Mecenas e mercenários.
Entre nós, sabe-se lá porque perversos sortilégios, os governos, por regra e sem pudor, subordinam-se aos banqueiros em particular, mas não só.
É o poder político que se submete ao poder económico com prejuízo do desenvolvimento coeso e coerente do País, assim se explicando que o interior rural esteja cada vez mais pobre e ermado, quando deveria ser o contrário, como a Constituição preconiza, a bem da Nação e não dos interesses de meia dúzia para quem apenas os negócios chorudos interessam.
Nesta matéria, o actual governo, o da dita geringonça, embora batendo válvulas e chapas, segue na peugada dos governos fórmula 1 do PS, do PSD, e do pendura CDS, que andaram todo tempo a acelerar.
Isto por muito que custe ao senhor Jerónimo de Sousa e à senhora Catarina Martins, demiurgos que insuflaram a alma a esse governo de barro.
Governo geringonça que continua deliberadamente a malbaratar milhares de milhões de euros em bancos falidos, sonegados aos contribuintes, e a usar de especial benevolência para com as empresas dominantes como o fizeram os governos topo de gama atrás citados.
Ninguém tem que se admirar, portanto, com a subserviência de uns tantos governantes a tais empresas e bancos que tem sido matéria de muitos escândalos noticiosos.
Esta dependência viciosa do poder político de duvidosa democraticidade, ficou agora mais patente com a contratação de gestores de elite para a Caixa Geral de Depósitos, pagos que nem nababos sauditas.
Não para fazerem milagres, certamente, mas apenas para gerirem como o faria qualquer merceeiro de praceta em crise: despedir empregados, seduzir nova clientela e aumentar o preço das batatas e das cebolas, que é como quem diz, alargar as alcavalas dos serviços bancários. Seguros de que se a mercearia pública continuar a dar prejuízo, nenhum mal daí advirá porque alguém virá a seguir para fechar a porta. Ou será que os salários faraónicos dos administradores garantem que a empresa dará lucro?
Quer se goste quer não, trata-se de salários obscenos, que não deixariam de o ser mesmo se o Estado estivesse a abarrotar de dinheiro. Que ofendem os milhões de cidadãos que sobrevivem na mais penosa pobreza, que são um atentado à justiça, à liberdade e à igualdade e envergonham a democracia, o socialismo, a social-democracia, a democracia cristã e tudo o mais que se quiser.
Salários que postergam toda e qualquer ideia de serviço público e de justiça social ainda que não dispensem as useiras e vezeiras vaidades, condecorações e comendas no final do mandato.
Grave, sobretudo, é que o primeiro-ministro socialista se esqueça que a política possui uma dimensão ética que em nenhuma circunstância deve ser esmagada pela componente tecnocrática e que os mercenários, os ditos soldados da fortuna, nem sempre ganham guerras.
Que estranha política de esquerda é esta que faz dos contribuintes mecenas de banqueiros e dos banqueiros mercenários do Estado!
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.