e com Gabriel de Burgos, cristão-novo, sapateiro, irmão dos sobreditos e com Francisca de Leão, cristã-nova viúva, sobrinha de Estêvão Cardoso, mulher que foi de Pero Lopes, sapateiro, e com Filipa Fernandes, filha de Pero Fernandes, papudo e mulher de Manuel Fernandes, cristão-novo, sapateiro; e todos juntos ora uns ora outros, em casa de Justa Fernandes, em setembro; e o dito Diogo Gonçalves era o que chamava cada uma das ditas pessoas, por mandado de Isabel Cardosa sua mãe; e ali estavam 3 dias contínuos pelo mês de setembro, não comendo em um deles senão à noite que cada um ia cear a sua casa, declarando-se todos por judeus. E António Cardoso, cristão-novo, curtidor, filho da dita Justa Fernandes e Luís Cardoso, filho de António Cardoso, que foram presos; e Diogo Gonçalves não foi sempre o chamador, só de 10 anos a esta parte, por ser moço…
Descrições semelhantes foram feitas por outros participantes das “sinagogas” em casa de Justa Fernandes, mesmo depois da morte do marido e da filha Isabel, mãe do nosso biografado, que então assumiria as funções de “chefe da família”. Em uma dessas descrições, feita por Álvaro Vaz, padrasto de Diogo, se diz que a casa estava separada da de António Rodrigues, seu parente e vizinho, “somente por um tabuado pelo meio do aposento” e aquele era o anfitrião dos “ajuntamentos” depois que faleceu Justa Fernandes, por 1589.
Particular amigo, companheiro e cúmplice de Diogo Gonçalves era um Dinis Fragoso, rendeiro, nascido em Lisboa, criado em Torre de Moncorvo e casado em Bragança onde era morador. E em certa altura, os dois decidiram ir à feira de Santiago de Compostela, em companhia de 4 outros mercadores de suas relações. E foi decidido que eles dois seguissem na frente, encarregados de preparar o jantar, o que fizeram na aldeia de Vilarandelo onde compraram um pão e um quarto de “crestão”. E antes de assarem o cabrito tiraram-lhe a “lândoa”,(6) cumprindo a lei judaica. E quando os outros chegaram e se sentaram a comer, todos reconheceram e concordaram, que o mesmo é dizer que todos mostraram que conheciam a lei judaica e a seguiam, na medida do possível. Continuaram a viagem e, no regresso, todos combinaram reunir-se, como ele explicou Diogo aos inquisidores:
— (…) Tornaram a caminhar e se descobriram por judeus e se concertaram todos que, tanto que chegassem a Bragança logo na sexta-feira seguinte jejuassem um jejum judaico por guarda da dita lei e fosse que era em casa do dito Dinis Fragoso que tinha um forno e com efeito chegaram à quinta-feira à noite a Bragança e logo naquela sexta-feira à boca da noite foi a casa de Dinis Fragoso que tinha feito uma ceia de garbanços, peixe e outras coisas que não eram de carne e todos cearam.
Muitas notas de interesse para o estudo da vida quotidiana da comunidade hebreia de Bragança nos fornece o processo de Diogo Gonçalves cuja profissão era a de sapateiro mas também saía a comprar sumagre para a preparação das solas, atividade certamente aprendida com o pai que era curtidor.
Resta dizer que a estadia de Diogo Gonçalves nas masmorras de Coimbra se prolongou por mais de 2 anos, saindo condenado no auto da fé de 26.6.1593 onde foram relaxados 9 correligionários seus de Bragança: Diogo Fernandes; João Vilhalpando; João de Carrião; Manuel Rodrigues; Ana Pereira; Francisca de Leão; Isabel Rodrigues; Isabel da Mesquita e Henrique Afonso que se matou no cárcere.

NOTAS E BIBLIOGRAFIA:
1 - ANTT, inq. Coimbra, pº 9697, de Gonçalo Fernandes.
2 - MEA, Elvira Cunha de Azevedo – A Inquisição de Coimbra no Século XVI, a Instituição, os Homens e a Sociedade, Fundação Engº António de Almeida, Porto, 1997, pp. 474-480.
