Desde a sua fundação, em Portello, nos arredores de Milão a Alfa (mais tarde Alfa Romeo quando adquirida por Nicola Romeo) produziu carros de raça desportiva fomentadora da paixão automobilística nos adeptos das quatro rodas. Quem não se lembra da pontinha de inveja que o possuidor de um mítico exemplar Alfa Romeo Giulietta causava nos seus pares, nos idos anos 70 do século passado. A marca do quadrifoglio teve durante largos anos, um nicho de mercado muito próprio, fiel e apaixonado. O Cuore latino tinha a magia de entusiasmar e despertar o espírito desportivo com a sua raça. Há alguns anos, a direção da marca entendeu que a forma de crescer e aumentar o seu prestígio passava pelo alargamento do público alvo e resolveu apostar fortemente nos utilitários de forma a chegar a um público mais vasto e indiferenciado. O resultado é conhecido: perdeu o elã de largas décadas e não teve grande êxito no mercado generalista estando em risco de ser, brevemente, ultrapassada pelo fabricante espanhol SEAT.
Num mundo cada vez mais globalizado, em que tudo está acessível, a todos, em todo o lado, não ter algo distintivo, é uma desvantagem considerável. Num mundo generalista onde a padronização invadiu o dia a dia e todos os mercados, onde a robotização produz artefactos absoluta e perfeitamente iguais, aos milhares, as maiores mais-valias estão na diferença, na genuinidade, na individualização. Mesmo que pequena, mesmo que tivesse sido negligenciada, até há bem pouco. Foi o que aconteceu com os caretos do nordeste, especialmente com Podence que persistiu em representar insistentemente a sua tradicional festa do Entrudo, resistindo às modas que outros importaram do outro lado do Atlântico. A aposta foi certeira e acertada como a sua elevação ao Património Imaterial da Humanidade veio demonstrar e que originou a recente deslocação a esta aldeia de Macedo de Cavaleiros do mais alto magistrado da Nação.
Destino totalmente diverso, tiveram as mais variadas tentativas de promover, pelas nossas terras, outros carnavais incluindo aqueles que despejaram sacos de dinheiro (público, com certeza) no “engrandecimento e modernização” dos corsos com ritmos de samba e cores tropicais. Outra foi, em boa hora, a opção das gentes nordestinas. Seria bom que a lição fosse compreendida e implementada, noutras manifestações culturais. Em vez de imitarem os demais e de quererem destacar Podence no “panorama dos carnavais nacionais”, seja isso o que for, mantiveram-se fiéis à tradição, insistiram na manifestação popular de velhos hábitos e, sobretudo, interpretaram adequadamente o sentimento secular, dedicaram-se ao que efetivamente sensibiliza e se adequa à tradição e forma de sentir da gente da aldeia e, também, das suas redondezas.
Por muito diferente que pense quem, temporariamente, preside aos destinos locais e pode, por legitimação eleitoral, dispor de recursos consideráveis, dando-lhe uma errada sensação de grande poder sem significativas limitações, a tradição não se fabrica por decreto, os costumes não se importam e a relevância não se compra!