Atletas mirandelenses em bom plano no Open de Portugal
Ter, 19/11/2019 - 10:47
A prova terminou no domingo, no pavilhão Multiusos de Guimarães, e Matilde Pinto foi a atleta portuguesa que chegou mais longe na prova de singulares.
Ter, 19/11/2019 - 10:47
A prova terminou no domingo, no pavilhão Multiusos de Guimarães, e Matilde Pinto foi a atleta portuguesa que chegou mais longe na prova de singulares.
Ter, 19/11/2019 - 10:26
Como estão os leitores da Página do Tio João?
Começo por dizer que no dia da edição deste jornal se comemora o Dia Internacional do Homem, 19 de Novembro. Há muitos anos que temos conhecimento do Dia Internacional da Mulher (8 de Março), mas desconhecíamos que os homens também tivessem o seu dia internacional.
Os problemas respiratórios são muito frequentes?
Os problemas respiratórios são outros dos problemas frequentes relacionados com o frio. As pessoas que sofrem de problemas respiratórios diagnosticados (por exemplo, asma e DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) devem ter especial atenção a esta época de maior atividade gripal, pois enquadram-se no grupo de pessoas vulneráveis.
Tenho outros problemas de saúde, podem agravar-se?
Passado o período eleitoral e não havendo factos significativamente relevantes, impõe-se a reflexão sobre o novo figurino parlamentar e sobre aquilo que o mesmo traduz.
A gerigonça, pelo que se sabe, mudou-se para Espanha com o PSOE e o PODEMOS a ensaiar os primeiros passos num tango que não se augura muito feliz. Em primeiro lugar porque não sendo original, pretende ser uma cópia do que por cá se fez. Contudo, nem nisso foram bons já que ao escolher par, Sánchez esqueceu-se de que o primeiro-ministro português, ou porque não terá muito jeito para a dança, ou porque é um estratega nato, preferiu um joguinho de sueca que lhe permitiu estar relaxado, piscando o olho ora a um ora a outro dos parceiros, sem nenhum deles poder dizer que fez batota. Durante quatro anos, foi-os contentando e a legislatura, contra as expectativas, chegou ao fim para gaudio de todos, sobretudo do presidente da república. Quem conhecer melhor as cartas do que eu e estiver mais familiarizado com os jogos de mesa, pensará que a ignorância me leva a considerar que para a sueca só são precisos três jogadores em vez dos habituais quatros; no caso convém recordar que o PCP trouxe o amigo Verdes para a mesa.
O PAN caminha a passos largos para a institucionalização e, por mais que reafirme o contrário, está bem patente, no seu discurso, esta nova forma de estar e de fazer política. Basta comparar o programa eleitoral de 2019 com o apresentado há quatro anos para constatar que suavizou o discurso e onde antes punha os animais, coloca hoje as alterações climáticas. Onde antes se falava dos animais não humanos que deveriam ter estatuto jurídico equiparado a menores, fala-se agora em animais simplesmente. Lamenta-se que um partido desta natureza tenha deixado cair a bandeira da caça desportiva, um claro sinal de que o aburguesamento já chegou ou, então, os cheiros da capital não lhe permitem ver os efeitos que a caça tem na natureza e nos animais que dela fazem a sua casa.
Face a isto, não admira que tenham surgido três novos partidos com assento parlamentar. Querendo parecer distintos entre si, e sendo-o de facto, também eles podiam reinventar uma gerigonçazinha capaz de dar dores de cabeça à governação. Contudo, porque não são partidos de causas mas de factos, não conseguem ir para além da circunstância e da espuma dos dias, sendo que o mais irónico é haver quem se diga antirregime e não só tomou assento no parlamento, como passou a financiar-se com o erário público.