3 - ANTT, inq. Coimbra, pº 475, de Diogo Gonçalves.
4 - O citado auto de fé realizou-se em 26 de Novembro de 1589 e nele foram relaxados 5 cristãos-novos de Bragança: Pedro Cardoso; Filipa Rodrigues; António Cardoso; Luís Cardoso e Afonso Rodrigues.
5 - Para avaliar da importância deste homem bastará dizer que a Rua Direita de Bragança era também chamada de Rua Larga e de Rua de Rodrigo Lopes.
6 - Os judeus não comem o nervo ciático que está na articulação da coxa, em memória da luta de Jacob durante a noite na qual foi ferido na coxa – Genesis, 32:33.

Por  António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

Porquê Trump? Porque não Donald?

Mal se começou a adivinhar a vitória de Trump nas eleições Americanas logo se perfilaram jornalistas e politólogos explicando aquilo que, sendo óbvio para eles, para todos foi uma surpresa. E tão surpreendente foi que Hillary Clinton ganhando no voto popular, perde a eleição. Bem se pode queixar da Geografia eleitoral, da regra do pleno eleitoral por Estado pois, dos quase 3 milhões de votos que teve a mais que o rival, bastavam-lhe só mais 100 mil na Flórida para ganhar a eleição. Em contrapartida não pode queixar-se da Comunicação Social que, de forma pouco ética direi mesmo desavergonhada, a promoveu e a passeou ao colo enquanto diabolizava o adversário. E até o Presidente Obama lhe manifestou apoio público numa atitude sem precedentes e quebrando aquilo que é a regra de ouro de um Presidente: não se deixar transformar em Presidente de facção. Mas porque é que os políticos e a imprensa em geral vêem em Trump o princípio do fim da civilização Ocidental? Só lhes falta dizer que pertence ao “eixo do mal”. O anúncio de cenários dantescos caso se verificasse a sua eleição levaram o Primeiro Ministro Húngaro, xenófobo, racista e populista como ele, a comentar três dias depois do acto eleitoral ironizando: “três dias depois do apocalipse, eis-nos aqui vivos e inteiros”. E socorrendo-se de Louis Armstrong acrescentou: “what a wonderful world”. O mal anunciado é tanto que dá para parodiar. Trump é aquilo que ali está: um labrego, um boçal, um “pato bravo cheio de dinheiro, um populista, um “nonsense” e, cereja em cima do bolo, pensa-se o macho alfa das américas conforme gravação reveladora. Mas não é por isso que o rejeitam. É antes uma guerra corporativa. Os políticos têm espírito de casta e não aceitam bem que um arrivista, um “penetra” queira entrar num mundo para o qual, dizem, não tem pedigree. A regra na América é que os candidatos sejam oriundos ou do Congresso ou do Senado ou sejam Governadores de Estado ou militares de altíssima patente. Além disso há famílias que têm lugar cativo nesse fórum como os Kennedy, os Bush ou os Clinton. Trump não é nem tem nada disso. Mas então os americanos que gostam tanto de apresentar o seu País como o País das oportunidades, onde qualquer um pode ascender ao topo da pirâmide social e que tinham aqui um belíssimo exemplo demonstrativo dessa realidade, que fizeram? As elites diabolizaram-no mas o povo quis ver a sua Cinderela.
