PUB.

“Às vezes para conseguir a paz é preciso fazer a guerra”

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 29/11/2016 - 11:00


O Jornal Nordeste conversou com Tomé Pinto a propósito da homenagem, da sua carreira militar, da guerra colonial e da ausência de comemorações dos 41 anos do 25 de Novembro.O General Tomé Pinto foi homenageado em Moncorvo, onde apresentou um livro sobre a sua carreira militar, mas também sobre as suas raízes, na aldeia de Maçores.
A cerimónia contou com a presença de Ramalho Eanes, que prefaciou a obra.
O Jornal Nordeste conversou com Tomé Pinto a propósito da homenagem, da sua carreira militar, da guerra colonial e da ausência de comemorações dos 41 anos do 25 de Novembro.

 

Corrida Solidária para a eliminação da violência doméstica

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 29/11/2016 - 10:46


O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica do Distrito da Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança (ASMAB) organizou, no sábado, a corrida e caminhada “Família Solidária” para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

Contrato de exploração das minas de Moncorvo deve ser assinado esta quarta-feira

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 29/11/2016 - 10:42


O passo que faltava para arrancar com a exploração mineira em Torre de Moncorvo, depois de um interregno de 30 anos, poderá ser dado esta semana, “se se concretizar a intenção do Secretário de Estado da Energia de assinar o contrato com a MTI- Ferro de Moncorvo, S.A”, referiu a mesma fonte.