Estando longe de entender como vai ser o caminho que os estreantes irão fazer, até agora, a relevância vai para a gaguez da deputada e para as saias do seu assessor que, não só conseguiram tomar conta dos canais mediáticos, como conseguiram que a opinião pública falasse dos políticos e esgrimisse argumentos ora a favor ora contra. Se sobre saias não me pronuncio, não me parece que a combinação de cores tivesse favorecido o manequim, mas, como gostos não se discutem e acredito que alguém lhe tenha dito que estava impecável… por aqui me fico. Já sobre a gaguez, num espaço em que a palavra é instrumento de trabalho e a oratória é a base do parlamentarismo ousaria apresentar o meu ponto de vista se para tal houvesse espaço. Não está em causa a legitimidade da deputada eleita democraticamente e, como tal, com poderes para representar quem nela votou, independentemente dos mecanismos que presidiram a tal escolha. Identificação? Desafio? Ou simplesmente um voto de protesto? – não se saberá; mas, seja qual foi o critério, receio que se esteja de novo perante um facto mediático, inconsistente e incapaz de se fortalecer no tempo. Prova disso, é que de todos os partidos com assento parlamentar, este é o único a não apresentar qualquer iniciativa legislativa, nem sequer um projeto de resolução que seja capaz de confrontar o governo com algo que já tenha feito. Como se tal não bastasse, já se ouvem as vozes do seu próprio partido a pedir que alinhe a sua agenda política por aquilo que são as causas do Livre. O palco mediático que lhe foi dado provoca engulhos no grupo de contato (direção) que queria ver uma agenda que fossa além da militância feminista e das causas racistas, com uma reinterpretação da história excessivamente livre para que seja levada a sério. Nem a ecologia nem o europeísmo – temas significativos para o fundador do partido, figuram na agenda. Podendo ser esta uma estratégia da deputada para se manter na sua zona de conforto, não será sustentável a médio prazo.
Como o tempo é bom conselheiro, e a época do natal se avizinha, mantenhamos a esperança de que a lufada de ar fresco que entrou pelas portas do parlamento não saia pela janela entreaberta dos gabinetes.
A questão bíblica sobejamente conhecida Quo Vadis Domine, Para onde vais Senhor, pode-se aplicar aqui perfeitamente, quando queremos saber para onde quer ir este governo com algumas medidas que pretende implementar. Impõe-se colocar de lado o Domine, já que este senhor do governo, nada tem de bíblico.
Numa sociedade que se diz moderna e onde o conhecimento se deve pautar como base de progresso, não se entende que se proponha passar os alunos até ao nono ano, mesmo não sabendo a matéria curricular que é dada saber e que promove a progressão normal do ensino básico. Todos sabemos que as bases são essenciais seja o que for que se queira construir. Se as bases forem fracas, toda a construção cairá mais facilmente. Uma casa sem bases sólidas, arrisca-se a cair ao menor vendaval.
Ora se queremos uma sociedade conhecedora, moderna, preparada para podermos falar dos homens de amanhã, desses que nos irão governar, como costumamos dizer, então teremos de os preparar convenientemente, caso contrário arriscamo-nos a construir uma sociedade onde predomina a ignorância e cujo futuro é inconsequente.
O governo até pode desculpar-se com as justificações que entender, mas isso jamais servirá para convencer a opinião pública da tremenda injustiça e irresponsabilidade dessa pretensão. Os alunos não podem ser joguetes de uma qualquer satisfação do governo, nem podem ser atirados para um mundo de trabalho onde predomina a ignorância e a irresponsabilidade. Um governo responsável prepara a sua juventude convenientemente e alerta-a para os perigos de um futuro cada vez mais incerto. Não podemos preparar uma sociedade do salve-se quem puder. Isso quase já nos toca pela porta com tanta corrupção, roubos e assassinatos diariamente.
Os professores têm a responsabilidade e obrigação de ensinar os seus alunos e, estes têm a obrigação de aprender o que lhes é ensinado para assim poderem progredir depois de avaliados convenientemente. Se os alunos souberem que podem passar mesmo sem saber e que não são retidos mesmo se não souberem a matéria, eles não se preocuparão em estudar e assistem às aulas como quem vai a uma sessão de cinema, ou seja, para passar tempo sem se preocuparem com mais nada. E os professores como sabem que não adianta insistir muito com os alunos para que aprendam, pois passam sempre, deixam simplesmente a turma ao sabor dos ventos, e esperam que o final de ciclo chegue para passar o atestado de incompetência aos alunos que pretendam seguir para o ensino secundário, mesmo pouco mais sabendo do que escrever o seu próprio nome.