Mas será assim tão mau quanto o pintam? A gestão interna irá ser muito conservadora pois ele coloca-se politicamente muito à direita. É a favor da pena de morte, é contra o aborto, é contra o Estado Providência, é a favor da liberdade de uso e porte de arma de fogo, é contra a imigração, etc. Mas isso é com os americanos e só me interessa na justa medida em que sou solidário com o povo americano. A política externa, sim, interessa-me pois todos os Países e Portugal em particular sofrem os efeitos diretos e colaterais dessa política. E aí numa análise às políticas externas de outros presidentes americanos depois da 2ª grande guerra, desde que a América “botou vulto no Mundo”, ele tem de ser muito mau só para empatar. Portanto não é coisa a que não estejamos já habituados. Senão vejamos: Truman pegou nas rédeas do poder mesmo em cima do fim da 2ª grande Guerra mas ainda teve tempo de nos brindar com duas flores: uma foi a “pulverização” de Dresden num acto gratuito de exibição de poderio militar. Dresden já não era alvo militar e as tropas Nazis estavam à beira da rendição; outra foi o lançamento de duas bombas nucleares em alvos perfeitamente civis, Hiroxima e Nagasaki, e já depois dos alemães se terem rendido (teve sorte pois nunca há criminosos de guerra entre os vencedores). Depois veio a paz mas não demorou nada a arranjar a Guerra da Coreia. A seguir vem Eisenhower que tinha sido Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa e portanto co-responsável pelo varrimento de Dresden da superfície da Terra e que apesar de já serem conhecidos os horrores provocados pela bomba nuclear não teve qualquer constrangimento ao ameaçar a China com a sua utilização para reverter a seu favor a Guerra da Coreia. O católico Kennedy pôs o Mundo à beira de um ataque de nervos com a invasão, falhada, da Baía dos Porcos e a Crise dos misseis em Cuba. No pouco tempo que lá esteve ainda conseguiu arranjar um caldo de cultura para a guerra do Vietnam que o seu sucessor veio a declarar. Bom, não querendo ser exaustivo não posso deixar de lembrar a invasão americana de Granada, um pequeno País Caribenho com 100 mil habitantes, pelo facto de ter um governo marxista. “Não no meu quintal!,” sentenciou Ronald Reagan. A invasão foi condenada pelas Nações Unidas e até, pasme-se, Margaret Thatcher alinhou no coro das condenações. Por último queria recordar talvez o caso mais emblemático da arrogância e prepotência políticas com que os USA encaram as relações com outros Estados. Refiro-me à segunda invasão do Iraque feita à revelia da ONU e para a qual foi usada uma argumentação justificativa que não passava de uma mentira grosseira prontamente desmascarada na altura. O desenvolvimento da guerra veio confirmar o gigantesco embuste em que fomos envolvidos. Essa questão teve há poucas semanas novos desenvolvimentos quando Trump dirigindo-se a Jed Bush, candidato Republicano nas primárias e irmão de George Bush, lhe disse ser o irmão o culpado de tudo quanto estava a acontecer no Médio Oriente por causa da destruição do Iraque sem justificação. Só gostava de saber se, depois de tanta morte, tanta destruição, de tanto drama, sobretudo o dos refugiados, os protagonistas deste evento, que na gíria político-militar se chama de inventona, estão confortáveis consigo mesmo.
(Tenho para mim que as razões que levaram à guerra são outras. As razões que a América aduzia, armas de destruição maciça, arma nuclear etc, eram falsas e eles sabiam, portanto não eram essas. Por outro lado a Comunidade Internacional acusava os Estados Unidos de terem como verdadeiras razões para a guerra o controle de grandes reservas de petróleo e a reconstrução do Iraque a expensas do próprio Iraque. Mas eu acho que a guerra se tornou inevitável quando Saddam Hussein anunciou só aceitar o Euro como moeda de pagamento do petróleo. Podia ser o fim do Dollar como moeda única de pagamento universal com todas as implicações que isso teria.
