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Novo coronavírus: recomendações e medidas de prevenção

Os viajantes regressados de áreas com transmissão comunitária ativa do novo coronavírus, como o Norte de Itália, China, Coreia do Sul, Singapura, Japão ou Irão, que apresentarem sintomas sugestivos de doença respiratória, não devem deslocar-se a um serviço de saúde, devendo contactar o SNS 24, através do número 808 24 24 24, e seguir as orientações que lhe forem transmitidas através da linha de atendimento do Serviço Nacional de Saúde.

 

O que é um coronavírus?

“Tendes pópóri de vir aqui!”

Ter, 03/03/2020 - 10:40


Olá, como estão os leitores da Página do Tio João?

Já estamos no terceiro mês do ano 2020. Os dias são iguais às noites, por isso é que o povo diz que “em Março, tanto durmo como faço”. As nossas gentes já andam a tirar a ferrugem às canetas nos escritórios da terra. A tia Neves, de Nuzedo de Baixo (Vinhais), disse-nos que já tem “batatas a nascer e algumas fora da terra”, outros andam a revirar as terras para as preparar para as sementeiras. Alguns já podaram as vinhas em Fevereiro, pois como diz o adágio “quem poda em Março, vindima no regaço”. O tio Domingos Ferreira, de Genísio (Miranda do Douro), já anda a cavar os alhos e as favas e disse-nos que “a flor da fava é o melhor chá para fazer baixar a diabetes”.

O Alfa Romeo e os caretos de Podence

Desde a sua fundação, em Portello, nos arredores de Milão a Alfa (mais tarde Alfa Romeo quando adquirida por Nicola Romeo) produziu carros de raça desportiva fomentadora da paixão automobilística nos adeptos das quatro rodas. Quem não se lembra da pontinha de inveja que o possuidor de um mítico exemplar Alfa Romeo Giulietta causava nos seus pares, nos idos anos 70 do século passado. A marca do quadrifoglio teve durante largos anos, um nicho de mercado muito próprio, fiel e apaixonado. O Cuore latino tinha a magia de entusiasmar e despertar o espírito desportivo com a sua raça. Há alguns anos, a direção da marca entendeu que a forma de crescer e aumentar o seu prestígio passava pelo alargamento do público alvo e resolveu apostar fortemente nos utilitários de forma a chegar a um público mais vasto e indiferenciado. O resultado é conhecido: perdeu o elã de largas décadas e não teve grande êxito no mercado generalista estando em risco de ser, brevemente, ultrapassada pelo fabricante espanhol SEAT.

Num mundo cada vez mais globalizado, em que tudo está acessível, a todos, em todo o lado, não ter algo distintivo, é uma desvantagem considerável. Num mundo generalista onde a padronização invadiu o dia a dia e todos os mercados, onde a robotização produz artefactos absoluta e perfeitamente iguais, aos milhares, as maiores mais-valias estão na diferença, na genuinidade, na individualização. Mesmo que pequena, mesmo que tivesse sido negligenciada, até há bem pouco. Foi o que aconteceu com os caretos do nordeste, especialmente com Podence que persistiu em representar insistentemente a sua tradicional festa do Entrudo, resistindo às modas que outros importaram do outro lado do Atlântico. A aposta foi certeira e acertada como a sua elevação ao Património Imaterial da Humanidade veio demonstrar e que originou a recente deslocação a esta aldeia de Macedo de Cavaleiros do mais alto magistrado da Nação.

Destino totalmente diverso, tiveram as mais variadas tentativas de promover, pelas nossas terras, outros carnavais incluindo aqueles que despejaram sacos de dinheiro (público, com certeza) no “engrandecimento e modernização” dos corsos com ritmos de samba e cores tropicais. Outra foi, em boa hora, a opção das gentes nordestinas. Seria bom que a lição fosse compreendida e implementada, noutras manifestações culturais. Em vez de imitarem os demais e de quererem destacar Podence no “panorama dos carnavais nacionais”, seja isso o que for, mantiveram-se fiéis à tradição, insistiram na manifestação popular de velhos hábitos e, sobretudo, interpretaram adequadamente o sentimento secular, dedicaram-se ao que efetivamente sensibiliza e se adequa à tradição e forma de sentir da gente da aldeia e, também, das suas redondezas.

