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Produtores de Vinhais lamentam ano de pouca castanha mas em qualidade o fruto foi abençoado

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Ter, 29/10/2024 - 11:42


Os produtores de castanha do concelho de Vinhais estão a viver mais um ano pouco simpático. Em 2023 havia, segundo dizem, muita castanha mas, devido à podridão, grande parte dela foi para o lixo e, por isso, as quebras foram dramáticas.

Ondas negras

Partiu neste fim de semana um dos maiores artistas nacionais. Não foi inesperada, mas deixou um rasto de tristeza e saudade enorme. Ícone nacional da música portuguesa, Marco Paulo marcou profundamente um tempo e um modelo de honestidade, bondade e sinceridade, como é difícil de encontrar. Uma onda enorme de uma tristeza só igualável com a partida de Amália, marcou este fim de semana. Não será esquecido certamente nos tempos mais próximos e nas gerações que se seguem. Mas se nos compadecemos com a partida de alguns, já não conseguimos ter igual sensibilidade com outros que, embora não tenham partido, têm atitudes tão tristes que não nos merecem qualquer sentimento de comiseração. A semana que acabou foi envolvida por uma manta negra que abalou a sociedade portuguesa de uma forma invulgar. A onda de violência que se viveu após a morte de Odair e se espalhou um pouco por todo o lado, foi simplesmente lamentável em todos os aspetos. Uma onda que ainda não terminou e não se sabe quando terminará. Violência brutal que espalhou o medo e a insegurança pelos bairros e pelas ruas da capital e se alastrou a outras localidades. Polícias e bombeiros foram chamados a terreiro para travar a onda, mas não tem sido fácil. Em muitos bairros há gangues que se organizam e atuam onde lhes apetece, assaltando e dedicando-se a negócios obscuros. Escaramuças e confrontos causaram o pânico. O que aconteceu foi a faísca que incendiou estes gangues que se sublevaram contra a polícia e contra o governo. Nada justifica esta violência. Autocarros e carros incendiados, caixotes do lixo destruídos e queimados é o selo da violência instalada em muitos bairros. É a revolta contra a atuação da polícia, segundo parece. Será? Acusam os polícias de violência policial. Prática ou teoria? A verdade é que a violência gera violência. Talvez esta violência eseja relacionada com problemas sociais cuja resolução é premente resolver, mas não pode ser justificativo para destruir vidas e bens materiais que nada têm a ver com os possíveis culpados. Afinal a polícia tem de agir e tentar manter a ordem quando é necessário. O que não pode é ultrapassar limites. Limites que eles bem conhecem, mas que algumas vezes são empolgados por qualquer razão. A morte de Odair a tiro, pode ter sido um caso de exagero ou um engano. Há várias teorias sobre isso e nenhuma ainda em concreto que explique o sucedido. Aconteceu. Uma vida ceifada talvez injustamente. Talvez desnecessariamente. Um polícia culpado. Só? Pior do que o sucedido é haver partidos políticos que se aproveitam para tirar dividendos desta violência, quase incentivando para uma onda de revolta ainda maior, menosprezando a perda de uma vida e rotulando o racismo como racional e até legal. Nada mais desprezível do que este tipo de sentimento ou pensamento retrógrado numa sociedade do século XXI. Parece nada se ter aprendido ao longo dos anos de democracia. Quando a democracia aceita no seu seio partidos antidemocráticos racistas e xenófobos, então há que rever a própria democracia. Algo está mal. Já não estamos no tempo dos cowboys onde tudo se resolvia ao tiro e a justiça não tinha dono. O Ministério Público irá certamente averiguar o que foi dito a este respeito. Agora passou-se para a fase de inquéritos. O balanço é terrível. Quase vinte carros incendiados, cinco ou seis autocarros que ar- deram totalmente, pessoas feridas, polícias atacados e alguns que acabaram por ir a hospital com ferimentos ligeiros. Que mais haverá a acrescentar a tudo isto? Quem vai pagar os estragos feitos? Quem vai dar carros novos a quem perdeu os seus no meio do tumulto e que nenhumas culpas tiveram neste caos de insurreição? A questão da imigração, a falta de emprego, os salários baixos e uma assistência social deficiente, não podem justificar estes tumultos que alguns teimam em rotular de raciais e racistas. É verdade que há uma maioria de elementos de etnia negra no meio desta confusão, mas não pode ser só por isso que eles têm de ser os culpados de tudo. Há mais propensão para que se envolvam nestas situações devido a uma si- tuação social menos positiva, mas o caso vertente foi uma morte e não nos podemos esquecer disso e que quem matou foi um polícia branco. Não se pode estar nos dois lados ao mesmo tempo. Não se pode estar nem contra os polícias nem contra os negros. Viver em sociedade não pode ser sinónimo de guerrilhas contantes. O desfavorecimento de uns não pode justificar a violência e os abusos como o favorecimento de outros pode dar-lhes o direito de matar. Só nos faltava isto em Portugal! Haja ordem, mas com com respeito. Estas ondas negras, sejam elas causadas pela partida natural de alguém que deixou marcas positivas enormes, sejam elas de guerra ou de ordem vandálica, são coloridas de uma escuridão tão grande que nem o mais puro sol as consegue penetrar. O Sol faz sempre falta.