A Feira de Bragança ao longo dos tempos (1) Da Idade Média ao século XIX

A localização da feira no espaço urbano da cidade foi evoluindo ao longo de séculos, acompanhando o crescimento do aglomerado. Os locais de realização foram decididos por razões de segurança, de salubridade, de centralidade das novas praças face ao desenvolvimento urbano. A feira tinha um papel essencial no abastecimento público e nas relações económicas da região. A localização fronteiriça de Bragança representava em termos geopolíticos um ponto sensível, na defesa da fronteira e da integridade do território, em tempo de paz por ela se fazia o comércio transfronteiriço, se promoviam as relações sociais e culturais entre povos raianos.
O peso político, militar e económico das terras de Bragança, inicialmente através da família dos Bragançãos e posteriormente pela Casa de Bragança, oficialmente designada de Sereníssima Casa de Bragança, família nobre com elevada influência na Europa e no mundo, hão-de ter tido relevância na concessão de privilégios que lhe foram atribuídos, de feira franca, na redução de impostos, na comercialização de bens, na atribuição de condições especiais de despacho e verificação de mercadoria na Alfândega, com o objetivo de fortalecer o comércio com regiões vizinhas contíguas como Castela e Galiza, também com Aragão e Navarra. Durante séculos vendedores dessas regiões terão percorrido os caminhos que conduziam à feira de Bragança.
De seguida faz-se uma breve descrição da evolução da feira e do mercado ao longo dos tempos, autorizações, locais de realização à medida que a cidade cresceu, até chegar à atualidade, já com uma realidade muito distinta, fruto de uma mudança radical, com o essencial da distribuição a ser feita a partir de médias e grandes superfícies comerciais, situação tratada na publicação “ Contrastes e Transformações na Cidade de Bragança, 1974 – 2004”. São várias as referências relativas à feira de Bragança, na obra do Abade de Baçal, de publicação de Virgínia Rau, de Alexandre Rodrigues e de outros autores. Delas se retira  informação relevante, também do Arquivo Municipal.
A 5 de março de 1272, D. Afonso III concedeu carta de feira anual a Bragança, que deveria começar a 16 de julho e durar 15 dias. A vila foi crescendo fora de muralhas, arrastando atividades económicas, ficando casas abandonadas intramuros. Para contrariar essa tendência, D. Pedro I, no ano de 1364, concedeu privilégio a quem quisesse viver na vila intramuros.
No ano de 1383, por carta de 16 de outubro, D. Fernando, concedeu feira franca anual de um mês, feira que deveria ocorrer fora de muros. As guerras com Castela não terão permitido grande desenvolvimento da feira e por isso, a 2 de julho de 1392, D. João I atribuiu nova carta de feira franca anual que deveria durar um mês, a realizar quinze dias antes da festa de Santiago, a 24 de julho, e se prolongaria até quinze dias depois, período em que não prejudicaria as feiras que se faziam ao arredor da comarca.
Em tempo de paz a feira fazia-se dentro de muralhas, já em período de hostilidades militares, o alcaide e as autoridades civis transferiam a feira para o arrabalde, onde se tinham fixado moradores, arrastando o crescimento urbano e a fixação de atividades económicas, o que terá levado alguns moradores a abandonar as suas casas na vila, deixando-as ruir, para morar perto do local onde novas atividades económicas floresciam.
Contra esta situação pretendeu agir o Câmara que solicitou autorização ao Juiz e ao Alcaide, para que deixasse fazer de novo a feira na vila. A competência era do rei, por isso, a Câmara requereu a D. João I autorização para que a feira que se realizava no arrabalde, proibida dentro de muros pelo alcaide, passasse a realizar-se dentro da vila, como sempre se fazia em tempo de paz. A paz tinha sido assinada com Castela no ano de 1411. O Rei D. João I, Mestre de Avis, por despacho de 12 de dezembro de 1413 autorizou que a feira se fizesse “muros adentro segundo o costume antigo”, despacho que foi mais tarde confirmado pelos reis D. João II e D. Manuel I, nos anos de 1486 e 1496.
