Henrique Pedro

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Deus (Esquerda), Pátria (Partido), Família (Clã)

Contrariamente ao que muitos possam pensar a tríade Deus, Pátria, Família, divisa do chamado Estado Novo, não é da autoria de Oliveira Salazar mas de Afonso Pena, político brasileiro filho de pai português, que foi o 6.º presidente do Brasil, entre 1906 e 1909, muito tempo antes, portanto.

Diga-se, em abono da verdade, que Afonso Pena, contrariamente a Oliveira Salazar, não se limitava à trilogia Deus, Pátria e Família. Acrescentava-lhe um quarto elemento: Liberdade.

Com a implantação da democracia liberal em 25 de Abril de 1974, que é tudo menos representativa (os transmontanos que o digam), aquela fórmula ideológica foi definitivamente posta de parte, como se sabe, passando a reinar a regra 3D: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver, sendo que, até ver, apenas a descolonização, se cumpriu, bem que mal, continuando em aberto a verdadeira democratização e o pleno desenvolvimento.

O primeiro-ministro António Costa, que teve suficiente engenho e arte para pôr a Geringonça a voar qual caranguejola e fazer valer um governo excêntrico, é senhor dum estilo peculiar e dum pensamento político próprio que faz lembrar Afonso Pena, inspirador do Integralismo do também brasileiro Plínio Salgado e onde Oliveira Salazar também foi beber, mais liberdade menos liberdade, a célebre divisa Deus, Pátria, Família.

Para António Costa, Deus é a Esquerda, com todos os seus credos e seitas, a Pátria é o Partido Socialista, tout court, e a Família o Clã de que é tutor e que os melhores dicionários definem como o conjunto de famílias que pertencem à mesma tribo, ou à mesma casta, se nos valermos do hinduísmo.

Este ideário político de António Costa ganhou mais força com a recente remodelação governamental, em que o peso das famílias, dos amigos e dos amigos dos amigos no aparelho de Estado passou a ser determinante, como se os problemas do país pudessem ser resolvidos lá em casa, à hora do jantar.

Não se contesta a licitude de um ou mais governantes possuírem laços de parentesco sejam eles quais forem. Reprovável será, em qualquer caso, se for o nepotismo a determinar a nomeação para cargos governamentais. É aqui que justas interrogações se levantam porque, lamentavelmente, a governança de António Costa está recheada de amigos e correligionários cuja competência nunca antes foi posta à prova e que acabaram por fazer tristes figuras nas situações mais dramáticas.

É óbvio que ninguém é competente só porque é amigo do primeiro-ministro, que não há uma casta superior, bramânica, no partido socialista e muito menos famílias superdotadas.

Talvez o primeiro-ministro, nas actuais circunstâncias, só tenha encontrado pessoas disponíveis para integrar o governo, com plena responsabilidade, no seu círculo mais íntimo de fiéis. Preocupante, mesmo assim, será pensar que, caso Antónia Costa ganhe as próximas legislativas, com ou sem maioria absoluta, inevitavelmente irá aprofundar o lema Esquerda, Partido, Clã, com as consequências desastrosas que já se adivinham.

É por estas e por outras que o primeiro-ministro António Costa, que andou a semear ventos e ilusões, colhe agora tempestades e frustrações.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O ilusório projecto do Vale do Tua

O empreendimento hidroeléctrico da foz do Tua não foi projectado para servir as populações e a região mas para que uma poderosa companhia privada dele pudesse retirar o máximo proveito.

Não é de estranhar, portanto, que decorrida mais de uma década desde que a mítica linha de comboio foi desativada, o projecto marginal de desenvolvimento do vale do Tua, que os políticos penduraram na barragem, continue a marcar passo. Isto significa que estamos perante um reiterado fracasso, por mais que os poderes envolvidos tentem fazer crer o contrário.

As derradeiras esperanças empurram-nas agora para a Mystic Tua, a novíssima empresa do conhecido empresário Mário Ferreira que se propõe trazer milhares de turistas qualificados e salvar tão peregrino projecto.