Reconciliar-se

É uma palavra sinal dos tempos, uma palavra difícil hoje nas trevas dos conflitos, das guerras, das tragédias sangrentas, mas também entre todos nós, nas diversas comunidades que formamos. O Santo Papa, Paulo VI, em 1975, exortava a juventude – com quem ele tinha uma relação muito próxima- a trazer esta palavra “para o vocabulário das (suas) esperanças”. O vocábulo em questão, reconciliação, significa literalmente “unir-se novamente”. Poderemos nós unir-nos novamente, após uma dilaceração, depois do abismo do rebaixamento, duma raiva cega, e agindo sobre a nossa própria violência e a violência do outro? Não é certo, na minha opinião, que a reconciliação seja uma simples reparação, um ato que nos reconduza a uma mesma situação anterior. Pelo contrário, deve ser entendido que a reconciliação abre algo novo na relação. Transforma mais do que restaura. (Pode ser banal, mas tenho como prática procurar a etimologia da palavra – e a diacronia - pois permite-nos encontrar a carga histórica que transporta o vocábulo); a raiz grega do verbo katallassó (termo eminentemente paulino), que se traduz por reconciliar, evoca uma mudança, um “tornar-se outro”, um “fazer diferente”. A reconciliação transforma as partes presentes e faz com que o próprio relacionamento evolua. Reconciliar significa fazer diferente, criar surpresa e algo novo. Reconciliar significa fazer diferente, criar surpresa e algo novo ou inédito. A reconciliação não pode, portanto, significar apenas o regresso à situação anterior ao conflito, à violência - situação em que as sementes desta violência eram vistas com mais frequência. Rejeito também a ideia romântica duma reconciliação que traria harmonia ou equilíbrio de forças opostas, numa espécie de dialética hegeliana. Não, a reconciliação só é possível reconhecendo o nosso desequilíbrio, as nossas fraquezas, e é também, ainda mais misteriosamente, concordar em unir-nos confiando e estribando-nos nas nossas feridas e nas nossas amarguras. No trauma da violência sofrida e exercida. Aquilo que o filósofo checo Jan Patocka (um dos mais importantes contribuintes da Fenomenologia e da Filosofia na Europa Central do século XX) magnificamente chamou de “a solidariedade dos abalados”. Nas trincheiras da guerra, os combatentes vivenciam uma “transmutação de todos os valores sob o signo da força”, a tal ponto que alguns encontraram uma forma de superá-la. Solidariedade daqueles que entendem que, levados pela violência, esta violência foi-os dominando e fez-lhes perder tudo. “A solidariedade dos abalados constrói-se na perseguição e nas incertezas: esta é a sua frente silenciosa, sem propaganda e sem brilho.» No campo de batalha, escreve Patocka, “o inimigo é aquele com quem podemos chegar a um en- tendimento na oposição, nosso cúmplice na agitação do dia, da paz e da vida” (Ensaios heréticos, cujo interessante prefácio é do Sociolinguista e amigo francês Paul Ricoeur). Se houver reconciliação, ela só pode vir deste abalo das consciências. Perante o desencadeamento da violência, a nossa e a dos outros, como é que podemos trabalhar para uma possível reconciliação? Esta questão está bem presente, bem à frente dos nossos olhos. Deveríamos testemunhar “o avanço da vida durante a noite”, para usar outra expressão de Patocka. A reconciliação não deve querer restaurar, entre as ruínas, os escombros do passado, mas inventar, encontrar o que resta, apesar do conflito, duma promessa não cumprida, um instrumento perdido na empreitada para recomeçar tudo de novo. Na linguagem cristã, a reconciliação é uma graça. Ou seja, uma resposta inédita a um pedido impossível, que não sabíamos, ou não queríamos, poder formular.

