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Análises isoladas não são válidas

Que mal tem? 
Esta vai ser, provavelmente, a pergunta que mais se irá ouvir, nos próximos tempos. 
Nenhum. Provável e aparentemente nenhum, mas é proibido.
E bem.
Porque neste regresso do confinamento não podemos fazer uma análise casuística mas sempre grupais ou universais. Não há risco nenhum em que alguém esteja deitado na areia da praia a tomar banhos de sol. Mas o direito individual, devendo ser universal, perde-se por causa dessa característica, globalizante. Uma pessoa a banhos, não representa qualquer ameaça, mas milhares delas, sim.
Tal como acontece em tantas outras atividades da nossa vida. Sempre que as consequências de um ato são desproporcionadas, a precaução tem de compensar essa desproporção. O exemplo mais claro, frequente e generalizado é o do seguro automóvel. Para causar um grande dano não é necessária uma ação continuada, esforçada e musculada. Nada disso. Basta um pequeno descuido. Por isso a compensação tem de vir da extensão. Visto à lupa e de forma isolada, provavelmente não há razão para forçar a maioria dos condutores ao pagamento obrigatório da sua prestação anual. Mas a análise global da sinistralidade, não a dispensa. 
O mesmo se passa com o uso obrigatório de capacete de proteção, quando aos comandos de um motociclo. Não é só a análise casuística como o próprio histórico, demonstram poder ser dispensável o seu uso. Nada de grave acontece numa pequena viagem, nenhum risco concreto se incorre na esmagadora maioria das restantes. Foi, contudo, a enorme quantidade de acidentes de consequências muito graves que impuseram essa medida de segurança. O gesto de colocar o capacete, desde que generalizado, poupa muitas vidas mesmo quando não seja possível ou evidente vislumbrar, como, antecipadamente. 
Como alguém que me é próximo alertou, recentemente, o vírus não foi embora nem o risco de contaminação desapareceu. O achatamento da curva garantiu-nos “apenas” mais camas disponíveis nos Cuidados Intensivos. Não serei tão dramático. É realista reconhecer que há hoje outras medidas que diminuem a possibilidade de contágio... desde que não se baixe a guarda. É bom ter presente que a máscara de uso generalizado não garante a imunidade... aumenta a proteção, o que não sendo tudo, não é pouco, nem de somenos. 

Vamos ter de conviver com o risco de infeção, que é real e permanente, independentemente do achatamento da curva e da dimensão do famoso R. Este risco nunca é zero, porque seria impossível viver com cada um de nós dentro de uma bolha assética e isolada. O nosso papel é minimizá-lo. E, em cada gesto, em cada ação não podemos questionar a sua consequência direta para nós mas julgá-la, com base em dois critérios:
- Contribui para diminuir ou aumentar o risco?
- Mesmo que o meu gesto e atitude seja aceitável, sê-lo-á, igualmente se repetido por milhares de cidadãos.

Nota final. É verdade que a vida moderna já não dispensa as viagens aéreas e todos nós ansiamos pelo seu regresso nas condições a que nos habituámos. Mas a diminuição das exigências de distanciamento num ambiente confinado e de convivência próxima, durante várias horas não é uma boa medida e muito menos um exemplo para outros processos de desconfinamento igualmente sedentos de regresso à normalidade.

Inutilidades pandémicas da democracia portuguesa

Ainda a procissão vai no adro, como sói dizer-se, pelo que ainda é cedo para se fazer o balanço dos estragos causados pela pandemia COVID-19.
 Mas já podemos adiantar que Portugal, neste combate, está a nível dos países da sua igualha e que os danos, felizmente, não alcançaram entre nós a dimensão trágica registada em nações de maior dimensão.
Mercê de factores diversos, designadamente da situação geográfica e da distribuição populacional, mas sobretudo do civismo dos portugueses, do empenho e qualidade dos profissionais de saúde e da boa resposta do Sistema Nacional de Saúde, pesem embora as medidas que foram sendo atamancadas e as patéticas hesitações e contradições dos governantes.
Uma coisa é certa: esta pandemia veio realçar, estrondosamente, as virulentas inutilidades do Regime político vigente.
A começar pela Constituição donde derivam, entre outras, inutilidades do Tribunal Constitucional e do Sistema de Justiça. Metida na gaveta em questões essenciais por aqueles que sempre a defenderam com unhas e dentes, até parece que foi feita a pensar nas festas do 1.º de Maio e do Avante.
Repetente é a inutilidade evidenciada pelo Presidente da Republica que se remeteu ao papel a que os brasileiros jocosamente chamam de “papagaio do pirata”, em lamentável promiscuidade institucional com o primeiro-ministro, sendo que a sua livre iniciativa mais saliente é a populista distribuição de sopa a sem abrigos, com as câmaras das televisões atrás, claro está.
Igualmente significativas são as inutilidades da monstruosa Assembleia da República que, agora fica provado, poderá cumprir cabalmente a sua missão com um terço dos deputados.
Notáveis, também, são as múltiplas inutilidades do Governo, escandalosamente sobredimensionado, com Ministérios e Secretarias de Estado a que se não reconhece outra utilidade que não seja empregar clientelas.
Lamentável ainda a inutilidade da Oposição que pôs de lado a sua missão fundamental e se tem limitado a acompanhar com música de entretém os abusos e negócios duvidosos do Governo.
Tudo isto se explica com as prioridades dos políticos mais marcantes que tratam, em primeiro lugar, de ganhar votos e de se manterem no poder, depois procuram assegurar um futuro regalado e só em último lugar se preocupam com as pessoas. 
Políticos a quem o Estado só interessa na medida em que dele se servem.
Contrariamente ao que acontece em muitos outros países democráticos em que povo e a democracia são respeitados, sem patriotismos abastardados, separação sinistra entre esquerda e direita, ou internacionalismos subservientes de interesse obscuros.
A ruindade da democracia portuguesa e a maldade da classe política, em que predomina a falta de carácter, alcançaram o auge com a vergonhosa “peixeirada” do Novo Banco em que se envolveram de forma indecorosa as mais altas figuras do Estado e a própria Oposição, com destaque para os partidos que aprovaram o Orçamento de Estado mas que agora assobiam para o lado.
Não admira que a vox populi (não necessariamente vox dei) reclame uma nova revolução, pensando, não duvido, nos valores democráticos que o 25 de Abril franqueou.
 Democracia, sempre!
P.S.: Agradeço as referências de Armando Fernandes, ilustre cronista deste Jornal, na sua crónica intitulada “25 de Abril”.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Apanhados pelo clima

