SE PENSARMOS … QUASE NOS TORNAMOS VEGETARIANOS
Neste período do ano, rodeados de “ Feiras de sabores” e de pratos bem recheados de carne, esta reflexão poderá até ser inoportuna ou ofensiva para muitos, ou talvez não! O que é certo, é que nos dias que correm por todo o lado circulam imagens insuportáveis de animais maltratados aquando do seu transporte para o destino previsto ou para os matadouros; e aqui assiste-se a práticas tão chocantes como por exemplo a matança de fêmeas prenhas cujo útero é aberto à facada e os fetos deitados fora no meio das vísceras. Exagerado? Não. Legal? Sim pelos vistos!
Acredito que há alguma hipocrisia neste espaço, quado nos são apresentados os animais que são abatidos e, de repente, toda a narrativa é acompanhada de imagens chocantes e nos dizem que é terrível. É efetivamente aterrador, não somente quando é filmado clandestinamente nos matadouros. Há um momento em que o animal tem de morrer claro, tendo sido eletrocutado antes. Mas se a corrente não passar, um homem com uma marra mata o animal pois o problema tem de ser resolvido. Diz-se que é uma monstruosidade o animal ser eletrocutado. O que será melhor? Quem não tem presente a matança do porco?! Bonito de se ver também!
Contudo todas estas imagens servem para nos fazer pensar e isso é o mais importante. Se pensarmos no que se passa no nosso prato, uma posta ou umas costeletazinhas de cordeiro bem suculentas, encontrámo-las excelentes, mas de repente, se pensarmos que fazem parte dum animal que foi morto, aquele cordeirinho, etc, etc, quase nos tornamos vegetarianos. Todos vivemos essas contradições seguramente. O consumo de carne, é melhor não pensar. Se comemos carne é porque não pensamos, se começarmos a pensar a montante do nosso prato, efectivamente encontramos que é inaceitável. Num matadouro stressam-se e matam-se animais.
Que é preciso reduzir o consumo da carne, não consumir nenhuma, talvez ou sem dúvida, não pensamos bem nessas coisas certamente. Trata-se dum facto de civilização, cada vez que penso na carne, penso seriamente que a verdade está do lado dos vegetarianos e de certa forma, mesmo do lado dos veganos. Simplesmente se dissermos que a verdade está do lado dos veganos, então não pode haver animais domesticados, nem gaiolas, nem jardins zoológicos, nem hipismo ou tourada, nem cães, nem peixes… Estou certo que os veganos nos seus excessos são pessoas que pelo menos nos convidam a pensar melhor ou a pensar na boa direcção.
Por conseguinte, creio também que estas imagens que nos são apresentadas muitas vezes como sendo de militantes, não o são. Quando se fala tanto em “biológico” hoje, parece que somos enganados, não há morte biológica, conseguir-se-ia imaginar um matadouro biológico? Não passa também duma etiqueta politicamente correta pensar que o feijão-verde ou as laranjas que comemos são produtos biológicos, esquecemos que são transportados do Brasil por avião e que o traço carbónico dum produto biológico é muito pior para a ecologia do que um produto que teve alguns tratamentos e que foi produzido numa horta de Moredo ou do Vale da Vilariça.
Podemos sempre dizer aos veganos que devem é preocupar-se com o sofrimento humano, mas qualquer que seja o militantismo também, não é por não se ocupar duma determinada causa que esta é mais importante do que outra. Por exemplo, os desempregados, sim, mas recebem subsídio, ou as misérias e guerras na Síria ou na Palestina, pois, mas são povos muito fundamentalistas. Não é uma boa forma de raciocinar pretendendo que há misérias que são preferíveis a outras.
Sem que haja respostas unívocas podemos, no entanto, colocar-nos algumas questões ou reflexões: muitas espécies animais foram reduzidas ao estatuto de produtos alimentícios, a um stock de consumíveis, sim. Muitos animais crescem e são transportados em condições abomináveis, claro que sim. Há uma diferença ontológica entre o homem e o animal, evidente. Efetivamente a natureza não é uma democracia, mas a questão pertinente poderia ser: os animais têm um sistema nervoso idêntico ao nosso e podem sofrer? A resposta é claramente afirmativa. Proclamar-se mestre e proprietário da natureza não implica nem sadismo, nem a redução dos seres vivos à condição de máquina de carne.