Antigamente era imprescindível aprender a ler, escrever e contar correctamente e não me refiro a umas dezenas de anos atrás, refiro-me a alguns séculos, pois entendia-se que isso era a premissa indispensável para poder participar na vida pública com a responsabilidade que isso acarreta. Hoje, isso torna-se irrelevante e escrever mal, ler mal e dar erros no seu próprio nome, é coisa normal e quando vemos ministros a dar erros e a usar vocábulos desajustados, legendas nas televisões, cheias de erros e até alguns professores a dar erros, não podemos querer que isso continue a ser normal. Afinal que sociedade queremos nós formar?
O sistema de ensino está dividido em ciclos e um deles é chamado de Básico e vai até ao nono ano. Se queremos que seja básico, temos de o considerar realmente como a base de todo o restante sistema para não corrermos o risco de o ver desabar completamente. Não sei o que passa pela cabeça destes governantes ao pretender facilitar a passagem de alunos pouco preparados, ao longo de três anos e depois atirá-los às feras acreditando piamente que meia dúzia deles se conseguirá salvar. Não pode ser assim. Nem eles são peões de um tabuleiro de xadrez, nem os professores podem ser os palhaços de um circo irresponsável, onde nada faz rir e nada é consequente.
Felizmente há sempre alguns alunos que querem aprender e sabem bem o que querem ser e até têm pais que os motivam e lhes indicam o caminho da responsabilidade, do respeito e da educação como fatores vencedores das muitas barreiras que o futuro lhes reserva. Há bons alunos sim e poderão continuar a haver porque nem todos entrarão no saco desconfortável que o governo está a mostrar. A ignorância nunca foi causa vencedora e só apoia a ignorância quem quer promovê-la.
Espero sinceramente que esta medida agora em análise pelo governo, não siga para diante sob pena de entrarmos num sistema onde os desmandos, a irresponsabilidade, a falta de educação e o desconhecimento das coisas mais básica, passam a ser a marca da sociedade portuguesa.
De facto, as armas e os barões assinalados que daqui partiram e levaram a nossa língua para o mundo inteiro, não passam de uma História sobre a qual pouco se aprendeu. São os desmandos da ignorância!
A Senhora Dona Emília, Regente de Posto de Ensino em Lagarelhos, no ano de 1952, no fim do ano lectivo anunciou aos seus alunos das quatro classes aqueles que não propunha a exame. Os arredados da prova não tugiram, nem mugiram. Fui fazer a prova da primeira classe a Vilar de Ossos, a professora oficial Dona Corina Lima Barreto presidente do júri aprovou-me, regalado comi a merenda e regressei à aldeia dos prodígios. Ao tempo a Mestra procedeu à retenção dos menos aptos. A escola era acanhada, suja, nas paredes um crucifixo, as fotografias avantajadas do Marechal Óscar Carmona e de Salazar.
Na segunda classe já estava em Bragança, a professora seca de carnes, a Dona Aninhas Castro, ensinava uns quarenta rapazes a serem homens, não tolerava mudanças de carteira, avisava os mais novos de irem engrossar o grupo de repetentes, no termo das aulas repetiu a selecção feita pela Dona Emília. Uma e a outra não queriam obter chumbos, eis a razão do ajuste entre os escolhidos e os preteridos. No fim de contas, apesar da diferença de estatuto e vencimento, as duas docentes não queriam ficar mal vista, menos ainda a averbarem classificação capaz de colocar uma pedra negra no seu currículo.
Nunca mais vi a Senhora Dona Emília, voltei a ter a Dona Aninhas Castro na quarta classe, a terceira obtive-a em Macedo de Cavaleiros, o professor Meireles era exigente jovial, no correr dos meses avisava da possibilidade do «não ir a exame» como aconteceu no ano imediato a rapaz da rua do Paço, em Bragança. A mãe entendeu pedir explicações à Senhora Dona Isabel, ante a negativa da Tia do Zé Toninho bradou palavrões e exclamações que correram circularam nas ruas, ruelas e calejas da cidade durante muito tempo.