Por muito diferente que pense quem, temporariamente, preside aos destinos locais e pode, por legitimação eleitoral, dispor de recursos consideráveis, dando-lhe uma errada sensação de grande poder sem significativas limitações, a tradição não se fabrica por decreto, os costumes não se importam e a relevância não se compra!

 

O Serviço Nacional da Morte

A Assembleia da República, traindo o múnus eminentemente político, acaba de impor à Nação a crença ateísta de que não existe vida além da morte, donde resulta que viver só tem sentido quando se vive com prazer e que, porque Deus não existe, nada impede ninguém de matar.

Esquecem-se os doutos deputados que um coisa é um Estado laico outra uma Nação sem alma. Só assim se compreende que tenham decretado que a eutanásia é, por si só, moral e lícita em situações de doença terminal e considerado a sua inexorável generalização coisa de somenos.

Eutanásia que está naturalmente associada a sentimentos de piedade e compaixão.

Não foram estes nobres propósitos, porém, que moveram os partidos e os deputados que votaram favoravelmente a sua despenalização porque, se assim fosse, teriam dado prioridade absoluta à dotação do Serviço Nacional de Saúde com os meios necessários para neutralizar o sofrimento intrínseco às enfermidades, garantindo a todos os enfermos o melhor apoio e conforto possíveis.

Bem pelo contrário, os partidos e os deputados que votaram favoravelmente a despenalização da eutanásia optaram por uma solução radical e sinistra: a institucionalização de um novo Serviço Nacional da Morte, dentro do Serviço Nacional de Saúde já de si mortificante, absolvendo, a priori, os profissionais que se prontificarem a servir de carrascos e transferindo toda a culpa para os supliciados.

Serviço Nacional da Morte que, para começar, se ocupará apenas de pacientes que declararem querer morrer mas que, a prazo, se estenderá a todos cuja morte a terceiros convier. De boas intenções está o inferno cheio.

É verdade que compete aos governos, partidos e deputados estabelecer as normas políticas, económicas e jurídicas que melhor sirvam à Nação.

Não é menos verdade, porém, que em questões de ética e dignidade os portugueses votam em função dos seus valores e sentimentos mais íntimos e não de acordo com programas políticos partidários que são, regra geral, omissos nestas matérias.

Lamentavelmente, porém, os partidos e os deputados que votaram favoravelmente a despenalização da eutanásia desprezaram a dignidade e a consciência íntima dos portugueses, para, abusivamente, lhes imporem preceitos contranatura.

Só assim se compreende que tais partidos políticos e deputados, porque não lhes convinha, tenham liminarmente posto de lado qualquer hipótese de consulta popular, ainda que os dois maiores partidos cinicamente tenham dado liberdade de voto, controlada, aos seus deputados.

Todavia, não devem os deputados ser desagregados dos partidos porque, por norma, não têm voto na matéria e se limitam a levantar o braço em obediência, sabe-se lá a que obscuros interesses. Partidos e deputados que não me-

receram a confiança de mais de metade dos eleitores.

São 230 os deputados, mas se fossem apenas meia dúzia o resultado seria o mesmo. O número é mero arranjo floral.

Patente ficou mais esta monumental falsidade democrática em que a maioria dos deputados, na generalidade paus mandados dos partidos, se comportaram como abafadores de pacientes terminais e da democracia.

Mais coerentes seriam se assumissem plenamente o ónus do crime, decretando que a eutanásia passaria a ser sancionada caso a caso, por votação na Assembleia da República.

Quer os pacientes a requeressem ou não.

 