Não admira, portanto, que em vésperas de eleições europeias, Pedro Marques, ministro do Planeamento e cabeça de lista do partido no poder já em pré-campanha eleitoral, tenha vindo a Vila Flor e Mirandela abrilhantar a assinatura dos papéis relativos a tão vistoso empreendimento.

É de prever que, lá mais para o Verão, agora já em vésperas de eleições legislativas, o primeiro-ministro, ou alguém por ele, também venha a Mirandela cortar a fita do primeiro comboio turístico que alegremente assobiará melodias aos eleitores.

Mais uma vez, acenando agora com milhares de turistas que poderão vir, ou não, de barco, de comboio, de autocarro, por terra, por mar ou pelo ar para animar hotéis, empresas e mercados inexistentes, se tentará esconder que o desenvolvimento de toda a região transmontana continua a ser um fiasco intencional.

Todos desejamos que, o mais breve possível, se conclua que são necessários mais barcos rabelo a navegar na albufeira, mais carruagens a corrupiar na linha e não apenas nos meses de Verão e que uma onda de progresso irradie de Mirandela para todo o Trás-os-Montes.

Até ver, porém, a barragem da foz do Tua não passa de um espinho cravado na garganta dos ambientalistas que, impotentes, viram as suas mais justas reclamações inexoravelmente afogadas no vale que, na sua pureza virginal, possuía por certo, potencialidades geomorfológicas, biológicas, agrícolas, ambientais e turísticas tão ou mais valiosas do que aquelas que agora prometem.

Mais grave, contudo, será se as populações ribeirinhas que já viram os seus habitats ancestrais cerceados e desvirtuados e a suas economias familiares prejudicadas continuarem a ser desrespeitadas o que porá em causa a competência e a utilidade da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua e das instituições públicas e privadas responsáveis por tamanho imbróglio e que são mais de dez.

Ainda assim, o pior do projecto em apreço está no desastroso condicionamento que provoca ao tão sonhado aproveitamento global e integrado das águas e campos, não só do vale do Tua, mas de toda a sua vasta e fértil bacia hidrográfica, considerando os afluentes Tuela e Rabaçal e inúmeros tributários menores, que constituem a coluna vertebral da chamada Terra Quente.

De palpável, até ver, apenas há papeis assinados e um comboio que faz que anda mas não anda.

E, já agora, um emblemático edifício arruinado, bem no coração de Mirandela, à espera dos turistas que, ao que parece, só eles o poderão salvar do colapso.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Trás-os-Montes fora do Plano e do Mapa

Importa saber o que é que os políticos pensam de Trás-os-Montes para se compreender o desprezo a que votam esta região ancestral que muito embora não tenha petróleo nem praias, nem seja viveiro de votos, tem muito mais que isso.

Regra geral todos eles parecem ter chouriças no lugar das circunvoluções cerebrais pois estão convencidos de que nada mais se aproveita em Trás-os-Montes para lá do fumeiro, em particular da alheira de Mirandela, do presunto fumado de Montalegre ou o do salpicão de Vinhais.

A direita mais azeiteira valoriza, naturalmente, o azeite da Terra Quente com que se tempera o bacalhau muito embora este não seja, até ver, pescado nos rios transmontanos. Digo até ver porque é certo e sabido que os chineses, que já são donos de grande parte do território desde que compraram as barragens ao preço da uva mijona, mais dia, menos dia acabarão por montar viveiros do “fiel amigo” nas albufeiras de Miranda ou de Picote. Vislumbro aqui uma réstia de esperança, perdão, de alhos, queria eu dizer.

Já a esquerda democrática mais matarruana entende que o folar de Valpaços e os pastéis de Chaves, regados com vinhos de Murça e de Favaios, geram maiores ganhos eleitorais em festas e romarias, pelo que devem ser estes produtos privilegiados.

Quanto à esquerda pseudodemocrática, a tal que apenas respeita a democracia quando e enquanto lhe convier, agastada com o carácter positivamente reacionário dos transmontanos, cedo se desapegou de Trás-os-Montes, sobretudo desde que deixou de haver searas a ondular ao vento e ceifeiras a cantar.

