A coroar quarenta anos de escândalos e de crises, portadores dos piores males e misérias e nos quais a democracia mais genuína seguramente se não revê, Portugal acaba de ser devastado por catastróficos incêndios florestais que horrorosamente sacrificaram mais de cem inocentes cuja memória não está a ser devidamente respeitada. Que as suas almas descansem em paz!
Incêndios florestais sempre os houve mas não há memória de que tenham ardido tantas casas e morrido tanta gente e a culpa por tal não pode ser imputada às alterações climatéricas.
Seria de esperar que imediatamente a seguir a Pedrógão Grande se ouvisse o ruído das motosserras a desbastar as matas que sufocam as aldeias e as estradas mais críticas. Mas não! Prevaleceu o barulho dos discursos políticos feitos de palavras ocas e cínicas que não cortam árvores nem apagam fogos.
Inacreditavelmente, a Pedrógão Grande seguiu-se uma tragédia ainda mais devastadora o que levou o Presidente da República, a declarar, alto e bom som, num compreensível assomo de repúdio dos acontecimentos e das políticas, que o Primeiro-ministro, enquanto tal, deveria apresentar um pedido de desculpas público às famílias enlutadas em particular e aos portugueses em geral.
O chefe do governo, porém, que na véspera já havia proferido um discurso peregrino, frio e calculista, limitou-se a tirar partido de uma deixa do debate parlamentar para responder, a contragosto e contrafeito, como se cantarolasse o conhecido fado de Paulo de Carvalho: desculpem lá qualquer coisinha.
Depois disso, porque tomou consciência da gravidade do gesto e do desgaste da sua imagem e porque é verdadeiro mestre em golpes de rins, entendeu convocar, com popa e circunstância, um conselho de ministros extraordinário para anunciar um chorrilho de medidas e contramedidas urgentes, pondo vários ministros, como é seu timbre, a bolçar milhões. Falta saber quando, como e se tais medidas chegarão a ser postas em prática e se não acabaremos todos a contar tostões. A ver vamos como dirá qualquer ceguinho que veja.
Ficou ainda mais claro que, para o Primeiro-ministro, o que verdadeiramente importa é que se faça silêncio para que o seu naipe de fadistas e guitarristas possa continuar a cantar e a tocar o fado vadio da demagogia eleitoralista.
É de elementar justiça, contudo, que se diga que tudo que de mal tem acontecido a Portugal não é apenas da responsabilidade do actual governo e do Primeiro-ministro António Costa que, como sabemos, tem uma já longa vida dedicada à governança pública, com experiência comprovada em matéria de incêndios florestais.
Sobram motivos e é já tempo dos principais governantes, do presente e do antecedente, se reunirem na praça maior e mais simbólica do país para em uníssono pedirem perdão, não um mero pedido de desculpas, a toda a Nação, pelos muitas e sofridas provações e vergonhas a que submeteram a Pátria portuguesa.
Falta saber se perante a gravidade dos acontecimentos, que extravasam os incêndios florestais, não deveria já o senhor Presidente da República ter dissolvido a Assembleia pondo termo ao governo de “boys” e “teddy boys” que, ao arrepio da vontade dos eleitores, embora com a conivência da Assembleia da República, governam Portugal como se governar fosse uma festa de amigos e compinchas.
Falta saber se o próprio partido socialista não deveria já ter desmantelado a “Geringonça” que está a aproveitar-se da conjuntura económica favorável para iludir os portugueses com o aumento ilusório dos vencimentos públicos e das pensões, a bloquear reformas indispensáveis à sobrevivência da Nação e a reduzir a cinzas os símbolos maiores da História pátria.
Mas já não restam dúvidas de que é já tempo de restaurar a Democracia e de reformar o Estado por forma a torná-lo mais transparente, democrático, justo e melhor defendido do assalto de corruptos e aventureiros.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
Desculpem qualquer coisinha.
Henrique Pedro