Aqui o vírus deu positivo

Caros amigos, tenho de vos dizer em primeira mão que deu positivo. Quem tem acompanhado as palavras que aqui vou debitando sabe que tal como quase toda a China estou de quarentena. Desde 22 de Janeiro, precisamente. Eram para ser 15 dias mas já lá vão seis semanas. Mês e meio sem sair de casa a não ser para ir buscar compras à porta do condomínio. Entre a vizinhança há quem o faça apenas de máscara (obrigatória), e quem vá equipado de fato, luvas e óculos de proteção. Os elevadores têm caixas de lenços de papel, película a cobrir os botões e um constante cheiro a lixívia que faz uma pessoa agradecer por estar de máscara. As encomendas e entregas ficam lá fora, a entrada do bairro vedada a não-moradores, mas as portas dos prédios encontram-se todas abertas de par em par para ninguém ter de tocar num puxador que seja. Os funcionários registaram as pessoas, há uma espécie de “cartão da quarentena” que inclui há quanto tempo uma pessoa está em casa e os sítios por onde andou antes disso. Volta e meia vêm bater à porta para medir a temperatura. Ou vai ou racha. As coisas estão timidamente a voltar à normalidade. As pessoas começam a perder o receio e até já começam a partilhar o mesmo elevador em vez de ficarem à espera do próximo para irem sozinhas. Os restaurantes estão a reabrir, mas ouvi dizer que cheios de regras, máscaras, distância de segurança entre mesas, parece que até estão a pedir o tal “cartão de quarentena” que eu referi. A malta dos pequenos negócios está com a corda ao pescoço, tem de voltar ao activo sim ou sim. Na sociedade chinesa há aspectos que nestas alturas são particularmente úteis, como a disciplina e a perseverança ou até a tecnologia que permite não ser necessária mais do que uma aplicação tipo whatsapp para pagar e receber em casa o que quer que seja. No entanto, apesar da prisão domiciliária, do cataclismo de informação e deste modo Transtorno Obsessivo Compulsivo de levar o quotidiano, deu positivo. Há muita coisa que ainda não se conhece e o que se vai sabendo varia entre o oito e o oitenta. Aí em Portugal acabou de chegar, demorou mas não foi por falta de força de vontade vossa. Vocês bem o evocaram, temeram-no, mas reversamente ansiavam a sua chegada como quem pedia de uma vez por todas “ponha, ponha, ponha”. Deve ter sido o único país que colecionou avidamente a suspeição de não-casos, mas que agora já pode temer genuinamente e não mais sentir-se excluído de participar nesta trama mundial. A Directora Geral da Saúde fala do tema olhos nos olhos com a maior clareza e transparência, sem ponta de alarmismo ou agitação, mas ninguém se dá por convencido, muito menos satisfeito. Escava-se a catástrofe conspirativa e o encoberto apocalipse. A comunicação social só quer saber quando chegará o juízo do tal “um milhão” e com ele a “semana do pico” final. O nosso negativismo, a nossa capacidade e imaginação para sofrer por antecipação é patológica. Portugalógica. Não há mindfulness nem terapeuta que nos possa salvar. Provavelmente não será nada de especial, mas sofremos, atormentamo-nos, antevemos o maior dos calvários prestes a abater-se implacável sobre a humanidade. Os asiáticos serenos na sua forma contida de aceitarem o que a vida lhes traz, os italianos na rua, beijoqueiros como sempre e os portugueses a desesperar, martelando forte as tábuas dos seus caixões sem tirar os olhos aflitos dos ecrãs. No início eram os chineses e a cerveja mexicana. Os sorrisos amareleceram de medo. Agora é o pânico, o princípio do fim, os americanos e os chineses, isto está lá tudo nas sagradas escrituras, ou nos clássicos de ficção científica. Visto daqui parecem os olhos de uma criança em dia de levar a pica. Fiquem descansados, não sofram, vão ver que é só um beliscão. Depois disto o papá compra um gelado.

