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Henrique Pedro

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Portugal morreu, a minha Pátria, não!

A poesia é, sem dúvida, a forma mais delicada e civilizada de expressar sentimentos de amor, tristeza, raiva e revolta. Também de partilhar ideias, unir vontades e reacender a esperança.

Os portugueses têm tido, nos últimos tempos, demasiados motivos de indignação e descrença produtos do egoísmo, da mentira, da incompetência e da desfaçatez prevalecentes nas elites dirigentes, muito acima do que seria admissível.

A recente tragédia de Pedrógão Grande e o assalto aos paióis do polígono militar de Tancos, são os exemplos mais expressivos da profunda crise moral e de identidade em que o Estado português se encontra atolado, e que extravasa o plano financeiro.

Talvez este poema possa trazer algum alento e conforto ao cidadão comum e demovê-lo de desistir.

 

Portugal morreu,

a minha Pátria, não!

 

Portugal morreu!

 

Jaz morto às mãos da corrupção

e das teias que ela teceu

 

A minha Pátria, essa não!

 

A minha Pátria é o meu povo

a Língua que fala

a História que conta

a Verdade e a Democracia

e toda a sua poesia

 

A minha Pátria não é afronta

terreiro de paço

espaço de intriga e traição

políticos, banqueiros e outros vilões

os coveiros da Nação

 

A minha pátria é Camões

é Gama

Vieira e Pessoa

Santo António de Lisboa

do Quinto Império nostalgia

futuro que o povo reclama

 

É o meu Trás-os-Montes natal

suas lágrimas, suas fontes

meu Santo Graal

 

Portugal morreu

às mãos da corrupção

feito fogo e fumo

terra queimada

Nação emigrada

gente que chora

à procura de novo rumo

 

Portugueses, é agora!

 

(Este poema também poderá ser lido em: http://henriquepedro.blogspot.pt)

O triste sucesso de Pedrógão Grande

Todos os primeiros-ministros da história recente de Portugal já tinham larga experiência política e partidária quando ascenderem a esse cargo fundamental. Salazar à parte, que não é para aqui chamado, e Álvaro Cunhal que, felizmente, nunca ousou sê-lo, muito embora tenha andado lá por perto.
António Costa, o actual titular, é o paradigma, o padrão, o perfil que melhor se encaixa neste modelo, sobretudo agora que estamos em tempo de redes sociais.
E bem se poderá dizer que nasceu na política e para a política. A sua militância partidária é notável e a sua experiência como autarca insuperável, ou não tivesse dirigido o mais importante município do País. Os seus conhecimentos teóricos e prácticos de governação são igualmente de assinalar, já que exerceu, entre outros, o cargo de ministro do interior, precisamente, num governo chefiado pelo controverso José Sócrates.
Confrontado com a realidade trágica de Pedrógão Grande que aconteceu, com o pesar de todos nós, no momento em que a vida lhe corria surpreendentemente bem, com êxitos nas finanças, no futebol e nas cantigas, que partilhava com o seráfico e indefectível seu amigo presidente da república, António Costa disse que tudo funcionara bem, sem falhas, que fora um sucesso, portanto.
O mais certo é o primeiro-ministro ter ficado emocionalmente afectado com tão tristes acontecimentos. Tanto que nem se deu conta de que esse é o argumento do terror, a lógica dos que defendem que quanto maior é a tragédia maior é o sucesso.
Não haverá mesmo razões humanas, claras ou encobertas, para explicar tamanha desgraça, para lá da madrasta Mãe Natureza que sacrifica cruelmente os próprios filhos? Uma distração, um funcionário a menos na cadeia de prevenção, um plantador de eucaliptos que abusivamente os planta até à berma da estrada? Ou será que a culpa, para desgraça maior, deve ser imputada às infelizes vítimas que estavam no lugar errado, no momento menos conveniente?
António Costa, porém, não se ficou por aqui na sua perturbação. Sobre a questão fundamental que é a prevenção, o planeamento e o ordenamento, do território e das florestas rematou que é assunto para a próxima década.
Valha-nos Deus! Então há quantos anos anda António Costa na política? E em que se ocupou todo o tempo em que foi ministro do interior? Será que andou apenas a apagar incêndios?
António Costa é, portanto, justiça lhe seja feita, um primeiro-ministro paradigmático dos inúmeros que Portugal já teve, para desgraça dos portugueses.
Daqui a cinquenta anos, se Portugal ainda existir, haverá certamente um governo ainda a reflectir como pagar a dívida pública nos cinquenta anos seguintes. E talvez seja então mais fácil atacar o problema do planeamento e do ordenamento das florestas e da prevenção dos fogos florestais, quando já não houver mais florestas para arder nem portugueses para socorrer.
Assim se explica, e melhor se compreende, a razão pela qual os eleitores sistematicamente respondem com abstenção em massa: não encontram ninguém credível em quem votar.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O pior dos populismos