“A verdade em política tem que ser escoltada por várias mentiras” Churchill dixit )
Voltando ao tema. Perante este quadro poderá Trump fazer pior? Pode, mas é difícil. Trump não terá cultura ideológica, não terá até cultura mas será certamente um homem inteligente. E sem espartilhos ideológicos nem enfeudamentos a nenhum Clã irá governar como quem faz um negócio. De forma pragmática, com a sensibilidade e a intuição de negociante que são aqueles que sempre sabem de que lado do pão é que está a manteiga. Atente-se a esta aproximação à Rússia com a qual não sentirá qualquer afinidade. Trump tem medo da China e tem ainda mais medo que a Rússia e a China formem um bloco. A única forma de equilibrar é fazer ele próprio uma aliança com a Rússia. Isto é pragmatismo. E é este pragmatismo que poucos políticos são capazes de exibir. Veja-se este exemplo pela negativa: quando da dissolução do Bloco Soviético a Comunidade Europeia fez uma política de assédio a todos os países que o constituíam e com bons resultados. Todos eles pertencem hoje à Comunidade Europeia. Todos excepto um. E até mesmo quando a Rússia cambaleava ao ritmo de Ieltsin e cedia a toda e qualquer exigência do Mundo Ocidental nem assim foi convidada a entrar para conjunto Europeu. Antes pelo contrário. A Europa refém dos seus tabus e complexos preferiu manter bem vivo o seu ódio de estimação. Apesar da alteração das circunstâncias a Europa preferiu continuar a ver os Russos como…Russos. Fez-nos falta na altura um Willy Brandt com a sua Ostpolitik (política para o Leste) essa visão descomplexada das relações entre Países, essa busca de sinergias num conjunto onde pode haver cumplicidades mesmo sem haver afinidades. Também era bom poder contar com a contribuição de um Charles de Gaulle com a sua visão estratégica e a sua independência. Charles de Gaulle vetou duas vezes a entrada do Reino Unido na Comunidade Europeia (tinha-nos poupado à vergonha do abandono), retirou a França do Comando Militar da NATO por uma questão de independência e foi a Moscovo enunciar uma verdade geográfica que queria ver replicada na política. “A Europa é do Atlântico aos Urais.”
Estes Homens morreram há muiiiiiito tempo.

Por Manuel Vaz Pires

CUADAS

Gostaria de levar o litor mais antigo a regressar à palavra cuadas para além da óbvia figuração das nádegas, sim da sua representação de acto de economia doméstica, e o leitor moderno, de idade até aos trinta anos, na fixação de um tempo que queremos ultrapassado, de modo a o conduzir a indagações acerca de quão difícil foi o viver dos seus ancestrais.
Gostaria ainda de estabelecer um paralelo entre a concordância no emprego do remendo até à quase finitude do século passado, e a discordância galhofeira (pelo menos) nos dias de hoje. Vamos ver se o consigo, de uma forma ou outra, se conseguir suscitar o interesse de quem me lê, mesmo que só um leitor, dou por bem empregue a energia despendida na confecção da presente crónica.
O leitor antigo recorda-se das brincadeiras deslizantes dos catraios e dos gandulos nas superfícies lisas e inclinadas, umas vezes as calças ou calções não dispunham de protecção alguma, outras vezes serapilheiras e borcados de cartão serviam para esse efeito, no entanto, o uso e abuso da modalidade escorrega levava ao enfraquecer do tecido protector do posterior. Podendo parecer estapafúrdio trazer à colação um Senhor de apelido Escorrega (veio do Baixo Alentejo para Bragança, trabalhar no falecido banco BNU) não deixa de ser significativo o referido apelido, embora no Alentejo proliferem apelidos esquisitos.
A maioria das famílias dispunha de recursos limitados, o constante exercício do escorregar aliado ao crescimento dos atletas resultava no esgaçar dos tecidos obrigando ao recurso às cuadas pois a nua exibição das partes pudendas ofendia o decoro e riscava a moral pública. Não era raro ver meninos de tenra idade a usarem calções rachados de forma a facilitarem os desejos ventrais evitando a retenção de despojos. Estes meninos caso ousassem imitar os maiores, de imediato sentiam o erro cometido ao resvalarem desprovidos de almofada.
O enfado contra as cuadas vinha à tona no salivar negações quando os forçados usufruidores alcançavam os dezasseis ou dezassete anos, se a teimosia materna continuava tudo faziam na presunção das cuadas serem tapadas, dissimuladas, recorrendo a casacos compridos, camisas de fralda de fora e artifícios quejando.
Ao leitor moderno pode causar espanto o acima escrito sobre cuadas até porque o termo apenas ciranda no amargo evocar de usanças antigas, no obstante o provável afloramento de risos escarninhos, faça o favor de estabelecer a diferença e coloque na coluna do crédito crédito o desaparecimento das cuadas que ampararam os fiós-fós de inúmeros avós de hoje que não nomearei devido a cerzidas razões.