A relação do estado com os cidadãos assemelha-se à que existe entre pais e filhos. Tal como os miúdos sabem que o papá e a mamã estão sempre lá para ralhar ao menino que bateu, dar beijinhos e tratar o dói-dói, assim as pessoas costumam esperar apoio e proteção do estado nos seus apertos. Mas há grande uma diferença. Os pais desejam que os filhos vão correndo riscos, assumam os custos das decisões e dos atos, se tornem autónomos e livres do seu amparo. Já os estados gostam de contar com a infantilidade e a dependência dos cidadãos durante toda a vida. Se por um lado isso permite que a sociedade funcione no meio de uma certa ordem e paz, o que é bom, também costuma acarretar a crença de que as autoridades devem resolver todos os problemas das pessoas e satisfazer-lhes todas as necessidades, o que é mau.
Nas últimas décadas, com o individualismo a ganhar terreno, o excessivo papel da justiça na regulação dos conflitos, o alargamento do estado-providência, as esquerdas a cumularem-nos de direitos, a nossa infantilização e dependência têm vindo a aumentar. Exemplo típico é a maneira como estamos a gerir as preocupações com as mudanças climáticas. Nós aqui até dispensávamos que a ciência nos lembrasse essa realidade incómoda. Ainda não há muito que a castelhana serra da sanábria se cobria de neve durante pelo menos seis meses por ano. Era ela que impunha a esta terra fria geadas de rachar e ventos cortantes que casacos e mantas sustinham com dificuldade. Hoje continuam a cair lá grandes nevões de vez em quando, que no entanto derretem ao fim de dois dias. E não se trata apenas disso. Quando é que se viam temperaturas mínimas de oito graus em dezembro? E a primavera a querer chegar em fevereiro?
Há inquietantes factos assim por todo o lado. A natureza tem limites que a obsessão pelo desenvolvimento, pelo crescimento, pelo “progresso”, parece estar a esticar com violência e as respostas dela em forma de desastre estão já a acontecer. O que se prevê não anima ninguém. Vejam-se agora as reações: à volta do mundo milhões de manifestantes exibem cartazes onde se lê “salvem o planeta” (ou, lá fora, “act now”, o que vem a ser o mesmo), lembram aos delegados da cimeira COP 19 de madrid a sua “responsabilidade de agir para garantir a salvaguarda, a vida e o futuro do planeta”, falam da “urgência de lideranças corajosas”, vociferam contra “a inação dos políticos em questões ambientais”, exigem que se faça “pressão para uma ação climática ambiciosa antes que seja tarde de mais”.
Se nada disto deixa dúvidas quanto à necessidade de agir, os termos usados são claros na ideia de que a ação deverá vir de alguém que não os que protestam e exigem. Quer dizer, as pessoas esperam ser protegidas das calamidades, mas põem-se sempre com o rabo de fora no que toca a soluções. No entanto, se alertar é preciso, partir do princípio de que nesta tarefa alguém está de fora é do mais infantil que se pode imaginar. Poluir e destruir o meio tem sido desde há muito a lógica segundo a qual as nossas sociedades funcionam e, embora uns mais do que outros, todos temos parte nessa responsabilidade. É claro que agora passou a ser moda falar em produtos amigos do ambiente, consumo responsável, sustentabilidade, pegadas ecológicas, etc. Resta saber se quem protesta à espera que alguém faça alguma coisa entende verdadeiramente o significado destes termos.
Viciados em compras quase maquinais, acostumados a apetrechos que se contam às centenas e vomitam veneno para o ar quer durante o seu fabrico quer quando trabalham, resta saber se estaremos dispostos a consumir menos, a pagar mais, a ver o trabalho aumentado e o rendimento reduzido, a abdicar de regalias, a deixar de ter férias, a pôr de lado o último carro, smartphone ou artigo de luxo, a fazer sacrifícios, a andar a pé, em suma, a rever de alto a baixo os nossos estilos de vida.
Pode ser que a presente tragédia, deus o permitisse, nos abra os olhos para essa outra que se anuncia, mas nos faz ainda vacilar entre sermos infantis ou adultos: entre passar a batata quente a outros para que se mexam ou decidirmo-nos a mexer; entre adquirir coisas sem regra, mesmo que sob o rótulo de “ecológico”, ou optar por moderação; entre denunciar o papel destrutivo do capitalismo (que é real) ou compreender que ele produz apenas aquilo que gastamos, e na exata medida em que o gastamos.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Manuel Lopes um judeu do tempo da inquisição 3