No ano de 1439, parecendo ao Concelho ser útil poder retomar a autorização de feira franca concedida por D. João I, no ano de 1392, solicitou a D. Afonso V que autorizasse Bragança a usar autorização que lhe tinha sido concedida por D. João I. Esta nova feira, concedida no ano de 1439, não deve ter beneficiado muito a vila, porque a 15 de julho de 1455, D Afonso V, a pedido de D. Fernando II, Duque de Bragança, que pretendia dar um novo impulso à vila, que estava despovoada e danificada, o que não permitia que fosse bem guardada, autorizou que se fizesse uma feira franca anual, de dezasseis dias, de 25 de janeiro a 9 de fevereiro, concedendo-lhe a regalia de cobrança de metade da sisa e de outros privilégios. Segundo Virgínia Rau, este diploma, cujo original estava arquivado no Museu Municipal, terá evoluído muito ao nível das medidas de carácter fiscal e comercial, o que constituiria um regime fiscal quase completo, muito avançado face à legislação que em séculos anteriores se fazia sobre estes assuntos.
No ano de 1514, o alcaide levou a Câmara a acordar que as mercadorias só pudessem ser vendidas na praça dentro da vila. Os moradores do arrabalde protestaram, alegavam que dentro de muros já havia dois dias de mercado por semana e que no arrabalde, na praça de S. João, sempre houve mercado desde a fundação da cidade, Carta de Foro de cidade dada por D. Afonso V, no ano de 1464. 
O Duque, D. Jaime, por sentença de 4 de outubro de 1514, resolveu o conflito de interesses, concordando com a Câmara para que as mercadorias grossas – pão, palha, azeite, sardinha e pescado – fossem vendidas na praça da vila e que ficasse livre a venda das mercadorias miúdas.
No ano de 1530, a cidade de Bragança contava com 2000 habitantes. No ano de 1539, iniciou-se a construção do Convento de Santa Clara, junto às Eiras do Arcebispo, atual Praça Camões, local na altura na periferia da cidade, Convento que no ano de 1562 foi entregue à Companhia de Jesus, altura em que na vizinhança já se construíam outras construções, pela polaridade que este empreendimento representava. Assim, a Praça de S. Vicente foi ganhando lugar central em termos urbanos, na ligação entre o castelo e o núcleo habitacional emergente, retirando importância à Praça de São João como centro cívico e local de realização de feiras. A Casa da Alfandega, que na primeira metade do século XVIII se localizava nas imediações da Praça de São João, no ano de 1871 passou para a Praça de S. Vicente.
Já no princípio do séc. XVII, a feira do gado realizava-se na Praça da Sé e nas Eiras do Arcebispo. No ano de 1618, a Câmara decidiu proibir a venda de bois na praça do Colégio e nas Eiras do Arcebispo, impondo a venda em zona não urbanizada, por cima do Mosteiro das Freiras de Santa Clara, num amplo campo que veio a designar-se de Santo António, após a construção da capela com esse nome, no ano de 1708. Significa que, meio século após a instalação dos Jesuitas, a área envolvente do Colégio tinha evoluído como espaço urbanizado.
Postura municipal de 1619, referindo-se à venda de peixe, obrigava à sua venda na Praça do Colégio, na de S. Vicente e nos dias de feira na Praça da vila. Já no ano de 1685, parte do terreiro público da Praça de São João tinha sido entregue ao Convento de São Bento, o que evidencia a perda de relevância deste espaço como terrado de feira.
Por resolução de 31 de agosto de 1728, D. João V concedeu, a pedido da Câmara, que além da feira mensal, fosse autorizado que às terças-feiras se realizasse feira dos mesmos géneros, uma vez que a população tinha aumentado, havia quatro conventos, dois hospitais, além da guarnição militar com cerca de mil homens. Nesta época, no ano de 1732, a cidade tinha 869 fogos e 2077 pessoas.
Um século depois, no ano de 1829, a Câmara terá decidido transferir a feira que se realizava dia 21 de cada mês na Praça da Sé, onde já não se comercializava gado, para a Praça das Eiras, e posteriormente para o Toural, local para onde dois séculos antes tinha sido mudada a feira do gado.