No entendimento comum a palavra “sentimento”, embora possuindo mais ampla significância, é associada sobretudo a estados de tristeza, enquanto a palavra “afecto” é mais voltada para amor e amizade.

Marcelo Rebelo de Sousa é mais político de afecto que de sentimento.

Quando se julgava não haver mais escândalos envolvendo figuras públicas graúdas, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) acaba de acrescentar mais um à lista que é, pelos vistos, interminável, ao noticiar que António Mexia, presidente executivo da EDP, e outros administradores, estão indiciados por crimes de corrupção no estabelecimento das compensações que esta empresa negociou com o governo de José Sócrates, em 2007.

Estes magnos eventos de corrupção, que apenas são noticiados quando caiem na alçada da Justiça, muitos mais haverá, não merecem o afecto dos portugueses. Bem pelo contrário. Provocam, sim, audíveis sentimentos de revolta, sobretudo porque afectam gravosamente as economias das famílias e das empresas e as contas públicas, como no caso vertente, em que consumidores e contribuintes são visivelmente explorados.

Sentimentos de revolta e tristeza face à vergonhosa situação em que caiu a governança da Nação. Revolta que tem sido, felizmente, pacífica, mas que acaba por se reflectir no elevado índice de abstenção eleitoral e no desprezo generalizado da classe política e dos partidos, justa ou injustamente.

Idêntico sentimento de revolta não é demonstrado, porém, pelo senhor presidente da República, pelo senhor primeiro-ministro e demais machuchos do Regime, no poder ou na oposição, que parecem ignorar estes magnos problemas nacionais como se nada tivessem a ver com eles.

Isto ilustra uma clara subordinação do poder político ao poder económico, contrária à Constituição, para não falar de promiscuidade, ou muitos dos arguidos não tomassem assento, ora nas cadeiras governamentais, ora nas chorudas administrações privadas.

Vai sendo tempo dos nossos políticos perceberem que os portugueses, faz tempo, esperam com impaciência, sobretudo do presidente da República, dentro da dinâmica que o elegeu, mas também do primeiro-ministro e da oposição, discursos e atitudes mais transparentes e reformistas e menos populistas.

O povo não precisa de políticos que explorem as suas alegrias. Precisa de governantes que, com sinceridade, vibrem e comunguem dos seus anseios, sacrifícios e revoltas.

Por isso a reforma das instituições políticas tendente a repor a verdade na representação democrática, o debate ideológico e a moralizar a vida pública, minorando o despesismo do Estado e todos os vícios do regime, designadamente a corrupção, o compadrio e o clientelismo, é cada vez mais instante e crucial.

 Urge, por isso, que os partidos políticos deixem de se assumir como guardas prisionais da democracia, sendo a Assembleia da República a sua prisão.

O populismo de Estado, o populismo do poder, é o pior dos populismos porque abafa as justas reivindicações populares e abre portas a todas as aventuras malignas.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O senhor feliz e o senhor contente.

O senhor presidente da República é um homem feliz. O senhor primeiro-ministro um homem contente. A vida corre-lhes bem, segundo consta. Tanto assim é que se divertem a apostar, publicamente, qual deles é mais optimista.