Finalmente, para os deputados e autarcas locais Trás-os-Montes não passa duma coutada na qual caçam votos com fidelidade canina, (sem ofensa já que tenho o maior afecto e respeito pelos meus cães), a mando dos donos que lhes assobiam desde Lisboa.

Vem isto a propósito da notícia de que Trás-os-Montes ficou fora do Plano Nacional de Investimento 2030. Quer dizer: até 2030 os transmontanos vão continuar a espreitar o futuro por um canudo. Melhor dizendo: o povo transmontano, ordeiro e pacato, está condenado a cavar hortas e a pastar sonhos e carneiros durante mais uma longa e obscura década.

Surpreendentemente foram os autarcas da Comunidade Intermunicipal de Trás-os-Montes que levantaram a lebre. Honra lhes seja feita.

Congraçaram-se, tiraram fotografias, expressaram o seu descontentamento politicamente correcto mas, não tarda, voltarão a vestir os pijaminhas laranja e cor-de-rosa e continuar a dormir à sombra das frutuosas árvores partidárias. Melhor fora que tivessem ficado quietos e calados.

Entretanto o primeiro-ministro, com o cinismo que é público, declarava no acto de assinatura da empreitada para a requalificação do IP3 que o “país não se pode lembrar do Interior apenas no Verão, quando há incêndios”. É preciso ter lata!

E diz ele que anda obcecado com Portugal do qual, como se vê, arredou definitivamente Trás-os-Montes, que nem Interior considera sequer, porque ele mesmo o tirou do plano e do mapa.

Será que o move um sentimento de racismo para com os transmontanos!?

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

A Queda dum Anjo

Entre Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, eclético alfacinha com fundas raízes em Terras de Basto, e Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas, transmontano dos quatro costados que saiu de Caçarelhos, já em mil oitocentos e picos, para assumir o papel de deputado em Lisboa, onde se deixou corromper por luxos e prazeres, não há a mais ínfima semelhança, note-se bem.

Marcelo Rebelo de Sousa continua a merecer a imagem de homem impoluto, sóbrio, nada dado a vaidades e devotado às grandes questões sociais dos nossos dias. Mas é aqui que a porca torce o rabo.

A Lisboa actual conserva aspectos idênticos, sobretudo no que ao abandalhamento da democracia diz respeito, aos versados em 1866 pelo genial Camilo no seu romance satírico “A queda dum Anjo”, que caricatura a vida social e política portuguesa daquele tempo. Hoje até nem lá faltam transmontanos finórios, mal-afamados, que deixaram a pureza das berças para aprimorar as suas competências na desnorteada capital.

Para muitos compatriotas que o elegeram Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa continua a ser um verdadeiro anjo, se bem que esteja em queda acentuada, como as sondagens o demonstram, desde que se consolidou como uma figura popularucha, beijoqueira, verdadeiro papa beijos.

O homem exagera, é voz corrente, como ainda aconteceu recentemente com o telefonema de viva voz que teve o desplante de fazer a uma conhecida e astuta figura mediática.

O problema não está tanto na excessiva exposição mediática ou na matéria foleira que alimenta programas televisivos e revistas cor-de-rosa. Está, sobretudo, na consequente perda de autoridade política e no aligeirar da dignidade institucional a que um Presidente da República jamais se deve arriscar.

Não se contesta que Marcelo Rebelo de Sousa procure ser amado pelo seu povo. Em nenhuma circunstância, porém, deve ser objecto de chacota pública, deixar de se fazer respeitar, sobretudo pela classe política que, como se sabe, tem especial apetência pelos cínicos jogos de poder.

Marcelo Rebelo de Sousa pode até pretender ser, o que só lhe fica bem, um émulo do bondoso padre Cruz que calcorreava as ruas de Lisboa para valer aos mais pobres e infelizes. (Pena é que atitudes idênticas não as tenham o Cardeal Patriarca, por exemplo, e todos os clérigos, mais votados que andam, ao que parece, a discutir o sexo dos anjos, ou diabos, sabe-se lá).