O leitor moderno desembaraçado no desempenho de tarefas digitais, enquanto lança olhares interrogativos aos ancestrais amputa palavras, cospe interjeições e ri-se das vetustas censuras, assumindo presteza composta quando os «velhadas» gesticulam euros nas mãos.
O leitor moderno tem grossas dificuldades no dizer não aos filhos, psicólogos e psicólogas papagueiam citações e frases feitas no desejo de explicar as birras dos jequinhos contrariados evidenciando notável desconhecimento do significado paideia no tocante à educação dos pirralhos.
Admiramo-nos ante a enxurrada de episódios sórdidos, grotescos, hediondos, cometidos por adolescentes, bem melhor seria fazermos despudorado exame de consciência sobre a culpa de cada um no deixar crescer as monstruosidades.
Não defendo nem de longe, nem de perto, o sistema do pão numa mão e o pau noutra, no entanto, na hora certa uma leve palmada no traseiro do pequeno ditador é remédio eficaz.
Já escrevi o modo como lidei com um pequerrucho de uns seis anos atreito a pontapear todos quantos podia, também me tocou, atenuei o impacto do pé agressor colocando firme a sola do meu sapato provocando ricochete e queda do reizinho.
Ante os seus gritados choros de imediato a mãe apostrofou-me vociferando alarvidades invocando os direitos das crianças. Ripostei furioso, áspero: e os meus direitos a não ser maltratado? Os meus direitos a não ter de suportar os caprichos de meninos aal educados? O ambiente turvou-se, aconselhei a senhora a fazer chá e a partilhá-lo com o pontapeador. Os seus avós pediram desculpa olhando resignadamente.
Eu não me resigno correndo o risco de ensombrar relações e provocar azedume aos permissivos paizinhos especialistas no fazer todas as vontades aos tiranetes a fim de não serem incomodados. Sobram livros sobre o tema, milhares e milhares de tristes exemplos de maldade contra os possuidores de ripadas rêpas canosas atestam a multiplicação das pústulas a purgarem angústia, dor, medo e solidão. As cuadas traduziam escassez de meios, o sucesso dos telemóveis infantis representam o triunfo da tecnologia sobre as duas culturas. A cisão entre o velho e o novo é gritante no domínio das linguagens, da civilidade e etiqueta, veja-se a maneira despudorada da utilização dos aparelhos no decorrer das refeições, quantas vezes incentivada pelo mau exemplo dos pais dos pequenos ditadores. Se foi bom desaparecerem as cuadas, é benéfico educar os denominados homens de amanhã.

PS. Morreu Mário Soares. Morreu o Homem. Dele falarei.
 

VOTOS

Deve haver forma de saber os milhões de mensagens enviadas nestes dias, mensagens de votos de Boas Festas por SMS, ou seja através dos telemóveis. Tornou-se um costume muito simpático ainda que a originalidade das mensagens em questão não esteja estabelecida. Boas Festas e um Próspero/Feliz Ano Novo. E que mais? A cogitação destes dois desejos pode abrir outros horizontes ou evita o cansaço para imaginar outra coisa mais concreta, mais desejável? Nos comércios, antes de comprar um pão ou um jornal, nestes dias é preciso preceder o pedido de um “Boas Festas!”, “Bom Ano!” automático. Na Internet os correspondentes dirigem ao conjunto dos “amigos de facebook”, flores, chalés suiços, paisagens glaciares, rostos de crianças felizes, acompanhados da mesma declaração. Como se cada amigo próximo ou das relações mais afastadas tivesse direito a votos da mesma intensidade.
A originalidade não é a qualidade principal desta troca de mensagens. Não é certamente motivo suficiente para renunciar a esta crença mágica (ou afetada) que consiste em acreditar que as nossas palavras possam ter um efeito sobre os acontecimentos futuros. Sabemos todos pertinentemente que os nossos desejos não exercem qualquer influência sobre as pessoas e as coisas. Que importa! São salutares estes sorrisos, estas palavras simpáticas, estes beijos sem fim, estes abraços anuais. Passamos tanto tempo, geralmente, a dizer mal uns dos outros, a maldizer os poderosos, a tentar esmagar os medíocres com o nosso desprezo, a invejar uns e a desassossegar os outros, que só faria bem acreditar, alguns dias por ano, que tudo será melhor a partir de agora.