Será porque o Produto Interno Bruto cresceu, ainda que não o necessário e suficiente, no primeiro trimestre do ano corrente, fruto, sobretudo, da procura externa? Ou apenas porque o desemprego e o défice desceram tanto que melhor será passar a falar em pleno emprego e superavit? Ou também porque os mafarricos do BE, do PCP e dos sindicatos se têm revelado muito mais cordatos e menos exigentes do que seria de supor? Ou ainda porque a democracia está mais distorcida do que nunca, com a oposição tonta e frouxa do PSD e do CDS? Ou só porque o beija-mão abençoador do Papa Francisco os livrou do fogo do inferno?

A verdade é que o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro irradiam felicidade. Poderá ser apenas encenação, obra de analistas e comentadores sabichões que com duas ou três notícias positivas constroem um país cor-de-rosa, fazendo passar a ideia de que é tudo obra do actual governo quando, como é óbvio, o aumento das exportações e o correspondente crescimento da economia não resultaram de medidas governativas. Os resultados até poderiam ser ao contrário, independentemente da bondade das actuais políticas, estando agora o governo a tirar o cavalinho da chuva.

A verdade é que nem a dívida pública, nem a emigração, nem as assimetrias regionais, nem a taxa de pobreza, nem o crédito mal parado, nem os deprimentes indicadores socioeconómicos, com destaque para os educacionais, que continuam a colocar Portugal lá para as bandas do Terceiro Mundo, para não citar o défice demográfico que indicia o desaparecimento de Portugal, a prazo, levam o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro a franzir o cenho e a baixar o tom da música.

Mas será que a maioria dos portugueses, incluindo os mais de dois milhões e meio que vivem abaixo do limiar da pobreza, todos os que andam derreados pelo fardo dos impostos e os muitos que continuam a ser constrangidos a emigrar comungam do mesmo optimismo?

Ou será que desconfiam (gato escaldado da água fria tem medo!) que esta alegria momentânea terminará logo após as próximas eleições legislativas, com o povo, classe média em especial, a ter que fazer face a uma nova crise?

Salvador Sobral, o inesperado vencedor do Festival da Eurovisão surgiu no momento mais asado convidando os portugueses a amar pelos dois, isto é, pelo presidente da República e pelo primeiro-ministro. Nem de propósito! Só foi pena que quando foi recebido na Assembleia da República não tenha cantado a música vencedora aos deputados.

 Proponho, por isso, que o próximo Festival da Eurovisão tenha lugar no palácio de São Bento. E que os representantes de Portugal sejam o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro cantando a rábula “Senhor Feliz e senhor contente”. Com a “Geringonça” como coro, claro está. Auguro o maior sucesso. Será mesmo a apoteose do regime.

Post scriptum: Algum bicho lhes mordeu. Agora que Portugal deixou o Procedimento por Défice Excessivo quer o senhor presidente da República quer o senhor primeiro-ministro denotam, nos seus discursos, também terem posto de lado o Procedimento por Optimismo Excessivo. Oxalá não seja sol de pouca dura.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Qual discriminação, qual carapuça!