O afã e cordialidade com que Marcelo Rebelo de Sousa se devota à causa pública são deslumbrantes. Tanto que ele parece nem se dar conta de que está a pisar o risco que separa o populismo mais saudável da perigosa subversão do principal órgão de soberania, que a sua verborreia e mediatismo doentio estão a entorpecer a opinião pública, a encobrir os males do Regime, a postergar reformas urgentes, a branquear as falhas graves do governo e a desacreditar, ainda mais, o discurso político.

A queda do anjo Calisto deveu-se aos luxos e prazeres. A do anjo Celito ao populismo bacoco e risível. Que se cuide.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.

Mundanidade e Mundialização

As passagens de ano, mesmo se olhadas como simples mudanças de calendário e ainda que motivem estrondosos divertimentos, propiciam boas oportunidades de reflexão. Queiram fazer o favor de reflectir, pois então.

O leitmotiv fundamental da Humanidade foi, até hoje, a procura de um cabal entendimento do mundo e da vida, angústia que se projecta num Criador, inato, que os crentes pressentem que existe mas que os ateus categoricamente descartam e os agnósticos enjeitam por estenderem que tais fenómenos metafísicos não estão ao alcance da Razão.

Em qualquer caso é ambição inconfessa do homem converter-se um dia, por força da ciência ou do espírito… sabe-se lá… já não no dono da Terra mas no senhor do Universo, nesse Ente Todo-poderoso que, caso não exista, passará ele próprio a sê-lo.

Certo é que a Humanidade tem vindo a progredir pela positiva, empurrada por forças que lhe são estranhas ou puxada por algo que lhe é superior. Esta será, no entendimento de Teilhard de Chardin, a questão essencial.

Também se diz que só os místicos chegam a Deus por via da Iluminação, no silêncio contemplativo e com práticas piedosas. Já os cientistas, os empreendedores e sobretudo os políticos, esses, ao que consta, por mais que inovem, empreendam e governem nunca até hoje Lhe viram a face. Bem pelo contrário: amiúde soltam o diabo como a História sobejamente ilustra.

É esta já longa aventura que agora parece abeirar-se do paroxismo. A ciência, a tecnologia e a indústria todos os dias nos brindam com feitos retumbantes, mas a Humanidade, paradoxalmente, mais se afunda num pântano caótico sem precedentes, composto de guerras, misérias e crises sociais e ambientais incontroláveis que, na visão mais pessimista, poderão descambar na devastação total do planeta e no extermínio do próprio homem.

Em curso estará uma imparável catástrofe planetária, que não será apenas ambiental mas é sobretudo moral e humanitária. O homem de hoje anda, por isso, ensandecido, ao sabor das modas e das redes de comunicação sem que saiba quem verdadeiramente mexe os cordelinhos e com que propósitos. Cada dia se torna mais difícil distinguir a verdade da mentira e separar o bem do mal já que a verdade passou a ser tudo que em determinado momento se mostrar útil e o bem apenas aquilo que no imediato dá prazer, ainda que a prazo traga dor e miséria. Os vícios passam por virtudes e a violência é pão nosso de cada dia.

A emergente nova Humanidade será, por certo, amoral, amestrada, robotizada e dominada por ditadores sinistros que controlam tenebrosas máquinas de guerra ou manuseiam sub-reptícios tentáculos financeiros.

O ser humano deixou de ter na procura de Deus, arquétipo do Bem, a sua motivação principal e passou a promover o diabo por todos os meios e formas.

Entrámos definitivamente na era da Mundanidade, funesta deformação da Mundialização, sem que saibamos quando e como dela nos vamos libertar.

Resta-nos a esperança de que entre mortos e feridos alguém se há-de salvar.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.

Deitaram o Pai Natal no presépio no lugar do Menino Jesus

Arrancaram o Menino do regaço da Virgem Maria, Sua mãe
subtraíram-No ao abraço de São José, Seu pai
e puseram a criança nua
a dormir ao relento
numa noite fria 
no meio da rua

        Quem?
        Os donos do mundo, quem haveria de ser?
        e todos nós também que estamos a promover
        tão desalmado acontecimento
        embora sem o saber

Arregimentaram depois um machucho velho
barbudo, imundo, anafado
que apelidaram de Pai Natal à margem do Evangelho
converteram-no em mito comercial
e deitaram-no na manjedoura vazia
para vender a palha do berço sagrado
e o esterco do curral da apostasia

        Que Deus nos valha!