Atrevo-me a recordar nomes de professoras e professores porque se salientaram enquanto educadores, repito educadores respeitados e famosos por via dos resultados, correndo o risco do olvido fragmentário de há mais de sessenta e quatro anos trago à colação o Professor Dionísio Gonçalves, o Professor Rombo, as professoras Dona Beatriz Monteiro, Dona Aninhas Castro, as duas Donas Isabel, a Dona Luzia (célebre explicadora), a Menina Mariazinha Tombo, uns e outras tinham a primazia nos passeios e vénias de respeito.
As quatro Escolas do plano dos centenários recebiam centenas de alunos ricos (poucos), remediados e pobres. Na Escola o dia repartia-se em dois turnos, além da matéria tínhamos prédicas políticas e religiosas, o Salazar revelava-se nas inscrições de propaganda «se tu soubesses quanto custa mandar obedecias toda a vida», «tudo pela Nação, nada contra a Nação», as qualidades pedagógicas das Mestras e Mestres faziam-nos gostar da Escola.
Os tempos mudaram, o Mundo evoluiu, no que tange à Escola perdeu-se o cívico respeito pelos professores em geral, em particular os do Ensino Secundário foram menorizados no estatuto e no vencimento comparativamente com profissões de exigência académica e profissional idênticas, o abastardamento singrou até ao corolário de agressões a professores por parte de alunos e pais passar à condição de banalidade. Os Ministros e Secretários de Estado fingem preocupação aos costumes dizem nada, ao invés tudo muda de figura. Não quero continuar a carpir evidências negativas, no entanto, não podemos ficar surpreendidos quando os pedagogos e as pedagagas (imensas e muitos) vomitam imprecações justificativas dos denominados chumbos. Por essa e outras razões o Ministro, os ministros, tentam ocultar os números dos chumbos e lançam planos sobre planos, mágicos ou milagreiros a fim de as estatísticas do desaire baixarem, a todo o tempo desmentidas pela crescente iliteracia a atingirem níveis preocupantes. Prevalece a propaganda e a ilusão.
Em todos anos da instrução primária fui submetido a prova de exame, não fiquei traumatizado, nem o Francisco Cepeda, o José Luís, o Mansilha, o Romeu, o Augusto e por aí adiante, íamos a pé para a Escola, os livros e os cadernos em pastas de cartão e sacolas de pano, reguadas corrigidos os ditados, as cópias e as contas. Até cantávamos as estações de comboio da linha da Beira Alta. Passaram seis dezenas de anos, inovações materiais de tomo facilitam a vida dos meninos e das meninas, experiências pedagógicas a rodos não cessam, a Escola continua a ser laboratório alquimista, só que o segredo da água de vida obriga a disciplina, rigor, trabalho e novamente trabalho. Dizem que trabalhar dá saúde, responde o sistema educativo: que trabalhem os doentes.
Não chumbar ninguém é que dava jeito!!!
No passado dia 10 de novembro o papa Francisco declarou solenemente Frei Bartolomeu dos Mártires como santo. Trata-se de um doutor da igreja, que, na hagiografia lusitana, só encontra paralelo em Santo António.
Nascido em Lisboa em 1514, filho de “gente boa e limpa”,(1) entrou aos 14 anos para a Ordem de S. Domingos e cedo se espalhou a fama de sua sabedoria. Em 1551 rumou a Salamanca, onde, em plenário geral da Ordem, foi consagrado Mestre em Teologia. No ano seguinte entrou para a Casa do Infante D. Luís,(2) como preceptor de seu filho António,(3) que viria a ser Prior do Crato e aclamado Rei de Portugal.
Em 1558 foi proposto pela regente do Reino, D. Catarina, para ocupar o cargo de Arcebispo de Braga, sendo confirmado no ano seguinte, pelo Papa. Sucedeu no cargo ao arcebispo D. Frei Baltasar Limpo, conhecido pelas suas ligações à inquisição e promotor de dois terríficos autos-da-fé celebrados no Porto, nos primórdios daquele tribunal.(4)
A cidade de Braga encontrava-se então “a ferro e fogo” com a prisão de 23 importantes mercadores no ano anterior, sob influência de Baltasar Limpo e de um Cabido da Sé igualmente empenhado nas atividades do santo ofício. E esta foi a primeira grande revolução que Bartolomeu protagonizou – restaurar a paz social na capital do arciprestado.