Discriminação é uma palavra feia. Por isso os políticos a adjectivam de “positiva” quando tratam as assimetrias regionais que resultam, principalmente, da relapsa subalternização das terras do interior.
Embora outros factores menores haja a considerar e que, por isso mesmo, requerem iniciativas governamentais justas e patrióticas e não a governança irresponsável, tão-somente ao sabor do capital e da demagogia eleitoralista, essa sim a verdadeira causa da concentração massiva de populações no litoral, e o consequente ermamento do interior, a que os políticos também chamam “desertificação”, para iludir o problema, como se a culpa fosse do clima.
É interessante que, nesta matéria, contrariamente ao que acontece com os comuns pobrezinhos, não se ouve falar de regiões “menos favorecidas”, o que é significativo, porque há regiões, como Lisboa e Porto que são escandalosamente privilegiadas, o que descredibiliza os governantes, e porque Trás-os-Montes, por exemplo, não é uma região pobre e antes possui consideráveis recursos naturais, e inexploradas potencialidades agrícolas, turísticas e humanas.
O discurso da discriminação positiva é, portanto, falacioso e racista, apesar dos transmontanos terem a mesma cor de pele que os lisboetas ou os portuenses, embora sejam, regra geral, mais rosados, por causa do ar puro e da superior qualidade das comidas e das bebidas.
Ainda que não sejam portugueses de segunda, os transmontanos são tratados como tal por muitos políticos, particularmente por todos que sistematicamente preconizam a fantasiosa “discriminação positiva”. Porque entendem que os transmontanos devem ser, por isso mesmo, ajudados ou esmolados. E donde resulta que os transmontanos acabam sempre por ser ironicamente amolados.
Trás-os-Montes e os transmontanos, porém, não precisam nem de esmolas nem de favores, de descontos mixurucos em certos impostos, inutilmente para aliciar empresas a instalar-se na região, ou para tornar certos produtos mais competitivos, ou de bónus inócuos a casais para procriarem como coelhos, muito menos de bonitos discursos de circunstancia, entre duas garfadas de alheiras e grelos em paga da legendária hospitalidade transmontana que, hoje em dia, também serve para encobrir muito regabofe custeado pelos municípios.
Trás-os-Montes e os transmontanos precisam, bem pelo contrário, de projectos e investimentos com dimensão, escala e consequência que, em princípio, compete à Administração Central promover e financiar mas cuja ausência nada abona em favor dos poderes locais.
Como é o caso de um abrangente projecto de rega integrado da Terra Quente, destinado a valorizar uma vastíssima e fértil região agrícola, potenciando múltiplos empreendimentos e negócios, designadamente nos domínios do turismo, lazer e cultura. Projecto que, além do mais, não tem que ter o gigantismo do Alqueva.
Ou de um apropriado e consequente programa de recuperação para fins hoteleiros, culturais ou mesmo de administração pública, das centenas de palacetes, com história, que se desfazem em ruínas em todas as aldeias transmontanas.
Descriminação positiva cheira a esmola, portanto. E é um logro.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 

A beatificação de Mário Centeno

Sou fervoroso devoto de Nossa Senhora de Fátima, o que significa que acredito que em Fátima se operam verdadeiros milagres.
Acredito mesmo mais em Fátima que em muitos papas ou primeiros-ministros, de qualquer igreja ou governo, incluindo o português.
Por isso, verdadeira mistificação, para mim, é o milagre económico em curso que os pastorinhos da “Geringonça” têm vindo a insinuar no espírito dos portugueses e a que também se converteu o senhor Presidente da República. 
Paradoxalmente os maiores críticos e descrentes são os acólitos da própria “Geringonça”, PCP e Bloco de Esquerda, muito embora não deixem de ir à missa de S. Bento, por muito que lhes custe engolir as hóstias ácidas da CEE.
“Geringonça” que ousou reverter, inutilmente, a privatização da TAP mas que se fechou em copas no que toca à EDP e à Telecom, que despudoradamente continuam a explorar milhares de empresas e milhões de famílias, perante o silêncio cúmplice, politicamente falando, do PCP e do BE, a quem apenas parece incomodar os vencimentos obscenos dos administradores.
Pretende agora o primeiro-ministro António Costa fazer-nos crer que a transmutação operada no défice por Mário Centeno teve algo de sobrenatural, o que será bastante para o elevar ao altar do Euro Grupo, pelo que insiste em apear o santo holandês, ao arrepio da cúria de Bruxelas.
Justiça lhe seja feita, porém. Ninguém no mundo acreditava que o défice baixasse e que a economia crescesse, um cêntimo que fosse. Nem Bruxelas, nem o FMI, nem a OCDE, nem as empresas de notação financeira, e muito menos a veneranda senhora Teodora Cardoso, presidente do Conselho Superior de Finanças Públicas, que admitiu, todavia, um cenário de milagre, face ao rosário de sacrifícios e penitências que o governo de Passos Coelho impôs aos portugueses, para resgate dos pecados do governo de Sócrates e de outros que tais.
Mário Centeno, porém, depois do suave milagre do défice e dos rebuçados com que o Governo adoça a boca dos eleitores, já promete a multiplicação dos pães e a transformação da água em vinho, e até a cura da lepra dos impostos e da dívida pública, mesmo sem lançar a rede do investimento.
Quando tal se verificar os portugueses terão razões para acreditar que Mário Centeno é um novo profeta, cujo destino é ir pregar para Pádua, à semelhança dos taumaturgos Barroso e Guterres, sem que daí adviesse algum benefício para Portugal, como era suposto.
Até mais ver, porém, a ténue recuperação da economia portuguesa, sem acréscimo significativo de novas fábricas e empresas, continua a ser ilusória, produto de artes mágicas, com a história a repetir-se mais uma vez: a seguir a uma doença profunda, mal o doente abre os olhos alguém grita vitória, porque importante é ganhar eleições. A cura total e definitiva, essa, vai continuar adiada.
Acima de tudo porque um país que deve a cães e gatos jamais terá credibilidade. Sobretudo quando o país é pobre e pequeno como Portugal.
Mário Centeno poderá ser um guru inesperado ou um mágico de circunstância. Para ser beatificado, porém, terá que fazer prova de mais impactantes milagres.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Que seja a Justiça a fazer justiça à Justiça.