Falando de…. Portugal na Semana de Arte Moderna em São Paulo, Brasil, em 1922

Nunca se sabe tudo de coisa nenhuma. Falar de Fernando Pessoa é sempre tentar ir mais adiante buscando algo que ainda não foi dito ou escrito e que não chegou ao nosso conhecimento. Se foi ao Brasil e participou na Semana Cultural do Modernismo em São Paulo em 1922, era matéria que não nos tinha interessado, ou porque a limitação do nosso saber não atingisse esses horizontes ou porque nenhuma leitura pessoana o tenha abordado. E ler Pessoa ou sobre Pessoa é entrar num mundo fascinante onde não faltam surpresas, numa transversalidade que alarga os horizontes sobre um escritor que em vida pouco divulgou e nos deixou ignorantes de cerca de vinte e oito mil documentos.
Sabendo que Fernando Pessoa era avesso a viagens, para além das que havia feito para a África do Sul, não era provável a sua ida ao Brasil em 1922 para estar presente na celebração do Modernismo na cidade de São Paulo. A comemoração do centenário da independência do Brasil e a realização da primeira travessia aérea protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral eram factos a ter em conta na vida dos dois países.
Em Portugal vivia-se o apogeu do Modernismo. Em 1915 são publicados os dois primeiros exemplares do Orpheu, revista trimestral de Literatura. São directores, para Portugal, Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho para o Brasil, no primeiro número. Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro para o segundo número. Para editor é escolhido António Ferro, que à data tinha dezanove anos e que tinha sido colega de Mário de Sá-Carneiro no Liceu Camões.
De notar que entre os colaboradores estão dois poetas brasileiros: Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães, sendo a revista destinada a Portugal e ao Brasil.
Em artigo publicado na Seara Nova em Novembro de 1959, sem nome do autor, o articulista dá conta que tanto Portugal como o Brasil desconhecem o que se passa nos territórios de um e de outro, no âmbito cultural. Reconhecendo que “Coimbra fora, ao longo do século XIX, a fonte em que culturalmente se dessedentava o Brasil. Ali vinham formar-se as suas elites da cultura e da política, ali emparelhavam os aspirantes a escritores dos dois países em comum seguindo movimentos feitos ou erguendo o pavilhão de revolta dos movimentos novos”.
Incontestável verdade, contudo a partir da segunda década do século passado, dificuldades resultantes da segunda guerra mundial e um melhor apetrechamento e desenvolvimento cultural do Brasil, com o Atlântico de permeio, impuseram uma separação que, malgré tout, não se manifestou em todos os domínios.
Nos meios intelectuais brasileiros, os ecos do Modernismo já se tinham feito sentir.
A Águia saída em 1912, tinha assinantes e leitores no Brasil. Luís de Montalvor que partira para o Brasil nesse ano, é natural que tenha falado sobre o Modernismo e Fernando Pessoa, cabendo, também, a Luís de Montalvor, a introdução do Orpheu. Na biblioteca de Fernando Pessoa consta um livro com data de 1914, oferecido por Ronald deCarvalho que, também, colabora no Orpheu I, com Poemas – A Alma que passa, Lâmpada Nocturna, Terra Ignota, Elogio dos Repuxos e Reflexos.
A Semana da Arte Moderna Paulista não passa ao lado de António Ferro, director da revista semanal de O Século, Ilustração Portuguesa, desde 1 de Outubro de 1921, onde pontificavam nomes como Almada Negreiros, Fernando Pessoa, António Sardinha, João de Barros, Júlio Dantas e Rocha Martins.
A ida ao Brasil de um membro do Modernismo Português não se afigurava fácil, tanto mais que para António Ferro, director da revista há pouco, não estava nos seus horizontes abandonar o cargo.
Segundo Orlando Raimundo, autor de António Ferro, O Inventor do Salazarismo, a Semana Paulista teria lugar no Teatro Municipal, assentando a programação em sessões de poesia, intercaladas por palestras sobre modernidade e arte, sendo promotores os escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Sérgio Costa e Silva e Plínio Salgado; os jornalistas Paulo del Picchia, Tácito de Almeida e Guilherme de Almeida; o escultor Víctor Brecheret; os pintores Di Cavancanti, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.
António Ferro não podendo estar presente, pede a Ronald de Carvalho que o represente, pedido que foi aceite, lendo o texto Nós, em forma de Manifesto, tão ao gosto dos Modernistas, que virá a ser publicado no n.º 3 da revista Klaxon, de São Paulo, em 15 de Julho de 1922. Nós é um texto constituído por quatro páginas e duas personagens – um Eu esclarecido e a Multidão que se limita a dizer que não ouve nada e a apodar de Doidos varridos e Insolentes os representados pelo Eu que domina todo o discurso e que inicia, afirmando:
Somos os religiosos da Hora. Cada verso – uma cruz, cada palavra – uma gota de sangue. Sud-Express para o futuro – a nossa alma rápida. Um comboio que passa é um século que avança. Os comboios andam mais depressa do que os homens. Sejamos comboios, portanto!
Ser de hoje, Ser de hoje!!!... Não trazer relógio, nem perguntar que horas são. Somos a Hora! Não há que trazer relógios no pulso, nós próprios somos relógios que pulsam…