A sério, todo esse excesso de informassões e emoções só atrapalha, sobretudo quando se está no olho do furacão. O que há a fazer é cerrar fileiras e preparar para o que der e vier. Ainda que por aí, volvido tanto tempo, não creio que venha nada de mais. No fundo é muito simples, meus caros. Por experiência própria vos digo que tudo o que devem fazer são apenas três coisas: confiar no trabalho das autoridades; seguir à risca as normas de prevenção recomendadas; e levar a vida normal e tranquilamente evitando ao máximo estar a bater na tecla do vírus. Certo, eu também sou português e sei que confiar em autoridades e seguir normas à risca pode ser pedir demasiado e que o bombardeamento sobre o tema é ininterrupto e surge de todas as frentes. Mas vocês conseguem, acreditem. É simples e é daquelas coisas que um a um e multiplicadas por muitos acabam por resultar numa vitória para todos. Espera, ganda frase que saiu daqui. Até vos dou uns segundos para a voltarem a ler. Caros amigos do nordeste, parece que acabámos de descobrir o vosso coronavírus coach. Só precisam de ter calma, estou cá para vos motivar. Eu também já tive medo e pânico e bebia em excesso todas as notícias que havia para beber sobre o assunto. Dei por mim no fundo a emborcar às escondidas shots de notícias do Correio da Manhã. Mas após seis semanas de clausura sou um homem com muito mais falta de vitamina D, muito mais forte a nível de confeção de bolos e também muito mais confiante em termos de praticar running no corredor. O deu positivo era mesmo sobre isto. Calma, minha mãe. Queria ter-vos falado destas seis semanas inesquecíveis que apesar de duras, num bairro sitiado que embora do tamanho para aí de uma vila portuguesa – e com mais gente que muitas cidades – chegou a ter 12 casos (oficiais), num tempo em que ainda pouco ou nada se sabia. Foi puxado, mas está a ser positivo como história de resiliência, como história desta pequena família, das coisas que marcam uma vida e que e nos dão uma grande força para a caminhada. Era disso que vos queria falar hoje, mas fica para a próxima porque o vírus apareceu aí a meio da escrita e o texto tomou outro caminho. É boa altura para puxar por nós e remarmos na mesma direção. É a parte boa desta história, conhecermos todas as forças que temos, percebermos que unidos podemos vencer tudo. Usa-se muito “sair da zona de conforto” por tudo e por nada. Mas acreditem que é bem possível sair da zona de conforto sem sequer sair de casa. Tem de dar positivo, minha gente, não há outra hipótese. Força, Portugal.

* Leitor de Português na Universidade de Sun Yat-sen

Cantão Guangdong – China

 

Falando de... Pedro Ivo

Que poder a toponímia tem sobre a mente de todos nós!!! Da raridade das placas toponímicas nos lugares menos populosos, privilégio para vilas e cidades, hoje, pode dizer-se que não há lugarejo que não tenha uma placa a indicar o nome de uma rua, de um lugar ou de uma praça. Eternizam figuras ilustres e acontecimentos locais ou nacionais

Orientamo-nos pelas placas para chegarmos ao que buscamos. Mas se as placas nos orientam no espaço, levam um pouco longe a nossa curiosidade. Quem é aquele ou aquela, acontecimento ou facto que se quis lembrar?

E o curioso que não se fica pelo nome, quer saber mais. E, é certo, que sempre se encontra.

Saber quem é Pedro Ivo, postado em Rua da Amadora ou do Porto, suscita em nós o desejo de saber. O homem, de seu natural, curioso, procura para encontrar e leva ao sucesso, a sua pesquisa. Nomes esquecidos, caídos na arqueologia do olvido, volvem até nós através do conhecimento do espaço. Nomes ostracizados, esquecidos, que, provavelmente, terão sido importantes no seu tempo, mereceram da parte da edilidade local, o tributo que ultrapassou o tempo e o local e se tornaram figuras importantes, a merecerem honras de cidadania, numa imortalidade peculiar que chega aos nossos dias, merecedora de um olhar, que, por vezes, espanta e provoca interesse Pedro Ivo. Quem foi? Porquê aqui? Que fez? Um naipe de perguntas que só os livros mais antigos actualizam. Foi escritor. Nasceu a 15 de Janeiro de 1842, tal como Antero de Quental. A cidade do Porto ouviu os primeiros vagidos. De Ponta Delgada acenou Antero que um dia, a 11 de Setembro de 1891, poria ponto final ao seu ciclo de vida. De seu nome, Carlos Lopes, filho de Carlos Lopes, vereador na Câmara Municipal do Porto, do pelouro dos Expostos, de 1858 a 1862, grande bibliófilo e autodidacta, homem de grande prestígio na cidade do Porto.

Repartiu a sua vida pelo Brasil e pela Alemanha. Tendo manifestado interesse em formar-se em Direito, devido à oposição do pai que se matriculasse na Universidade de Coimbra, partiu para o Brasil em 1861, tendo trabalhado na firma Rocha Lopes & Leite. Doente asmático regressa a Portugal.