Tem-se a percepção de que durante muitos e bons anos de desbragada democracia a Justiça esteve completamente alheada dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influências. Crimes de cariz político, portanto.
As prisões abarrotavam de criminosos comuns, mas a fina flor dos amigos do alheio, amigos do Estado, melhor dizendo, que tratavam a Administração Pública como se fora pertença sua e a usavam para proveito próprio, era intocável.
Não passava pela cabeça de um qualquer juiz ou polícia a ideia peregrina de questionar legalmente o comportamento dos políticos, sobretudo se de príncipes partidários se tratasse. O regabofe parecia não ter fim porque os dinheiros públicos davam para tudo e para muito mais.
Ainda hoje é assim, em certa medida, porque os políticos continuam a não ser julgados como tais, mesmo quando algum governante corrupto trai a Nação e lesa a Pátria escandalosamente.
Claro que as coisas não se faziam assim tão descaradamente! Havia um certo decoro, ainda que pouco, e sempre se encenava uma sentida dedicação à causa pública, tendo por música de fundo a modernização do País. 
Os mais altos magistrados políticos e judiciários da Nação a tudo assistiam indiferentes, ou inconscientes e porque não, coniventes. Claro que o povo murmurava mas isso era coisa de invejosos e intriguistas que o populismo ainda não havia sido inventado.
Para lá de que esses mesmos, os tais, eram os grandes arautos da transparência, da justiça e da moralidade. O resultado, porém, está à vista de toda a gente: uns tantos, esses mesmos, os tais, enriqueceram desmesuradamente enquanto o Estado se empobreceu até à indigência e o povo continua a ser explorado até mais não. Confiram-se as facturas da energia, da água ou dos impostos se dúvidas houver.
A verdade é que são muitos desses, que se diziam guardiões da Justiça, que agora não querem a Justiça em casa, porque a Justiça os embaraça e lhes mete medo.
Felizmente a Justiça parece estar a querer afirmar-se, finalmente. Titubeante, é certo, sem saber bem que caminho tomar. Ainda assim o Regime corrupto vive agora a sua pior provação. Não lhe bastava a dívida pública insustentável, a abstenção eleitoral abismal, ou o crescimento ilusório da economia que não é suficiente para que os portugueses possam olhar o futuro com sossego, o Regime tem agora pela frente o teste definitivo da Justiça repartida por múltiplos megaprocessos que envolvem políticos de topo que se julgavam intocáveis.
O futuro do País e da Democracia está nas mãos de meia dúzia de magistrados de quem se espera a maior coragem, tenacidade e amor à Justiça, precisamente. Juízes que, como era de esperar, são atacados por todos os lados, ardilosamente ou às escâncaras, pelos bandos de malfeitores que é seu mister acossar, com justiça, precisamente.
Que seja a Justiça a fazer justiça à Justiça. Não os políticos e muito menos os criminosos.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Verdades como punhos.