Um manifesto em forma de futurista, antecedido de uma epígrafe de Jean Cocteau “L’avenir n’appartient à personne. Il n’y a pas de precurseurs, il n’existe que des retardataires”.
A ausência de António Ferro e a leitura de Nós valeu-lhe os maiores encómios. Esquecidos os nomes de Fernando Pessoa e de Almada Negreiros, António Ferro fora projectado no universo futurista na cidade de São Paulo.
A possibilidade de António Ferro ir ao Brasil continua em aberto. Aproveitando a circunstância da Companhia de Teatro Lucília Simões /Erico Braga ter sido convidada para uma tournée no Brasil no âmbito das comemorações do Centenário da Independência, representar Mar Alto, de António Ferro, é o autor convidado a integrar a Companhia que parte para o Rio de Janeiro em Maio de 1922. Carlos Malheiro Dias, exilado monárquico no Brasil, profere o discurso de recepção a António Ferro, no Teatro Lírico, do Rio de Janeiro em 30 de Julho de 1922, de que retiramos o seguinte extracto “Na vossa fantasia inesgotável, na novidade das vossas imagens, no sorriso das vossas ironias, há o sangue novo, que já foi nosso, circulando em elásticas artérias, e uma alma que tem asas e voa, contemporânea dos aeroplanos”.
Do escritor brasileiro Menotti del Picchia, na recepção a António Ferro, no Teatro Municipal de São Paulo, em 5 de Dezembro de 1922, é possível realçar:
Mas António Ferro é sempre um paradoxo: antes de aqui vir, já aqui estava. Encontrou-se consigo mesmo nos seus versos, que sabíamos de cor, nas suas frases-lápides, que sabíamos de cor.
Desvinculado da revista Ilustração Portuguesa que, entretanto, tinha sido gerida por João Ameal, António Ferro mantém-se no Brasil, onde conferencia e vê o Mar Alto ser estreado em 18 de Novembro em São Paulo, no Teatro Sant’Ana, protagonizando o papel de Henrique.
Com grande sucesso no Brasil, António Ferro com uma “proposta muito vantajosa para série de conferências no Brasil” dirige um telegrama à namorada, Fernanda de Castro, propondo-lhe casamento por procuração.
Com 21 anos, Fernanda de Castro celebrará o casamento, no dia 12 de Agosto de 1922, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, com o cunhado Augusto Cunha a fazer o papel de noivo. No Brasil, António Ferro terá como testemunhas Lucília Simões e o Almirante Gago Coutinho, chegado ao Rio de Janeiro em Junho, depois da travessia aérea começada em Lisboa a 30 de Março no hidroavião Lusitânia. Fernanda de Castro partirá para o Brasil no final do mês no navio Arlanza, da Mala Real Inglesa, segundo afirma “comum vago enxoval nas malas e uma grande ansiedade no coração”.
No Brasil, António Ferro proferiu conferências. Salvador, Recife, Belo Horizonte, Santos, Ribeirão Preto e Campinas são algumas das cidades por onde passou. Fernanda de Castro, com grandes cartazes a anunciar recitais de poesia, a princípio temerosa, ela que mal conseguis aprender de cor dois ou três poemas seus, quanto mais os dos outros, conforme confessa. Os tempos passaram. O sucesso acabou por se confirmar, as amizades consolidaram-se e proliferaram. Chegaram a Lisboa por volta de 15 de Maio de 1923, tendo nascido o primeiro filho a 14 de Julho: António Gabriel de Quadros Ferro que virá a ser grande especialista de Pessoa. Gabriel em homenagem ao italiano Gabriele d’Annunzio, precursor do fascismo italiano, que António Ferro tanto admirava.
Com a chegada a Lisboa do casal, tinha terminado o périplo em torno da Semana Cultural Paulista. António Ferro tinha visto o seu prestígio afirmado além-fronteiras; partiria para outros lugares que lhe abririam portas para Ministro na Suíça e depois em Roma, vindo a falecer a 11 de Novembro de 1956, em Lisboa, no Hospital de São José. Tinha 60 anos.
Fernando Pessoa distante do cosmopolitismo brasileiro, escrevia, escrevia e desmultiplicava-se. Não fora a São Paulo, mas mandara um dos seus heterónimos para a emigração. Ricardo Reis, nascido em 1887, educado num colégio de jesuítas, médico, vive no Brasil desde 1919, expatriado espontaneamente por ser monárquico. Apoiando-me em João César das Neves, num texto datado de 23-10-1988, de São Paulo, intitulado Ricardo Reis, o heterónimo imigrado, publicado pela Secretaria do Estado da Cultura em Lisboa, em 1990, no âmbito do Encontro Internacional do Centenário de Fernando Pessoa, realizado em Lisboa, Ricardo Reis terá escrito 35 poemas em Portugal e 89 no Brasil. Para Saramago que o ficcionou terá voltado a Portugal em 1935, para se inumar em 1936 – O Ano da Morte de Ricardo Reis.
São Paulo e os brasileiros não esqueceram Pessoa. Admiraram-no, comemoraram-no e celebraram-no. E a Fundação Engenheiro António de Almeida esteve presente. Afirmativamente colaborou na elevação do busto de Fernando Pessoa na Avenida de Sagres, Jardim Lusitânia na cidade de São Paulo, de autoria de Maria Irene Vilar, de Matosinhos, e que na sua terra contribuiu para a criação de um Museu de Arte.
Fernando Pessoa, de forma icónica, a encerrar o centenário do seu nascimento em São Paulo, Brasil, nas comemorações que aí decorreram de 26 a 30 de Abril de 1988.
Ditosa Pátria que tal filho teve – Os Lusíadas, canto VIII, estrofe 32.