Superação e coragem de quem luta contra o cancro da mama

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Qui, 24/10/2024 - 17:42


O cancro da mama tem sido cada vez mais detectado em mulheres mais novas. Por isso, o Governo alargou o rastreio, passando a ser entre os 45 e os 69 anos. Até agora, o programa nacional de rastreio do cancro da mama abrangia o grupo etário entre os 50 e os 69 anos.

Eufemismos da vida

Apesar de ser espinhosa e complicada de alcançar, encontramos na Língua Portuguesa palavras, expressões e verbos que são muito auto-explicativas. Estava a ver um programa de televisão onde me chamou a atenção o empregar de um verbo talvez pouco usual, mas que entra, claramente, neste grupo - é ele o verbo desviver. Desviver é, sem margem para qualquer dúvida ou motivo de especulação, o contrário de viver. Sem grande ciência e usando pouco mais do que uma regra de três simples, entendemos que alguém que desviveu está morto. Desviver é, ainda que exatamente o mesmo, menos mau do que morrer. E morrer é pior do que falecer, finar ou perecer. Estar morto é, por esta mesma ordem de ideias, muitíssimo mais grave do que ser defunto. Desviver pode ter outro significado, que também é literal. Algo como fazer com a nossa fita do tempo o que fazíamos para reciclar as velhinhas cassetes VHS. Puxar tudo atrás e gravar outro filme por cima daquele que já nos tinha ocupado demasiados domingos à tarde. Portanto, viver outra vida. É, seguimento de raciocínio, um verbo sobre a vida, seja em ausência ou alterada. Desviver transmite uma sensação de desespero num dos significados e de esperança no outro. Se para desviver não há remédio, desviver o passado acalenta a esperança de poder fazer diferente, virar noutra encruzilhada e quebrar qualquer enguiço que se apresente. É curioso que desviver possa querer dizer tanto deixar como voltar a viver. São coisas que parecem estar em extremos opostos, acabar a oportunidade ou renová-la. Contudo, são caminhos diferentes de um mesmo ciclo. Depois de tudo desvivido e vivido outra vez, tudo indica que se desviva no deselance. Pode parecer uma charada, mas faz-me sentido. Há aqui uma péssima notícia que lamento ser eu a dar. É que, antes de desvivermos, a possibilidade de podermos desviver é algo remota. Emendar um erro de forma eficaz e sem mácula, sem ficar a parecer que passámos uma borracha azul movidos a raiva sobre o papel incauto, sucede poucas vezes. É uma chance que poucos teremos. Mesmo apagar aquela mensagem que foi por engano no Whatsapp antes de ser lida na barra de notificações. Mais difícil será poder corrigir um erro e, por cima, acertar em cheio no suposto certo. A vida é complicada. Viver é complicado. Desviver, nem tanto, pois, diria alguém famoso, que para desviver basta, pasmem-se, estar vivo (acrescentei estes clichês só para confundir um pouco mais os caros leitores, com estas palavrinhas todas iguais, juntas e repetidas. Mas já vimos que desviver também pode ser complexo, mediante o significado. Vamos vivendo e desvivendo. Que vivamos até tudo ficar desvivido. Desvivamos até vivermos tudo. Que façamos o melhor possível, se não para sempre ao menos o tem- po suficiente para tornar a nossa passagem indelé- vel, tudo antes de chegar a nossa hora de desapa- recer.