Um simples trecho de uma entrevista mais longa que o senhor Jeroen Djisselbloem, presidente do Eurogrupo, concedeu ao jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" mereceu o maior destaque nos noticiários.
Do resto da entrevista nada se disse mas as declarações em apreço provocaram reacções inflamadas de muitos políticos com responsabilidades de governação nos países do sul. Porque enfiaram a carapuça, só pode ser.
Jeroen Djisselbloem é quem é e serve a quem serve. Político assumidamente de esquerda entendeu agora, vá-se lá saber porquê, desancar a organização supranacional que lhe dá emprego e os colegas que governam a sul, insinuando que estes, incluindo os portugueses, portanto, gastam todo o dinheiro em bebidas e mulheres e de seguida pedem ajuda aos países do norte da zona euro. Embora ele, enquanto social-democrata, considere a solidariedade da maior importância.
Percebe-se que Djisselbloem se esforçou por ser bem-educado. Talvez tenha sido mal interpretado só por isso mesmo. Falou em bebidas, não explicitamente em vinho tinto, ou verde, em mulheres e não em damas prostitutas. Se tivesse proferido o popular aforismo português, teria tido muito mais graça, seria melhor compreendido e ninguém o teria levado tão a sério, por certo.
Mas, deixemo-nos de cantigas: Jeroen Djisselbloem, ainda que desastradamente, descompôs os seus colegas políticos, não as mulheres de vida fácil ou difícil, ou os povos do sul que, toda a gente sabe, são tão europeus como os do norte.
A verdade é que os Estados do sul chafurdam na corrupção e vivem à beira da banca rota e na dependência dos Estados do norte. Não por culpa daqueles que a sul trabalham ordeiramente aguentando, resignados, os sacrifícios relapsos a que os seus governantes os submetem, quando não os forçam a emigrar, em massa, para norte, precisamente.
Embora a norte até nem haja mais sol e melhores praias, hortas e pomares, nem seja verdade que os nórdicos são mais inteligentes e trabalhadores ou que as mulheres loiras são mais belas que as morenas. Tão pouco o petróleo do Mar do Norte é bastante para explicar a riqueza de uns e a pobreza de outros.
A vida airada dos políticos sulistas, essa sim, contrasta claramente com a sobriedade nórdica. Basta comparar o estilo de vida dos ministros e dos deputados portugueses com a dos congéneres suecos ou finlandeses, ou os gastos da Presidência da República portuguesa com os da corte norueguesa.
Devemos por bem concluir, portanto, que o ainda presidente do Eurogrupo disse verdades como punhos. Tanto assim é que apenas a bebida e as mulheres empolgaram os governantes visados. Já o contraste norte-sul, que deve ser assacado aos políticos e às prácticas políticas, tão-somente, não parece incomodá-los minimamente.
Falamos do contraste socioeconómico, que não tem razão de ser, e não das diferenças históricas e culturais que essas são louváveis e devem ser preservadas.
Não façam de Djisselbloem um bode expiatório por mais bronco que o homem possa ser.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O destino de Portugal está traçado.

Nos últimos anos têm vindo a público, ininterruptamente, notícias surpreendentemente escandalosas, envolvendo políticos e partidos, bancos e banqueiros, administração pública e empresas públicas, o Regime e a governança da Nação.

 Regime que navega em águas turvas e País que bate no fundo e torna a bater, mas não há maneira de vir ao de cima.

Este estado de desgraça tornou-se mais visível desde que em Setembro de 2003, vai para 14 anos, portanto, o jornal de Negócios noticiou que as contas do BPN mereciam sérias reservas aos auditores.

Foi a partir daí que o caso BPN, como é conhecido, teve pleno envolvimento e desenvolvimento num emaranhado de indícios que apontam para crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influências, comprometendo directa ou indirectamente, a fina flor dos políticos na altura no poder.

A Justiça empanturrou por não ter estômago para digerir o monstro e os contribuintes foram chamados a desembolsar milhões, como é seu dever e má sina, por via da nacionalização de um banco falido. Nacionalização que tão bem quista é dos partidos à esquerda, especialistas em nacionalizar, melhor dizendo, amontoar lixo no Estado.

Talvez porque o BPN não teve o tratamento exemplar que merecia e antes foram criadas condições propícias para se reproduzir que nem cogumelos venenosos, estão agora os contribuintes a ser seraficamente preparados pelo Presidente da República e pelo Primeiro-ministro para mais uma vez contribuírem graciosamente, como é seu dever e má sina, para o um novo monstro devorador das poupanças do povo, a CGD. Surpreendentemente, ou não tanto, mais uma vez, a Justiça não será dada nem achada. Justiça que, pelos vistos, continua sem ter corda bastante para prender tantos e tão obesos malfeitores.