Não foi adoptado o Novo Acordo Ortográfico

Por João Cabrita

Verdades e pós-verdades.

Temia-se, em Portugal e na Europa de que Portugal ainda não faz parte, que a “geringonça” fosse um tractor revolucionário, que de alguma forma viria pôr em causa a ordem estabelecida no que à União Europeia, à NATO e aos mercados financeiros diz respeito.
Os analistas mais entendidos, muitos dos quais agora se fazem desentendidos, auguraram, por isso, o pior desfecho para o seu desempenho, prevendo que Portugal seria forçado a um novo contrato de assistência com a famigerada Troika, ou coisa parecida.
O próprio ministro Centeno o admitiu quando declarou que faria tudo o que fosse necessário, sem especificar o quê, para evitar que tal acontecesse.
Mas não. A “geringonça”, afinal, não passa disso mesmo. De uma carroça política desengonçada puxada pelo PC e pelo BE, que se arrasta penosamente e com a qual o moleiro António Costa vai ganhando a vida, com a bênção do paizinho Marcelo.
É um tigre de papel, afinal, que com unhas e dentes defende um governo de minora absoluta, considerando que a abstenção é maioritária e que a oposição mereceu o maior número de votos. Acontece que a moda dos governos serem abocado por forças que perdem eleições parece estar a pegar nas democracias ocidentais.
Em Portugal tal só foi possível porque o PC e o BE, honra lhes seja feita, têm sido de uma docilidade exemplar. Meteram a viola no saco a troco de uns tostõezitos para os reformados e pouco mais. Reestruturação da dívida, abandono da moeda única, saída da CEE e coisas tais, que constituem os seus argumentos políticos principais, pertencem ao passado.
A verdade é que, contra todas as expectativas, a economia portuguesa circunstancialmente cresceu, o que não significa necessariamente que esteja a crescer, e os tecnocratas de Bruxelas, que ainda se não refizeram do murro no estômago que levaram com o Brexit, puseram de lado as sanções e deram luz verde ao orçamento português. Até mais ver.
Pelas mesmas razões a senhora Merkel e o seu ministro Schäuble andam tão enfiados.
Depois, ainda ninguém sabe que demónios vão saltar da caixa de Pandora que Donald Trump destapou, sendo certo que PC e BE não deixarão de aplaudir as diatribes contra a NATO e a CEE do seu inesperado aliado, o novo presidente americano.
Aparentemente Portugal segue no bom caminho. O doente que estava em estado comatoso pestanejou. Para quê mudar de políticas, portanto, argumentarão as almas da “geringonça”? Afinal a Justiça que temos funciona. A lei eleitoral serve plenamente a democracia que não temos, a lei autárquica idem, a Assembleia da República só dignifica a democracia, o País está bem como está, e a “geringonça” cumpre plenamente o seu papel.
Acontece que se trata de “pós-verdades” no sentido em que o dicionário Oxford de língua inglesa, que elegeu a expressão como palavra do ano de 2016, define. A verdadeira verdade é que as emoções e as crenças pessoais contam mais na formação da opinião pública do que os factos objetivos.
E o que verdadeiramente importa é segurar o poder e partilhar mordomias com os comparsas.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