Os votos de Bom Ano emitidos, porquê limitá-los aos mais próximos? Aos íntimos, aos conhecidos. Há muito a dizer no domínio do desejável. O campo para espalhar flores de inteligência e retórica que fazem o charme constantemente renovado de Bom Ano é imenso.
Este ano os objetivos não faltariam. Não seriam demasiados todos os dias do ano de 2017 para recitar a litania de objetivos de melhoria da vida neste nosso planeta. Por onde começar, uma vez tratado o nosso círculo mais próximo e imediato? Pela austeridade musculada que nos impuseram, que seja afastada à mesma velocidade que se fundiu sobre nós há já uns anos atrás. Façamos votos para que o capitalismo seja “reinventado”, como parece ser prometido todos os dias. Desejemos que os paraísos fiscais sejam banidos do mapa do mundo. Desejemos que os potentados da finança, os ditadores dos mercados tenham um olhar mais atento para a humanidade que sofre e lhes dê dignidade. Desejemos que os europeus, tanto os dirigentes como os povos, se tornem mais europeus e que não renunciem à bela aventura comum. Desejemos que o turco Erdogan cesse de colocar o seu país no caminho do autoritarismo, virando costas às liberdades que pareciam querer levar este país a aproximar-se da Europa. Que o jovem da “malga na cabeça” suposto dirigir a Coreia do Norte pare de se tomar pelo deus vivo no país do comunismo congelado. Que seja afastado, da maneira que for possível, o sinistro e sanguinário Assad que massacra o seu povo de forma tão cruel. Que o seu colaborador e cúmplice Vladimir Poutine seja derrotado e destronado. Aos árabes de todas as nacionalidades que saiam do Inverno do Islamismo fanático e sanguinário, onde já se conheceram pedacinhos de primavera. Que a Síria, o Iraque e o Irão reencontrem as virtudes dos grandes impérios que foram. Desejemos aos chineses, trabalhadores incansáveis, para se implicarem por fim nos caminhos da liberdade, desembaraçados da carapaça de um comunismo de fachada. Ao presidente americano de retomar o Sonho que moveu o anterior presidente no princípio do seu mandato. Desejemos ao nosso António Guterres – o anterior, Ban Ki-moon, parece também ter recebido dinheiro líquido - a coragem e a sabedoria para liderar tamanho projeto para que os dirigentes deste mundo o ouçam e se possam mover por sendas mais morais.
Seria já enorme, poder atingir estes objectivos. Mas há outros. No domínio das mudanças climáticas; desejemos que se passe da retórica à ação. Que as guerras em África, sempre atribuídas aos “conflitos étnicos” que escondem outras tensões, outras fontes de injustiça parem de desencorajar os amigos deste continente e destes povos. Que Angola e Moçambique encontrem a calma. Enfim, o que desejamos ver neste grande saco de desejos? A Paz e a felicidade universal? A prosperidade geral? A justiça espalhada por todo o lado? As desigualdades por fim vencidas? Evidentemente que tudo isto não poderá ser feito num só dia, nem em trezentos e sessenta e cinco. Há muito que procuramos estes ideais. Estamos vacinados contra estas ilusões e contra as pretensas soluções. Mas haverá alguma razão para deixar de acreditar no homem, na humanidade e na sua vontade de se aperfeiçoar? Se pensarmos que nada muda, porque nunca nada se alterou, para quê preocuparmo-nos com o futuro, e tentar construi-lo? Muito disso só existe nas nossas cabecinhas. Ou esperamos, petrificados, que aconteça o que tem que acontecer, ou arregaçamos as mangas e pesamos sobre os acontecimentos. Sabendo que depende de todos nós a cor do futuro, na soleira dum novo ano a dimensão da empreitada não nos deve desencorajar, podemos com ela. Atesta pelo contrário da necessidade que o mundo tem de nós, das nossas revoltas, das nossas fidelidades, dos nossos valores positivos, da nossa resistência ao medo.
Os votos? Mais necessários do que nunca.