A maior parte da província de Trás-os-Montes pertencia então à diocese de Braga, com destaque para o vicariato de Torre de Moncorvo que se estendia até Chaves. O braço da inquisição na área do vicariato era, naturalmente, o representante do arcebispo, ou seja o seu vigário-geral. Também aqui se impunha restaurar a paz, já que, só em Vila Flor e Torre de Moncorvo, em 1558, estavam presos nas cadeias do santo ofício, uns 28 cristãos-novos, acusados de judaísmo.
A instrução de todos aqueles processos foi iniciada pelo vigário-geral da comarca de Torre de Moncorvo nomeado por Baltasar Limpo, chamado Aleixo Dias Falcão. Dele se queixou Gonçalo Marcos, um dos prisioneiros, cristão-novo, natural de Torre de Moncorvo, juiz em Vila Flor, nos seguintes termos:
— Como seu inimigo declarado foi de Torre de Moncorvo a Vila Flor à meia-noite, a tirar testemunhas contra ele e os mais.(5)
Diga-se que os próprios inquisidores de Lisboa se sentiam incomodados com a instrução dos processos, acabando os réus por ser absolvidos ou condenados em penas muito ligeiras, “vista a qualidade e defeito da prova da justiça”.
No entanto, a inquisição, como outras instituições corporativas, não deixava cair os seus servidores. Assim, quando Aleixo Falcão foi substituído por Pero Fernandes Lima no Vicariato de Torre de Moncorvo, aquele não caiu, antes foi elevado à categoria de inquisidor e mandado para a Índia a instalar o tribunal de Goa, criado naquela altura.
O concílio de Trento foi o grande acontecimento da época, a nível internacional. Prolongou-se por quase 20 anos, de 1545 a 1563 e conduziu à grande renovação da igreja católica, na sequência da dissidência protestante, a chamada “Contra-Reforma”. Frei Bartolomeu participou na última etapa, de 1561 a 1563. Uma participação fantástica, já que muitos e credenciados historiadores o elegem como “a figura maior do Concílio”.(6) Igualmente reconhecido é o seu pioneirismo na aplicação nas normas e doutrina definidas no mesmo concílio, instituindo em Braga o primeiro Seminário para formação dos padres, criando “Escolas de Casos” em Chaves e Freixo de Espada à Cinta e publicando um Catecismo para instrução dos fiéis, que teve sucessivas edições.(7)
Em Trento, assistindo ao concílio, o arcebispo foi procurado por um jovem de 18 anos, natural de Ferrara, judeu circuncidado, filho de cristãos-novos que abandonaram Portugal quando foi criada a inquisição. Disse que queria deixar o judaísmo e tornar-se cristão, para o que tinha já aprendido a doutrina. Foi o pedido aceite e batizado pelo arcebispo de Braga, tomando o nome de Paulo Rodrigues. Deixou a Itália e veio para Portugal, possivelmente no séquito de frei Bartolomeu, já que, alguns anos depois, foi crismado na Sé de Braga, pelo mesmo arcebispo.(8)
O caso poderá apenas significar que os judeus o olhavam com simpatia e confiança.
Simpatia e confiança era o que por ele não sentia o cardeal D. Henrique, Inquisidor-Mor do Reino. Aliás, no próprio Concílio, em diversas ocasiões, se notou uma grande luta ideológica e diplomática entre o embaixador Fernão Martins Mascarenhas, homem de confiança do Cardeal e o arcebispo de Braga, nomeadamente quando se discutiu o poder superior dos bispos para julgar casos da fé, o que esvaziaria por completo o papel da inquisição.
Digamos, pois, que havia uma luta mais ou menos surda entre o Cardeal e o Arcebispo, claramente admitida por este quando a rainha D. Catarina se preparava para nomear D. Henrique governador do Reino, na menoridade de D. Sebastião e ele, em carta de 7.1.1561 alertava para o perigo de que “não tenhamos nem cardeal nem governador”.(9)
Facto verdadeiramente notório foi a diminuição de prisões na área da extensa arquidiocese, por parte do santo ofício, com a chegada de Frei Bartolomeu. Numa leitura muito rápida, consultando as listas publicadas por Elvira Mea,(10) verificamos que, de 1567 e 1582 entre os cerca de 600 processos instaurados pelo tribunal de Coimbra, a quem competia a jurisdição, apenas constam 52 súbditos da arquidiocese.