A mendicidade

Face à mendicidade, cada um de nós é regularmente solicitado, sente-se incomodado ou não, dá uma resposta refletida ou impulsiva, sem ser fácil nomear o que fazemos ou não. 
Alguém tem uma receita ou doutrina quando cruza um mendigo na rua? Coloco-me esta questão sempre embaraçosa e frequente quando passo à sua frente aqui ou ali, cada vez com mais frequência.
Observo os que passam e têm mais ou menos o mesmo comportamento que eu. O que fazer? Frente aos comércios, restaurantes, lugares turísticos, igrejas, nos semáforos cruzam-se homens e mulheres acompanhados de crianças, de animais, sentados ou em pé, por vezes algo afetados mentalmente. Cada um com a sua forma diferente de abordar os transeuntes.
O que se pode fazer ? Antigamente o mendigo tinha sempre um défice cognitivo qualquer e era alvo de brincadeira ou troça, contudo parecia-nos um ser alegre. Agora aparecem-nos cada vez em maior número, sobretudo nos grandes meios urbanos, é porque a precariedade aumenta ou será uma simples impressão por se encontrarem em lugares de passagem? Sem quaisquer restrições, a mendicidade só se torna delito se for desenvolvida de forma agressiva e sob ameaça dum animal perigoso, o que não se revela ser frequente.
Cada um de nós é portanto regularmente solicitado, encontra-se incomodado ou não, dá uma resposta refletida ou impulsiva, sem que seja fácil nomear o que fazemos ou não como já referi. Não existe, em meu conhecimento, nenhum estudo ou inquérito sobre os que dão, talvez haja algum estudo de terreno do Instituto de Filantropia sem projeção ou interesse para o grande público. 
Tentei fazer a minha pequena pesquisa e inquérito pessoais perto das pessoas que conheço aqui e nos centros urbanos maiores. 
Na rua, o seu ponto comum é não dar nunca dinheiro às crianças a fim de não encorajar a sua exploração. Assim, cada um pratica-o à sua maneira anteriormente refletido em função do humor do dia. Um não dá nunca na rua sem se encontrar num determinado estado de espírito. Muito generoso além do mais, acha que é um dever dar, sente-se outro por ser responsável pelo que deu. Outros escolhem dar sempre às senhoras, ou ao contrário, nunca dar às senhoras ou sempre e exclusivamente aos músicos. À saída da igreja ou da pastelaria ao lado, os fiéis sentem a obrigação de fazer uma boa ação.
Não conheço ninguém, apesar de isso existir, que agrida um mendigo pelas suas observações despropositadas, mal- intencionadas ou agressivas, mas a indiferença ou o facto de passar ao lado evitando o olhar ou negando a existência da pessoa podem constituir uma forma de agressão. Esta indiferença é uma máscara de cada um de nós, pois é raro que a presença dum mendigo não suscite qualquer reacção- seja ela negativa – seja ela positiva.   
São mais os sentimentos do que a razão que determinam o ato de dar ou não dar. Estes têm a ver com a relação que se prende com o olhar, com os gestos, com as palavras. Uma vez que o medo ou a desconfiança se encontram ultrapassados, quando o diálogo acontece, é por vezes um bairro inteiro que adota um mendigo, um arrumador, assegurando-lhe uma forma de sobrevivência, levando-lhe comida ou roupas quentes mais do que dinheiro. Afeto também: um deles a quem desapareceu o cão ou o gato vê-se ser-lhe oferecido outro em pouco tempo. As crianças gostam de dar apesar de terem que ultrapassar o seu medo ou não compreendem que não se lhes dê nada. Estamos longe do altruísmo eficaz.
Li em qualquer lado que é preferível salvar dez vidas lá no fim do mundo a salvar a dum próximo. Porém, fazer o bem à distância não impede que nos sintamos mal perante a miséria dos mais próximos que não têm nada a ver com os nossos estados de alma. Espero que ao ler estas linhas, não continuem a ver os mendigos da mesma forma.

