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IV Jornadas da Diabetes do Nordeste Transmontano

Programa científico

 

DIA 10 DE OUTUBRO DE 2019

09h - 09h30h Abertura do secretariado

09h30 - 11h 1.ª mesa - 90 min.

SAÚDE DA MULHER COM DIABETES

Moderação: Dr.ª Joana Freire (Interna MGF da ULSNE - Coordenadora Concelhia da Diabetes - UCSP Santa Maria)

Palestrantes:

- Dr.ª Maria Manuel Sampaio (Ginecologia e Obstetrícia - Hospital CUF - Porto)

Contraceção na mulher com diabetes tipo 1 - 20 min.

- Dr.ª Cláudia Nogueira (Endocrinologia - CHTMAD)

Inocência com 105 anos de idade

Ter, 24/09/2019 - 10:15


Olá, como estão os leitores da página do Tio João?

No dia 23 entrou o Outono e o Verão despediu-se em lágrimas, pois no sábado tivemos uma chuva bem caidinha.

A partir de agora e até à entrada do Inverno (dia 22 de Dezembro), os dias serão cada vez mais pequenos. Por isso é que o povo diz que “no Outono, o sol tem sono”.

Já começaram as vindimas nas nossas terras. O primeiro a vindimar na aldeia de Paredes (Bragança) foi o tio Estevinho, no dia 15.

O tio Alcino Silva, de Vinhais, continua a bater na tecla de que as pessoas devem deixar “amadurar” mais as uvas, porque se não o vinho ‘vira’ para vinagre. Todos os nossos tios que ainda não fizeram a vindima, já têm o dia marcado, por causa das ‘torna jeiras’.

A União Europeia do lado dos que guardam a democracia

A liberdade de imprensa é um dos pilares fundamentais da democracia. Um estado democrático precisa de jornalistas livres, independentes e vigilantes. Num período em que a desinformação constitui uma ameaça às boas práticas jornalísticas e à credibilidade dos media, a União Europeia não se alheia dos problemas que os seus Estados-Membros enfrentam.

Os valores que todos prezamos – e que a União defende diariamente – têm sido postos à prova. O assassinato da jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia, em 2017, e do jornalista eslovaco Jan Kuciak, em 2018, ilustram dois ataques aos princípios basilares da nossa União. Os jornalistas não podem ter as suas vidas em risco por causa da profissão que exercem.

Perante a necessidade de promover e preservar a liberdade de imprensa e o pluralismo dos media, a Comissão Europeia disponibilizou 4,2 milhões de euros, que serão repartidos por três iniciativas que se complementam:

l 1,4 milhões para projetos que visem estabelecer um mecanismo europeu de combate à violação da liberdade de imprensa nos Estados-Membros. Esta ação terá duas finalidades: por um lado, proteger os jornalistas de ameaças ao livre exercício da sua atividade; por outro, manter o público informado, através de um trabalho de escrutínio e monitorização do poder político.

l 1,5 milhões destinados à criação de um fundo de apoio ao jornalismo de investigação transfronteiriço na União Europeia. O objetivo será incentivar a colaboração entre jornalistas de vários Estados-Membros e apostar num jornalismo de investigação ativo e robusto.

l 1,3 milhões com vista à inclusão de jornalistas e organizações não-governamentais em projetos que apoiem um jornalismo independente, cooperativo e livre. Esta ajuda estimulará os jornalistas e respetivas organizações noticiosas a produzirem jornalismo de qualidade, através de ferramentas inovadoras e partilha de experiência entre as várias partes envolvidas.

Em Portugal, várias iniciativas têm sido celebradas para incentivar profissionais e estudantes a investirem no jornalismo de investigação. O Prémio Fernando de Sousa, por exemplo, distingue trabalhos que ofereçam um melhor entendimento das questões e instituições europeias.

Já ao nível europeu, o projeto Jornalismo de Investigação pela EU (#IJ4EU), tem produzido trabalhos que comprovam a importância de uma imprensa livre. As séries de reportagens sobre espiões russos na União e a investigação sobre uma rede de negacionistas das alterações climáticas são exemplos de grandes histórias com “selo UE”.