O vento da guerra perpassa agora por toda a Terra
e a Paz jaz sepultada em túmulos de dor
lado a lado com o Amor

Na Europa governada por pilatos devassos
relapsos, cobardes, coniventes
já livremente acometem os ogres de Herodes
e demais facínoras dementes
que escarnecem da Virgem Maria
tratam São José com aleivosia
vilipendiam Cristo e a Cruz
e assassinam santos inocentes
tentando matar à nascença a Divina Criança
o pequenino Jesus

        É tempo de choro e de ranger de dentes
        de clamor e indignação
        para quantos em cujo coração
        ainda pulsam o Amor e a Liberdade

Já esmorece a luz da Esperança 
já enfraquece a força da Verdade 
já a democracia dá sinais de derrota
impera a corrupção

        De novo chora a Nação
        tarda a revolta da Razão

Ó povo! É a hora!

Boas Festas
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Angola! É nossa!

Vale a pena recordar.

Ainda hoje ecoa nos

corações mais saudosos o acorde fundamental do hino heróico Angola é nossa, com que o regime deposto em 25 de Abril de 1974 ousou, com sucesso, mobilizar o país para a guerra iniciada em 15 de Março de 1961, quando a União das Populações de Angola (UPA), massacrou centenas de colonos brancos e trabalhadores negros, nas fazendas do café.

Muito embora a colonização tenha começado no séc. XV a delimitação formal do território só foi reconhecida na Conferência de Berlim, já em 1884.

Todavia, só a partir daquela data fatídica Angola passou a ser plenamente conhecida e a ser tratada como parcela inalienável de Portugal, como rezava a cantiga triunfalista.

E foi no decurso da longa guerra do Ultramar (na designação oficial portuguesa) que se lhe seguiu, (Guerra Colonial ou Guerra de Libertação, segundo os movimentos independentistas), entre 1961 e 1974, portanto, que se operou assinalável progresso daquele território africano, se outorgou aos autóctones a plena cidadania portuguesa e se aprofundou o afecto prevalecente entre portugueses europeus e angolanos.

Com o golpe de estado mi-

litar do dia 25 de Abril de 1974

e a revolução subsequente,

romper-se-iam definitivamen-

te as amarras de Angola à administração portuguesa, mas a

amizade atávica e os laços históricos e culturais que ligam angolanos e portugueses, e que

sobrelevam os pecados colonialistas intrínsecos, não se romperam.

Lamentavelmente, mal a

administração portuguesa

abandonou Luanda outros

países, com Cuba à cabeça, prefigurando obscuros projectos neocolonialistas, procuraram assenhorear-se de Angola, originando uma terrível guerra civil que entre 1975 e 2002 devastou o território e provocou milhares de vítimas. Angola deixava de ser Portu­gal mas, durante 27 longos anos, também não foi dos angolanos. Era terra de ninguém.

Drama que não terminou com o fim da guerra civil porque uma clique dirigente corrupta em que pontificava o clã Eduardo dos Santos, com a colaboração de cúmplices instalados em Portugal, transformou a úbere Angola numa sua coutada privativa.

Felizmente, surgem agora fortes sinais de que esse passado dramático está em vias de se transfigurar num mais justo e prometedor futuro, com a eleição em Setembro do ano passado do novo presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, já aureolado de governante probo, pragmático e destemido e que contará com o apoio inequívoco do povo angolano, do MPLA e das Forças Armadas.

João Lourenço que, contrariando os maus augúrios de continuidade do regime político que José Eduardo dos Santos liderou durante 38 longos e sofridos anos, se afirma determinado a devolver Angola aos angolanos.

É este político que acaba de visitar Portugal dando a indicação de fazer uma leitura justa e correcta da História já que valoriza devidamente os afectos e afinidades que unem angolanos e portugueses.