Manuel Lopes continua a descrever na inquisição de Barcelona o seu percurso de vida: Torre de Moncorvo, Lebução, Bragança, Chacim, Lisboa,Livorno.

 

Chegados a Livorno, trataram de arranjar forma de viver, empregando-se João Ventura na sua arte a tecer lenços de seda. Manuel, que não tinha completado a formação de torcedor de sedas e por isso não podia exercer a profissão, foi a servir em casa de um mercador chamado Samuel. (1) Ao fim de dois meses, Manuel e o irmão foram circuncidados, tornando-se judeus públicos. Adiante haveremos de ver a descrição da cerimónia, feita na casa de morada de seu primo e companheiro de infância em Lebução, Domingos Nunes Ferro, que os acolheu. 

Em casa de Samuel, serviu como criado, por 4 meses e pouco. Saiu, por desentendimentos que teve com um filho do seu amo. Logo seu irmão, conversando com Abraham do Vale, lhe arranjou novo emprego, na cidade de Pisa, em casa do pai deste, que se chamava Jacob do Vale. Pai e filho eram casados, “homens ricos e de negócio” que tinham vindo de Jerusalém.

Em Pisa, encontrou Manuel alguns conhecidos de Lebução. Um deles chamava-se Jerónimo Álvares, e era mestre torcedor de sedas, que em Pisa exercia também o ofício de cirurgião. Tinha com ele a mulher, Antónia Lopes, 1 filho e 3 filhas. Uma delas casou naquela altura, com um homem cujo nome o Manuel não soube dizer, mas que era o marido de Ângela, a mulher que em Alicante embarcou com um cunhado e vinham exatamente a tentar impedir este casamento. Não impediram, porque o marido a rejeitou, baseado no facto de ela o ter traído. (2)

O outro chamava-se Pedro e era natural de Bragança. Fora para Lebução a trabalhar como oficial torcedor de seda em casa de mestre Jerónimo. De Lebução regressara a Bragança para casar com uma Isabel. Ao cabo de um ano, Isabel morreu e Pedro ficou com uma irmã da falecida, Leonor, de seu nome, e com ela se foi para Itália, onde Manuel Lopes voltou a encontrá-los. E todos frequentavam a sinagoga de Pisa “onde se faziam as mesmas cerimónias que em Livorno”.

Não se fez velho em Pisa o Manuel Lopes. Ao fim de 2 meses e pouco, regressou a Livorno. E então aconteceu mais uma história exemplar. Pedro, o torcedor de seda de Bragança e Lebução, também deixou Pisa e voltou para Livorno, juntamente com a mulher e um filho que tinham, hospedando-se também em casa de Francisco Nunes Ferro. Vinha disposto a regressar a Portugal, dizendo que não conseguia sustentar a família. Porém, os dirigentes da comunidade, receando que o regresso dele e da mulher os levasse às prisões da inquisição e arrastasse outras mais prisões, lá lhe arranjaram emprego e apoios financeiros para se manter em Livorno. 

O mesmo não aconteceu a Manuel que, pouco tempo depois, ao fim de 9 meses de estadia por Itália, embarcou em um navio francês com destino à pátria sefardita, metendo-se a servir o capitão do navio, para pagar a viagem.

Chegou a Lisboa em agosto de 1701 e foi viver para casa de seu tio paterno, João Dias Pereira, vindo de Castela pouco tempo antes com a família e que logo o mandou a terminar o curso de torcedor de seda em casa de um tecelão chamado Manuel da Costa.

Desta vez ficou-se por Lisboa durante um ano e pouco, mas teve ocasião de ver muita gente conhecida, de saber de muitos parentes e amigos presos pela inquisição em Trás-os-Montes e outras terras e presenciar muitas fugas, com medo do santo ofício. Inclusivamente, teve oportunidade de assistir à celebração de um auto-da-fé, na igreja de S. Domingos, em 22.3.1702, recordando-se que na procissão, entre o palácio da inquisição e a igreja reconheceu Ana Cardosa e suas filhas, Ângela e Violante Maurícia, que iam vestidas com o sambenito, entre os penitentes. (3)

Ana Cardosa era natural de Almendra, terra de Riba Côa, onde viveu até aos 16 anos, altura em que foi ajustado o seu casamento com Manuel Lopes Galego, (4) de Chacim, terra onde o casal assentou morada. Anos depois, receando ser presos pela inquisição, foram-se para Lisboa, onde o Galego “vendia especiarias pelas ruas”, enquanto não surgiu oportunidade de fuga para o estrangeiro. Manuel Lopes encontrou-o, a primeira vez na rua de S. José e depois foi muitas vezes a sua casa. A propósito, desta família, contaria aos inquisidores:

- Depois de se ter celebrado o dito auto-da-fé, foi muitas vezes vê-las ele confitente a sua casa, que a tinham na rua de S. Antão da Mouraria e também na rua dos Canos, para onde depois se mudaram (…) E continuando a ir vê-los à dita rua dos Canos, na ocasião lhe dissera a dita Ana e seus filhos, perguntando por Manuel Lopes Galego, porque havia alguns dias que o não via, nem havia encontrado em casa, que os ministros da inquisição, tinham ido perguntar pelo dito Manuel Lopes Galego, marido e pai de seus filhos, e presumindo que o queriam prender, se tinha escondido em casa de Luís Lopes Pereira, seu cunhado. E que, continuando os ditos ministros a ir perguntar por ele, tinham respondido que estava na tenda a vender açafrão; e com estes temores, dispusera-se a ausentar-se de Lisboa, como o fez, embarcando-se em um navio pesqueiro, que se chamava Estafeta, da Holanda, e estando já embarcado o dito Manuel Lopes Galego e o dito Luís Cardoso Pereira, irmão de Ana Cardosa, o foi acompanhando e a seus filhos e filhas uma noite até um sítio que se chama Belém, distante de Lisboa uma légua, recebendo-o por já estar avisado, o capitão do navio, da lancha, e se foram com efeito para a Holanda. (5)

Companheiro assíduo nas andanças de Manuel por Lisboa era um Gabriel Rodrigues Pinto, natural da vila de Moreira e morador no Porto, filho de Manuel Pinto, de Torre de Moncorvo, o qual estivera preso na inquisição de Coimbra e saiu penitenciado em 11.12.1701. (6) A propósito, diria Manuel Lopes:

- Gabriel Rodrigues Pinto esteve preso em Coimbra por judaizante, e sabe, por ser público em Lisboa, por ele próprio ter dito e também Francisco Marcos Ferro, de quem já disse. E saíram os dois ao mesmo tempo da inquisição de Coimbra (…) Gabriel cumpriu a penitência e parte dela na paróquia de S. Lourenço, em Lisboa, com sambenito; e acabada a missa, tirava-o e o levava debaixo da capa, de volta a sua casa, que tinha no Bairro de Alcântara; e vendia tabaco (…) de 32 anos, alto, bem elegante de corpo, nem gordo nem magro, cara larga, branca, olhos azuis, barba e sobrancelhas e cabelo ruivo irizado e curto e um pouco calvo até ao pescoço. (7)

Aliás, foi através de Gabriel Pinto que Manuel Lopes conheceu o intérprete, de quem atrás se falou, assim como Francisco Marcos Ferro, Simão de Vivar, David Brandão e outros, originários de Torre de Moncorvo e Mogadouro, todos ligados entre si, como haveremos de ver.

 

Notas:
1-Numa primeira audiência, disse que se chamava Abraham.
2-Pº 630-L, tif 232: - E chegados a Livorno, tendo sabido que o marido estava em Pisa, o mandaram chamar; e com efeito seu marido veio a Livorno e esteve com a mulher e irmão e não os quis admitir em sua companhia, por causa de que havia sido adúltera; e vendo isto, a dita mulher voltou para Espanha, e o dito seu marido casou com a outra.
3- Inq. Lisboa, pº 6606, de Ana Cardosa; pº 6602, de Ângela Cardosa, 17 anos; pº 6996, de Violante Maurícia.
4- Pº 6606-L, tif 65: - Há 32 anos, em casa de sua mãe, Leonor Pereira, que tratava de ajustar o seu casamento com um homem que não se lembra o nome, casado com uma sua tia chamada Violante Nunes e com efeito se ajustou o casamento com Manuel Lopes, que assistia em Chacim, partira ela declarante para a dita vila…
5- Pº 630-L, tif 217-218. 
6- Inq. Coimbra, pº 8335, de Gabriel Rodrigues Pinto.
7- Pº 630-L, tif 49.

Que prioridades para a humanidade? Parte I

Decretada a situação de pandemia provocada pelo coronavírus Covid-19, com origem na China, que paralisou grande parte da atividade económica no planeta, crise a que a humanidade não pode responder com o poderoso e sofisticado armamento de guerra, por se tratar de um inimigo invisível, de uma guerra biológica, o mundo teve que se confinar para reduzir a propagação do vírus, seguindo as orientações da OMS e das autoridades de saúde de cada estado. Situação invulgar na história da humanidade. 
O combate está a ser assegurado pela primeira linha de defesa, o sistema de saúde público, com apoio do setor privado, as cadeias logísticas de abastecimento público, setores de apoio sanitário, forças militares e de segurança, sistemas de proteção social e de apoio às empresas enquanto, numa atitude sem precedentes, centenas  de laboratórios e centros de investigação públicos e privados de todo o mundo, envolvendo milhares de cientistas, apontam as baterias da investigação para a descoberta de vacinas eficazes e medicação no âmbito da farmacologia, processo promissor mas exigente, considerando os fracos resultados da investigação para vencer outras epidemias, como a malária e o cancro. 
As nações fecharam fronteiras, a aviação parou, o turismo ficou suspenso, reduziram de forma drástica as atividades económicas, sociais, educativas desportivas e religiosas. A esmagadora maioria dos cidadãos ficou em casa, por recomendação da Autoridade Mundial de Saúde e decisões dos Estados, com o Estado de Emergência decretado na maioria dos países. Á crise sanitária acresce a maior recessão económica global das últimas décadas e em consequência o aumento do desemprego e da fome. A imprensa a nível mundial focou-se na crise pandémica, difundindo as orientações das autoridades políticas e de saúde, desde a fase que de forma gradual levou ao confinamento em todos os continentes, aos planos de regresso progressivo às atividades que está a ser feito com muitas restrições e incertezas relativamente ao futuro.  
Decidi no final de março, tentar conciliar com algumas tarefas familiares prioritárias, a partilha de alguma reflexão neste período surpreendente, tendo optado por olhar para lá do período pós pandemia. Escolhi refletir sobre a agenda da humanidade para as próximas décadas, ciente que o mundo pós pandemia seguirá com algumas alterações muito significativas, mas que o essencial dos grandes problemas pré pandemia continuarão presentes. Na biblioteca selecionei alguns livros para confrontar linhas de pensamento, nomeadamente dos autores: Yuval Noah Harari – “Homo Deus – Breve História do amanhã”; John Brockman – “Os próximos 50 anos – A ciência na primeira metade do século XXI; James Canton – “Sabe O Que Vem Aí – As principais tendências que redesenharão o mundo”; Laurence Shorter - “O Optimista – A procura de um lado mais positivo da vida.  
Ao longo de milhares de anos a agenda da humanidade teve como principais preocupações: a fome, as epidemias e a guerra. Os humanos rezaram a todos os deuses, mas continuaram a morrer aos milhões, resultado das guerras, da fome e das epidemias. Ainda hoje, aos mais idosos se houve a expressão “Nossa Senhora nos livre da fome, da peste e da guerra”.
Dos imensos progressos feitos pela humanidade ao longo de muitos séculos, destaco os alcançados no século XX, na redução da fome no mundo, das mortes por guerras e pelas epidemias, em resultado da evolução científica e tecnológica, do crescimento económico, de uma maior cooperação global entre nações, da democratização crescente na governação dos povos e do papel de instituições globais como a ONU, progressos que permitiram atingir um patamar em que, pela primeira vez, se registam mais mortes por envelhecimento natural do que por doenças infectocontagiosas, mais mortes nas estradas do que nas guerras  mais pessoas a morrer por doenças relacionadas com estilos de vida do que por fome.
Há agora quem refira que as prioridades de sempre, deixaram de o ser, e que, a agenda de prioridades tem de ser reformulada. É sobre esta ideia que vou refletir, deixando desde já registado o meu ponto de vista no sentido de que, apesar de um progresso tão rápido e expressivo, alcançado nos dois séculos passados, persistem imensos problemas ligados as três prioridades acima referidas, que acompanham o ser humano desde há muitos milhares de anos, em particular à fome, problemas que exigem maior cooperação internacional, maior afirmação das democracias e dos Estados de direito, na atualidade enfraquecidas face à trajetória de ascensão dos governos autocráticos,  nacionalistas e a persistência de ditaduras que governam grandes países. 
A perspetiva de alteração de prioridades da agenda da humanidade pode colocar-se perante o imenso poder alcançado, proporcionado pela evolução da riqueza global, pelo potencial de inovação e de desenvolvimento tecnológico nas áreas da biotecnologia, da nanotecnologia e na tecnologia de informação, sendo compreensível que as pessoas questionem para onde caminha a humanidade. Para que prioridades vai ser dirigido esse poder, ou seja, quais são as prioridades para a agenda global da humanidade nas próximas décadas? 
Comecemos por abordar as três prioridades de sempre. A História da Humanidade inscreve páginas dramáticas sobre a fome, desde os tempos antigos até à época contemporânea, desde a Ásia, ao Médio Oriente e á Europa, resultado do mau tempo, com invernos intensos e longos e secas severas; de grandes epidemias; de guerras devastadoras pela conquista de poder, na construção de impérios, ou na simples disputa de fronteiras, também devido a conflitos religiosos. A limitação do comércio, a diminuição da capacidade produtiva e de aprovisionamento de bens não favoreciam a resposta às necessidades em tempos de calamidade, assim como a frágil organização dos povos, bastante distinta da atual organização das nações, não ajudava na resposta à primeira das preocupações com que os seres humanos se confrontavam.  
Referem-se algumas situações mais próximas no tempo e na geografia. O mau tempo e as chuvas intensas no período de 1692 a 1694, provocaram a perda de 15% da população de França, noutros estados da Europa Central e do Norte chegou a haver perdas superiores. Em Bragança, a grande seca nos anos de 1744 e 1745 em que faltou água nos moinhos, morreu muito gado, foi um período de grande escassez alimentar, situação que veio a agravar-se no período de 1749 a 1755 com a última incursão sangrenta da Inquisição na perseguição a habitantes de Bragança sobretudo os ligados à indústria da seda, indústria que permitiu a Bragança assumir-se em finais do século XVIII como o principal centro urbano do Interior de Portugal. 
A fome voltou, no ano de 1856 a provocar grande sofrimento à população do Nordeste Transmontano, resultado de uma grande escassez de cereais face a um inverno rigoroso. As chuvas arrasaram casas, campos, pontes e caminhos. A situação de escassez alimentar esteve na origem de um motim na cidade de Bragança, com o povo enfurecido nas ruas e que ficou conhecido como “Barrulheira do Peneiro. A crise agravou-se face ao afundamento das colheitas vinícolas pelo efeito da filoxera, do aniquilamento da cultura do sirgo para a indústria da seda e à baixa colheita de azeite.   A Região mergulhou numa forte depressão. 
No século XX, a sociedade conseguiu dar um grande salto, graças ao desenvolvimento tecnológico, ao forte crescimento da economia, à capacidade de aprovisionamento de reservas estratégicas, à criação de uma Rede Global de logística comercial, à Cooperação política e económica Internacional através de Instituições Globais, à progressão da democracia e ao trabalho de Organizações Não Governamentais, e assim, garantir maior resistência a situações de calamidade, suprir situações de escassez de bens e socorrer os mais frágeis. 
Segundo o Relatório da ONU, “Estado de Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019”, a fome no mundo, medida pela prevalência de desnutrição, era de 850 milhões representando 11% da população mundial. A FAO, organização da ONU para a Agricultura refere, em relatório de 2018, ser possível atingir o objetivo de fome zero no ano de 2030, recorrendo a uma agricultura moderna, mais sustentável, com recurso a mais inovação e tecnologia. 
A prioridade de combate à fome no mundo levou a uma reorientação das atividades agrícolas, ao fortalecimento da agroindústria e à forte mecanização e automação, visando aumentar a produção e distribuição de alimentos para enfrentar o desígnio de redução da fome e simultaneamente responder ao crescimento exponencial da população. Deste modo, os esforços das políticas publicas foram orientados para a agricultura intensiva.
Estamos atualmente numa nova fase em que um número crescente de consumidores, por razões de saúde, de segurança alimentar e de preservação do planeta, estão a pressionar as decisões políticas e os mercados para uma mudança de estratégia, orientada para uma agricultura mais sustentável, visando uma redução drástica na contaminação da água dos aquíferos subterrâneos e de superfície, a redução nas enormes quantidades de agroquímicos, pesticidas sintéticos, fertilizantes e antibióticos. 
É inquestionável que está em aberto uma nova visão para o futuro da agricultura, ligada à transição para uma economia verde e do conhecimento. A Europa tem, no âmbito das novas orientações da Política Agrícola Comum (PAC), para o período 2021-2027 e na sua articulação com o Pacto Ecológico Europeu, escolhas essenciais para fazer, canalizando mais apoio para a agricultura que respeita o meio ambiente e que proporciona mais benefícios sociais e ambientais, em detrimento das explorações com milhares de hectares de agricultura intensiva, que tem absorvido a maioria dos apoios. Um por cento dos agricultores da EU, tem recebido um terço dos apoios da PAC. 
Face ao objetivo fixado pelas Nações Unidas de fome zero em 2030, a pergunta é se será possível alcançar tal objetivo, ponderando o crescimento exponencial da população mundial, com a evolução das alterações climáticas que estão a ser devastadoras para a Humanidade, com conflitos e ameaças militares, tendo na origem razões de poder pessoal de governantes ditadores, ou de estratégias de influência geopolítica e de luta pelos recursos do Planeta. A resposta não parece simples nem imediata, visto as orientações das Nações Unidas se confrontarem com problemas novos que geram fortes e desesperadas migrações, grandes campos de refugiados, lançando milhares de pessoas na pobreza, que voltou a crescer no planeta na última década.
A regressão da economia à escala global face à atual crise pandémica do Coronavirus Covid-19, que segundo especialistas poderá representar a maior recessão económica pós segunda Guerra Mundial, trará mais desemprego, mais pobreza, pelo que o combate à fome irá ganhar mais relevância no governo dos povos, as metas serão reavaliadas. As estratégias de produção e de consumo serão inevitavelmente revistas, num conflito que exige resposta dos mercados à procura dos consumidores, por outro a resposta a um desafio ainda maior, que pode levar décadas, o do combate às alterações climáticas e da preservação da vida no planeta.    