OH DIABO!

A Pedro Passos Coelho estão, insistente e repetitivamente a atirar-lhe à cara a sua desastrada previsão da vinda do diabo em setembro, sobretudo quando o governo geringonçal pôde apresentar resultados que, provisórios ou não, conjunturais ou definitivos, constituem autêntico hino celestial para os cidadãos em vésperas de se prepararem para a quadra festiva e consumista que se avizinha. Foi um erro grave do ex-primeiro ministro, sem dúvida. A sua incapacidade de antecipar o cenário que se aproximava uma evidência de um handicap sério para quem se prepara para regressar ao ringue da disputa para a liderança governativa. Também o é. Mas não são os mais graves nem os que mais o penalizam. Os seus erros e incapacidades não são de agora antes têm de ser procurados em tempos anteriores a factos que remontam a maio de 2010 quando o líder laranja pedia desculpa ao país pelas medidas do governo que não liderava. Nunca mais o fez apesar da aplicação, já da sua lavra, de muitas outras mais duras e dolorosas que depois veio a protagonizar. Não foi esse ato de humildade que o catapultou para a ribalta política lusitana. O seu primeiro erro foi exatamente esse. Não ter percebido a verdadeira razão pela qual foi o escolhido para liderar os destinos desta nação valente e imortal. E esta foi simples e clara. Em 2011, quando o resgate se tornou inevitável o antigo líder da juventude laranja veio dizer o que, obviamente, era necessário ser dito: que não tinha qualquer objeção em governar durante a intervenção do FMI. Ora se era o FMI que nos vinha evitar cairmos na bancarrota o que era necessário era uma chefia que encarasse essa situação de forma normal e natural. Coisa diferente e bem diversa era a vontade posteriormente revelada de ser mais papista que o papa demosntrando uma vertinginosa determinação de ir muito além da troica. Esse foi o seu segundo erro. Muitos outros se seguiram. A par disto veio o primeiro dos handicaps: a vitória nas legislativas acabou por se revelar mais fácil e concludente que o que era esperado. Isto privou-o da aprendizagem que as dificuldades e, ainda mais, os falhanços necessariamente trazem. É hoje uma verdade totalmente aceitável, nos cursos de empreendedorismo, mesmo na europa, já que nos Estados Unidos há muito que é um axioma: quem erra aprende melhor e de forma mais marcante. São vários os investidores que procuram e valorizam jovens talentosos que já tenham soçobrado numa ou várias iniciativas anteriores. Passos teve poucos revezes e chegou a primeiro-ministro sem, na verdade, ter harduamente trabalhado para isso. Foi fruto das circunstâncias. Aconteceu-lhe.
Tal como lhe “aconteceu” deixar de o ser depois de ter conseguido obter mais votos, para o projeto que liderava, do que o seu opositor. Depois dos vários erros cometidos no quadriénio em S.Bento, veio o erro maior e esse sim é o que nesta altura o atira para a cauda da apreciação dos portugueses. Decidir não apresentar uma única proposta durante a discussão do orçamento para 2016 foi-lhe fatal. Dizer que vem aí o diabo ou que estamos a caminhar para o abismo, passe embora o exagero, faz parte do papel reservado ao chefe da oposição. Qualquer coisa que corra mal poderá sempre dizer vêem como eu tinha razão? O problema é quando a coisa corre bem não ter uma única ação, um único gesto, um único contributo para poder também partilhar parte do sucesso, mesmo que não fosse fácil demonstrá-lo por a mais b. Ninguém o poderia impedir de reclamar que o que há de bom também se deve à atuação e participação do PSD.