A instauração de um genuíno estado de direito, o desenvolvimento e modernização e o combate eficaz à corrupção, que passa por Portugal, não são tarefas fáceis, porém. Oxalá que a Nossa Senhora da Muxima o proteja, que a obscura justiça portuguesa o não embarace e que o governo português lhe preste a melhor colaboração.

E os saudosistas que se compenetrem desta inexorável realidade: Angola não é nossa, contrariamente ao que proclamava a cantiga, mas o relacionamento de Portugal com Angola pode e deve ser muito mais que um mero jogo económico, porque as relações internacionais também se fazem de afectos e afinidades históricas e linguísticas.

Nesta perspectiva, a partilha de cidadania deveria ser uma prioridade política com benefício imediato e directo dos cidadãos de ambos os países. Sejamos práticos. E sonhemos.

 

Este texto não se conforma

com o novo Acordo Ortográfico.

 

Não! Não são todos iguais

O mais hilariante folhetim televiso dos últimos tempos transmitido directamente da casa da democracia, teve o seu ponto alto num arrojado número de funambulismo de uma senhora deputada que, em defesa ou condenação sabe-se lá de quê ou de quem, argumentou já não haver virgens lá no éden em que paira, donde se infere que os anjos, afinal, têm sexo, ainda que de género indiferenciado.

E se o que viu e ouviu é daquele teor imagine-se o que se passa nos bastidores da dita casa da democracia, atrás do cenário politicamente correcto.

Como se sabe, na democracia mais genuína os políticos, trate-se de ministros, de deputados ou simplesmente de comissários, seja qual for a sua ideologia ou graduação, são meros intermediários entre a vontade do povo e a governação. Em Portugal especialmente, não é bem assim. Comportam-se como uma casta parola usufrutuária de privilégios e impunidades obscenas que ela própria a si mesma se atribui. Representam o pior da Nação.

São essas as primeiras e principais causas do seu desprestígio e da desvirtuação da democracia.

Não é de espantar, portanto, que por tudo e por nada se ouça o povo nas ruas dizer, em jeito de desabafo: “ eles são todos iguais”. Mas será que são todos iguais como o povo afiança?

Pessoalmente entendo que

não, que muito embora a maior parte seja pior do que o que dela se diz, se tivermos em conta os raros que justamente se podem gabar de que desempenham os seus cargos de forma dedicada e honesta, melhor poderemos afirmar que não são todos iguais.

Não são iguais embora sejam igualmente maus porque sistematicamente silenciam, encobrem, branqueiam e habilidosamente relevam as tropelias e crimes de colegas e correligionários e das agremiações viciosas em que militam, sem distinguir credos, cores ou ideologias que, hoje em dia, por muito que custe aos prosélitos da esquerda e da ultraesquerda, não passam de mero palavreado, como a Geringonça o comprova.

E tanto assim é que a direita envergonhada corre mesmo o risco de vir a ser dispensada da democracia lusitana porque a esquerda gabarola faz o trabalho por ela.

Atente-se no degradante arraial de mentiras e traições em que se transformou a Assembleia da República, nos abusos e atropelos à lei que lá se cometem, na desfaçatez e sobranceria com que os deputados tratam a Nação.

E não são apenas maus e desonestos quando se dão ao desplante de faltar ao trabalho e de garantir a senha de presença de forma fraudulenta. Ou quando viciam as moradas para obterem chorudas ajudas de custo. Ou quando se organizam em comissões de transparência que apenas transparecem cinismo e hipocrisia.

São-no sobretudo quando, embora tendo consciência das deficiências do regime, da lei eleitoral fraudulenta ou da justiça coxa, por exemplo, não mexem uma palha para se congraçar e reformar o que deve ser reformado.

É o mexes! É o reformas! Estão como peixe na água nesse ambiente falso e vicioso que é o principal foco gerador de populismos, sendo que o pior é o populismo do poder, pai de todos os demais.

Os Trump e os Bolsonaro que cresçam e apareçam, portanto. Os deputados portugueses cá estão para os destratar, lá nas américas ou caso se atrevam a vir para cá.