Posteriormente, desloca-se para a Alemanha, onde se dedica à actividade comercial e prática da língua alemã. Em Hamburgo, cidade onde viveu, fala fluentemente alemão, o que lhe servirá para a actividade comercial que irá desenvolver no Porto, onde ocupará lugares de relevo na vida empresarial, entre os quais destacamos: guarda-livros, secretário do clube de Agramonte, presidente da Associação Comercial do Porto, Director fundador do Banco Aliança, Vogal da Comissão Reguladora dos Vinhos do Alto Douro, Director da Equidade, Presidente da Assembleia Geral da Associação Comercial de Beneficência, Conselheiro da Misericórdia, Director da Nova Companhia de Utilidade Pública, Real Companhia dos Caminhos de Ferro de África.

A par da actividade profissional, tem colaboração literária no Comércio do Porto, onde publica contos e poemas que sairão posteriormente em livros. O seu primeiro texto, um conto, será publicado em 27 de Abril de 1873, no Comércio do Porto, com o título O Milagre. Toda a produção de Pedro Ivo encontra-se, hoje, esgotada, aparecendo, raramente, em alfarrabistas. Dos seu livros publicados, citamos Os Contos, em 1874, de que destacamos A Quina de Espadas, saído autonomamente, na Pequena Antologia de Obras Primas – Mosaico, sem data, cuja acção decorre em Trás-os-Montes.

No mesmo ano sai o romance Selo de Roda, com cerca de seis edições, representado no teatro Baquet, após Os Fidalgos da Casa Mourisca, com grande sucesso, na sequência da escola do romance português iniciado por Júlio Dinis. Um título que por pouco não serviu de tema para o cinema, a merecer os maiores elogios na época, nas páginas de O Comércio do Porto de 30 de Abril de 1878, pela mão de Júlio Lourenço Pinto. Em conferência proferida em 27 de Abril de 1942, por Joaquim Costa, realizada nos Estudos Portugueses, na cidade do Porto, na época terá provocado choro convulso a leitores, bem como a mais intensa e humana emotividade.

Às páginas escritas por Pedro Ivo, não foram indiferentes as grandes figuras da época, que o classificaram na linha de Júlio Dinis e de Rodrigo Paganini, célebre pelos Contos do Tio Joaquim.

Quando, em 1874, foram publicados Os Contos, Camilo Castelo Branco, saudou-o calorosamente, escrevendo:

Formoso livro! Dir-se-ia que Júlio Dinis, viajor eterno das regiões luminosas, deixou na inteligência e no coração dos que mais perto o conheceram e amaram, as serenas imagens das suas visões, as maviosas figuras dos seus quadros, a sua indulgência e conformidade com que ele florejava de nenúfares os pântanos da vida.

Escrevendo ao ritmo da época, é natural que Pinheiro Chagas, célebre pela sua intervenção na Questão Coimbrã, a par de António Feliciano do Castilho, sublinha:

pequenas obras primas adoráveis miniaturas;

É realmente um romancista encantador, uma individualidade vigorosa e portuguesa de lei esse escritor que se oculta debaixo de um modesto pseudónimo.

Pedro Ivo que buscou o seu pseudónimo num capitão brasileiro que chefiou a revolução republicana de Pernambuco, de 1848-1849, acabando por morrer no mar, recebeu os maiores encómios dos homens de letras do seu tempo, como Fialho de Almeida, Oliveira Martins e Rodrigues de Freitas. Alexandre Herculano, conhecido pela sua verticalidade, exigência, rigor e imparcialidade, escreve em relação a Pedro Ivo:

Os seus contos, no meio de tanta coisa que por aí se escreve, fizeram-me singular impressão. Nessas narrativas singelas de coisas simples, das peripécias vulgares da vida humilde, das existências obscuras, surge, como o sol por entre nuvens sombrias, um grande escritor.

E do grande escritor ficaram os livros que escreveu e algumas homenagens que o recordam com grande aprazimento. Do filho, Fernando de Macedo Lopes, fica-nos a recordação de um homem de talentos e de um pai que não quis esquecer. O Limbo de Pedro Ivo, saído em 1926, recorda-o para comemorar e celebrar, além das palavras toponímicas que não apontam somente lugares, mas lembram os que nesta terra que é a nossa, foram famosos e merecem ser revistos e lidos.

Faleceu no dia 4 de Outubro de 1906, no n.º 41 da Avenida de Carreiros, na Foz do Douro, onde então passava férias. Asmático. Pneumonia. Um dia doente. À noite adormeceu… e morreu.

 

Não foi adoptado o acordo ortográfico.