O convite à apresentação de propostas está aberto até ao dia 27 de setembro de 2019. A Comissão Europeia orgulha-se de apoiar os “guardiães da democracia” e de investir no seu – e nosso – futuro.

 

Sofia Colares Alves

Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal

Vendavais - As golas do enforcamento

Normalmente quando alguém se quer enforcar, não compra qualquer tipo de golas e nem sei sequer se as há para esse efeito. Possivelmente não há. O método de enforcamento é completamente diferente e também ninguém vai pedir instruções seja a quem for, para se enforcar. Quando alguém quer cometer esse tipo de atrocidade individual, fá-lo sozinho e em completo silêncio. Só os condenados à morte por crimes cometidos subiam ao cadafalso perante a multidão silenciosa e estupefacta, que assistia quase incrédula, à execução do criminoso a quem colocavam previamente, uma grossa corda à volta do pescoço.

Podemos dizer então que havia dois tipos de enforcamento: um por crime e outro por iniciativa própria. Infelizmente, este último ainda subsiste em grande escala, mesmo em Portugal e com alguma preponderância no Alentejo. Talvez a cobardia esteja na base de tal iniciativa. A fuga a responsabilidades e o medo de encarar consequências, leva a este tipo de atitudes inqualificáveis e desnecessárias.

Mas a verdade é que há casos em que não sendo a cobardia a mover situações destas, elas acontecem quase sem querer ou sem se esperar e até sem se saber quem vai sofrer as consequências ou ser enforcado. E que motivos estarão na base de tal castigo.

Ficámos bastante admirados quando no início da época dos incêndios surgiram notícias a referir a aquisição por parte do governo, de golas antifumo ou antiígnias ou anti qualquer coisa, que as pessoas deveriam colocar no pescoço para evitar morrerem asfixiadas ou mesmo queimadas e que foram distribuídas pela população mais em risco de enfrentar situações em presença de incêndios. Lembramo-nos bem do que então se divulgou e da importância que isso teria para as populações. O governo enalteceu a sua própria ação que seria de louvar se por trás dela não houvessem rabos-de-palha para atiçar mais os incêndios no futuro.

As investigações que se seguiram sobre o processo de aquisição dessas golas antifumo que foram financiadas pela União Europeia em cerca de dois milhões de euros, levaram à descoberta de um contrato de três milhões de euros onde os intervenientes estavam comprometidos, de alguma forma, com elementos do governo, indiciando atos ilícitos e favorecimento em negócio por quem não deveria. Suspeita de crime, logo castigo dos criminosos.

O que ninguém estaria à espera era do desfecho que tal investigação e relatório final suscitaram. De facto, o ministro da tutela e o secretário de estado, demitiram-se do cargo a semana passada, já que por eles passou o contrato assinado com as cerca de treze empresas fornecedoras das golas e do material que com elas vinha para o mesmo efeito. Mas aconteceu. Enforcaram-se sem contar e com golas que aparentemente serviriam para salvar pessoas. Coisas do destino! Crime e castigo. Li há muitos anos um livro com este título, mas não tinha golas, nem ministros.

Em altura de início de campanha para as eleições legislativas, este episódio não traz benefício algum a Costa e ao PS. Será tema de campanha, certamente. A demissão do ministro e do seu secretário de estado, leva a uma substituição desses elementos e consequentemente à alteração do governo o que significa colocar no governo pessoas a prazo, a muito curto prazo, e que possivelmente, também elas se queimarão, já que não têm golas salva-vidas! O tempo de vigência acaba em Outubro. Pode ser que tenham sorte e Costa possa chamá-los para o novo governo, ou talvez não.

Na verdade, o que se nos apresenta como possibilidade concreta é o PS ganhar as eleições com quase maioria absoluta e isso significa ter de constituir novo governo. Os apoios virão certamente de algum lado. Claro que se perfilam todos os partidos para tirar dividendos dessa oportunidade de completar a maioria necessária ao novo governo. Nele, podem entrar os novos elementos do executivo do Ministério da Administração Interna. Seria uma forma de fugir ao escaldão!