Com excepção do déspota venezuelano que continua a ter o afecto silencioso dos deputados da Geringonça e, o que é mais surpreendente, da patética e desnorteada direita lusitana.

Será que o povo tem mesmo razão quando diz que eles são mesmo todos iguais?

 

Este texto não se conforma

com o novo

Acordo Ortográfico.

A invenção de Trás-os-Montes

Custa a acreditar mas é verdade: para os machuchos políticos Trás-os-Montes não existe. Não passa de uma invenção, que o mesmo é dizer de um mito, de uma fantasia, de uma lenda. É produto malsão de sentimentos e tradições cantadas e decantadas por poetas e emigrantes saudosistas transtornados pelo isolamento secular que preservou estranhos usos e costumes sustentáculos de uma fictícia identidade sem relevância nacional.

É por isso que Trás-os-Montes é sistematicamente tratado com mentiras e desdém.

Muitos transmontanos ainda acalentaram a esperança de que Trás-os-Montes, na proposta de regionalização que foi rejeitada no referendo de 1998, pudesse converter-se numa região administrativa. Foi toca donde não saiu lebre ou raposa, porém, pelo que a caça continua a monte.

Assim sendo, Trás-os-Montes é uma coutada livre, uma pobre província, berço do maior número de emigrantes do país e que mais sofre com o desgraçado despovoamento que afecta a maior parte do território nacional.

Uma província mal-amada, maltratada, abandonada, desprezada. Uma mãe que não merece os filhos que tem, (que me perdoem Torga e outros que tais e tão raros eles são), residentes ou ausentes, legítimos ou enteados. Principalmente os deputados, os autarcas e os muitos transmontanos ingratos que nos últimos anos tomaram poiso nos governos da Nação.

Uma pobre província, não uma província pobre, note-se bem, como melhor falam os seus vales e montanhas, os seus recursos humanos, hídricos, agrícolas, minerais e as suas potencialidades turísticas.

Tudo isto é revoltante mas é a triste verdade do presente. Quem não acreditar que leia o artigo intitulado “Se ainda não sabe onde fica o interior do país, nós dizemos-lhe”, que o jornal Expresso publicou na sua edição do dia 2/11/2018 que revela dados altamente significantes sobre o estado do país.

Ficará a saber, se ainda o não sabe, que em dois terços do território continental vivem apenas 20% (um quinto) dos habitantes do país. Esse é o tal “interior”. Território a mais, certamente, para os nossos sábios governantes que só se contentarão quando não houver gente a lá morar.

Dados elaborados pela Associação Nacional de Municípios e ratificados pelo Governo em 13 de julho de 2017, (continuo a citar o Jornal Expresso), quando ainda não tinha passado um mês sobre os incêndios dramáticos de Pedrógão e ninguém imaginava que a tragédia se haveria de repetir três meses mais tarde.

O mais chocante para os transmontanos, porém, será constatar que dos 1856 projetos de investimento aprovados para 159 concelhos do dito interior, apenas 142 projectos dizem respeito a Trás-os-Montes, orçando pouco mais de 190 milhões de euros, apenas 10% da verba destacada para o atrás citado interior que é de 1,9 mil milhões. A disparidade será, naturalmente, mais escandalosa ainda se compulsarmos este valor com o investimento público nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

De assinalar que, neste quadro, citando apenas os mais significativos, Bragança tem aprovados 35 projectos representando cerca de 72 milhões, o que é positivo, mas Chaves apenas 15, que recebem parcos 13 milhões, Vila Real 26 projectos com 10 milhões e Mirandela apenas 9 projectos cobertos pela módica quantia de 2,7 milhões, 27 vezes menos que Bragança, portanto.

Na cauda estão Vinhais com apenas 1 projecto que vale 201 mil euros, Boticas com 1 projecto também, que vale 19 mil euros e Freixo de Espada à Cinta com 1 projecto, também, valendo ridículos 10 mil euros. Alfândega da Fé e Vila Flor não têm projectos aprovados, vá-se lá saber porquê.

É este o Trás-os-Montes que os políticos patriotas que governam Portugal inventam a cada ano.