Como se vê, o Arcebispo não dava muito “pasto” aos que se alimentavam das prisões inquisitoriais, conforme a linguagem utilizada pelo padre António Vieira. Acrescente-se que, nesta verdadeira “revolução” pastoral, Frei Bartolomeu foi muito ajudado pelos Jesuítas que, depois de Bragança, se estabeleceram em Torre de Moncorvo.
Jerónimo de Sousa, um jovem protegido pelo Inquisidor-Mor e Arcebispo de Évora, personificou uma das mais rápidas ascensões entre os quadros da Inquisição. Acabado o curso de direito canónico, entrou para os quadros da inquisição de Évora, sendo nomeado promotor de justiça em março de 1569. Dois anos depois, foi promovido a deputado do tribunal e em 17.7.1571 a inquisidor.
Estranhamente, em vez de ficar a exercer as suas funções no tribunal, foi enviado pelo Cardeal D. Henrique para Vila Flor, como Abade da igreja-matriz. Impossível, neste espaço, falar da ação deste inquisidor disfarçado de pároco, na “caça aos judeus” de Vila Flor, Torre de Moncorvo e outras terras Trasmontanas.(11)
E se Bartolomeu dos Mártires entrou na história como o bispo pobre que, montado em um macho ou mula, visitava cada 3 anos os lugares mais recônditos da extensa diocese, aconteceu que, chegando a Vila Flor, Jerónimo de Sousa tinha já denunciantes prontos a culpar “judeus” e até processos organizados, como aconteceu com Manuel Lopes, Isabel Lopes e Maria Álvares. Face às denúncias apresentadas na visitação, o Arcebispo, não podia deixar de cumprir as leis, enviando as culpas e as pessoas presas para a inquisição. Mesmo a contragosto, como transparece da seguinte carta, por ele escrita e assinada:
— Muito Reverendos Senhores. Pax et vera consolatio. Visitando agora, este Maio pp. a paroquial igreja de S. Brás de Samões, desta comarca de Torre de Moncorvo, achei culpas pertencentes ao Santo Ofício contra um Manuel Lopes,(12) cristão-novo de Vila Flor, pelas quais o mandei prender e mandei traslado delas à minha Relação, a quem escrevi as vissem e me mandassem dizer o que se devia fazer acerca do livramento deste homem e os Desembargadores me responderam que enviasse as ditas culpas a Vossas Mercês para que provessem acerca disso como lhes parecesse serviço de Nosso Senhor; pelo qual mandei trasladar as ditas culpas autenticamente e vão trasladadas na verdade e fielmente, o qual traslado envio a Vossas Mercês para que o vejam e provejam acerca deste negócio como lhes parecer serviço de Nosso Senhor e me farão caridade mandar-me logo a resposta por este portador que não vai a outra coisa.
Também visitando no dito mês de Maio Vila Flor, saíram na visitação culpas contra Isabel Lopes(13) e sua filha Maria Álvares, cristãs-novas da dita vila, o traslado das quais também envio a Vossas Mercês para que também acerca disso provejam como lhes parecer serviço de Deus. Não de oferece mais senão que Nosso Senhor os tenha sempre em sua guarda. Do lugar da Horta, aos 19 de Junho de 1577. Arcebispo Primaz.(14)
Termino estes breves apontamentos recordando que Frei Bartolomeu dos Mártires renunciou ao Arcebispado de Braga em 1582, logo que as Cortes aclamaram Filipe II de Espanha como Rei de Portugal e o Prior do Crato abandonou o País. Os últimos 8 anos de vida passou-os S. Bartolomeu recolhido em um convento em Viana do Castelo.
E Jerónimo de Sousa pôde, finalmente, mostrar todo o seu empenho na “caça aos judeus”. Só em Torre de Moncorvo, no ano que seguiu, promoveu a prisão de uma dúzia de cristãos-novos, sendo 9 da família do Dr. André Nunes, advogado, porventura o maior apoiante de Prior do Crato na província de Trás-os-Montes.(15)
Notas:
1 - SOUSA, Luís de – Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires (1619), Lisboa, ed. Sá da Costa, 1944
2 - VALENTIM, Carlos – O Infante D. Luís (1506-1555). Grande Mecenas do Renascimento Português e Protector dos Cristãos-Novos, in: jornal Terra Quente de 15.4.2004 e seguintes.