Seja como for e o que daqui para diante se nos apresentar, a campanha trará mais descuidos a público e quiçá, alguns laivos de corrupção acrescida, que é o que neste país mais se vai descobrindo em cada dia que passa. Infelizmente. Para alguma coisa servem as campanhas, quanto mais não seja para descobrir destas situações onde uns e outros se vão enforcando quase sem darem conta, mas que bem podiam contar com isso. Hoje todos são inspetores e investigadores e até acusam e condenam na praça pública os que bem entendem, mesmo sem que os tribunais e a justiça tenham funcionado previamente. Os visados são enforcados em público sem serem condenados. Rui Rio quer acabar com isto. Já o disse e prometeu, se for primeiro-ministro. A comunicação social terá de estar mais atenta a estes pressupostos e ao que escreve, sobrepondo-se aos tribunais e à justiça, sob pena de ser ela a enforcada. E como não tem destas golas, que deixam muito a desejar, talvez não se safe … ou talvez sim.

A humanização dos hospitais

Habituado desde muito cedo à leitura diária dos jornais que são uma poderosa, fácil e pouco dispendiosa fonte de informação, cultivo hoje uma saudável e regular prática de observação e acompanhamento do que se passa no mundo sobretudo no nosso país, atrevendo-me de onde em onde a intervir, aplaudindo ou criticando consoante a natureza, decurso e objectivos dos casos publicados.

A liberdade de imprensa que a revolução de Abril de 74 ofereceu aos portugueses a par da dinâmica introduzida no Poder Local, foi a maior conquista do regime democrático que hoje desfrutamos e defendemos vivamente.

Decorridos bem mais de quatro décadas sobre essa data histórica, ninguém de boa-fé discordará como o jornalismo tem sido importante na investigação e denúncia dos numerosos casos de corrupção que tem infestado o nosso país. E como têm caído na lama alguns ícones da política e da mais elevada escala social!..

Vem isto a propósito duma notícia que circulou nas primeiras páginas dos jornais protagonizada pela actual ministra da saúde e demais membros do seu gabinete e na qual com pompa excessiva e circunstancia desajustada anunciaram algumas medidas, coisa pouca, sobre a questão da humanização dos hospitais, competência e preocupação das administrações que a mesma ministra nomeia!

Claro que não está aqui em causa a natureza da matéria anunciada! O que nós discordamos e reprovamos vivamente é o facto de tal anúncio ser feito a menos de um mês das eleições quando existe legislação que proíbe tal prática e sobretudo quando milhares de portugueses aguardam resignados há anos por uma cirurgia reparadora, outros tantos não tem ainda médico de família e já agora, 15.000 diabéticos no distrito de Bragança continuam sem médico especialista, uma inaceitável discriminação que os responsáveis locais da saúde persistem em desconhecer perante o silêncio da tutela.

Trata-se, pois, duma intervenção declaradamente eleitoralista pouco transparente e sobre a qual, como diz o bom povo “ ninguém mexeu uma palha”!

Em democracia, a relação entre governantes e governados, mais concretamente os contribuintes eleitores, exige mais cuidados e maiores responsabilidades. E isso, não foi tido em conta.

Pescar

Se vires alguém com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar, prescreve a máxima oriental, uma alegoria em que “fome” representa as nossas carências comuns e “pescar” aquilo que há que fazer para as suprimir. Convém não nos deixarmos iludir pelo seu laconismo: ela subentende todo um programa educativo, em função do qual nunca se deve perder de vista a autonomia, o esforço, o mérito de quem aprende. Sendo nossa sina ter necessidades e desejos, não há como fugir de procurar eliminá-los, quer fazendo-nos à vida quer vivendo à custa de outrem. Acontece que a máxima exclui esta segunda possibilidade. Por isso, se cabe a quem educa expor os segredos e as técnicas da pesca, é bom que as canseiras desta fiquem por conta do educando; aquele aponta o caminho, mas é este que o há de percorrer.

