Ter, 09/05/2017 - 10:28
A relação dos responsáveis políticos do país com o interior não tem dado mostras de mudança, apesar de intermitentes foguetórios, que anunciam, uma e outra vez, o ritual da penitência pelos males que nos têm sido infligidos, a que anexam promessas de que dali em diante tudo será diferente.
Mais uma vez, com eleições aqui tão perto, há governantes em corrupio pelo país, que ameça deixá-los entontecidos. Pelo menos é o que poderíamos concluir de algumas festas que têm animado as hostes e tenderão a repetir-se até ao Outono, à boca das urnas, numa vertigem crescente, até à noite em que se tirarão conclusões retorcidas sobre o significado nacional dos votos expressos, iludindo outra vez os males sem remédio, que vão corroendo as gentes, a terra e a memória, até que o país se reduza a um parque de diversões, onde aparecerão, mais cedo ou mais tarde, os insinuantes demónios da perdição.
Quando um ministro diz, em Vila Real, que “o interior não é para fechar, não é para desertificar, não é para desvalorizar” e, por isso, o Centro Hospitalar local vai ter um novo acelerador linear, podemos colocar-nos duas questões: não é a primeira vez que se anunciam, com pompa e circunstância, decisões sobre o futuro destas terras sem que, passadas décadas, se vislumbre qualquer mudança; também é recorrente a tentativa de promover o equívoco sobre a condição do interior, ou simplesmente retomar a arenga, lamentosa, de que, afinal, já não há escala nem massa crítica, convidando-nos à definitiva abdicação.
Enquanto o ministro participava, altissonante, no lançamento de mais um engodo, não terá ouvido o presidente do município de Vimioso, pela enésima vez, reclamar uma intervenção, vital para parte significativa das populações do distrito, para correcção do traçado da estrada que liga Vimioso a Bragança, três quilómetros que permitiriam, por exemplo, outra rapidez e comodidade na deslocação de doentes de toda a zona sudeste até ao hospital de Bragança. O autarca referiu que todos os dias circulam, penosamente, por ali mais de trinta ambulâncias, transportando gente idosa, que viu fechados serviços de saúde primários, provavelmente sem que isso fosse necessário.
Também há poucos dias a assembleia municipal de Mogadouro aprovou, por unanimidade, uma moção que exige a correcção de oito quilómetros sinuosos, entre a ponte de Remondes e a povoação de Lagoa, o que garantiria rapidez no acesso à autoestrada e, por isso, à capital de distrito, com todos os efeitos positivos para a vida concreta das populações daquele concelho, nomeadamente, no acesso às unidades hospitalares.
Vila Real está hoje a oitenta quilómetros do Porto, enquanto Bragança permanece a mais de duzentos. Até Miranda do Douro vão mais cem. Definitivamente o interior é mesmo aqui e ainda continuamos à espera do reposicionamento no mapa da dignidade, prometido há mais de duas décadas, numa noite de festa política em Bragança.
Por isso, não vamos certamente deixar-nos encantar com novos cantos de sereias. Basta que tenhamos consciência de que o mar está longe e as nossas musas de encantamento não têm rabo de peixe.
Por Teófilo Vaz