Pão, impostos e circo

Esteve em cena nos palcos da comunicação social, uma excêntrica comédia política, para não dizer palhaçada, produzida e realizada pelos mal-amados políticos que, por esta e por outras, o são. Entenderam eles, vá se lá saber porquê, discutir em plena praça pública, antes mesmo de o fazerem na sede própria, que é a Assembleia da República, com o formalismo e a dignidade que a matéria exige, o protótipo de Orçamento do Estado para 2025, que o Governo apresentou, como lhe compete. Pena, ainda assim, que não tenha ocorrido aos partidos da oposição produzir os seus próprios modelos do dito Orçamento e pôr o governo a selecionar o que achasse melhor, como se de um concurso televisivo se tratasse, com música e bailado a condizer. Talvez tudo fosse mais pacífico e divertido, até. Mas não. Parte-se do princípio de que da discussão nasce a luz, mesmo quando toma a forma de peixeirada no lusco-fusco democrático, só que desta discussão, que não é um debate sério, note-se, apenas saíram confusão e pronúncios de crise. Somos levados a admitir, ainda assim, que o protótipo elaborado pelo Governo, até será equilibrado, robusto e bem formado, sem disformidades ideológicas ou administrativas escandalosas. Tanto assim é que Pedro Santos, o espectaculoso secretario Geral do PS e seus apaniguados, entenderem abrir fogo sobre ele só porque, desculpa esfarrapada, a bela tinha dois grandes senões, sabido que não há bela sem senão: o IRS Jovem e o IRC. Nem mais. Tout court. Donde se depreende que Pedro Santos e apaniguados engoliriam tudo o resto, por certo, sem pestanejar, como tudo leva a crer, acabarão por fazer. A tudo isto os portugue- ses assistiram mais preocupados que divertidos, sem nada poderem fazer, porque a hegemonia partidária não lhes dispensa espaço para mais. Aos próprios militantes partidários, tenham ou não as cotas em dia, outra coisa não resta que comer e calar. E dizer amém ao chefe, quando muito. Certo é que este deprimente espectáculo irá ficar nos anais do Regime político vigente como uma nódoa monumental, negra, escura, arroxeada, esverdeada ou azulada, conforme as preferências estéticas dos analistas políticos. Espectáculo que em nada abona em favor da imagem dos artistas principais deste circo que foi exibido nos palcos da comunicação social, primeiro, e com remate melodramático aprazado para 31 de Outubro, na arena de S. Bento, muito embora, a acreditar em Pedro Santos, o PS se irá abster. Sabe-se lá o que ainda está para acontecer. Três foram, ainda assim, os actores principais desta excêntrica novela: o primeiro ministro Luís Montenegro, no papel de engolidor de espadas, o líder do PS, Pedro Santos, que primorosamente assumiu o de palhaço rico e André Ventura, o de arrojado trapezista, com os demais figurantes de São Bento remetidos para a mais perfeita inutilidade democrática. Aparentemente Luís Montenegro até denota vontade de fazer coisas positivas, apesar do insuficiente apoio parlamentar de que dispõe. Os adversários é que, sobretudo porque têm interesses partidários e pessoais diferentes, teimam em não lhe deixar fazer o que ele muito bem quer. Claro que tudo isto só é possível porque o ambíguo Regime político o faculta. Porque permite que o poder legislativo que, por princípio, reside na Assembleia da República, abocanhe, sem dó nem piedade, o poder executivo que pertence, por inteiro, ao Governo, obstando ao normal funcionamento do país e da democracia. Com destaque para o líder da oposição que teima em governar mesmo não estando no governo. Líder da oposição que, convém lembrar, foi figura central do anterior governo que durante oito anos colocou o Estado de pantanas e que agora tudo faz para que outros não façam diferente e melhor. Grande confusão vai, de facto, na cabeça do radical socialista Pedro Santos, que até já coloca a luta de classes entre pobres e jovens, como se não houvesse jo- vens pobres e jovens ricos, e não entre trabalhadores explorados e capitalista calaceiros, como insistem os seus compinchas comunistas. Desejável seria, isso sim, que os políticos responsáveis, uma mão cheia que fosse, metessem mãos à obra e reformassem de uma vez por todas o que há muito carece de ser reformado. Por forma a que a Assembleia da República se limite a legislar, o Governo a governar e a Justiça a julgar e não a trapalhada a que hoje se assiste, em que ninguém governa nem deixa que alguém o faça. E para que, de uma vez por todas, se ponha termo à política de pão, impostos e circo, que tem sido apanágio do Regime e norma de conduta dos governos ditos socialistas e social-democratas. Que persistem em manter o Estado no pântano da cor- rupção, os portugueses na pobreza e a democracia nas ruas da amargura.