Na cegueira idealista que ganhou asas na parte final do século passado, e veio por aí fora, as pessoas julgaram que deviam dar peixes de mão beijada. Ficaram tão sôfregas pelo facto extraordinário de terem arrancado os rebentos às garras das privações que elas próprias haviam conhecido que adoravam exibi-los como troféus, assim como quem apresenta ex-votos ao santinho da abundância. O que estava a dar era escolher para eles os atalhos mais fáceis, arredar calhaus e espinhos, preservar a todo o custo de dificuldades, evitar o contacto com cruezas, resguardar dos vendavais como se resguardam flores em estufa. Entre outras mariquices, não é que a certa altura passou a ser fino chamar aos filhos príncipes e princesas?

Um nadinha de juízo teria segredado que tratar por príncipe é o mesmo que colocar-se em lugar de súbdito e, portanto, sujeitar-se à tirania; que superproteger significa atrofiar; que dar tudo corresponde a inibir de pescar, a tirar razões para ir à luta, não apenas no momento em que se dá, mas pela vida fora. Mas neste ambiente prazenteiro não se preparava para a vida, antes para cenários de fantasia. Uma enorme maldade foi incutir aversão ao trabalho contra a corrente na qual o mundo avança, um mundo que exige cada vez mais capacidades, competências, esforço, entrega; desvalorizá-lo quando é ele que sustém todo o edifício da sociedade; transformá-lo numa fonte contínua de conflitos quando a verdade é que, para além das coisas materiais que deve trazer, também costuma presentear-nos com satisfação, autoestima, realização. Mas isso não interessava, havia que livrar os cachopos dele como da lepra. E no caso de tal não ser possível, o que acontecia em noventa e nove vírgula nove por cento das vezes, deveriam encaminhar-se para doutores ou então aspirar no mínimo a empregos de escritório onde não tivessem que vergar a mola ou sujar as mãos.

Dezenas de carnavais depois já se percebeu o fracasso deste modelo, que só vigora por uma questão de inércia e por fingirmos ainda acreditar nele. Por mais que se culpem os tempos, os morangos com açúcar ou as redes sociais, a perceção corrente é a de que ele tem produzido fornadas de cidadãos eticamente falhos, frustrados, mal educados (e obviamente também mal-educados), cuja mentalidade os queen de freddy mercury retratavam com ironia na canção “I want it all, and I want it now” – eu quero tudo e quero-o já. Ainda assim esta é a versão ligeira, generalista do falhanço. Quem está mais dentro do assunto dá por si a lidar com um número crescente de garotos entregues às vontades com que a natureza os deu, inquietos, sobrexcitados, arrogantes, manipuladores, que aos doze anos têm mentalidade de quatro e para quem o registo normal anda habitualmente à volta de uma sobranceria palerma. De cortar o coração e, para quem olhe para o futuro, ficar deveras apreensivo.

É que isto não implica que ao mesmo tempo a malta não carregue já muitos sonhos de vida fácil, consumo abundante, riqueza, fama, glamour. Como entretanto têm sido criados em ambientes de ficção, o esforço com o qual deveriam dar-lhes forma naquilo que sabem ser o mundo real, a vida em sociedade, a existência em bloco, só podem meter-lhes medo. Daí o desejo inconsciente de permanecerem na infância, pois é mesmo disso que se trata: o grosso da garotada exibe todos os sintomas do pânico de crescer. Aliás não é por acaso que se deixam viciar por esse novo mundo virtual que lhes puseram à frente. Fugir a uma qualquer realidade assustadora não é o papel de todas as alienações?

a não é o papel de todas as alienações?

As vacas e o Reitor

O reitor da Universidade de Coimbra do alto do seu pedestal decretou: a carne de vaca é banida das cantinas da vetusta Universidade. Magister dixit. Só que, ao longo dos séculos a Universidade coimbrã foi governada por muitos Mestres, uns insensatos, outros prudentes, uns sábios, outros apatetados, uns avessos ao folclore populista, outros contaminados pela ânsia de serem falados, mesmo duramente criticados (o que vou fazer) porque seguem o lema: precisamos que falem de nós.

