O pai, a mãe e o avozinho das assimetrias regionais

PUB.
As tão propaladas “assimetrias regionais”, metáfora para a injustiça e a incompetência governativas, distribuem-se por todos os domínios do foro público, apesar da pequena dimensão de Portugal.
A maior de todas, porém, reside em Lisboa, nas sedes do Governo, da Assembleia e da Presidência da República que são o pai, a mãe e o avozinho de todas elas. É lá que se gera o centralismo e a macrocefalia lisboeta e se concretiza a subalternização do poder local pelo poder central que a Lei Fundamental da República não estabelece, mas que os partidos políticos subvertem.
Donde advém, entre outros males, a subserviência das câmaras municipais provincianas ao governo central e das juntas de freguesia às câmaras municipais.
Assimetrias que teimam em persistir e a agravar-se apesar dos muitos milhões de euros que foram destinados a combate-las desde que Portugal aderiu à Comunidade Europeia.
É certo que novas e modernas vias, jardins e rotundas foram rasgadas e as condições de vida medievais banidas, sobretudo no mundo rural, mas Trás-os-Montes, por exemplo, continua a ser uma região socialmente depauperada, em contínuo processo de despovoamento, sem expressão cultural visível e de economia restringida à pouco rentável agricultura subsidiada.
Também as cidades e vilas transmontanas foram dotadas de vistosos centros culturais, museus e bibliotecas, menos frequentados que os campos da bola, mas a cultura regional praticamente se confina a espectáculos de música dita pimba que as Câmaras Municipais oferecem aos seus munícipes, em dias festivos, com o intuito de induzir nos espíritos uma ilusória sensação de dinamismo.
 Acresce que a iliteracia crónica continua a esmagar todas as ideias de modernização e desenvolvimento e apenas serve os mais esconsos propósitos de sujeição social e partidária.
Já a dinamização económica propriamente dita não vai além das feiras de produtos tradicionais, com destaque para os enchidos, que as mesmas Câmaras Municipais promovem e custeiam, e que são claramente insuficientes para sustentar, sequer, uma significativa indústria artesanal. 
Sendo Trás-os-Montes uma região eminentemente agrícola o sector continua a não dispor das necessárias e suficientes plataformas transformadoras e comerciais, dos vitais sistemas integrados de regadio e dramaticamente dependente de meia dúzia de prestimosas cooperativas, insuficientes para alavancarem as suas reais potencialidades.
Como se vê, a questão é iminentemente política e radica-se na asfixia e subalternização das autarquias provincianas pelos partidos cuja ambição maior é a governança nacional. Partidos e governos que tratam as assimetrias regionais como tratam os incêndios florestais: protelar e iludir, até o escândalo ou a tragédia acontecer.
 Agora que novas eleições autárquicas se avizinham já os partidos políticos mais uma vez se preparam para, desprezando o poder local, as reduzir a mero escrutínio intercalar do governo da Nação. Quando não em instrumento das suas guerras intestinas.
É por tudo isto que eu, e julgo que serei secundado por muitos mais eleitores, desde já declaro que não reconheço a nenhum partido o direito de gritar vitória nas autárquicas contando com o meu voto. 
Porque não é a pensar nas políticas partidárias, de esquerda ou de direita, que eu irei votar, mas tendo em conta, isso sim, o progresso da minha terra e os candidatos mais aptos para o promover.
Ao líder partidário que não respeitar este princípio lanço, desde já, o meu olímpico desprezo.
 
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 
 
 
Errata: Na minha crónica intitulada O Estado da Nação é crónico e continua crítico, anteriormente publicada, onde se lê Aljubarrota deve ler-se Alcácer Quibir este sim o nome do maior desastre militar da História de Portugal. 
Henrique Pedro