Não será que os deputados e autarcas transmontanos andam mansos demais?

 

Este texto não se conforma

com o novo Acordo Ortográfico.

 

A cereja no topo do bolo da infelicidade nacional

O Orçamento de Estado para 2019, ainda que melhor sirva como orçamento das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, é a coroa de louros, reiterada, do primeiro-ministro senhor António Costa.

Todavia, também ao senhor Jerónimo de Sousa e à senhora Catarina Martins são devidas loas porquanto, não fora o empenhamento destes dois anjinhos da guarda da Geringonça (que não se coíbem de dar bicadas na mão que lhes dá o milho), e o Orçamento de Estado para 2019 tresandaria injustiça e desumanidade, com toques de hossanas ao deus défice.

De facto, fica-se com a ideia, credível em parte, de que se não fossem os heroicos sacrifícios ideológicos do PCP e do BE, o governo do senhor António Costa, no que diz respeito à exploração da classe operária, à promoção da morte prematura de reformados, à escravatura dos funcionários públicos e à austeridade dos serviços básicos do Estado, ultrapassaria o que os mesmos disseram do governo do senhor Passos Coelho, o fiel servidor da Troica que, apesar de tudo, teve o mérito de governar um país que o senhor José Sócrates deixou nas ruas da amargura e às portas da bancarrota.

Nada disto garante, porém, que hipotéticos governos patrióticos dos atrás citados PCP e BE, não converteriam Portugal em algo bem pior, num modelar paraíso socialista de figurino cubano ou venezuelano. Se governassem a sós, claro está.

Também ficamos sem saber se a Geringonça teria sido possível no advento da Troica ou como governariam o senhor António Costa e o senhor Mário Centeno naqueles tempos de vacas magras e, o que é mais importante, se os portugueses poderão contar com o talento desses dois ilustres governantes e com a generosidade do senhor Jerónimo de Sousa e da senhora Catarina Martins se uma nova crise estalar, o que não é de todo improvável. Mais provável será o povo voltar a chamar a tão mal afamada “direita” para governar, como é óbvio.

Uma coisa é certa, porém: Portugal, por força do parco crescimento da sua economia e não só, vai continuar na cauda da Europa, condição que a mediocridade relapsa dos políticos lusitanos transformou numa fatalidade.

Mesmo assim, a sábia governança do senhor António Costa, que muito tem beneficiado da favorável conjuntura económica internacional (o que em nada diminui o mérito do ministro das Finanças), dos abraços solidários do PCP e do BE e da mão amiga da CEE, bem lhe poderá propiciar, a ele, António Costa, a tão ambicionada maioria absoluta.

Considerando também que, quanto à verdadeira oposição, bem pode o senhor António Costa dormir descansado por mais que a senhora Assunção Cristas o irrite e tire do sério e enquanto os ceguinhos do PSD caminharem em direcção ao barranco, aos tropeções.

A verdade, porém, é que a governança do senhor António Costa, apesar de bafejada por muitas dóceis e anafadas vaquinhas tem sido uma continuada desgraça. Basta olhar para Pedrógão, para Monchique, para Tancos, para o Serviço Nacional de Saúde, para a Justiça, para o Ensino, para a Defesa Nacional e para a imparável dívida pública.

Sem falar da crise demográfica, da pobreza crónica, do despovoamento do interior, do combate à corrupção e ao crime económico e da reforma de leis estruturais como a sejam a eleitoral ou da Justiça. Lixo graúdo que o senhor António Costa sorrateiramente vai varrendo para debaixo do tapete.

A maioria absoluta do PS, a verificar-se, será a cereja no topo do bolo da crónica e sistémica infelicidade nacional. Com ela os militantes mais ferrenhos do partido do Rato verão realizado o seu velho sonho de reduzir Portugal a um egrégio Clube Socialista, (uma família alargada, quiçá), em que os seus membros mais proeminentes, por mais mea-culpas que façam, se darão ao desfrute de surfar e caçar, alegres e livres, nas praias e coutadas da Administração Pública.

Os portugueses que se cuidem.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico