Que prioridades para a humanidade? Parte I

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Decretada a situação de pandemia provocada pelo coronavírus Covid-19, com origem na China, que paralisou grande parte da atividade económica no planeta, crise a que a humanidade não pode responder com o poderoso e sofisticado armamento de guerra, por se tratar de um inimigo invisível, de uma guerra biológica, o mundo teve que se confinar para reduzir a propagação do vírus, seguindo as orientações da OMS e das autoridades de saúde de cada estado. Situação invulgar na história da humanidade. 
O combate está a ser assegurado pela primeira linha de defesa, o sistema de saúde público, com apoio do setor privado, as cadeias logísticas de abastecimento público, setores de apoio sanitário, forças militares e de segurança, sistemas de proteção social e de apoio às empresas enquanto, numa atitude sem precedentes, centenas  de laboratórios e centros de investigação públicos e privados de todo o mundo, envolvendo milhares de cientistas, apontam as baterias da investigação para a descoberta de vacinas eficazes e medicação no âmbito da farmacologia, processo promissor mas exigente, considerando os fracos resultados da investigação para vencer outras epidemias, como a malária e o cancro. 
As nações fecharam fronteiras, a aviação parou, o turismo ficou suspenso, reduziram de forma drástica as atividades económicas, sociais, educativas desportivas e religiosas. A esmagadora maioria dos cidadãos ficou em casa, por recomendação da Autoridade Mundial de Saúde e decisões dos Estados, com o Estado de Emergência decretado na maioria dos países. Á crise sanitária acresce a maior recessão económica global das últimas décadas e em consequência o aumento do desemprego e da fome. A imprensa a nível mundial focou-se na crise pandémica, difundindo as orientações das autoridades políticas e de saúde, desde a fase que de forma gradual levou ao confinamento em todos os continentes, aos planos de regresso progressivo às atividades que está a ser feito com muitas restrições e incertezas relativamente ao futuro.  
Decidi no final de março, tentar conciliar com algumas tarefas familiares prioritárias, a partilha de alguma reflexão neste período surpreendente, tendo optado por olhar para lá do período pós pandemia. Escolhi refletir sobre a agenda da humanidade para as próximas décadas, ciente que o mundo pós pandemia seguirá com algumas alterações muito significativas, mas que o essencial dos grandes problemas pré pandemia continuarão presentes. Na biblioteca selecionei alguns livros para confrontar linhas de pensamento, nomeadamente dos autores: Yuval Noah Harari – “Homo Deus – Breve História do amanhã”; John Brockman – “Os próximos 50 anos – A ciência na primeira metade do século XXI; James Canton – “Sabe O Que Vem Aí – As principais tendências que redesenharão o mundo”; Laurence Shorter - “O Optimista – A procura de um lado mais positivo da vida.  
Ao longo de milhares de anos a agenda da humanidade teve como principais preocupações: a fome, as epidemias e a guerra. Os humanos rezaram a todos os deuses, mas continuaram a morrer aos milhões, resultado das guerras, da fome e das epidemias. Ainda hoje, aos mais idosos se houve a expressão “Nossa Senhora nos livre da fome, da peste e da guerra”.
Dos imensos progressos feitos pela humanidade ao longo de muitos séculos, destaco os alcançados no século XX, na redução da fome no mundo, das mortes por guerras e pelas epidemias, em resultado da evolução científica e tecnológica, do crescimento económico, de uma maior cooperação global entre nações, da democratização crescente na governação dos povos e do papel de instituições globais como a ONU, progressos que permitiram atingir um patamar em que, pela primeira vez, se registam mais mortes por envelhecimento natural do que por doenças infectocontagiosas, mais mortes nas estradas do que nas guerras  mais pessoas a morrer por doenças relacionadas com estilos de vida do que por fome.
Há agora quem refira que as prioridades de sempre, deixaram de o ser, e que, a agenda de prioridades tem de ser reformulada. É sobre esta ideia que vou refletir, deixando desde já registado o meu ponto de vista no sentido de que, apesar de um progresso tão rápido e expressivo, alcançado nos dois séculos passados, persistem imensos problemas ligados as três prioridades acima referidas, que acompanham o ser humano desde há muitos milhares de anos, em particular à fome, problemas que exigem maior cooperação internacional, maior afirmação das democracias e dos Estados de direito, na atualidade enfraquecidas face à trajetória de ascensão dos governos autocráticos,  nacionalistas e a persistência de ditaduras que governam grandes países. 
A perspetiva de alteração de prioridades da agenda da humanidade pode colocar-se perante o imenso poder alcançado, proporcionado pela evolução da riqueza global, pelo potencial de inovação e de desenvolvimento tecnológico nas áreas da biotecnologia, da nanotecnologia e na tecnologia de informação, sendo compreensível que as pessoas questionem para onde caminha a humanidade. Para que prioridades vai ser dirigido esse poder, ou seja, quais são as prioridades para a agenda global da humanidade nas próximas décadas? 
Comecemos por abordar as três prioridades de sempre. A História da Humanidade inscreve páginas dramáticas sobre a fome, desde os tempos antigos até à época contemporânea, desde a Ásia, ao Médio Oriente e á Europa, resultado do mau tempo, com invernos intensos e longos e secas severas; de grandes epidemias; de guerras devastadoras pela conquista de poder, na construção de impérios, ou na simples disputa de fronteiras, também devido a conflitos religiosos. A limitação do comércio, a diminuição da capacidade produtiva e de aprovisionamento de bens não favoreciam a resposta às necessidades em tempos de calamidade, assim como a frágil organização dos povos, bastante distinta da atual organização das nações, não ajudava na resposta à primeira das preocupações com que os seres humanos se confrontavam.  
Referem-se algumas situações mais próximas no tempo e na geografia. O mau tempo e as chuvas intensas no período de 1692 a 1694, provocaram a perda de 15% da população de França, noutros estados da Europa Central e do Norte chegou a haver perdas superiores. Em Bragança, a grande seca nos anos de 1744 e 1745 em que faltou água nos moinhos, morreu muito gado, foi um período de grande escassez alimentar, situação que veio a agravar-se no período de 1749 a 1755 com a última incursão sangrenta da Inquisição na perseguição a habitantes de Bragança sobretudo os ligados à indústria da seda, indústria que permitiu a Bragança assumir-se em finais do século XVIII como o principal centro urbano do Interior de Portugal. 
A fome voltou, no ano de 1856 a provocar grande sofrimento à população do Nordeste Transmontano, resultado de uma grande escassez de cereais face a um inverno rigoroso. As chuvas arrasaram casas, campos, pontes e caminhos. A situação de escassez alimentar esteve na origem de um motim na cidade de Bragança, com o povo enfurecido nas ruas e que ficou conhecido como “Barrulheira do Peneiro. A crise agravou-se face ao afundamento das colheitas vinícolas pelo efeito da filoxera, do aniquilamento da cultura do sirgo para a indústria da seda e à baixa colheita de azeite.   A Região mergulhou numa forte depressão. 
No século XX, a sociedade conseguiu dar um grande salto, graças ao desenvolvimento tecnológico, ao forte crescimento da economia, à capacidade de aprovisionamento de reservas estratégicas, à criação de uma Rede Global de logística comercial, à Cooperação política e económica Internacional através de Instituições Globais, à progressão da democracia e ao trabalho de Organizações Não Governamentais, e assim, garantir maior resistência a situações de calamidade, suprir situações de escassez de bens e socorrer os mais frágeis. 
Segundo o Relatório da ONU, “Estado de Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019”, a fome no mundo, medida pela prevalência de desnutrição, era de 850 milhões representando 11% da população mundial. A FAO, organização da ONU para a Agricultura refere, em relatório de 2018, ser possível atingir o objetivo de fome zero no ano de 2030, recorrendo a uma agricultura moderna, mais sustentável, com recurso a mais inovação e tecnologia. 
A prioridade de combate à fome no mundo levou a uma reorientação das atividades agrícolas, ao fortalecimento da agroindústria e à forte mecanização e automação, visando aumentar a produção e distribuição de alimentos para enfrentar o desígnio de redução da fome e simultaneamente responder ao crescimento exponencial da população. Deste modo, os esforços das políticas publicas foram orientados para a agricultura intensiva.
Estamos atualmente numa nova fase em que um número crescente de consumidores, por razões de saúde, de segurança alimentar e de preservação do planeta, estão a pressionar as decisões políticas e os mercados para uma mudança de estratégia, orientada para uma agricultura mais sustentável, visando uma redução drástica na contaminação da água dos aquíferos subterrâneos e de superfície, a redução nas enormes quantidades de agroquímicos, pesticidas sintéticos, fertilizantes e antibióticos. 
É inquestionável que está em aberto uma nova visão para o futuro da agricultura, ligada à transição para uma economia verde e do conhecimento. A Europa tem, no âmbito das novas orientações da Política Agrícola Comum (PAC), para o período 2021-2027 e na sua articulação com o Pacto Ecológico Europeu, escolhas essenciais para fazer, canalizando mais apoio para a agricultura que respeita o meio ambiente e que proporciona mais benefícios sociais e ambientais, em detrimento das explorações com milhares de hectares de agricultura intensiva, que tem absorvido a maioria dos apoios. Um por cento dos agricultores da EU, tem recebido um terço dos apoios da PAC. 
Face ao objetivo fixado pelas Nações Unidas de fome zero em 2030, a pergunta é se será possível alcançar tal objetivo, ponderando o crescimento exponencial da população mundial, com a evolução das alterações climáticas que estão a ser devastadoras para a Humanidade, com conflitos e ameaças militares, tendo na origem razões de poder pessoal de governantes ditadores, ou de estratégias de influência geopolítica e de luta pelos recursos do Planeta. A resposta não parece simples nem imediata, visto as orientações das Nações Unidas se confrontarem com problemas novos que geram fortes e desesperadas migrações, grandes campos de refugiados, lançando milhares de pessoas na pobreza, que voltou a crescer no planeta na última década.
A regressão da economia à escala global face à atual crise pandémica do Coronavirus Covid-19, que segundo especialistas poderá representar a maior recessão económica pós segunda Guerra Mundial, trará mais desemprego, mais pobreza, pelo que o combate à fome irá ganhar mais relevância no governo dos povos, as metas serão reavaliadas. As estratégias de produção e de consumo serão inevitavelmente revistas, num conflito que exige resposta dos mercados à procura dos consumidores, por outro a resposta a um desafio ainda maior, que pode levar décadas, o do combate às alterações climáticas e da preservação da vida no planeta.    
Até ao aparecimento de vacinas e antibióticos, as epidemias e doenças infeciosas propagadas de pessoa para pessoa, através do ar ou de picadas de insetos, pulgas ou ratos eram, a seguir à fome, o assassino número um da humanidade. A sua propagação aproveitava os fluxos das rotas do comércio entre povos, os caminhos das peregrinações, as cadeias logísticas das frentes de guerra. 
Na antiguidade as pessoas viviam com a perspetiva de que podiam morrer a todo o momento, devido às epidemias que podiam dizimar famílias e até localidades, devido às guerras frequentes e longas, ao contrário os períodos de paz eram pouco duradouros. A propagação de doenças ocorria sem que as pessoas conhecessem a forma como a contaminação os atingia, atribuíam as doenças a ares nocivos, a demónios, deuses irados sem que se suspeitasse da existência de bactérias e vírus. 
Perdem-se no tempo os esforços do homem para a cura das doenças, na luta eterna contra a morte. O conhecimento humano foi evoluindo lentamente ao longo de milénios. Hipócrates (séc. IV a.C.), descendente de uma família grega que durante várias gerações praticara cuidados de saúde, é considerado um dos pais da medicina, nas suas obras já descreve como diagnosticar doenças como a malária, papeira, pneumonia, a tuberculose.
No séc. XVIII, os trabalhos de investigação do médico inglês Eduard Jenner permitiram desenvolver a vacina contra a varíola. No séc. XIX, os trabalhos de investigação do francês Louis Pasteur, um dos pais fundadores da microbiologia, permitiram desenvolver a vacina antirrábica. No séc. XX, Alexandre Fleming descobriu a penicilina, iniciando-se a era dos antibióticos.  
São devastadores os registos históricos de epidemias e doenças infeciosas. A varíola, foi a mais devastadora das epidemias, desde há 10 000 anos a.C. até 1979, tendo a OMS declarado no ano de 1980 a sua erradicação. A pandemia da Peste Negra, iniciou na Ásia, propagou-se entre 1340 e 1771, atingiu este continente e a Europa, o seu auge ocorreu entre 1346 e 1353, matou pelo menos um terço da população. Teve origem numa bactéria dos ratos-pretos, foi propagada pelas pulgas que ao morder os humanos os infetavam. A Gripe Espanhola que surgiu nos anos de 1918-1919, propagou-se a partir da frente de batalha da 1.ª Grande Guerra Mundial à cadeia logística, que desde a Austrália, Estados Unidos da América, Índia e países europeus faziam chegar material às linhas de guerra, e assim, rapidamente alastrou vitimando entre 50 a 100 milhões de pessoas, mais do que as vitimas na frente de guerra. 
Os europeus, no tempo das descobertas, levaram para a América, Austrália e ilhas do Pacífico, doenças para as quais os nativos não tinham autodefesas e que dizimaram populações inteiras. Já no séc. XXI surgiram surtos de novas epidemias: a Sida em 2001; o SARS em 2002 e 2003; a gripe das aves em 2005; a gripe suína em 2009 e 2010; o ébola em 2014 e agora o Covid-19. A atual pandemia propagou-se velozmente por terra, mar e ar a todos os continentes. Alguma indústria reorientou a atividade para apoiar a produção de material necessário aos hospitais, muitos deles com a capacidade esgotada. A França na fase inicial chegou a enviar doentes infetados em aviões militares e em comboios sanitários para hospitais na Alemanha. 
Muitas centenas de Centros de Investigação e Laboratórios de farmacêuticas, dezenas de milhares de investigadores na área da saúde, e outros que reorientaram as prioridades de investigação, trabalham em rede à escala global, 24 sobre 24 horas para encontrar armas para a medicina combater a atual pandemia. Neste processo de investigação acelerada, sem precedentes, nos números de investigadores e de recursos mobilizados, a humanidade poderá dar um grande salto de conhecimento para encontrar armas mais poderosas para derrotar novos vírus e bactérias, ou reincidências, descobrir novas linhas de investigação em beneficio da saúde humana. 
A União Europeia, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, colocou-se na linha da frente, no apoio financeiro à investigação e no desenvolvimento da cooperação e investigação aberta, com a perspetiva de que os resultados da investigação devem ser   partilhados entre todos os países. Acrescento face ao grande investimento público realizado que é legítimo afirmar que as possíveis vacinas venham a ser consideradas um bem público e disponibilizadas a todos os países pelo custo de fabrico, sem encargos associados à investigação. A rapidez com que a nível mundial, os governos, centros de investigação e a indústria farmacêutica, deram inicio a um processo de cooperação aberto, representa já uma boa notícia de esperança para o futuro.  
Os resultados alcançados nas duas últimas décadas contra epidemias, os números relativamente baixos de vitimas, fizeram pensar que a humanidade estava bem preparada para resistir a novas epidemias. A situação atual indica-nos existirem elevadas fragilidades. Vale em parte a resposta coordenada e solidaria a nível mundial e o seguimento das orientações da OMS. A investigação nas ciências da saúde tem dado grandes avanços, na nanotecnologia e na biotecnologia, proporcionando desenvolvimentos na engenharia genética e na medicina regenerativa, sendo necessário reforçar objetivos. Alguns filósofos, investidores e cientistas tem vindo a apostar nas prioridades do prolongamento da vida natural, reforçando a ideia perseguida desde há muitos séculos, a da eterna juventude.
 A pergunta é a de perceber se será o caminho certo e prioritário e se algum dia a morte poderá ser vencida. Acredito ser prioritário reorientar parte da capacidade de investigação e desenvolvimento, reforçando-a com maior orçamento em detrimento do orçamento militar, dando maior prioridade aos sistemas de saúde pública, visando o aumento da esperança de vida em todo o planeta, melhorando cuidados de saúde, de higiene, alimentares, trazendo todos os povos do planeta a um patamar de maior igualdade e dignidade de vida.  É também necessário dar resposta a novos desafios contra atuais e novos vírus e bactérias, reforçar as medidas de segurança contra o bioterrorismo, evitando que armas biológicas potentes vão parar a mãos erradas.
Vai ser preciso repensar prioridades, sobre o que é essencial, garantir que a vida é a nossa primeira preocupação, uma vez que só podemos dispor de uma, cuidar da Casa Comum porque por enquanto é única, não temos outra. Para isso temos que reavaliar a agenda futura da humanidade, pensar sobre o caminho que está a ser seguido que nos pode levar a um desastre ecológico, reconciliar a relação com a natureza, redirecionar o percurso da humanidade, dar mais valor e dignidade à vida de todos os seres humanos do planeta.  
Na presente crise ficou mais claro que nunca, que o destino da humanidade está ligado, que a degradação da biosfera está associada a desastres naturais, mas também aos excessos da atividade humana, que a prioridade do homem será a da sua própria proteção e do planeta contra os perigos inerentes ao poder por si desenvolvido e à forma de vida seguida pela humanidade, sendo necessário redefinir valores e prioridades. 
Ao longo da História da Humanidade, desde a Idade da Pedra, que durou centenas de milhares de anos, não acabou por falta de pedra, sim pela evolução do conhecimento e das tecnologias, até à era industrial, as pessoas estavam preparadas para a guerra e atos de violência, que podiam acontecer a todo o momento. A paz era o estado provisório e precário, a guerra era quase sempre a primeira opção. 
No acordo de paz da primeira Grande Guerra Mundial, assinado por 44 Estados a 28 de junho de 1919, foi incluída a criação da Sociedade das Nações, com o objetivo de assegurar a paz entre os povos. A 1 de setembro de 1939 iniciou a Segunda Grande Guerra Mundial, a mais mortífera da história da humanidade, resultou em 50 a 75 milhões de mortes, mobilizou 100 milhões de militares. Faz este ano 75 anos que a Alemanha nazi se rendeu aos Aliados (a 8 de maio de 1945). A guerra deixou marcas terríveis como o holocausto e o lançamento sobre Hiroshima e Nagasaki, a 6 e 9 de agosto de 1945, das primeiras e únicas bombas atómicas alguma vez utilizadas e que puseram fim à Guerra, com a rendição dos japoneses às forças dos EUA.
As negociações de paz incluíram a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) (abril-junho de 1945), substituindo a Sociedade das Nações, para no futuro seguir o mesmo objetivo, o de assegurar a paz entre os povos. Em 1945 emergiram duas potencias mundiais, os Estados Unidos da América e a União Soviética que dividiram o mundo em zonas de influência, o que deu origem à designada Guerra Fria que durou até à extinção da União Soviética (1991). Nesta fase de confronto não houve guerra direta entre as duas superpotências. Os chefes de estado e os militares compreenderam que numa batalha nuclear não haveria vencedores. 
A ONU com os seus órgãos principais e complementares, atuando à escala global, dá um contributo essencial à paz no mundo. Para além da ONU, alianças regionais, económicas, políticas e militares têm vindo ser criadas. Todas ajudam a uma melhor organização global da humanidade. Se aproveitadas sempre para bons fins, a humanidade estará melhor protegida e mais focada em construir o futuro do que em destruir o presente.  
A II Grande Guerra pós termo à Lei da Selva, na atualidade as guerras apoiam-se em elites altamente treinadas para usar tecnologia de ponta, são mais tecnológicas e muito cirúrgicas, menos mortíferas, mas devastadoras em termos sociais e económicos. Ao contrário da economia da guerra, a economia do conhecimento proporciona aos países ganhos mais significativos, através de iniciativas de cooperação tecnológica e de integração da economia, das redes avançadas da indústria, do comércio, serviços e da logística. A conquista pelas armas deixa de ser a prioridade, passando a sê-lo através da economia. 
 No futuro este “equilíbrio” pode ser rompido. Novas guerras, atuando no ciberespaço podem desestabilizar o mundo, através de “bombas lógicas” – códigos de software comandados à distância -, também o bioterrorismo (armas biológicas, invisíveis e silenciosas) pode provocar danos irreparáveis na humanidade, alguma ideologia nova e poderosa pode ascender e pelo caminho pode espalhar confusão. As ameaças existem, a sua complexidade aumenta, mas a humanidade está mais protegida através de armas de contenção e dissuasão, principalmente pelas instituições de cooperação, pela democracia, também pelas principais religiões sem o que seria difícil manter a ordem social em larga escala.

 

Jorge Nunes