3 - D. António era filho do infante D. Luís e de Violante Gomes, uma judia de Torre de Moncorvo, terra onde, de acordo com a tradição, se conserva a casa onde nasceu, na Rua Prior do Crato.
4 - MEA, Elvira Cunha Azevedo – A Inquisição do Porto, in: Revista de História, ed. Centro de Estudos da Universidade do Porto, 2, pp, 215-227, 1979.
5 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nós, Trasmontanos, Sefarditas e Marranos, Gonçalo Marcos juiz em Vila Flor (n. Torre de Moncorvo, c. 1503), in: jornal Nordeste n.º 1065, de 11.4.2017.
6 - CASTRO, P. José de – Portugal no Concílio de Trento, vol. 3, pp. 353, União Gráfica, Lisboa, 1944: – A sua fama de santo e sábio alargou-se desmedidamente no tempo e no espaço após a sua gloriosa estadia no Concílio de Trento onde o veremos mais tarde, a encher-se e encher-nos de glória e no qual os padres diziam: – A escola do Arcebispo de Braga é a primeira escola do mundo…
7 - ROLO, P. Fr. Raul de Almeida – Dom Frei Bartolomeu dos Mártires por Terras de Moncorvo, in: Brigantia, vol. 1, n.º 3, pp. 3-27, Bragança, 1981.
8 - ANDRADE e GUIMARÃES – Judeu Batizado em pé por D. frei Bartolomeu dos Mártires, em Trento, Itália, in: jornal Terra Quente, de 1.1.2010.
9 - ROLO, Raul de Almeida – Itinerário documental de uma vida, in: Bracara Augusta, 42, pp. 559-560, Braga, 1990.
10 - MEA, Elvira… – Sentenças da Inquisição de Coimbra em metropolitanos de D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1567-1582)
11 - ANDRADE e GUIMARÃES – Jerónimo de Sousa, Inquisidor de Évora, Abade em Vila Flor, in: jornal Terra Quente de 1.6.2009 e seguintes.
12 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nós, Trasmontanos… Fernando Montesinos (Vila Flor, 1589-Amesterdão, 1559), in: jornal Nordeste de 17.1.2019.
13 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nós, Trasmontanos… Isabel Lopes (c. 1503-depois de 1585) in: jornal Nordeste de 14.6.2017.
14 - ANTT, Inq. Coimbra, p.º 458, de Manuel Lopes. A carta, encontrada por Maria Fernanda Guimarães, foi publicada por: MARCOCCI, Giuseppe – O Arcebispo de Braga,
D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1559-82). Um caso de inquisição pastoral? In: Revista de História da Sociedade e da Cultura, 9 (2009), p.142.
15 - ANDRADE e GUIMARÃES – Nós, Trasmontanos… André Nunes (n. Torre de Moncorvo, c. 1518) in: jornal Nordeste de 16.5.2018.
António J. Andrade
Ter, 19/11/2019 - 00:43
É penoso, a raiar o ridículo, sentir a obrigação de retomar, a cada passo, um problema que devia estar resolvido há décadas, mas promete arrastar-se sem solução até que deixe de o ser, quando já ninguém tiver consciência dos seus efeitos trágicos para o país inteiro e para as gerações que lutaram para retorcer um destino que não mereceram.
Qui, 14/11/2019 - 17:10
No sábado, dia 9, Luís Vila foi o primeiro brigantino a terminar a mini-maratona, de 10 km, com o tempo de 49m54s, e o segundo melhor português. Participaram ainda Delmar Domingues, Maria Domingues, Cecília Xavier, Sónia Sacramento, Carla Videira, Anne Gonçalves, Zita Silva e Cristina Soares.
Qua, 13/11/2019 - 19:00
A prova é organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo em parceria com a Associação de Ciclismo de Bragança e o Velo Clube e volta a realizar-se no Campus do IPB.