Até ao aparecimento de vacinas e antibióticos, as epidemias e doenças infeciosas propagadas de pessoa para pessoa, através do ar ou de picadas de insetos, pulgas ou ratos eram, a seguir à fome, o assassino número um da humanidade. A sua propagação aproveitava os fluxos das rotas do comércio entre povos, os caminhos das peregrinações, as cadeias logísticas das frentes de guerra. 
Na antiguidade as pessoas viviam com a perspetiva de que podiam morrer a todo o momento, devido às epidemias que podiam dizimar famílias e até localidades, devido às guerras frequentes e longas, ao contrário os períodos de paz eram pouco duradouros. A propagação de doenças ocorria sem que as pessoas conhecessem a forma como a contaminação os atingia, atribuíam as doenças a ares nocivos, a demónios, deuses irados sem que se suspeitasse da existência de bactérias e vírus. 
Perdem-se no tempo os esforços do homem para a cura das doenças, na luta eterna contra a morte. O conhecimento humano foi evoluindo lentamente ao longo de milénios. Hipócrates (séc. IV a.C.), descendente de uma família grega que durante várias gerações praticara cuidados de saúde, é considerado um dos pais da medicina, nas suas obras já descreve como diagnosticar doenças como a malária, papeira, pneumonia, a tuberculose.
No séc. XVIII, os trabalhos de investigação do médico inglês Eduard Jenner permitiram desenvolver a vacina contra a varíola. No séc. XIX, os trabalhos de investigação do francês Louis Pasteur, um dos pais fundadores da microbiologia, permitiram desenvolver a vacina antirrábica. No séc. XX, Alexandre Fleming descobriu a penicilina, iniciando-se a era dos antibióticos.  
São devastadores os registos históricos de epidemias e doenças infeciosas. A varíola, foi a mais devastadora das epidemias, desde há 10 000 anos a.C. até 1979, tendo a OMS declarado no ano de 1980 a sua erradicação. A pandemia da Peste Negra, iniciou na Ásia, propagou-se entre 1340 e 1771, atingiu este continente e a Europa, o seu auge ocorreu entre 1346 e 1353, matou pelo menos um terço da população. Teve origem numa bactéria dos ratos-pretos, foi propagada pelas pulgas que ao morder os humanos os infetavam. A Gripe Espanhola que surgiu nos anos de 1918-1919, propagou-se a partir da frente de batalha da 1.ª Grande Guerra Mundial à cadeia logística, que desde a Austrália, Estados Unidos da América, Índia e países europeus faziam chegar material às linhas de guerra, e assim, rapidamente alastrou vitimando entre 50 a 100 milhões de pessoas, mais do que as vitimas na frente de guerra. 
Os europeus, no tempo das descobertas, levaram para a América, Austrália e ilhas do Pacífico, doenças para as quais os nativos não tinham autodefesas e que dizimaram populações inteiras. Já no séc. XXI surgiram surtos de novas epidemias: a Sida em 2001; o SARS em 2002 e 2003; a gripe das aves em 2005; a gripe suína em 2009 e 2010; o ébola em 2014 e agora o Covid-19. A atual pandemia propagou-se velozmente por terra, mar e ar a todos os continentes. Alguma indústria reorientou a atividade para apoiar a produção de material necessário aos hospitais, muitos deles com a capacidade esgotada. A França na fase inicial chegou a enviar doentes infetados em aviões militares e em comboios sanitários para hospitais na Alemanha. 
Muitas centenas de Centros de Investigação e Laboratórios de farmacêuticas, dezenas de milhares de investigadores na área da saúde, e outros que reorientaram as prioridades de investigação, trabalham em rede à escala global, 24 sobre 24 horas para encontrar armas para a medicina combater a atual pandemia. Neste processo de investigação acelerada, sem precedentes, nos números de investigadores e de recursos mobilizados, a humanidade poderá dar um grande salto de conhecimento para encontrar armas mais poderosas para derrotar novos vírus e bactérias, ou reincidências, descobrir novas linhas de investigação em beneficio da saúde humana. 
A União Europeia, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, colocou-se na linha da frente, no apoio financeiro à investigação e no desenvolvimento da cooperação e investigação aberta, com a perspetiva de que os resultados da investigação devem ser   partilhados entre todos os países. Acrescento face ao grande investimento público realizado que é legítimo afirmar que as possíveis vacinas venham a ser consideradas um bem público e disponibilizadas a todos os países pelo custo de fabrico, sem encargos associados à investigação. A rapidez com que a nível mundial, os governos, centros de investigação e a indústria farmacêutica, deram inicio a um processo de cooperação aberto, representa já uma boa notícia de esperança para o futuro.  
Os resultados alcançados nas duas últimas décadas contra epidemias, os números relativamente baixos de vitimas, fizeram pensar que a humanidade estava bem preparada para resistir a novas epidemias. A situação atual indica-nos existirem elevadas fragilidades. Vale em parte a resposta coordenada e solidaria a nível mundial e o seguimento das orientações da OMS. A investigação nas ciências da saúde tem dado grandes avanços, na nanotecnologia e na biotecnologia, proporcionando desenvolvimentos na engenharia genética e na medicina regenerativa, sendo necessário reforçar objetivos. Alguns filósofos, investidores e cientistas tem vindo a apostar nas prioridades do prolongamento da vida natural, reforçando a ideia perseguida desde há muitos séculos, a da eterna juventude.
 A pergunta é a de perceber se será o caminho certo e prioritário e se algum dia a morte poderá ser vencida. Acredito ser prioritário reorientar parte da capacidade de investigação e desenvolvimento, reforçando-a com maior orçamento em detrimento do orçamento militar, dando maior prioridade aos sistemas de saúde pública, visando o aumento da esperança de vida em todo o planeta, melhorando cuidados de saúde, de higiene, alimentares, trazendo todos os povos do planeta a um patamar de maior igualdade e dignidade de vida.  É também necessário dar resposta a novos desafios contra atuais e novos vírus e bactérias, reforçar as medidas de segurança contra o bioterrorismo, evitando que armas biológicas potentes vão parar a mãos erradas.
Vai ser preciso repensar prioridades, sobre o que é essencial, garantir que a vida é a nossa primeira preocupação, uma vez que só podemos dispor de uma, cuidar da Casa Comum porque por enquanto é única, não temos outra. Para isso temos que reavaliar a agenda futura da humanidade, pensar sobre o caminho que está a ser seguido que nos pode levar a um desastre ecológico, reconciliar a relação com a natureza, redirecionar o percurso da humanidade, dar mais valor e dignidade à vida de todos os seres humanos do planeta.  
Na presente crise ficou mais claro que nunca, que o destino da humanidade está ligado, que a degradação da biosfera está associada a desastres naturais, mas também aos excessos da atividade humana, que a prioridade do homem será a da sua própria proteção e do planeta contra os perigos inerentes ao poder por si desenvolvido e à forma de vida seguida pela humanidade, sendo necessário redefinir valores e prioridades. 
Ao longo da História da Humanidade, desde a Idade da Pedra, que durou centenas de milhares de anos, não acabou por falta de pedra, sim pela evolução do conhecimento e das tecnologias, até à era industrial, as pessoas estavam preparadas para a guerra e atos de violência, que podiam acontecer a todo o momento. A paz era o estado provisório e precário, a guerra era quase sempre a primeira opção. 
No acordo de paz da primeira Grande Guerra Mundial, assinado por 44 Estados a 28 de junho de 1919, foi incluída a criação da Sociedade das Nações, com o objetivo de assegurar a paz entre os povos. A 1 de setembro de 1939 iniciou a Segunda Grande Guerra Mundial, a mais mortífera da história da humanidade, resultou em 50 a 75 milhões de mortes, mobilizou 100 milhões de militares. Faz este ano 75 anos que a Alemanha nazi se rendeu aos Aliados (a 8 de maio de 1945). A guerra deixou marcas terríveis como o holocausto e o lançamento sobre Hiroshima e Nagasaki, a 6 e 9 de agosto de 1945, das primeiras e únicas bombas atómicas alguma vez utilizadas e que puseram fim à Guerra, com a rendição dos japoneses às forças dos EUA.
As negociações de paz incluíram a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) (abril-junho de 1945), substituindo a Sociedade das Nações, para no futuro seguir o mesmo objetivo, o de assegurar a paz entre os povos. Em 1945 emergiram duas potencias mundiais, os Estados Unidos da América e a União Soviética que dividiram o mundo em zonas de influência, o que deu origem à designada Guerra Fria que durou até à extinção da União Soviética (1991). Nesta fase de confronto não houve guerra direta entre as duas superpotências. Os chefes de estado e os militares compreenderam que numa batalha nuclear não haveria vencedores. 
A ONU com os seus órgãos principais e complementares, atuando à escala global, dá um contributo essencial à paz no mundo. Para além da ONU, alianças regionais, económicas, políticas e militares têm vindo ser criadas. Todas ajudam a uma melhor organização global da humanidade. Se aproveitadas sempre para bons fins, a humanidade estará melhor protegida e mais focada em construir o futuro do que em destruir o presente.  
A II Grande Guerra pós termo à Lei da Selva, na atualidade as guerras apoiam-se em elites altamente treinadas para usar tecnologia de ponta, são mais tecnológicas e muito cirúrgicas, menos mortíferas, mas devastadoras em termos sociais e económicos. Ao contrário da economia da guerra, a economia do conhecimento proporciona aos países ganhos mais significativos, através de iniciativas de cooperação tecnológica e de integração da economia, das redes avançadas da indústria, do comércio, serviços e da logística. A conquista pelas armas deixa de ser a prioridade, passando a sê-lo através da economia. 
 No futuro este “equilíbrio” pode ser rompido. Novas guerras, atuando no ciberespaço podem desestabilizar o mundo, através de “bombas lógicas” – códigos de software comandados à distância -, também o bioterrorismo (armas biológicas, invisíveis e silenciosas) pode provocar danos irreparáveis na humanidade, alguma ideologia nova e poderosa pode ascender e pelo caminho pode espalhar confusão. As ameaças existem, a sua complexidade aumenta, mas a humanidade está mais protegida através de armas de contenção e dissuasão, principalmente pelas instituições de cooperação, pela democracia, também pelas principais religiões sem o que seria difícil manter a ordem social em larga escala.

 

Ignorantes mas poderosos

Seg, 25/05/2020 - 23:32


Aparentemente nas sociedades em que vivemos haverá condições propícias ao reconhecimento crescente do valor do saber para o desenvolvimento de modelos de inter-relação capazes de nos elevar a patamares nunca atingidos nas condições materiais, na equidade, na ética e na estética, com reflexos na m