Isto mostra, para lá do mais, que a “geringonça” já deu o que tinha a dar. Deu uns cêntimos de aumento nos salários e pensões, baixou uns impostos e aumentou outros e oferece-nos agora a CGD de bandeja. Dar mais e melhor não pode porque se desconjunta.

O destino de Portugal parece estar assim traçado, portanto: dívida, estagnação, emigração, compadrio e corrupção. Aos portugueses apenas resta poesia, ainda que da melhor.

“NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

define com perfil e ser

este fulgor baço da terra

que é Portugal a entristecer –

brilho sem luz e sem arder,

como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!”

(Fernando Pessoa, Mensagem - Poemas esotéricos)

Vale sempre a pena lembrar, ler e reler Fernando Pessoa, porque “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Embora o imortal poeta e todos quantos se atreverem a levantar a voz sejam acusados de populismo por aqueles que estão no poder ou lá por perto.

Esquecem-se esses, todavia, que só há uma forma de combater o populismo como convém, quando o populismo não for a mais genuína forma de expressão popular, note-se bem: reformar o que está mal e combater a corrupção com Justiça.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Revolução: precisa-se!

É suposto que a democracia representativa dê expressão a diferentes ideologias e oportunidade a distintas formas de organizar a sociedade e de conduzir a vida comum com elevação, saber e verdade. Nesta ordem de ideias a Assembleia da República deveria ser a casa da ética e das ideologias por excelência.
Lamentavelmente assim não é, muito embora os que lá tomam assento não possam queixar-se de que a Nação não lhes faculta os melhores meios e condições para o exercício do seu mister. Não se compreende, por isso, que a Assembleia da República se tenha convertido num antro de mentira e facciosismo, terreiro de disputas sectárias em que a ideologia, a verdade, a cultura e as boas maneiras são sistematicamente postas de lado. Assembleia em que todos proclamam superioridade moral e política embora estejam mais sujos do que pau de galinheiro.
É por isso que quando o BE ou o PCP se reclamam de esquerda aos portugueses dá vontade de rir. Bastou-lhes cheirarem o perfume do poder para meteram a ideologia no saco. Quando muito preservam um certo instinto sindicalista. O mesmo se dirá do PS cuja ideologia dá para todos os lados e dos partidos à direita que ninguém sabe que ideologia os ilumina. Talvez o brilho do vil metal.
Nada é de espantar, porém. A maioria dos políticos portugueses, sobretudo aqueles a quem o epíteto se aplica mais justamente porque tiveram, têm ou aspiram vir a ter a oportunidade de gozar as delícias do poder contornando o ónus de servir a causa pública com verdade, nunca se importaram verdadeiramente com que o povo os tome por mentirosos ou incompetentes. Entendem tal, até, como elogio, como expressão da sua superioridade, porque sabem servir-se a si próprios, e bem, enquanto aos honrados cidadãos não reconhecem categoria suficiente para se libertarem da vulgaridade.
É este o ambiente ético e emocional que presentemente condiciona o debate político quando em causa estão temas da maior importância para o futuro da Nação como é o caso da CGD, convertida que está no caixão do Regime por força da incompetência, desleixo ou desonestidade de quantos, directa ou indirectamente, a governaram.
Os momentosos escândalos políticos e financeiros sem fim, que deveriam envergonhar políticos e governantes, são bem a expressão da mentalidade amoral dominante, origem e causa, para lá do mais, da monstruosa dívida pública.
E se é grave que um qualquer ministro minta aos deputados mais grave ainda é que os deputados enganem os eleitores e os governos ludibriem os cidadãos.
Indignidade maior é, todavia, a persistente subordinação do poder político ao poder económico, a subserviência de governantes a banqueiros, a promiscuidade entre políticos e capitalistas bem patente nas crises da banca em geral e da CGD em particular.
Tudo isto só tem sido possível porque os machuchos políticos e argentários têm ousado adormecer a Justiça desrespeitando os portugueses a quem tratam como um povo manso e imbecil.
É por tudo isto que uma revolução se precisa. Pacífica e democrática, de preferência. Como novas ideologias e partidos novos porque os actuais estão esgotados.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.