O reitor Sr. Falcão até agora só conhecido na cidade dos seus pares está feliz e contente, colocou as vacas no índex a pretexto de falsos pressupostos, o influente jornal espanhol El País, na sua edição de 9 de Setembro titulava: – Las vacas no tienen la culpa del câmbio climático –, explicando de seguida quais são os culpados e modos de combater a erosão do planeta. Só o ataque ao desperdício alimentar reduz em nove por cento as emissões de gases nocivos para a atmosfera, acrescentemos a indústria, os transportes rodoviários, os aéreos e marítimos, chegamos à conclusão de que as vaquinhas são muito menos culpadas do que os inimigos da carne lhe atribuem. O proto-fascismo alimentar está a surfar a onda do fundamentalismo ambiental e não se augura nada de bom para todos quantos sabem o significado de – tudo o que é demais é moléstia, porque no – meio está a virtude – apesar de todos os falcões deste Mundo.

A atitude proibicionista do prelado (podem usar este título) da Lusa-Atenas é má em geral e perigosa em particular no reino transmontano. Porquê? Porque economicamente as vacas de raça mirandesa, barrosã e martelenga perdem ingente valor, centenas de produtores sofrem pesado prejuízo, o seu gesto pode ser aproveitado por outros adeptos dos coletes amarelos em condições de o imitarem lembrando o tão bem retratado num escrito de Bertold Brecht: primeiro beltrano, a seguir cicrano, ontem fulano, hoje sou eu o sacrificado… – e por aí fora.

Se existisse vontade e firmeza os produtores de leite, queijo, manteiga, natas, iogurtes, gelados, confeitos, pastéis, fármacos, derivados do leite recusarem-se a fornecer a Universidade de Coimbra, era uma forma dos fanáticos mal informados perceberem o alcance dos sinistros interditos existentes no universo da alimentação. Chegam e sobram os de natureza religiosa, estamos no século XXI, o da ciência pacífica ao serviço das populações, especialmente das famintas e não dos investigadores presos a agendas cujos pontos nos são completamente alheios.

Não é altura de lembrar o tremendo significado afectivo do gado vacum nas comunidades nordestinas, é momento de reflectirmos acerca do novo paradigma nutricionista em evolução, de pensarmos no modelo de preservação da nossa herança cultural estabelecendo a fronteira entre a voluptuosa virtude de «chicho» no dia da matança, e a nefasta matança de animais potenciando o excesso gorduroso fautor de todo o género de doenças. A propósito: no fim de cada dia de aulas não sobra comida no Politécnico e outras Escolas?

O ridículo édito de cátedra conimbricence (eu sei que a grafia está errada aos olhos dos zarolhos) presta-se a inúmeras jocosidades na esteira do Anatómico Jocoso, o respeito pela Instituição onde obtive o diploma de Bibliotecário-Arquivista impede-me de o enunciar. Limito-me a lembrar, a vaquinha que conjuntamente com o burro usaram o bafo para aquecerem Jesus, o Menino-Deus deitado nas palhinhas numa gruta em Belém. Séculos mais tarde os dominicanos exclamavam: esta é que é a companhia de Jesus!

A educação e a(s) vida(s)

O que é educar e ser educado? Peço desculpa por colocar a questão desta forma abrupta, mas ocorre-me sempre no início do ano escolar provocado pelo ruído rouco dos colegas e de alguns debates que começam já a surgir sobre reformas que se vislumbram.

Educar não é uma ciência mas sim uma história, uma narração. Crescer, aprender, isso não se avalia forçosamente nem sempre, e não se pode aparentar ou reduzir simplesmente a um lucro, a aquisições. Não. Saber ler, escrever, contar, isso está resolvido. Assim como descobrir, obter, experimentar. Conseguir e não conseguir. Ter sucesso e não ter sucesso, conseguir na vida e conseguir a vida. E isso não se produz nem sempre nem forçosamente ao mesmo ritmo para todos, diria mesmo que isso não tem forçosamente nem sempre a mesma intensidade, o mesmo valor para cada indivíduo. Que tudo isso jamais bastará.  

Seria preciso reconhecer antes de qualquer discurso especializado, sabiamente técnico sobre a educação, o seguinte: crescer é sempre um falhanço. Que há sempre numa vida construída uma renúncia necessária e fecunda. Quero dizer que foi necessário, como sempre, como para cada um de nós e a sua pequena trajetória tremente, tão emocionante quanto indecisa, na existência, que bastaria um nadinha para que não fosse aquilo em que me tornei. Poderia ter sido outra pessoa, melhor ou pior. Não sei se outras vidas me esperavam mas cresci com o pensamento, que ao mesmo tempo me desfazia por dentro, que me fazia acelerar o coração, que outras vidas eram possíveis, e que na maior parte, estas outras vidas, não poderia vivê-las.

Crescer, alguma coisa se perdia, se destruía incessantemente e nunca consegui segurá-la. Ora talvez isso tenha também feito parte da minha educação; aprender e aceitar que uma parte da minha vida pudesse fugir-me, que não pudesse ser explorada. Educar, é abrir o outro à experiência da vida onde nós nem sempre temos a possibilidade de viver como desejaríamos, segundo os nossos apetites, os nossos sonhos, as nossas frustrações. E que tudo isso, apetites, sonhos e frustrações, sirva para construir o somatório nunca certo e justo, nunca completo, duma existência honesta. A honestidade, deveríamos sabê-lo, nunca é uma conta redonda. Não surge fazendo unicamente preencher aos outros todas as linhas da grelha. Cada um de nós pode pretender ter mil e uma vidas, mas todos devemos fazer a aprendizagem da fragilidade de cada vida vivida, assim como da insignificância duma vida entre outras vidas.

Lembro-me da réplica dum autor (Flaubert? As citações sempre foram cigarras para mim!) que dizia qualquer coisa como: “Nós as pessoas insignificantes, com as nossas palavras, os nossos atos, preparamos a vida de muitos heróis,” Nós não seremos forçosamente heróis mas isso não significa que não participemos no heroísmo da existência. O caminho dos nossos sucessos é muitas vezes mal combinado com a mediocridade das oportunidades, mas convém então pensar que a educação não é somente um acumular de cultura, de saberes, mas sim e profundamente uma transformação da existência, dando tanto o desejo duma vida vivida como a consciência de não poder viver todas as vidas, todas as experiências.

Ensinar a crescer, no meio dos outros, e todos os outros, é tolerar com paciência, e se possível com amor, que o nosso sentimento de exceção, os nossos desejos mais fortes, sejam também confrontados com a nossa insignificância. Educar, é assim permitir a cada indivíduo de se aproximar da satisfação dos seus desejos e das suas expetativas sem por isso se transformar em alguém intolerável para os demais, como para si mesmo.     

Talvez assim se pudessem evitar, por exemplo, alguns dos comportamentos que invadem tantas vezes a imprensa, e que revelam o quanto certos jovens carecem precisamente dessa educação, a saber que uma vida bonita e inquieta, é uma vida feita de tudo o que vivemos e de tudo o que não vivemos, das experiências vividas assim como de todas as que nunca tivemos. E de facto, o que obtiveram eles, e que desejavam tão violentamente? Uma insatisfação sempre recomeçada, uma vida nunca é vivida verdadeiramente porque viver nunca é querer viver tudo, permitir-se fazer tudo, ou então tem que se fazer da satisfação um ídolo. Em quê que se tornaria então o sonho, a fantasia, a esperança, as nossas vidas desconhecidas que tornam a nossa vida tão misteriosa e tão desejável? Há uma forma de valentia viver no meio de todas estas vidas vividas e não vividas, possíveis e impossíveis, sonhadas, evitadas, desviadas, e não possuir nenhuma delas. Estou a exagerar? Talvez, sim. Mas proponho dois pequenos paradoxos. É possível que nos dirijamos mais seguramente em direção a um mundo que se harmonize com os nossos desejos sem por isso viver a realização de todos eles. E as nossas vidas só serão plenamente vividas não tendo vivido tudo. Oh meus amigos, como a vida é bela!